Alerta de Kardec sobre as publicações espíritas
Parte
apreciável da obra que compõe a estruturação do Espiritismo foi escrita
por Allan Kardec. O teor dos textos que escreveu – de alta moral –,
desenvolvendo profundas reflexões de interesse para a humanidade; seus
artigos, refutações, notas e complementos mostram a pujança intelectual
do mestre, sua responsabilidade com a verdade e o sério compromisso
assumido na fundamentação e divulgação da doutrina filosófica que
nascia.
Cuidando de tudo com muito zelo, organizou um livro
dedicado especialmente às questões mediúnicas, “O Livro dos Médiuns”.
Também nas edições mensais da Revista Espírita, tratou fartamente da
mediunidade, no sentido de bem esclarecer e orientar sobre assunto tão
delicado e às vezes até perigoso. Não faltaram a Allan Kardec, a
avaliação, o critério, o método, próprios da abordagem científica, pois
ele mesmo referiu-se a esses estudos como uma nova ciência que nascia.
Num
de seus textos, muito conhecido pelos que estudam a Doutrina, que se
pode encontrar na Revista Espírita, ano de 1863, mês de maio, com o
título “Exame das comunicações mediúnicas que nos enviam”, Allan Kardec
expõe os cuidados que os médiuns precisam ter quanto à divulgação do que
recebem via mediúnica.
Diz, num certo trecho: “que não se
publique inconsideradamente tudo quanto vem dos Espíritos, desde
mensagens curtas até trabalhos de maior volume”.
Sobre estes
últimos, Kardec afirma: “Resta-nos dizer algumas palavras sobre
manuscritos ou trabalhos de fôlego que nos mandaram, entre os quais,
sobre trinta, encontramos cinco ou seis de real valor. No mundo
invisível como na Terra, não faltam escritores, mas os bons são raros.
Tal Espírito é apto a ditar uma boa comunicação isolada, a dar excelente
conselho particular, mas incapaz de um trabalho de conjunto completo,
que suporte um exame”...
Mais adiante, remata: “Eis por que, ao
lado de alguns bons pensamentos, encontram-se, por vezes, ideias
excêntricas e os traços menos equívocos da mais profunda ignorância”.
Imaginemos
uma obra com alguns conceitos não bem filtrados, que possam causar
dúvidas e controvérsias, circulando e sendo lida por milhares de
pessoas. E se várias obras com o mesmo problema chegarem aos
hipermercados, livrarias, bibliotecas etc.? Dá para imaginar o estrago. É
compreensível que a grande maioria das pessoas, atualmente mais e mais
atraídas pelas ideias espíritas, não saiba separar o joio do trigo, o
que nem sempre é tão fácil assim.
Daí ser forçoso lembrar a
conhecida frase de Erasto, Espírito: “Melhor rejeitar nove verdades do
que aceitar uma só mentira”, referindo-se aos textos colhidos
mediunicamente, mas não só a eles.
Há ainda, conforme Allan
Kardec, outra coisa séria com que os médiuns precisam se preocupar: “É
nestas espécies de trabalhos mediúnicos (as psicografias longas)* que
temos notado mais sinais de obsessão, dos quais um dos mais frequentes é
a injunção (imposição)* da parte do Espírito de os fazer imprimir... É
em semelhante caso que um exame escrupuloso se torna necessário... Todas
as precauções são poucas para evitar as publicações lamentáveis... Em
tais casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da
causa”.
O final do texto de Allan Kardec serve de alerta a todos
nós: ...“publicando comunicações dignas de interesse, faz-se uma coisa
útil. Publicando as que são fracas, insignificantes ou más, faz-se mais
mal do que bem”.
Nunca será demais relembrar os conselhos de Allan Kardec
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