A Caminho da Luz

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Planejamento: Expiação e Resgate’

Escravidão e Espiritismo




-V-
 ‘Planejamento:
Expiação e Resgate’
por Alberto de Souza Rocha
  Abril  1988

            Comecemos por transcrever, de uma obra didática, o que se segue:

            “A pretexto de salvar as almas, a bula Dum Diversas, do Papa Nicolau V, de 1452, autorizava a escravidão. Permitia aos portugueses, nas suas viagens de descobertas, penetrar no reino dos sarracenos (destaque do autor), dos pagãos e de outros inimigos de Cristo e tomar como escravos seus prisioneiros. Estes deveriam ser batizados para terem as suas almas ‘salvas’.  O que viria depois, segundo a moral da época, isto é, escravidão ou a exploração do homem, era de importância secundária.” (Panorama Geográfico Brasileiro”, Melhen Adas, Editora Moderna, 2ª Edição.)

            Sigamos. Então, os fatos.
            Chegavam por mar às terras brasileiras para os grandes latifúndios os indefesos e pobres cativos. Em suas pátrias e dentro da respectiva cultura seriam muitos deles nobres e senhores, reis em suas tribos. Mas vinham eles a ferros, em infectos porões, para serem vendidos quando a peste não lhes dava por túmulo o oceano. Ouçamos o que deles nos diz Humberto de Campos (Espírito) no livro já citado (“Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”), na p. 51 da 16ª ed. FEB, pondo o autor espiritual a exposição nos lábios do próprio Governador do Planeta:

            “- Havia eu determinado que a Terra do Cruzeiro se povoasse de raças humildes do Planeta, buscando-se a colaboração dos povos sofredores das regiões africanas; todavia, para que essa cooperação fosse efetivada sem o atrito das armas, aproximei Portugal daquelas raças sofredoras, sem violência de qualquer natureza. A colaboração africana deveria, pois, verificar-se sem abalos perniciosos, no capítulo das minhas amorosas determinações. O homem branco da Europa, entretanto, está prejudicado por uma educação espiritual condenável e deficiente. Desejando entregar-se ao prazer fictício dos sentidos, procura eximir-se aos trabalhos pesados da agricultura, alegando o pretexto dos climas considerados impiedosos. Eles terão a liberdade de humilhar os seus irmãos (...) mas, os que praticarem o nefando comércio sofrerão, igualmente, o mesmo martírio, nos dias do futuro, quando forem também vendidos e flagelados em identidade de circunstâncias.”

            O referido autor espiritual, na mesma obra (págs 68 e 69 da 16ª ed. FEB), esclarece que formavam os escravos coletividades espirituais reencarnadas, já então sinceramente arrependidos de seu passado delituoso:

             “- Aí se encontravam antigos batalhadores das cruzadas, senhores feudais da Idade Média, padres e inquisidores, Espíritos rebeldes e revoltados, perdidos nos caminhos cheios da treva das suas consciências poluta

            Encontravam eles

” (...) nos carreiros aspérrimos da dor que depura e santifica, a porta estreita para o céu de que nos fala Jesus nas suas lições divinas”.

Façamos uma reflexão: O esquecimento das vidas passadas, dir-se-ia, poderia importar na inutilidade do sofrimento-reparação. Mas as vidas sucessivas são solidárias, é bom não esquecermos. E, como sabemos, esse esquecimento é relativo. Em alguns instantes de afastamento do Espírito, de emancipação da alma, recorda-se a criatura, de uma forma mesmo que nebulosa, mas suficientemente esclarecedora, de compromissos assumidos e, quando desperta, consoante o próprio esforço, momentos há em que se lhe fica, sob a condição de reminiscência, um certo resíduo, traduzido naquele desejo insistente de resistir às tendências que resultam na provação por que esteja passando. Tanto maior quanto os seus méritos e a sua capacidade de resistência. Mas prossegue aquele amigo espiritual reportando:

“- Foi por isso que os negros do Brasil se incorporaram à raça nova, constituindo um dos baluartes da nacionalidade, em todos os tempos. Com as suas abnegações santificantes e os seus prantos abençoados, fizeram brotar as alvoradas do trabalho, depois das noites primitivas. Na Pátria do Evangelho têm eles sido estadistas, médicos, artistas, poetas e escritores, representando as personalidades mais eminentes.”

E diz, mais:

Todos os grandes sentimentos que nobilitam as almas humanas eles os demonstraram e foi ainda o coração deles, dedicado ao ideal da solidariedade humana, que ensinou aos europeus a lição do trabalho e da obediência, na comuna fraterna dos Palmares, onde não havia nem ricos nrm pobres e onde resistiram com o seu esforço e a sua perseverança, por mais de setenta anos, escrevendo, com a morte pela liberdade, o mais belo poema dos seus martírios nas terras americanas.” 

Voltemos a páginas atrás do mesmo livro:

– Através das linhas tortuosas dos homens, realizou Jesus os seus grandes e benditos objetivos, porque os negros das costas africanas foram uma das pedras angulares do monumento evangélico do Coração do Mundo. Sobre os seus ombros flagelados, carrearam-se quase todos os elementos materiais para a organização física do Brasil e, do manancial de humildade de seus corações resignados e tristes, nasceram lições comovedoras, imunizando todos os Espíritos contra os excessos do imperialismo e do orgulho injustificáveis  das outras nações do planeta, dotando-se a alma brasileira de fraternidade, de ternura e de perdão.”

“Mémorias de um Suicida”, uma obra de peso da lavra do grande Camilo, na psicografia de Yvonne A. pereira, também esclarece no mesmo sentido:

Grandes falanges de romanos ilustres, do Império dos Césares; de patrícios orgulhosos, de guerreiros altivos, autoridades das hostes de Diocleciano, como de Adriano e Maxêncio, dolorosamente arrependidos (...) expungiram sob o cativeiro africano a mancha que lhes enodoava o Espírito” (p. 534)”. E conta, nas páginas 526 e seguintes, os dramas vividos e o suicídio de um ex traficante de escravos, suas paixões inferiores e sua prepotência. O escravo, sua vítima, o perdoara. Contudo, faz-nos uma severa advertência (página 532):

As sociedades brasileiras (...) sofrem hoje e sofrerão ainda, por espaço de tempo que estará ao seu alcance dilatar ou reprimir, as consequências das iniquidades que em pleno domínio da era cristã permitiram  fossem cometidos em seu seio. (...) Se não foi crime individual e sim coletivo, será a coletividade que expiará e reparará o opróbio, o grande martírio infligido a uma raça carecedora do amparo fraternal da civilação cristã (...).”

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