A Caminho da Luz

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Em Busca de Sentido,,,,,,, Um Psicólogo no Campo de Concentração


Em Busca de Sentido 
Um Psicólogo no Campo de Concentração 
Viktor E. Frankl 

PREFÁCIO · EDIÇÃO NORTE AMERICANA - de 1984 
 O escritor e psiquiatra Viktor Frankl costuma perguntar a seus pacientes quando 
estão sofrendo muitos tormentos grandes e pequenos "Por que não opta pelo 
suicídio?" É a partir das respostas a esta pergunta que ele encontra, 
freqüentemente, as linhas centrais da psicoterapia a ser usada. Num caso, a pessoa 
se agarra ao amor pelos filhos; em outro, há um talento para ser usado, e, num 
terceiro caso, velhas recordações que vale a pena preservar. Costurar estes débeis 
filamentos de uma vida semi-destruída e construir com eles, um padrão firme, com 
um significado e uma responsabilidade - este é o objetivo e o desafio da logoterapia, 
versão da moderna análise existencial elaborada pelo próprio Dr. Frankl. 
 Neste livro, o Dr. Frankl descreve a experiência que o levou à descoberta da 
logoterapia. Prisioneiro durante longo tempo em campos de concentração, onde 
seres humanos eram tratados de modo pior do que se fossem animais ele se viu 
reduzido aos limites entre o ser e o não-ser. O pai, a mãe, o irmão e a esposa de 
Viktor Frankl morreram em campos de concentração ou em crematórios, e exceto 
sua irmã, toda sua família morreu nos campos de concentração. Como foi que ele - 
tendo perdido tudo o que era seu, com todos os seus valores destruídos, sofrendo 
de fome, do frio e da brutalidade, esperando a cada momento a sua exterminação 
final - conseguiu encarar a vida como algo que valia a pena preservar? 
 Um psiquiatra que passou pessoalmente por tamanha experiência certamente tem 
algo a dizer. Ele - mais que ninguém - pode ser capaz de ver a nossa condição 
humana com sabedoria e compaixão. As palavras do Dr. Frankl têm um acento 
profundamente honesto, porque estão baseadas em experiências tão profundas que 
impedem qualquer distorção. O que ele tem a dizer ganha em prestígio devido à sua 
atual posição na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena e por causa do 
renome das clínicas logoterapêuticas que hoje estão funcionando em muitos países, 
segundo o padrão da famosa Policlínica Neurológica de Viktor Frankl em Viena. 
 É impossível evitar a comparação entre os enfoques terapêutico e teórico de Frankl 
e o trabalho do seu predecessor, Sigmund Freud. Os dois se preocuparam 
basicamente com a natureza e a cura das neuroses. Freud encontra a raiz destas 
desordens angustiantes na ansiedade causada por motivos inconscientes e 
conflitantes. Frankl distingue várias formas de neurose e atribui algumas delas (as 
neuroses orgânicas) à incapacidade de encontrar um significado e um sentido de 
responsabilidade em sua existência. Freud acentua as frustrações da vida sexual; 
Frankl, a frustração do desejo de sentido e significado. Na Europa, hoje, há uma 
forte tendência a um distanciamento de Freud e a uma aproximação da análise 
existencial, que assume várias formas - entre elas a escola de logoterapia. Frankl 
não repudia a postura de Freud - e isto é típico da sua atitude tolerante - mas 
constrói seu trabalho de bom grado sobre as contribuições freudianas. Tampouco 
ataca as outras formas de terapia existencial, mas aceita com satisfação o 
parentesco da logoterapia com elas. 
 Esta narrativa, embora breve, é muito bem construída e atraente. Por duas vezes 
eu a li sem levantar uma só vez da poltrona, incapaz de me afastar da seqüência de 
suas palavras. 
 Em algum momento, depois da metade da história, o Dr. Frankl introduz sua própria 
filosofia logoterapêutica, mas o faz de modo tão suave ao longo da narrativa que só 
depois de terminar a leitura é que o leitor percebe tratar-se de um profundo ensaio, e 
não apenas de mais uma história sobre as brutalidades dos campos de concentração. 

