A Caminho da Luz

quinta-feira, 15 de março de 2012

* O PRIMEIRO CONTATO DE JESUS GONÇALVES



* O PRIMEIRO CONTATO DE JESUS GONÇALVES COM DIVALDO PEREIRA FRANCO
Desde criança, o médium, educador e conferencista Divaldo Pereira Franco vivenciou inúmeras experiências de comunicação espontânea com os espíritos.
Abordaremos neste artigo uma dessas comunicações, ocorrida em sua juventude, quando recebeu a visita espiritual de Jésus Gonçalves.
Desse encontro com Jésus, resultou suas visitas ininterruptas à colônia de hansenianos de Águas Claras e também sua primeira palestra pública na Federação Espírita do Estado de São Paulo, onde foi apresentado, jovem ainda, ao público espírita paulista, com crescente repercussão nacional e internacional.
Conta o próprio Divaldo:
“No ano de 1949, quando os tormentos obsessivos me avassalavam, porque ainda não me adestrara no conhecimento espírita, e também pela juventude do corpo, todas as tardes eu tinha por hábito ir sentar-me no quintal da casa onde morava, no Bairro do Machado. O quintal dava o fundo para as Invasões, onde centenas de casebres sobre o lamaçal apresentavam grave problema sócio-econômico dos que residem em tal região, em Salvador.
“A minha vida íntima, sacudida por inquietações e tormentos, por ansiedades e tristezas, era uma constante busca de paz, uma contínua procura de Deus. Numa tarde muito especial para mim, buscando a calma interior, eu me pus a orar. O quadro que se me erguia à frente era de muita beleza. O sol declinava por sobre o pantanal e havia um silêncio interior muito grande. Procurei, então, mergulhar nas blandícias da prece, pedindo a Deus a mão socorrista, assim como aos bons espíritos o seu apoio e assistência, para que não viesse a resvalar pelas rampas do desequilíbrio.
“Foi nesse momento que, de súbito, eu vi chegar um ser espiritual com características para mim até então jamais vistas: apresentava profundas marcas na aparência física. Um dos pés, que parecia ter os dedos amputados, estava envolto em gaze, com uma deformidade visível. O corpo alquebrado, a cabeça marcada por cicatrizes, o nariz deformado, sem o septo nasal, e numa expressão de profunda melancolia, olhando-me com enternecimento e carinho comovedores.
“Na minha ignorância, na minha falta de discernimento doutrinário, pensei de imediato: apesar da prece, eis aí a presença de um espírito obsessor. Bem se vê que eu confundia, então, a aparência com o conteúdo, a realidade íntima. Foi quando o ouvi dizer nitidamente:
— Não sou um bem-aventurado, mas tampouco eu sou um obsessor. Sou teu irmão. Chamo-me Jésus Gonçalves, e desencarnei, não há muito, num sanatório de leprosos, em Pirapitingui, Estado de São Paulo.
“Naquela época ainda não se usava o verbete hanseniano. Era a palavra marcadora, quase cruel, da tradição bíblica. E ele prosseguiu:
— Fomos amigos. Venho, de etapa em etapa, ressarcindo a duras penas o que contraí desde os dias em que, na condição de conquistador, disseminei a morte pela guerra, destruindo lares, roubando vidas, deixando órfãos e viúvas a prantearem os seus mortos. Indiferente, à alheia dor, era devorado pela volúpia da insanidade destruidora. Mais tarde, muito mais tarde, já conhecendo Jesus, não me foi possível fugir daquela compulsão guerreira e, em posição relevante na política francesa do século XVII, novamente me engalfinhei em lutas tenebrosas, sendo um dos responsáveis pelo prosseguimento da guerra franco-austríaca, especialmente na sua terceira fase.
— Em chegando do lado de cá, dei-me conta da alucinação que me devorava e roguei ao Senhor, por misericórdia, me concedesse a lepra purificadora, para o despertar dos deveres de profundidade, aqueles que me poderiam conscientizar das finalidades superiores da vida. Eis por que, desde então, venho no processo purificador, havendo concluído uma etapa muito consciente, em Pirapitingui, no Estado de São Paulo, poucos anos atrás, onde pude integrar-me no serviço da Revelação Espírita, entregando-me a Jesus.”
Divaldo lembra que, enquanto falava, Jésus Gonçalves se metamorfoseava. Aquela aparência lôbrega e triste se transfigurou diante de seus olhos deslumbrados, que pôde ver-lhe a luminosidade interior. Semelhante a um pequeno sol, parecia clarear o seu entardecer. Curiosamente, das deformações em seu corpo uma substância luminescente tecia uma nova forma bem feita. Jésus Gonçalves disse, como desejando explicar ao médium:
— O que a lepra carcomeu ficou sublimado nas regiões perispirituais. Mas, venho aqui, por dois motivos, falar contigo. Na reunião doutrinária de hoje, estará presente uma amiga muito querida. Desejo que a informes do nosso encontro. O segundo motivo é que eu te queria pedir visitares a colônia de leprosos desta cidade, no subúrbio de Águas Claras.
Surpreso pela solicitação, e ainda preconceituoso em função do tabu e pela ignorância a respeito do mal de Hansen, o médium respondeu comovido:
— Por favor, não me faça um pedido de tal natureza. Esta doença, cujo nome nem sequer eu pronuncio, tal o pavor que me causa, assusta-me demasiadamente e eu nunca teria coragem de visitar o lugar onde estivessem pessoas com ela...
Sorrindo da ingenuidade de Divaldo, Jésus Gonçalves redargüiu:
— Divaldo, eu estou te pedindo que vás lá, a fim de que não vás para lá! Preferes ir lá ou para lá?
