A Caminho da Luz

segunda-feira, 27 de maio de 2013

CAPÍTULO V,,,, O reconhecimento


CAPÍTULO V
O reconhecimento
O segundo acontecimento que, a par do que acabamos de narrar, impôs-se marcando etapa decisiva em nossos destinos, teve início no honroso convite que recebemos da diretoria do Hospital para assistirmos a uma reunião acadêmica, de  estudos e experimentações psíquicas. Como sabemos, Jerônimo negara-se a anuir ao convite, e, por isso, na tarde daquele mesmo dia em que visitara a família, enquanto nos dirigíamos à sede do Departamento a fim de a ela assistir, ele, presa de desolação profunda, de supremo desconforto, solicitava a presença de um sacerdote, pois
confessava-se católico-romano e seus sentimentos impeliam-no à necessidade de assim se aconselhar e reconfortar-se, a fim de revigorar a fé no Poder Divino e serenar o coração que, como nunca, sentia despedaçado. Aquiesceu o magnânimo orientador do
Departamento Hospitalar, compreendendo que no espírito do ex-mercador português soava o momento do dealbar para o progresso, e que, dado os princípios religiosos que esposava, aos quais se apegava intransigentemente, a seu próprio benefício seria
prudente que a palavra que mais respeito e confiança lhe inspirasse fosse a mesma que o preparasse para a adaptação à vida espiritual e suas transformações.
Na Legião dos Servos de Maria e até mesmo nos serviços da Colônia que nos abrigava, existiam Espíritos eminentes que, em existências pregressas, haviam envergado a alva sacerdotal, honrando-a de ações enobrecedoras inspiradas nas fontes
fúlgidas dos sacrossantos exemplos do Divino Pegureiro. Dentre vários que colaboravam nos serviços educativos do Instituto a que nos temos reportado, destacava-se o padre
Miguel de Santarém, servo de Maria, discípulo respeitoso e humilde das Doutrinas consagradas no alto do Calvário. Era o diretor do Isolamento, instituição que, como sabemos, anexa ao
Hospital Maria de Nazaré, exercia métodos educativos severos, mantendo inalteráveis disciplinas por hospedar em seus domínios apenas individualidades recalcitrantes, prejudicadas por excessivos prejuízos terrenos ou endurecidas nos preconceitos
insidiosos e nas mágoas muito ardentes do coração. Portador de inexcedível paciência, exemplo respeitável de humildade, cordura e conformidade, aureolado por subidos sentimentos de amor aos infelizes e transviados e tocado de paternal compaixão por
quantos Espíritos de suicidas soubesse existir, era o conselheiro que convinha, o mentor adequado aos internos do Isolamento. Além de sacerdote era também filósofo profundo, psicólogo e cientista. Havia muito, em existência pregressa cursara Doutrinas Secretas na
Índia, conquanto depois tivesse outras migrações terrestres,  provando sempre as melhores disposições para o desempenho do apostolado cristão. Entre estas, a última fora passada em Portugal, onde recebera o nome acima citado, continuando a usá-lo no
além-túmulo, bem assim a qualidade de religioso sincero e probo.

Irmão Teócrito entregou o penitente Jerônimo a esse obreiro devotado, certo da sua capacidade para resolver problemas de tão espinhosa natureza. E foi assim que, naquela mesma tarde, quando as linhas do crepúsculo acentuavam de névoas pardacentas os jardins nevados dos burgos hospitalares, Jerônimo de Araújo Silveira se transferiu para o Isolamento, passando aos cuidados protetores de um sacerdote, tal como desejara. Desse dia em diante perdemos de vista o pobre comparsa de delito. Um ano mais tarde, no entanto, tivemos a satisfação de reencontrá-lo. Em capítulos
posteriores voltaremos a tratar desse muito estremecido companheiro de prélios reabilitadores.
No dia imediato ao da nossa internação no magno Instituto do Astral, passamos a ser diariamente levados aos gabinetes clínico-psíquicos onde era ministrado tratamento magnético muito eficiente, pois dentro de alguns dias já nos podíamos
reconhecer mais confortados e raciocinando com maior clareza, gradativamente fortalecidos como se tônicos revivificadores ingeríssemos através das aplicações a que
nos submetiam. Para tais gabinetes éramos encaminhados todas as manhãs, por nossos amáveis enfermeiros. Entrávamos, cada grupo de dez, para uma antecâmara rodeada de pequenos bancos estofados, onde esperaríamos durante curto espaço de tempo.
Notávamos que existiam várias dependências como essa, todas situadas em extensa galeria onde colunas sugestivas se alinhavam em perspectiva majestosa. Transcendia nesses recintos a estilização hindu, convidando à meditação e à gravidade.
Penetrávamos então o ambiente dos trabalhos.
Impregnado de fosforescências azuladas, então ainda  imperceptíveis à nossa capacidade espiritual, as dimensões desses gabinetes não eram extensas. Pequenos coxins orientais em tessitura semelhante à pelúcia branca, e dispostos em semicírculo,
aguardavam-nos, indicando que deveríamos sentar. Seis varões hindus esperavam os pacientes, concentrados no caridoso mandato.