O leitor pode aprender muito com este fragmento autobiográfico. Ele percebe o 
que um ser humano faz quando subitamente compreende que não tem "nada a 
perder senão sua existência tão ridiculamente nua". Frankl faz uma cativante 
descrição do misto de emoção e apatia. Primeiro surge uma fria e distante 
curiosidade de saber o próprio destino. Depois surgem estratégias de preservação 
do que resta de vida, apesar das chances de sobreviver serem pequenas. Fome, 
humilhação, medo e profunda raiva das injustiças são dominadas graças às imagens 
sempre presentes de pessoas amadas, graças ao sentimento religioso, a um amargo 
senso de humor e até mesmo graças às visões curativas de belezas naturais - uma 
árvore ou um pôr-do-sol. 
 Mas estes momentos de conforto não estabelecem o desejo de viver - a menos 
que ajudem o prisioneiro a ver um sentido maior no seu sofrimento aparentemente 
destituído de significado. É aqui que encontramos o tema central do existencialismo. 
 A vida é sofrimento, e sobreviver é encontrar significado na dor, se há, de algum 
modo, um propósito na vida, deve haver também um significado na dor e na morte. 
Mas pessoa alguma é capaz de dizer o que é este propósito. Cada um deve 
descobri-lo por si mesmo, e aceitar a responsabilidade que sua resposta implica. Se 
tiver êxito, continuará a crescer apesar de todas as indignidades. Frankl gosta de 
citar esta frase de Nietzsche: 
 "Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como." 
 No campo de concentração todas as circunstâncias conspiram para fazer o 
prisioneiro perder seu controle. Todos os objetivos comuns da vida estão desfeitos. 
A única coisa que sobrou é "a última liberdade humana" - a capacidade de escolher 
a atitude pessoal que se assume diante de determinado conjunto de circunstâncias". 
Esta liberdade última, reconhecida pelos antigos estóicos e pelos modernos 
existencialistas, assume um vívido significado na história de Frankl. Os prisioneiros 
eram apenas cidadãos comuns; mas alguns, pelo menos, comprovaram a 
capacidade humana de erguer-se acima do seu destino externo ao optarem por 
serem "dignos do seu sofrimento". 
 Naturalmente, o autor, como psicoterapeuta, deseja saber como se pode ajudar as 
pessoas a alcançar esta capacidade exclusiva dos humanos. Como se pode 
despertar num paciente o sentimento de que é responsável por algo perante a vida, 
por mais duras que sejam as circunstâncias? Frankl nos dá um emocionante relato 
de uma sessão terapêutica que teve com seus companheiros de prisão. 
 Respondendo a um pedido do editor, o Dr. Frankl acrescentou à sua autobiografia 
uma exposição breve, mas clara dos pontos básicos da logoterapia. Até agora a 
maior parte das publicações desta "Terceira Escola Vienense de Psicoterapia" (as 
anteriores são as de Freud e Adler) tem aparecido em alemão. Assim, o leitor 
gostará de ter um texto adicional de Frankl complementando sua narrativa pessoal. 
 Ao contrário de muitos existencialistas europeus, Frankl não é nem pessimista nem 
anti-religioso. Ao contrário, para um escritor que enfrenta com coragem a ubiqüidade 
das forças do mal, ele assume uma visão surpreendentemente positiva da 
capacidade humana de transcender sua situação difícil e descobrir uma adequada 
verdade orientadora. 
 Recomendo sinceramente este pequeno livro, porque é uma obra-prima de 
narrativa dramática focalizada sobre os mais profundos problemas humanos. Tem 
méritos literários e filosóficos e fornece uma estimulante introdução a um dos mais 
significativos movimentos psicológicos de nossos dias. 
 Gordon W. Allport


Gordon W. Allport, professor de Psicologia na Universidade de Harvard, é um dos 
maiores escritores e professores nesta área no hemisfério norte. Publicou 
numerosos livros sobre Psicologia e foi o editor do Journal of Abnormal and Social 
Psychology. Foi principalmente através do trabalho pioneiro do Prof. Allport que a 
importante teoria de Frankl foi introduzida nos Estados Unidos. Além disso, é em 
grande parte graças a ele que o interesse em torno da logoterapia tem crescido 
exponencialmente neste país.

