Em louvor e em apoio à pesquisa espírita de qualidade!
“A Ciência Espírita está em nossas mãos e nos indica o roteiro a seguir. Mas nós a envolvemos em dúvidas e debates inúteis, ao invés de nos alistarmos em suas fileiras e de nos entregarmos generosamente ao seu estudo, à sua divulgação e à sua prática.
[...]
A Ciência Espírita necessita de escolas, de Universidades, de bibliografias especializadas. Não pode contar com os recursos comuns da simonia, em que se banqueteiam as religiões pomposas e mentirosas. Não existe no mundo uma única Universidade Espírita, em que a Ciência Admirável possa manter e desenvolver os seus trabalhos de pesquisa científica.”
José Herculano Pires, O Desenvolvimento Científico.
O Espiritismo nasceu da pesquisa. Empírica, é verdade, pois partiu da curiosidade de um homem de ciências, Hippolyte Léon Denizard Rivail (depois, Allan Kardec, por pseudônimo), que observou criteriosamente o(s) fenômeno(s) e buscou-lhes, depois, atribuir-lhe(s) causas e explicações à luz da racionalidade cartesiana. Enorme dificuldade, pois, uma vez que os chamados fenômenos paranormais ou extrafísicos não podiam (e não podem, até hoje) serem balizados pelas normas e regras do cartesianismo. Veja-se, a propósito, muito liminarmente, quatro pontuais afirmações de Kardec, já no chamado momento maduro e final de sua produção espiritista: “Apliquei a essa nova ciência, como o fizera até então, o método experimental”; “nunca elaborei teorias preconcebidas”; “observava cuidadosamente, comparava, deduzia conseqüências”; e, “dos efeitos procurava remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão quando resolvia todas as dificuldades da questão”.
Vê-se, aí, magistralmente, a humildade científica do pesquisador, requisito fundamental para quem deseja fazer ciência. No meio acadêmico-científico, especialmente no âmbito do desenvolvimento de teses, costuma-se prescrever que, ANTES da pesquisa o pesquisador não pode querer, de antemão, saber qual será o resultado dela. Na prática, todo aquele que se debruça sobre um tema, deseja uma resposta, que pode ser validadora ou rejeitadora de sua hipótese de investigação. Assim, previamente, ele se pergunta: conseguirei (ou não) demonstrar a validade da hipótese, construindo, assim, a tese (afirmativa ou negativa)?
Com tal premissa, parte ele para o campo experimental e da qualidade da investigação irá depender o resultado final de sua pesquisa. Quanto mais atento e cético em relação à hipótese formulada, maior a isenção que caracterizará seu trabalho e o conduzirá ao aperfeiçoamento do método, a análise de amostras e a formulação das teorias que o fundamentem.
Muitos espíritas, do passado e do presente, se debruçaram e continuam se debruçando sobre a pesquisa espírita. É fato que as academias permitem a apresentação de “teses espíritas” e temos visto, aqui ou ali, a defesa de trabalhos com foco no Espiritismo em diversas universidades brasileiras. Vez por outra chega a notícia da aprovação laureada de algum trabalho com temática (ou alcance) espiritista em instituições públicas ou privadas de nosso país. Nas bancas, como elemento de valorização do esforço do pesquisador, não estão, usualmente, outros espíritas. Muito pelo contrário. Temos especialistas, doutores e pós-doutores na ciência e nas linhas de pesquisa adotadas pela universidade. Em muitos dos casos, nem o orientador (e o co-orientador, quando existente) têm formação ou vinculação com o movimento e a filosofia espíritas. Mas abraçaram, desde o início da intenção de pesquisa (plano ou pré-projeto), a iniciativa manifesta pelo estudante (doutorando) em enveredar sobre tema com matizes espirituais, buscando a validação científica (ou não) de sua hipótese. Além dele, outros membros da instituição de ensino igualmente avaliaram o documento inicial do pesquisador e afiançaram que o mesmo possuía caracterização e alcance científicos.
No contexto da vida encarnada, assim, é de absoluta imperiosidade a concretização de parcerias material-espirituais, tendo afirmado sobejamente os Espíritos a Kardec que a manifestação espiritual, por meio da mediunidade, não teria o condão de “[...]liberar do estudo e das pesquisas o homem, nem para lhe transmitirem, inteiramente pronta, nenhuma ciência. Com relação ao que o homem pode achar por si mesmo, eles o deixam entregue às suas próprias forças. Isso sabem-no perfeitamente os espíritas”, corroborando a afirmação de que os avanços científicos do nosso mundo seriam possíveis a partir dos esforços dos seres encarnados, sem olvidar a presença e a assistência dos Espíritos na execução das atividades de caráter científico humano.
Todavia, o número de pesquisas acadêmicas ainda é bastante limitado e precárias são as incursões dos espíritas em várias áreas do conhecimento científico contemporâneo. Muitos até têm a intenção inicial da confecção de um trabalho acadêmico com temática espiritista, mas sofrem com algum preconceito por parte de certos professores, colegas ou especialistas – julgando se tratar de uma investigação “religiosa” ou com elementos de crença, fé ou personalismo – ou o próprio doutorando não se acha suficientemente encorajado para o desenvolvimento de uma “tese espírita” na universidade.
Em paralelo, temos no chamado “movimento espírita” vários companheiros que são do meio acadêmico, que têm destacada atuação no cenário da divulgação espírita e, até, participam de instituições, compondo seus quadros diretivos, mas concentram sua atividade profissional e de pesquisa em temas “materialistas”, isto é, sem qualquer correlação com os princípios e postulados espiritistas.
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