A Caminho da Luz

domingo, 6 de maio de 2012

Animismo e mistificação

 


Nos ensinamentos da Boa Nova, Cristo propõe: Brilhe a vossa luz, enquanto é dia.
Este é um ensino bonito, dentre tantos ensinos bonitos que o Mestre nos trouxe. Este é fundamental, porque este Brilhe a vossa luz é uma instigação, é uma insuflação à nossa vontade de crescer, de desenvolver nossas potências, transformar nossas potências em atividades.
Brilhe a vossa luz é muito bonito. Porque Cristo está dizendo que todos nós somos luz, todos carregamos essa chama interna, que muitas vezes bruxuleia, que muitas vezes perde o brilho gradativamente.
É como se as brumas do mundo fossem abafando o nosso brilho, o nosso luminar interior.
É por causa disto que a proposta de Cristo se enche de valor para nós. Brilhe a vossa luz.
Esse trabalho de desenvolver nossas potências, nossa própria realidade é um trabalho de desenvolver a nossa capacidade anímica, nosso animismo, nossa alma.
A desenvoltura da alma, o progresso do ser é uma das objetivações de nossa vida na Terra.
Estamos aqui, encarnados, para desenvolver nossas potências.
A Terra é uma grande escola onde trabalhamos em prol de nós mesmos, em prol do nosso crescimento. Aqui é um laboratório em que, no dia a dia das refregas, vamos conseguindo pôr para fora esse brilho que está internado em nós.
Curiosamente, quando nos referimos a animismo, existem outras considerações relativas a essa referência.
Porque, quando Aristóteles falou em animismo, ele pensava em outra coisa, ele pensava de outra maneira.
Animismo para Aristóteles, por exemplo, era esse fato de alguém tomar um pé de coelho, o animal já morto, transformá-lo num pendentif, ou num chaveiro, ou numa peça qualquer, para dar sorte.
Aristóteles imaginava que, todas as vezes que tomamos uma coisa morta e lhe damos características de coisa viva, dar sorte, por exemplo, é um ato de animismo. Conferimos alma a uma coisa que não a tem.
Quando pegamos uma pedra e achamos que essa pedra vai nos dar felicidade, vai trazer-nos felicidade interior, luz, harmonia, etc, estamos, segundo Aristóteles, criando um quadro de animismo, dando um valor dinâmico a algo que é inerte.
Mas, no campo do Espírito, no campo das coisas da alma, o animismo é essa exteriorização do próprio indivíduo, de cada um de nós.
Quando se trata, por exemplo, de um fenômeno de ordem mediúnica, em que alguém diz estar dando passividade a um ser espiritual, ou estar manifestando um ser espiritual, a grande preocupação dos estudiosos dessa questão é verificar se de fato é o falecido que fala através do sensitivo, através do sujeito, através do médium, ou se é a própria mente do sujeito, do sensitivo, do médium que se exterioriza.
É verdade que carregamos no nosso íntimo muitos valores enraizados, armazenados no nosso inconsciente. Valores desta vida, valores de vidas passadas, que estão no nosso inconsciente.
São riquezas ou pobrezas, mas são conquistas que estão no nosso íntimo, na nossa caixa preta e, em dadas circunstâncias, esse material vem à tona.
Imaginemos que, num dado momento, sintamos um perfume e esse perfume nos remeta à infância, nos lembremos que nossa avó usava esse perfume. Em função disso, nos recordamos de alguma festa que fomos e a vovó usava esse perfume. Aí nos lembramos que nessa festa em que fomos, tínhamos determinado amigo, comíamos determinada coisa...
Vejamos como o perfume nos fez recordar, ir andando para trás. A isso se daria o nome de animismo. Quando a nossa memória trouxesse inconscientemente lá de dentro as coisas que estão armazenadas em nós.
Animismo, então, significa essa projeção da alma do próprio sensitivo, a manifestação da nossa própria realidade, internalizada, coberta que, em dados momentos, vem a lume, em dado momento vem a flux e aflora como se fosse uma outra entidade falando por nós.