EM BUSCA DE SENTIDO 
Um Psicólogo no Campo de Concentração 
 Este livro não trata de fatos e acontecimentos externos, mas de experiências 
pessoais que milhares de prisioneiros viveram de muitas formas. É a história de um 
campo de concentração visto de dentro, contada por um dos seus sobreviventes. 
Não vamos descrever os grandes horrores (já bastante denunciados; embora nem 
sempre se acredite neles), mas sim as inúmeras pequenas torturas. Em outras 
palavras, tentarei responder à seguinte pergunta: "De que modo se refletia na 
cabeça do prisioneiro médio a vida cotidiana do campo de concentração?" 
 Diga-se de antemão que as experiências aqui relatadas não se relacionam tanto 
com acontecimentos nos campos de concentração grandes e famosos, mas com os 
que ocorreram em suas famigeradas filiais menores. É fato notório que justamente 
estes campos mais reduzidos eram autênticos locais de extermínio: Em pauta estará 
aqui não a paixão e morte dos grandes heróis e mártires, mas a das "pequenas" 
vítimas, a "pequena" morte da grande massa. Não vamos nos ocupar com aquilo 
que o Capo (* Prisioneiros que dispunham de privilégios (N. do E.).) nem este ou aquele 
prisioneiro pessoalmente importante sofreu ou tem para contar, mas vamos tratar da 
paixão do prisioneiro comum e desconhecido. Este último não usava o distintivo em 
forma de braçadeira a era desprezado pelos Capos. Enquanto ele passava fome até 
morrer de inanição, os Capos não passavam mal. Houve até alguns que nunca se 
alimentaram tão bem em sua vida. Do ponto de vista psicológico e caracteriológico, 
este tipo de pessoas deve ser encarado antes como os SS ou os guardas do campo 
de concentração. Os Capos tinham se assemelhado a estes, psicológica e sociologicamente, e com eles colaboravam. Muitas vezes eram mais rigorosos que a 
guarda do campo de concentração e eram os piores algozes do prisioneiro comum, 
chegando, por exemplo, a bater com mais violência que a própria SS. Afinal, de 
antemão somente eram escolhidos para Capos aqueles prisioneiros que se 
prestavam a este tipo de procedimento; e caso não fizessem jus ao que deles se 
esperava, eram imediatamente depostos. 
Seleção ativa e passiva 
 O não-iniciado que olha de fora, sem nunca ter estado num campo de 
concentração, geralmente tem uma idéia errada da situação num campo destes. 
Imagina a vida lá dentro de modo sentimental, simplifica a realidade e não tem a 
menor idéia da feroz luta pela existência, mesmo entre os próprios prisioneiros e 
justamente nos campos menores. É violenta a luta pelo pão de cada dia e pela 
preservação e salvação da vida. Luta-se sem dó nem piedade pelos próprios 
interesses, sejam eles do indivíduo ou do seu grupo mais íntimo de amigos. 
Suponhamos, por exemplo, que seja iminente um transporte para levar certo número 
de internados para outro campo de concentração, segundo a versão oficial, mas há 
boas razões para supor que o destino seja a câmara de gás, porque o transporte de 
pessoas doentes e fracas representa uma seleção dos prisioneiros incapacitados de 
trabalhar, que deverão ser dizimados num campo maior, equipado com câmaras de 
gás e crematório. É neste momento que estoura a guerra de todos contra todos, ou 
melhor, de uns grupos e panelinhas contra outros. Cada qual procura proteger-se a 
si mesmo ou os que lhe são chegados, pô-los a salvo do transporte, "requisitá-los" 
no último momento da lista do transporte. Um fato está claro para todos: para aquele 
que for salvo desta maneira, outro terá que entrar na lista. Afinal de contas, o que 
importa é o número; o transporte terá que ser completado com determinado número 
de prisioneiros. Cada qual então representa pura e simplesmente uma cifra, pois na 
lista constam apenas os números dos prisioneiros. Afinal de contas é preciso 
considerar que em Auschwitz, por exemplo, quando o prisioneiro passa pela 
recepção, ele é despojado de todos os haveres e assim também acaba ficando sem 
nenhum documento, de modo que, quem quiser, pode simplesmente adotar um 
nome qualquer, alegar outra profissão, etc. Não são poucos os que apelam para 
este truque, por diversas razões. A única coisa que não dá margem a dúvidas e que 
interessa aos funcionários do campo de concentração é o número do prisioneiro, 
geralmente tatuado no corpo. Nenhum vigia ou supervisor tem a idéia de exigir que o 
prisioneiro se identifique pelo nome, quando quer denunciá-lo, o que geralmente 
acontece por alegação de "preguiça". Simplesmente verifica o número que todo 
prisioneiro precisa usar, costurado em determinados pontos da calça, do casaco e 
da capa, e o anotar (ocorrência muito temida por suas conseqüências). 
 Voltemos ao caso do transporte previsto. Nesta situação o prisioneiro não tem 
tempo nem disposição para se demorar em reflexões abstratas e morais. Cada qual 
só pensa em salvar a sua vida para os seus, que por ele esperam em casa, e 
preservar aqueles aos quais se sente ligado de alguma forma no campo de 
concentração. Por isso não hesitará em dar um jeito de incluir outra pessoa, outro 
"número" no transporte. 
 O que dissemos acima já dá para entender que os Capos eram resultado de uma 
espécie de seleção negativa: para esta função somente se prestavam os indivíduos 
mais brutais, embora felizmente tenha havido, é claro, exceções, as quais, 
deliberadamente, não vamos considerar aqui. Mas além dessa seleção ativa, 
efetuada, por assim dizer, pelo pessoal da SS, havia ainda uma seleção passiva.