A princípio tais cerimônias, sugestivas e rodeadas de um quase mistério, muito nos intrigaram. Não conhecêremos indianos psiquistas em Portugal. Tampouco fôramos aplicados a estudos e exames de natureza transcendental. Eis, todavia, que nos
surpreendíamos agora sob a dependência e proteção de uma falange de iniciados orientais, a cuja existência real não déramos jamais senão relativo crédito, por se nos afigurar excessivamente mística e lendária. O ambiente que agora contemplávamos, porém, impregnado de unção religiosa, a qual atuava poderosamente sobre nossas faculdades, lenificando-as ao impulso de religioso fervor, imprimia tão profundas e atraentes impressões em nossos Espíritos que, atordoados no seio do seu ineditismo,
julgávamos sonhar. Quando, pelas primeiras vezes, penetramos esses gabinetes saturados de ignotas virtudes, fomos mesmo acometidos de invencível sonolência, que nos provocou um como estado de semi-inconsciência.
Os operantes indicavam-nos o semicírculo formado pelos alvos coxins. Cinco
desses médicos espirituais postavam-se atrás, distanciados uns dos outros por espaço
simétrico, uniforme, até atingirem um em cada extremidade do semicírculo. O sexto
colocava-se à frente, como fechando o círculo dentro do qual ficávamos nós outros
prisioneiros - os braços cruzados à altura da cinta, a fronte atenta e carregada, como expedindo forças mentais dominadoras para caridosa vistoria e inspeção nas fráguas do nosso atormentado ser.
Em surdina vibravam ao nosso redor sussurros harmoniosos de prece. Mas não saberíamos distinguir se oravam, invocando as excelsas virtudes do Médico Celeste para nosso refrigério ou se nos advertiam e doutrinavam. O que não nos deixavam
dúvidas, por se impor à evidência, era que atravessavam nosso pensamento com os poderes mentais que possuíam, devassavam nosso caráter, examinando nossa
personalidade moral a fim de deliberarem sobre a corrigenda mais acertada – qual o cirurgião investigando as vísceras do cliente para localizar a enfermidade e combatê-la.
Tal certeza infundia-nos múltiplas impressões, a despeito do singular estado em que nos  encontrávamos. A vergonha por havermos pretendido burlar as Leis Superiores da Criação, afrontando-as com o ato brutal de que usáramos; o remorso pelo descaso à Majestade do Onipotente; a deprimente amargura de havermos dedicado nossas melhores energias aos gozos inferiores da matéria, atendendo de preferência aos imperativos mundanos, sem jamais observarmos as urgentes requisições da alma,
deixando de nos conceder momentos para a iluminação interior - eram pungentes estiletes que nos penetravam o âmago durante a sublime vistoria a que nos submetíamos, inspirando-nos mágoas e desgostos que eram o prelúdio de real e fecundo arrependimento. Nossos menores atos pretéritos voltavam dos pélagos trevosos em que jaziam para se aviventarem à nossa presença, nitidamente impressos em nós mesmos! 
Nossa vida, que o suicídio interrompera, desde a infância era assim reproduzida aos nossos olhos aterrorizados e surpreendidos, sem que fosse possível determos a torrente das cenas revivescidas para exame! Quiséramos poder fugir a fim de nos furtarmos à
vergonha de pôr a descoberto tanta infâmia, julgada oculta para sempre até de nós mesmos, pois, com efeito, era dramático, excessivamente penoso desatar volumes tão
variados de maldade e torpezas diante testemunhas tão nobres e respeitáveis!  Mas era em vão que o desejaríamos! Sentíamos que nos vinculávamos àqueles coxins pela ação de vontades que se haviam apossado de nosso ser! Ao fim de alguns minutos, porém,
suspendiam a operação. Esvaía-se o torpor. As lúgubres sombras do passado eram expungidas de nossa visão, recolhidas que eram ao pego revolto da subconsciência, aliviando a crueza das recordações. Então a fronte carregada do operador serenava qual arco-íris hialino. Um ar de amorosa compaixão derramava-se por suas atitudes, e, aproximando-se, espalmava sobre nossas cabeças as mãos níveas, enquanto os cinco demais assistentes o acompanhavam nos gestos e nas expressões. Compassivos, os
fluidos beneficentes que a seguir nos faziam assimilar - terapêutica divina - iriam, gradualmente, auxiliar-nos a corrigir as impressões de fome e de sede; a postergar a insana sensação de frio intenso, que num suicida resulta da gelidez cadavérica que ao
perispírito se comunica; a atenuar os apetites e arrastamentos inconfessáveis, tais os vícios sexuais, o álcool, o fumo, cujas repercussões e efeitos produziam desequilíbrios
chocantes em nossos sentidos espirituais, interceptando possibilidades de progresso na adaptação e impondo-nos humilhações singulares, por assinalar a ínfima categoria a que
pertencíamos, na respeitável sociedade dos Espíritos que nos rodeavam. 
Entre os esforços que nos sugeriam empreender, destacava-se o exercício da educação mental no tocante à necessidade de varrer das nossas impressões o dramático e apavorante hábito, tornado trejeito nervoso e alucinado, de nos socorrermos a nós próprios, na ânsia contumaz de nos aliviarmos do sofrimento físico que o gênero da morte provocara.