É compreensível que todos nós sejamos indivíduos que temos muito material na nossa intimidade e nem sempre nos demos conta de quantas vezes esse material vem à tona, se manifesta, e podemos supor que seja uma entidade espiritual que esteja se manifestando através de nós.
Essa parede entre o que é mediúnico e o que é anímico é uma parede muito tênue, muito fina porque, afinal de contas, não temos muita habilidade de perceber em que momento deixamos de ser nós mesmos e estamos filtrando um pensamento alheio.
Nós não temos muita precisão com relação a isto. É necessário que haja muita especialidade, muito trato, muita habilidade para que nos apercebamos disto.
Mas, sempre que se fala em animismo, levamos em conta que o indivíduo anímico, não sabe que é anímico.
Ninguém sabe que está pondo para fora esse material do seu passado, esse material da sua caixa preta, dos seus arquivos psíquicos.
Quando o indivíduo passa a saber e usa isto de caso pensado, aí então o fenômeno deixa de ser anímico, tipicamente falando, e entramos no território da mistificação.
A mistificação sempre caracteriza um engano, um engodo, pelo qual quero fazer alguém passar.
Sempre que mentimos estamos mistificando e , no caso das manifestações espirituais, pode ser que o próprio Espírito que se manifesta, o próprio Espírito que se comunica, diga ser uma pessoa que ele não é. O sensitivo está drenando corretamente, o sensitivo está deixando passar aquela manifestação corretamente, mas o manifestante é que mente.
Ele diz ser Rui Barbosa, ele diz ser Jesus Cristo ou qualquer outro vulto da História e não é. Nesse caso temos o animismo do Espírito comunicante dizendo ser quem ele não é.
Mas, encontramos outros casos em que o sensitivo, o médium finge estar dando passividade a um Espírito, finge estar recebendo um Espírito para enganar os outros, para obter lucros ou para qualquer outro objetivo escuso. Nesse caso, a mistificação não é mais do Espírito, é do médium.
Muita gente procura médiuns na sociedade, procura terreiros, centros espíritas, cartomantes, quiromantes, médiuns quase sempre, sensitivos quase sempre. Contudo, as pessoas não têm a habilidade, não têm o traquejo, não têm o conhecimento para identificar essas coisas. Então, quase sempre entram nesse mundo da credulidade, acreditam simplesmente.
É muito grande o número de pessoas inescrupulosas que tiram proveito da ignorância popular, que tiram proveito do desconhecimento geral.
Por causa disto, é sempre importantíssimo que se tenha cautela com os fenômenos da mistificação.
Como é que eu vou saber se há mistificação ou se não há mistificação?
Verifiquemos onde é que a informação nos vai levar.
A informação nos vai levar a alguma dependência de alguma coisa ou de alguém? Não acreditemos.
A informação nos vai cobrar dinheiro, recursos para que resolvamos casos espirituais, problemas de amor, problemas familiares? Não acreditemos.
As revelações que nos chegam são estapafúrdias, são irracionais? Não acreditemos.
Não tenhamos nenhum medo em desacreditar de coisas que nos pareçam absurdas porque nós não devemos crer naquilo que é absurdo.
Não há nenhum crime em rejeitarmos informações nefastas, o grande problema é quando aceitamos as informações mentirosas.
Nas páginas de O livro dos médiuns, de Allan Kardec, há uma orientação muito interessante, quando o Espírito Erasto recomenda-nos que Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.
E isso é lógico. A verdade sempre aparece, se a rejeito hoje, ela aparece amanhã, ela aparece depois de amanhã, se eu a negar amanhã.
Porque a verdade é a Lei da vida, ela sempre aparecerá.
Mas, a mentira deseja imediatamente impor-se porque se demorar ela será descoberta.
Por isso todo mentiroso quer levar o maior número de pessoas o mais rapidamente possível. Se ele demorar, se a mentira demorar, as pessoas acabam por descobrir.
Não misturemos, pois, animismo que é essa voz do nosso íntimo inconscientemente vazada, com a mistificação, que é o enganar aos outros de caso pensado.

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