Existiam prisioneiros que viviam anos a fio em campos de concentração e eram 
transferidos de um para outro, passando às vezes por dezenas deles. Dentre eles, 
em geral, somente conseguiam manter-se com vida aqueles que não tinham 
escrúpulos nessa luta pela preservação da vida e que não hesitavam em usar 
métodos violentos ou mesmo em trair amigos. Todos nós que escapamos com vida 
por milhares e milhares de felizes coincidências ou milagres divinos - seja lá como 
quisermos chamá-los - sabemos e podemos dizer, sem hesitação, que os melhores 
não voltaram. 
Relato do prisioneiro No 119104 
Ensaio psicológico 
 Quando o ex-prisioneiro 119104 tenta descrever agora o que vivenciou como 
psicólogo no campo de concentração, é preciso observar de antemão que 
naturalmente ele não atuou ali como psicólogo, nem mesmo como médico (a não ser 
durante as últimas semanas). Cumpre salientar este detalhe, porque o importante 
não será mostrar o seu modo de vida pessoal, mas a maneira como precisamente o 
prisioneiro comum experimentou a vida no campo de concentração. Não é sem 
orgulho que digo não ter sido mais que um prisioneiro "comum", nada fui senão o 
simples nº 119104. A maior parte do tempo estive trabalhando em escavações e na 
construção de ferrovias. Enquanto alguns poucos colegas de profissão tiveram a 
sorte de ficar aplicando ataduras improvisadas com papel de lixo em postos de 
emergência dotados de algum tipo de calefação, eu, por exemplo, tive de cavar 
sozinho um túnel por baixo de uma estrada, para a colocação de canos d'água. Isto 
para mim não deixou de ser importante, pois como reconhecimento deste "serviço 
prestado" recebi dois dos assim chamados cupons-prêmio; pouco antes do Natal de 
1944. Esses cupons eram emitidos pela firma de construção à qual éramos 
literalmente vendidos como escravos pelo campo de concentração. Em troca de 
cada dia de trabalho de um prisioneiro a firma tinha que pagar à administração do 
campo determinada quantia. Cada cupom-prêmio custava à firma 50 centavos e era 
resgatado a 5 cigarros no campo de concentração, geralmente apenas depois de 
passadas algumas semanas. De repente eu estava de posse de um valor 
equivalente a doze cigarros! Acontece que doze cigarros valiam doze sopas, e doze 
sopas realmente significam muitas vezes a salvação da morte por inanição, para 
duas semanas, ao menos. Somente um Capo, que tinha seus cupons-prêmio 
garantidos, é que podia dar-se ao luxo de fumar cigarros além do prisioneiro que 
dirigia alguma oficina ou depósito no almoxarifado e que recebia cigarros em troca 
de favores especiais. Todos os demais, os prisioneiros comuns, costumavam trocar 
por gêneros alimentícios aqueles cigarros que recebiam através de cupons-prêmio, 
isto é, por meio de serviços adicionais que representavam perigo de vida; a não ser 
que tivessem desistido de continuar vivendo, por terem perdido as esperanças, 
resolvendo então gozar os últimos dias de vida que ainda tinham pela frente. 
Quando um colega começava a fumar seus poucos cigarros, já sabíamos que havia 
perdido a esperança de poder continuar - e, de fato, então não agüentava mais. 
 O anterior foi justificar e explicar o título do livro. Vejamos agora que sentido tem 
propriamente um relato deste tipo. 
 Afinal de contas, já foi publicado um número mais que suficiente de relatos 
contando os fatos nos campos de concentração. Aqui todavia, apresentaremos os 
fatos apenas na medida em que eles desencadearam uma experiência na própria 
pessoa; é para a experiência pessoal em si que se voltará o estudo psicológico que 
segue. Esse tem uma dupla intenção, procurando atingir tanto o leitor que conhece como o que não conhece por experiência própria 