Como ficou explicado, havia aqueles que se preocupavam em estancar hemorragias, havia os enforcados a se debaterem de quando em quando, porfiando no esforço ilusório de se desfazerem dos farrapos de cordas ou trapos que lhes pendiam do pescoço; os afogados, bracejando contra as correntes que os haviam arrastado para o fundo; os "retalhados", hediondos quais fantasmas fabulosos, a se curvarem em intermitências macabras, na ilusão de recolherem os fragmentos dispersos, ensangüentados, do corpo carnal que lá ficara algures, estraçalhado sob as rodas do
veículo à frente do qual se arrojaram em audaciosa aventura, supondo furtarem-se ao  sagrado compromisso da existência! Tais gestos, repetimos, à força de se reproduzirem desde o instante em que se efetivara o suicídio, e quando o instinto de conservação
imprimiu na mente o impulso primitivo para a tentativa de salvamento, haviam degenerado em vício nervoso mental, sucedendo-se através das vibrações naturais ao princípio vital,
repercutidas na mente e transmitidas à organização físico-espiritual. Urgia que a Caridade, sempre pronta a espalmar asas protetoras sobre os que padecem, corrigindo, amenizando, dulcificando males e sofrimentos, impusesse sua benevolência à anomalia
de tantos desgraçados perdidos nos pantanais de tredas alucinações. Para isso, enquanto apunham as mãos sobre nossas cabeças, envolvendo-as em ondas magnéticas apropriadas à caridosa finalidade, os irmãos operadores murmuravam, enquanto
sugestões magnânimas reboavam pelos labirintos do nosso "eu" com repercussões precisas e fortes, quais clarinadas despertando-nos para uma alvorada de esperanças:
"- Lembrai-vos de que já não sois homens!... Ao afastar-vos daqui não deveis pensar a não ser na vossa qualidade de alma imortal, a quem não mais devem afetar os distúrbios do envoltório físico-carnal!... Sois Espíritos! E será como Espíritos que devereis
prosseguir a marcha progressiva nos planos espirituais!"
O convite para a reunião presidida por Teócrito deixara-nos satisfeitos.
Éramos sensíveis às demonstrações de afeto e consideração.
Um frêmito de horror percorreu minhas sensibilidades ao reconhecer na vasta assembléia figuras hirsutas, desgrenhadas e apavorantes do Vale Sinistro, conquanto confessasse a mim mesmo encontrá-las algo serenadas, tal qual acontecia a mim e meus
companheiros de apartamento. Será útil esclarecer que os componentes de nossa falange poderiam ser qualificados como "arrependidos", e, por isso mesmo, dóceis às orientações
fornecidas pelos insignes diretores do asilo que nos abrigava.
Um ou outro mantinha-se menos homogêneo, oferecendo problema mais sério a resolver. Todavia, era certo que a maioria se conservava fortemente animalizada, fosse conseqüência da inferioridade do caráter próprio ou resultado da violência do choque ocasionado pela bruteza do suicídio escolhido. Dentre estes destacavam-se os "retalhados", afogados, despenhados de grandes alturas, etc., etc. Atordoados, como que atoleimados, não era com facilidade que conseguiam suficiente dose de raciocínio para
compreender as imposições da vida espiritual. Ocupavam eles o asilo do Manicômio por inúmeras conveniências, entre outras as que arrastavam a necessidade de encobri-los à
nossa visão, pois repugnava-nos a presença deles, excitando impressões desarmoniosas, prejudiciais à serenidade de que carecíamos para o restabelecimento.
Não obstante, foram igualmente encaminhados ao local da reunião; e, quando, acompanhados por nossos dedicados amigos Joel e Roberto, entramos no vasto salão, ali os distinguimos entre muitos outros enfermos que, como nós, haviam sido requisitados.
Observando os antigos companheiros do vale de trevas, vi que se
esforçavam, como nós mesmos vínhamos tentando desde alguns dias, para corrigir os feios cacoetes já mencionados, pois, se o hábito impelia à repetição dos mesmos, lembravam-se a tempo e paralisavam a meio caminho o impulso mental que os
ocasionava, levando em consideração a sugestão oferecida pelos amoráveis assistentes. 
Então, riam-se de si mesmos em comovedores desabafos, nervosamente, pensando em que já não deveriam sentir os efeitos físicos do ato macabro. Riam uns para os outros como a se felicitarem mutuamente pelo alívio recebido através da informação de que já não deveriam sentir aquelas impressões... e como se o riso sacudisse vibrações tormentosas. Riam para se desacostumarem daquele choro malévolo que acordava sensações precipitosas!... No Hospital eram proibidas as rábicas convulsões do Vale Sinistro... e chorar, nas desesperadoras aflições com que para trás havíamos chorado, era destampar a comporta das torrentes das agonias que a caridade sacrossanta de Maria minorava através do desvelo dos seus servos... 
E eu, observando-os, ria também, sem fugir à estranha similitude da
falange... Sentamo-nos a um sinal de Roberto. Nada apresentava a sala que despertasse particular atenção. Contudo, se insuficiente não fora o grau de visão de que dispúnhamos para alcançar as sublimes manifestações de caridade que em nosso derredor pululavam, teríamos notado que delicadas vaporizações fluídicas, como orvalho refrigerante e ameno, deliam-se pelo recinto, impregnando-o de dúlcidas vibrações.