Apressadamente, o médium disse que preferia ir lá! Jésus, então, disse-lhe que tomaria providências para irem os dois juntos, falar aos irmãos hansenianos. E desapareceu diante dos olhos assombrados do jovem médium, deixando-lhe uma indefinível sensação de paz e bem-estar...
Naquela noite, em seu grupo de trabalhos, no Centro Espírita “Caminho da Redenção”, Divaldo contou essa experiência aos irmãos, perguntando-lhes se, por acaso, alguém ali ouvira falar ou conhecera Jésus Gonçalves. Levantou-se, então, uma senhora de grande beleza física e espiritual e declarou:
— Jésus Gonçalves foi meu amigo. Quase desencarnou em meus braços. Convivi com ele, quanto me permitiram as possibilidades. Sou mineira do interior, e resido na capital de São Paulo, há muitos anos, onde mantenho um serviço de visita a várias casas de leprosos. Meu nome é Zaira Pitt. Em companhia de Julinha Koffmann e de outros, procuramos dar assistência aos nossos irmãos leprosos. Neste momento, com um grande número de amigos, estamos ajudando a construção do pavilhão para tuberculosos hansenianos, lá mesmo no hospital Parapitingui.
“A senhora confirmou”, conta Divaldo, “para a surpresa de todos nós, a existência desse espírito, dizendo a ele estar vinculada, fazia muito tempo”.
Quando o jovem baiano disse que Jésus Gonçalves pedira que ele visitasse a colônia de leprosos de Águas Claras, D. Zaira Pitt o estimulou muito para essa tarefa, dizendo que não havia o menor perigo de contágio, como comumente se pensava e propalava por aí...
Antes do espírito de Jésus Gonçalves se retirar, naquela tarde em que se manifestara a Divaldo, aconselhou-o a ler um livro que o ajudaria a perder o medo da lepra, intitulado “Eles Caminham Sós”.
Com o pedido de Jésus e o encorajamento dado por Zaira Pitt, o jovem médium, então, mobilizou os freqüentadores do centro espírita para a visita àquele lar expurgador. Amigos mais bem relacionados na sociedade entraram em contato com o diretor do hospital que, a princípio, vetou aprioristicamente o plano de visita. Divaldo insistiu, afirmando de que o objetivo era apenas fazer uma visita fraterna, levando alguns brindes e um pouco de alegria, respeitando todas as instruções da casa. O diretor aquiesceu, impondo uma série de restrições.
Até aquela época, 1949, o mal de Hansen ainda gozava de muitos tabus e preconceitos que impediam as visitas. Mas Divaldo logrou a liberação da ordem de impedimento e o grupo fez a primeira visita. Foi com ela que iniciou a série de excursões que até hoje faz à colônia de hansenianos, em Águas Claras. Isto, há mais de 50 anos consecutivos.
Aquele encontro de Dona Zaira Pitt com Divaldo ocorrera absolutamente de forma casual. Visitando uma instituição espírita em Salvador, alguém havia indicado o nome de Divaldo e por esse motivo fora ao Centro Espírita “Caminho da Redenção”, naquela noite, naturalmente, inspirada por Jésus Gonçalves.
No dia 1.° de janeiro de 1951, a convite de Zaira Pitt, Divaldo faz sua primeira visita ao leprosário de Pirapitingui. No grupo estavam aquela senhora, Divaldo e o sr. Joaquim Alves, o famoso Jô, admirável trabalhador espírita, desenhista e pintor exímio, o dr. Lauro Michelin, um dos criadores e fundadores do Sanatório Espírita “Luiz Sayão” (Araras, SP) e que, sob o pseudônimo de Jacques Garnier escreveu várias obras espíritas a benefício daquela casa de doentes mentais.
Chegando a Pirapitingui, o grupo conheceu a viúva de Jésus Gonçalves, dona Ninita, que era cega, mas excelente médium vidente. Ela descreveu Divaldo tal como se o tivesse vendo! Falou da presença espiritual do marido ali também. Mas, uma senhora muito rica, que Zaira Pitt levara, viúva recente, trajando mesmo luto fechado, foi quem mais chamou a atenção de Ninita, que lhes descreveu o esposo desencarnado e pediu-lhe para tirar o luto, dando-lhe uma lição de imortalidade das mais comovedoras.
O grupo foi depois ao Centro Espírita “Santo Agostinho” e, ali, Divaldo proferiu uma palestra para os internos e visitantes. Em seguida, todos voltaram para a Capital.
No domingo seguinte, por solicitação de Dona Zaira, Divaldo fez uma palestra na reunião das 10 horas da manhã na Federação Espírita do Estado de São Paulo.
Naquela época, Pedro de Camargo, o inesquecível escritor e orador Vinícius, que mantinha uma grande assistência, havia anos, ali acorrendo para ouvir-lhe a palavra fluente e evangelizadora, foi quem apresentou o jovem baiano, assim falando:
— Muitos aí estão a perguntar quem é este jovenzinho e o que faz ele aqui, ao meu lado. Tenho, assim, a imensa satisfação de apresentar Divaldo Pereira Franco aos nossos irmãos paulistas. Este nosso amigo vindo da Bahia traz uma mensagem de vida, com a sua mediunidade voltada para o Bem e guiada pela doutrina espírita, a fim de nos estimular a marcha e nos encorajar para a luta.
Foi dessa forma que Divaldo proferiu a sua primeira palestra na Federação Espírita do Estado de São Paulo, vinculando-se também àquele missionário do bem e da luz, que era Vinícius, o emérito educador e sacerdote, no sentido profundo da palavra, da mensagem evangélica e espírita.
Assim, Divaldo Pereira Franco iniciou as suas pregações na capital bandeirante. Era janeiro de 1951 — há mais de cinqüenta anos atrás.

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