o campo de concentração e a vida 
que ali se passa. Para o leitor que o conhece, procuraremos explicar suas 
experiências com os métodos científicos disponíveis no momento. Para os outros 
leitores, procuraremos tornar compreensível aquilo que para o Qrþelro já foi sentido 
e faltava ser explicado. O objetivo, então, é fazer o não-iniciado também 
compreender a experiência do prisioneiro e suas atitudes, e compreender também 
aquele número tão reduzido de ex-prisioneiros que sobreviveram, aceitando a sua 
atitude singular diante da vida – e que constitui uma novidade do ponto de vista 
psicológico. 
Pois a atitude dos sobreviventes não é sempre fácil de compreender. 
Frequentemente ouvimos essas pessoas dizer: "Não gostamos de falar sobre a 
nossa experiência. Não é necessária nenhuma explicação para quem esteve num 
campo, e a quem não esteve jamais conseguiremos explicar o que havia dentro de 
nós, nem tampouco o que continuamos sentindo hoje." 
 É muito difícil fazer uma exposição metódica deste tipo de ensaio psicológico. A 
psicologia exige distanciamento científico. Será que a pessoa que experimentou a 
vida no campo de concentração teria o distanciamento necessário, durante a 
experiência, ou seja, na época em que precisou fazer as respectivas observações? 
Aquele que está de fora tem distanciamento, mas está distante demais do fluxo de 
vivência para poder colocar qualquer afirmação válida. Pode ser que quem esteve 
completamente envolvido tivesse muito pouco distanciamento para poder chegar a 
um julgamento bem objetivo. Ocorre, porém, que somente ele chega a conhecer a 
experiência em questão. Naturalmente não só é possível mas é até muito provável 
que o critério que aplica às coisas esteja distorcido. Isto será inevitável. Ser mister 
tentar excluir da descrição o aspecto particular e pessoal na medida do possível; 
mas, quando necessário, ter também a coragem para uma descrição de cunho 
pessoal da experiência. Porque, a rigor, o perigo de uma investigação psicológica 
semelhante não reside em apresentar traços pessoais, mas exclusivamente em 
tornar-se tendenciosa. Por isso deixarei que outros destilem mais uma vez o que 
está sendo apresentado, tirando do extrato dessas experiências subjetivas as suas 
conclusões impessoais em forma de teorias objetivas. 
 Poderia ser uma contribuição à psicologia do encarceramento, investigada depois 
da Primeira Guerra Mundial, e que nos mostrou a "doença do arame farpado" dos 
primeiros campos de concentração. Devemos ser gratos à Segunda Guerra Mundial 
por ela ter aumentado o nosso conhecimento sobre a "psicopatologia das massas" 
(para parafrasear o título de um livro bastante conhecido de LeBon). Ela nos 
agraciou com a "guerra de nervos" e com todas as experiências do campo de 
concentração. 
 Neste ponto quero mencionar que inicialmente não pretendia publicar este livro 
com o meu nome, mas apenas indicando o meu número de prisioneiro. A razão disto 
estava em minha aversão a todo e qualquer exibicionismo com relação às 
experiências vividas. O manuscrito já estava concluído quando me convenceram de 
que uma publicação anônima comprometeria o seu próprio valor, visto que a 
coragem da confissão eleva o valor do testemunho. Por amor à causa, portanto, 
desisti também de cortes posteriores, suplantando a aversão do exibicionismo com a 
coragem de confessar - superando-me assim a mim mesmo. 
 Numa primeira classificação da enorme quantidade de material de observações 
sobre si mesmo ou sobre outros, do total de experiências e vivências passadas em 
campos de concentração, poderíamos distinguir três frases nas reações psicológicas 
do prisioneiro ante a vida no campo de concentração: a fase da recepção no campo,a fase da dita vida no campo de concentração e a fase após a soltura, ou melhor, da 
libertação do campo. CONTINUA ,,,,,,






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