A um ângulo do tablado que do fundo do salão defrontava a assembléia, notava-se um aparelho muito semelhante aos existentes nas enfermarias, conquanto apresentasse certas particularidades. Dois jovens iniciados puseram-se a examiná-lo ao tempo que Irmão Teócrito tomava lugar na cátedra ladeado por outros dois companheiros, aos quais apresentou à assembléia como instrutores que nos deveriam orientar, e a quem deveríamos o máximo respeito. Satisfeitos, reconhecemos nestes os dois jovens hindus
que nos receberam quando da nossa entrada para o Hospital: Romeu e Alceste.
Silêncio religioso estendeu ondas harmoniosas de recolhimento pelo vasto salão, onde cerca de duzentos Espíritos, envolvidos nas mais embaraçosas redes da desgraça, acorriam arrastando as bagagens gravosas das próprias fraquezas, das amarguras incontáveis que enoitavam suas vidas. 
Desciam sobre as latitudes do nosso merencório cantão as nuanças
tristonhas do crepúsculo, que ali muitas vezes arrancava lágrimas de nossos corações, tal a pesada melancolia que infundia em derredor.
Seis melodiosas pancadas de um relógio que não víamos, ecoaram
docemente na amplidão da sala, como anunciando o início da reunião. E cântico harmonioso de prece, envolvente, emocional, elevou-se em surdina como se até nossa audição chegasse através de ondas invisíveis do éter, provindo de local distante, que não
poderíamos avaliar, enquanto se desenhava em uma tela junto à cátedra de Irmão Teócrito o sugestivo quadro da aparição de Gabriel à Virgem de Nazaré, participando a
descida do Redentor às ingratas praias do Planeta.
Era o instante amorável do Ângelus...
Levantando-se, o diretor fez breve e emocionante saudação a Maria, apresentando-nos reunidos pela primeira vez para uma invocação. Doce refrigério estendeu-se sobre nossos corações. As lágrimas irromperam e emoções gratas ergueram-se dos túmulos íntimos em que jaziam, acordadas pelas lembranças do lar
paterno, da infância longínqua, de nossas mães, a quem nenhum de nós certamente amara devidamente, a ensinar-nos ao pé do leito o balbucio sublime da primeira oração!...
Como tudo isso estava distante, quase apagado sob as voragens das
paixões e das desgraças daí consequentes!... E  eis  que,  inesperadamente, tais lembranças ressuscitavam, como fantasma que vinha para se impor com o sabor de ósculos maternos em nossas frontes abatidas! 
Fundas saudades dilataram nossos pensamentos, predispondo-os à ternura do momento grandioso que nos ofereciam como oportunidade abençoada...
Seria longo enumerar minúcias das belas quanto proveitosas sequências dos ensinamentos e experiências que passávamos a receber desde essa tarde memorável, os quais integravam o melindroso tratamento a ser ministrado, espécie de doutrinação -
terapêutica moral -, com ação decisiva sobre reações necessárias à reeducação de que tínhamos urgência. Diremos apenas que nessa primeira aula fomos submetidos a operações tão melindrosas, levadas a efeito em o nosso senso íntimo, que a incerteza
quanto ao estado espiritual, para o qual resvaláramos, foi hábil e caridosamente removida de nossa compreensão, deixando que a luz da verdade, sem constrangimentos, se impusesse à evidência. Ficamos categoricamente convencidos da nossa qualidade de
Espíritos separados do envoltório corporal terreno, o que até então, para a maioria, era] motivo de confusões acerbas, de assombros incompreensíveis! E tudo se desenrolou singelamente, sendo nós próprios os compêndios vivos usados para as magníficas
instruções - as operações irrefutáveis! Vejamos como os eruditos instrutores levavam a cabo o sacrossanto mandato:
Belarmino de Queiroz e Sousa que, como sabemos, era individualidade portadora de vasta cultura intelectual, além de ser adepto das doutrinas filosóficas de Augusto Comte, foi convidado, dentre outros que depois receberam o privilégio, a subir ao
estrado onde se realizaria a formosa experiência instrutiva. Devemos observar que Irmão  Teócrito tomava parte em tão delicada cerimônia como presidente de honra, lente insigne
dos lentes em ação.
Colocaram o ex-professor de línguas à frente do aparelho luminoso que despertara nossa atenção à chegada, ao qual ligaram-no por um diadema preso a tênues fios que se diriam cíntilas imponderáveis de luz. Enquanto Alceste o ligava, Romeu informava-o, em tom assaz grave, de que conviria voltasse a alguns anos passados de
sua vida, coordenando os pensamentos a rigor, na seqüência das recordações, e partindo do momento exato em que a resolução trágica se apossara das suas faculdades. Para que tal conseguisse, auxiliava-o revigorando sua mente com emanações generosas que
de suas próprias forças extraía.
Belarmino obedeceu, passivo e dócil a uma autoridade para que não possuía forças capazes de desagradar. E, recordando, reviveu os sofrimentos oriundos da tuberculose que o atingira, as lutas sustentadas consigo mesmo ante a idéia do suicídio, a
tristeza inconsolável, a veraz agonia que se apoderara de suas faculdades em litígio entre o desejo de viver, o medo da moléstia impiedosa que avassalava sua organização física, supliciando-o sem tréguas, e a urgência do suicídio para, no seu doentio modo de pensar, mais suavemente atingir a finalidade a que a doença o arrastaria sob atrozes sofrimentos.
A proporção que se aproximava o desfecho, porém, o filósofo comtista esquivava-se, recalcitrando à ordem recebida. Suores gelados como lhe banhavam a fronte ampla de pensador, onde o terror mais e mais se acentuava, estampando expressões de desespero a cada novo arranco das dolorosas reminiscências...
Entretanto, o que mais surpreendia era que, na tela fosforescente à qual se ligava, iam-se reproduzindo as cenas evocadas pelo paciente, fato empolgante que a ele próprio, como à assistência, facultava a possibilidade de ver, de presenciar todo o amaro
drama que precedeu o seu ato desesperador e as minúcias emocionantes e lamentáveis do execrável momento! A este seguiam-se as tormentosas situações de além-túmulo que
lhe foram consequentes, o drama abominável que o surpreendera, as confusas sensações que durante tanto tempo o mantiveram enlouquecido.
Enquanto o primeiro operador auxiliava o paciente a extrair as recordações próprias, o segundo comentava-as explicando os acontecimentos em torno do suicídio, antes e depois de consumado, qual emérito professor a elucidar ignaros em matéria  indispensável. Fazia-o mostrando os fenômenos decorrentes do desprendimento do ser inteligente do seu casulo de limo corporal, violentado pelo desastroso gesto contra si mesmo praticado. Assistimos assim a surpreendente, inglória odisséia vivida pelo Espírito
expulso da existência carnal sob sua própria responsabilidade, a esbater-se como louco à revelia da Lei que violou, presa dos tentáculos monstruosos de sequências inevitáveis, criadas pela infração a um acúmulo determinante e harmonioso de leis naturais, sábias, invariáveis, eternas!
Esses extraordinários panoramas vieram anular as convicções materialistas do filósofo comtista, já bastante estremecidas, permitindo-lhe positivar em si mesmo, com minucioso exame, a separação do seu próprio astral do envoltório de lama corporal de
que se revestia, sobrevivendo lucidamente apesar do suicídio e da decomposição cadavérica.
Por esse eficiente quão singelo método, a grande maioria da assistência pôde compreender a razão da ardência indescritível dos sofrimentos pelos quais vinha passando, das sensações físicas atormentadoras que perduravam ainda, as múltiplas perturbações que impediam a serenidade ou o olvido que erroneamente esperara
encontrar no túmulo.
Entre outras observações levadas a efeito, merece especial  comentário, pela estranheza de que se revestia, o fato de todos trazermos pendentes da configuração astral, quando ainda no Vale, fragmentos reluzentes, como se de uma corda ou um cabo
elétrico arrebentados se desprendessem estilhas dos fios tenuíssimos que os estruturassem, sem que a energia se houvesse extinguido, ao passo que explicavam os  mentores residir em tão curioso fenômeno toda a extensão da nossa acrimoniosa desgraça, porquanto esse cordão, pela morte natural, será brandamente desatado,
desligado das afinidades que mantém com o corpo carnal, através de caridosos cuidados de obreiros da Vinha do Senhor incumbidos da sacrossanta missão da assistência aos moribundos, enquanto que, pelo suicídio, é ele violentamente despedaçado, e, o que é pior, quando as fontes vitais, cheias de seiva para o decurso de uma existência às vezes longa, ainda mais o solidificavam, mantendo a atração necessária ao equilíbrio da mesma.
Ora, diziam-nos que, a fim de nos desfazermos do profundo desequilíbrio que semelhante conseqüência produzia em nossa organização fluídica (não se falando aquida desorganização moral, porventura ainda mais excruciante) ser-nos-ia indispensável voltar
a animar outro corpo carnal, visto que, enquanto não o fizéssemos, seriamos criaturas desarmonizadas com as leis que regem o Universo, a quem indefiníveis incômodos privariam de quaisquer realizações verdadeiramente concordes com o progresso.
No entanto, Belarmino debatia-se, presa de choro e convulsões
espasmódicas, revivendo as danosas aflições que o acometeram, enquanto a assistência se fazia com ele solidária, deduzindo daquela pavorosa demonstração ocorrências que a si diziam respeito.
Comentava, porém, o instrutor:
"- Podereis observar, meus amigos, que, justamente porque o homem desejou furtar-se à existência planetária pelas enganosas escarpas do suicídio, não se eximiu, absolutamente, de nenhuma das amargurosas situações que o desgostavam, antes acumulou desditas novas, quiçá mais ardentes e pungitivas, à bagagem dos males que dantes o afetavam, os quais seriam certamente suportáveis se educação moral sólida, estribada no cumprimento do Dever, lhe inspirasse as ações diárias. Essa
educação orientadora, conselheira, salvadora, portanto, de desastres como o que
lamentamos neste momento, o homem somente não na tem adquirido no próprio cenário terreno, onde é chamado a realizações imperiosas, porque não a quer adquirir, visto sobejarem em torno de seus passos, no orbe de sua residência, instruções e ensinamentos capazes de conduzi-lo às alvoradas redentoras do Bem e do Dever!
O incauto viageiro terreno, porém, há preferido sempre desperdiçar
oportunidades benfazejas proporcionadas pela Divina Providência com vistas ao seu engrandecimento moral e espiritual, para mais livremente englobar-se às sombras insidiosas das paixões mantenedoras dos vícios e desatinos que o impelem ao
irremediável tombo para o abismo.
No torvelinho das atrações mundanas, como no embater das provações que o excruciam; ao choque das vicissitudes diárias, inalienáveis ao meio em que realiza as
experimentações para o progresso, como na fruição das doçuras fornecidas pelo lar próspero e feliz - jamais ao homem ocorre quaisquer esforços empreender para a iluminação interior de si mesmo, a reeducação moral, mental e espiritual cuja necessidade
inapelavelmente se impõe no porvir que seu Espírito será chamado a conquistar pela ordem natural das Leis da Criação. Ele nem mesmo compreende que possui uma alma dotada dos germens divinos para a aquisição de excelentes prendas morais e qualidades
espirituais eternas, germens cujo desenvolvimento lhe cumpre operar e aprimorar através do glorioso trabalho de ascensão para Deus, para a Vida Imortal! Ignora ser justamente
no cultivo desses dons que reside o segredo da obtenção perfeita dos ideais mais caros que acalente, dos sonhos venerados que suspira concretizar; e mais, que, desprezando o ser divino que em si palpita, o qual é ele próprio, é o seu Espírito imortal, descendente
que é do Todo-Poderoso, dá-se voluntariamente à condenação pela Dor, resvalando pelos ominosos desvios da animalidade e quiçá do crime, ais quais necessariamente arrastarão a lógica das reparações, das renovações e experiências dolorosas nos testemunhos da reencarnação, quando mais suave se tornaria a jornada ascensional se  meditasse prudentemente, procurando investigar a própria origem e o futuro que lhe compete alcançar! Foi essa fatal ignorância que vos impeliu à desoladora situação em que hoje
vos afligis, meus caros irmãos! mas a qual nosso fraterno interesse, inspirado no exemplo do Divino Cordeiro, tentará remediar, não obstante só o tempo e os vossos próprios esforços, em sentidos opostos aos verificados até agora, serem indispensáveis como a
mais acertada tentativa em prol da recuperação que se impõe.
Como vedes, destruístes o corpo material, próprio da condição do Espírito  reencarnado na Terra, único que teimáveis reconhecer como absoluto padrão de vida. No  entanto, nem desaparecestes, como desejáveis, nem vos libertastes dos dissabores que
vos desesperavam. Viveis! Viveis ainda! Vivereis sempre! Vivereis por toda a consumação dos evos uma Vida que é imortal, que jamais, jamais se extinguirá dentro do vosso ser,  jamais deixando de projetar sobre a vossa consciência o impulso irresistível para a frente, para o mais além!. . .
É que sois a candeia de valor inestimável, fecundada pelo Foco Eterno que entorna da Sua Imortalidade por sobre toda a Criação que de Si irradiou, concedendo-lhe as bênçãos do progresso através dos evos, até atingir a plenitude da glória na comunhão
suprema do Seu Seio!
O que contemplais em vós mesmos, neste momento inesquecível e solene para vós, a refletir-se da vossa mente impressionada com os acontecimentos sensacionais que vos dizem respeito, decerto marcará etapas decisivas na trajetória que insofismavelmente desenvolvereis através do porvir. De agora em diante desejareis,
certamente, aprender algo em torno de vós mesmos... pois a verdade é que tudo desconheceis em torno do Ser, da Vida, da Dor e do Destino... mau grado os pergaminhos que ostentáveis com galhardia na Terra, mau grado as distinções e honrarias que tanto assentavam às vossas insulsas vaidades de homens divorciados do
ideal divino!..."
Reanimado pelos sábios distribuidores de energias magnéticas, Belarmino
voltou ao lugar que ocupava na assistência, enquanto outro paciente subia ao estrado
para novo exame demonstrativo. Voltava, porém, refletindo no semblante, antes abatido e carregado, uma como aleluia de esperanças! Ao sentar-se ao nosso lado, apertou-nos
furtivamente as mãos, exclamando:
"-Sim, meus amigos! Eu sou imortal! Acabo de positivar, sem sombras de
dúvida, em mim próprio, a existência concreta do meu "eu" imaterial, do ser espiritual que
neguei! Nada sei! Nada sei! Cumpre-me recomeçar os estudos!... Mas só aquela certeza
constitui para mim uma grande conquista de felicidade: - Eu sou imortal!... Eu sou
imortal!..."
Nos dias subseqüentes, durante as mesmas reuniões fomos levados a
examinar, com minúcias penosíssimas, os atos errôneos praticados no transcurso da
existência que havíamos destruído, observando o emaranhado de prejuízos morais,
mentais, educativos, sociais, materiais, que nos arrastaram ao detestável resultado a que
chegáramos. Assistidos pelos mentores pacientes retroagimos com o pensamento até à
infância e voltamos sobre os próprios passos, e, muitas vezes banhados em copioso
pranto, e invariavelmente desapontados, confessamo-nos os próprios autores dos desenganos que nos abateram nos bulcões do suicídio. Como agíramos mal no desempenho das tarefas diárias que a sociedade impunha! Como nos portáramos selvagemente em todas as horas, não obstante o verniz de civilização de que nos
jactávamos!.. .
Integrando a repesa falange, muitos haviam patenteando o fruto nefasto da escassa educação moral obtida nos lares destituídos da verdadeira iluminação cristã!
Jovens que, apenas saídos da adolescência, haviam tombado inermes ao primeiro choque com as contrariedades comuns à existência terrena, preferindo a aventura do suicídio, completamente faltos de ideal, de senso, de respeito a si mesmo, à Família e a  Deus! As desgraças por eles encontradas, além do suicídio, eram como o terrível atestado, o pavoroso libelo contra a irresponsabilidade dos pais ou responsáveis por eles
à face de Deus, a prova infamante da desatenção com que se portaram deixando de diligenciar sólida edificação moral em torno deles! Para tais casos, soubemos que severas contas deveriam prestar futuramente às Soberanas Leis os descautelosos pais que
permitiram asas às perniciosas inclinações dos filhos, sem tentar corrigi-las, favorecendo  assim ocasiões aos desequilíbrios desesperados de que o suicídio foi o lógico resultado!
Depois de tão complexos exames voltávamos a novas reuniões a fim de  aprendermos como de preferência devíamos ter agido para evitar o suicídio, quais
deveriam ter sido os atos diários, os empreendimentos, se não nos afastáramos do raciocínio inspirado no Dever, na fé em nós mesmos e no paternal amor de Deus! Em  vários casos, a solução para os problemas, que abriram as portas para o abismo,
encontrava-se a dois passos de distância do sofredor; surgiria o socorro enviado pela
Providência ao seu filho bem-amado, dentro de alguns dias, de poucos meses, bastando somente que este se encorajasse para diminuta espera, em glorioso testemunho de vontade, paciência e coragem moral, necessário ao seu progresso espiritual! Então
concluímos com decepcionante surpresa que fácil teria sido a vitória e até a felicidade, se buscáramos no Amor Divino a inspiração para os ditames da existência que desgraçadamente destruíramos! Essas instruções proporcionaram sensíveis benefícios a todos nós.
Repetiam-se bissemanalmente, havendo os dignos mentores a elas adicionado proveitosas palestras elucidativas. Melhoras prometedoras experimentávamos em nosso aspecto geral, enquanto suaves esperanças segredavam edificante consolo aos nossos
corações doloridos. A presença dos instrutores passou a constituir motivo de imensa satisfação para nossas almas convalescentes de tão ásperos desesperos. As palavras que nos dirigiam durante as lições eram qual refrigerante orvalho sobre a comburência de
nossas aflições; e suas palestras e instruções, o trato carinhoso e compassivo dos gabinetes, outras tantas razões para nos considerarmos esperançosos e confiantes. 
Porém, jamais os víamos a não ser naqueles momentos oportunos; e, quando em  presença deles, tanto nos intimidávamos, apesar da ternura que nos dispensavam, que não nos animávamos a pronunciar sequer um monossílabo sem primeiramente sermos
interpelados. Em pouco mais de dois meses estávamos habilitados a amplas induções, cotejando as lições recebidas e sobre elas maturando no recolhimento de nossos apartamentos.
Das análises levadas a efeito resultava a certeza, cada vez mais esclarecida, da gravidade da situação em que nos encontrávamos. O fato de estarmos aliviados dos exuberantes incômodos passados não implicava diminuição de culpabilidade. Ao contrário, a  possibilidade de raciocinar minudenciava a extensão do delito, o que muito nos decepcionava e entristecia. E, das instruções e experiências caridosamente ministradas ao nosso entendimento a título de base e incentivo para uma urgente autoreforma
de que tínhamos imperiosa necessidade, visando ao inadiável progresso a ser realizado, destacaremos este esquema que enfeixaremos nestas singelas anotações de além-túmulo:
1 - É o homem um composto de tríplice natureza: - humana, astral e espiritual, isto é - matéria, fluido e essência. Esse composto poderá também ser traduzido em expressão mais concreta e popular, assimilável ao primeiro grau de observação: - corpo carnal,
corpo fluídico ou perispírito, e alma ou Espírito, sendo que do último é que se irradiam Vida, Inteligência, Sentimento, etc., etc. - centelha onde se verifica a essência divina e que no homem assinala a hereditariedade celeste! Desses três corpos, o primeiro é temporário, obedecendo apenas à necessidade das circunstâncias inalienáveis que contornam o seu possuidor, fadado à desorganização total por sua própria natureza  putrescível, oriunda do limo primitivo: - é o de carne. O segundo é imortal e tende a
progredir, desenvolver-se, aperfeiçoar-se através dos trabalhos incessantes nas lutas dos
milênios: - é o fluídico; ao passo que o Espírito, eterno como a Origem da qual provém,
luz imperecível que tende a rebrilhar sempre mais aformoseada até retratar em grau relativo o Fulgor Supremo que lhe forneceu a Vida, para glória do seu mesmo Criador - é a essência divina, imagem e semelhança - (que o será um dia) - do Todo-Poderoso Deus!
2 - Vivendo na Terra, esse ser inteligente, que deverá evolver pela Eternidade, denomina-se Homem! sendo, portanto, o homem um Espírito encarcerado num corpo de carne ou encarnado.
3 - Um Espírito volta várias vezes a tomar novo corpo carnal sobre a Terra, nasce
várias vezes a fim de tornar a conviver nas sociedades terrenas, como Homem, exatamente como este é levado a trocar de roupa muitas vezes...
4 - O suicida é um Espírito criminoso, falido nos compromissos que tinha para com
as Leis sábias, justas e imutáveis estabelecidas pelo Criador, e que se vê obrigado a
repetir a experiência na Terra, tomando corpo novo, uma vez que destruiu aquele que a
Lei lhe confiara para instrumento de auxílio na conquista do próprio aperfeiçoamento -
depósito sagrado que ele antes deveria estimar e respeitar do que destruir, visto que lhe
não assistiam direitos de faltar aos grandes compromissos da vida planetária, tomados
antes do nascimento em presença da própria consciência e ante a Paternidade Divina,
que lhe fornecera Vida e meios para tanto.
5 - O Espírito de um suicida voltará a novo corpo terreno em condições muito
penosas de sofrimento, agravadas pelas resultantes do grande desequilíbrio que o
desesperado gesto provocou no seu corpo astral, isto é, no perispírito.
6 - A volta de um suicida a um novo corpo carnal é a lei. É lei inevitável,
irrevogável! É expiação irremediável, à qual terá de se submeter voluntariamente ou não,
porque a seu próprio benefício outro recurso não haverá senão a repetição do programa
terreno que deixou de executar.
7- Sucumbindo ao suicídio o homem rejeita e destrói ensejo sagrado; facultado por
lei, para a conquista de situações honrosas e dignificantes para a própria consciência,
pois os sofrimentos, quando heroicamente suportados, dominados pela vontade soberana
de vencer, são como esponja mágica a expungir da consciência culposa a caligem
infamante, muitas vezes, de um passado criminoso, em anteriores etapas terrenas. Mas,
se, em vez do heroísmo salvador, preferir o homem a fuga às labutas promissoras,
valendo-se de um auto-atentado que bem revelará a vasa de inferioridade que lhe
infelicita o caráter, retardará o momento almejado para a satisfação dos mais caros
desejos, visto que jamais se poderá destruir porque a fonte de sua Vida reside em seu
Espírito e este é indestrutível e eterno como o Foco Sagrado de que descendeu!
8 - Na Espiritualidade raramente o suicida permanecerá durante muito tempo.
Descerá à reencarnação prestamente, tal seja o acervo das danosas conseqüências
acarretadas; ou adiará o cumprimento daquela inalienável necessidade caso as
circunstâncias atenuantes forneçam capacidade para o ingresso em cursos de
aprendizado edificante, que facilitarão as pelejas futuras a prol de sua mesma
reabilitação.
9 - O suicida é como que um clandestino da Espiritualidade. As leis que regulam a
harmonia do mundo invisível são contrariadas com sua presença em seus páramos antes  da época determinada e legal; e tolerados são e amparados e convenientemente
encaminhados porque a excelência das mesmas, derramada do seio amoroso do Pai
Altíssimo, estabeleceu que a todos os pecadores sejam incessantemente renovadas as
oportunidades de corrigenda e reabilitação!
10 - Renascendo em novo corpo carnal, remontará o suicida à programação de
trabalhos e prélios diversos aos quais imaginou erradamente poder escapar pelos atalhos
do suicídio; experimentará novamente tarefas, provações semelhantes ou absolutamente
idênticas às que pretendera arredar; passará inevitavelmente pela tentação do mesmo
suicídio, porque ele mesmo se colocou nessa difícil circunstância carreando para a
reencarnação expiatória as amargas seqüências do passado delituoso! A tal tentação,
porém, poderá resistir, visto que na Espiritualidade foi devidamente esclarecido,
preparado para essa resistência. Se contudo vier a falir por uma segunda vez - o que será
improvável -, multiplicar-se-á sua responsabilidade, multiplicando-se, por isso mesmo,
desastrosamente, as séries de sofrimentos e pelejas reabilitadoras, visto que é imortal!
11 - O estado indefinível, de angústia inconsolável, de inquietação aflitiva e
tristeza e insatisfações permanentes; as situações anormais que se decalcam e sucedem
na alma, na mente e na vida de um suicida reencarnado, indescritíveis à compreensão
humana e só assimiláveis por ele mesmo, somente lhe permitirão o retorno à normalidade
ao findar das causas que as provocaram, após existências expiatórias, testemunhos
severos onde seus valores morais serão duramente comprovados, acompanhando-se de
lágrimas ininterruptas, realizações nobilitantes, renúncias dolorosas de que se não poderá
isentar... podendo tão dificultoso labor dele exigir a perseverança de um século de lutas,
de dois séculos... talvez mais... tais sejam o grau dos próprios deméritos e as disposições
para as refregas justas e inalienáveis!
Tais deduções não nos deixavam, absolutamente, ilusões acerca do futuro
que nos aguardava. Cedo, portanto, compreendemos que, na espinhosa atualidade que
vivíamos, um roteiro único apresentava-se como recurso a possíveis suavizações em
porvir cuja distância não podíamos prever: - submetermo-nos aos imperativos das leis que
havíamos infringido, observarmos conselhos e orientações fornecidos por nossos
amorosos mentores, deixando-nos educar e guiar ao sabor do seu alto critério, como
ovelhas submissas e desejosas de encontrar o consolo supremo de um aprisco...


Nenhum comentário:

Postar um comentário