Das curas à crítica acidável
Não é de interesse deste artigo atacar quem quer que seja, apenas manifestar a nossa opinião àqueles que expõem contrariamente estas ideias, uma vez que a crítica franca e aberta é própria da doutrina espírita, e quando não há o debate transparente favorece-se o domínio da ignorância.
Não raro encontrar em algumas casas espíritas a atividade dedicada à tarefa de cura aos enfermos do corpo físico, e, não demora, uma saraivada de críticas é endereçada aos médiuns tarefeiros nesta área, quando não maculam a imagem da própria instituição, mesmo desempenhando as atividades dentro dos requisitos básicos, oferecidos pela FEB (Orientação ao Centro Espírita). A artilharia pesada do fogo amigo, sempre a destilar impropérios baseando-se na sentença não se coloca remendo de pano novo em vestido velho.
No entanto, o excelso guia e modelo da humanidade, o Senhor Jesus, em suas atividades na Terra, nos parece que pouco serviu de exemplificação para os nossos dias. O sublime peregrino distribuiu a mancheias verdadeiros banquetes de curas aos transeuntes das estradas adustas e arenosas da região da antiga Judeia, e, na exemplificação da parábola do bom samaritano, além do atendimento ao enfermo do corpo físico, ordenou ao doutor da lei “ide e fazei o mesmo”.(1)
Basta uma pequena observação em o “O Evangelho segundo o Espiritismo” para se averiguar a conceituação de Kardec ao aludido tema, quando assim se expressa o Codificador, referindo às atividades de Curas de Jesus: esse dom lhes havia sido dado gratuitamente por Deus para o alívio daqueles que sofriam, e para ajudar a propagação da fé. (2)
Um dos grandes problemas da atualidade, certamente, é que não estamos sabendo aproveitar a grande massa de público que nos busca na cura transitória do corpo, e ajudar na propagação da fé espírita, deixando de lado um dos maiores atrativos de conduzir os adeptos à cura definitiva, através dos valores do Evangelho de Jesus, em apresentando o Cristo repaginado e descrucificado, oferecido pelo Consolador.
O codificador da Doutrina Espírita era conhecedor e estudioso das experiências do médico austríaco, Franz Anton Mesmer, que por sua vez foi magnetizador; em seguida, o maior arauto da doutrina após Kardec, Francisco Cândido de Paula Xavier, também foi médium de cura, e por mais de 60 anos realizou seu apostolado atendendo as pessoas doentes do corpo através do Espírito do Dr. Bezerra de Menezes. Divaldo Pereira Franco também foi atendido em uma de suas viagens de volta de São Paulo, na própria casa do Chico, ainda em Pedro Leopoldo no ano de 1954, pelo Espírito da Irmã Scheilla, livrando-se momentaneamente da suspeita de um câncer na garganta, diante da presença de amigos, como Carlos Cavalcante, Martin Peralva e Arnaldo Rocha. (3)
A atividade de cura se desenvolve com a ação e coordenação dos Espíritos das diversas instâncias de esclarecimento e moralidade, numa interação de perispírito para perispírito, e certamente, com o devido respeito aos médiuns de cura, não devemos jamais aceitar a intervenção das facas, canivetes ou bisturis, tanto quanto as terapias alternativas, e manifestar extremado cuidado com os receituários, porque esta não é a proposta espírita, mas da ciência médica.
A intervenção dos Espíritos é sobejamente divulgada nas obras de André Luiz, com ação direta e indireta dos Espíritos, seja na ação dos fluídos dos próprios Espíritos, ou na manipulação das árvores e plantas do campo, tanto quanto se manipula as ervas na homeopatia terrena. (4)
Embora a casa espírita jamais deva trabalhar somente com este propósito, podendo admitir em consequência e nunca como objetivo, mas uma vez constatado o ambiente favorável, e a existência de médiuns para esta finalidade, respeitemos os fundamentos que já estão postos, deixados por Jesus, “Curai os enfermos”, mesmo sabendo que todas as atividades de uma casa espírita são atividades de Cura.
Se há pouca crença em nós sobre esta necessidade, perguntemos com que propósito o Dr. Bezerra executa sua tarefa de médico dos encarnados até hoje? Qual a utilidade da Irmã Scheilla no mundo físico, em plena execução de suas tarefas de enfermagem? Por que equipes e equipamentos médicos são instalados em câmaras de passe? Como desqualificar as avançadas funções médicas na espiritualidade, se a Terra se liga ao mundo espiritual tanto quanto o mundo espiritual se liga à Terra. Se os corpos não tivessem importância, não se estudaria em minúcias na espiritualidade o seu aperfeiçoamento, e o apóstolo do Senhor não o qualificaria de templo do Espírito Santo, ou será que desconhecemos que foi o senhor da gênese planetária que criou os corpos dos homens? (5)
Desconsiderar a importância do corpo é desconhecer que as alternativas da saúde e da doença influem de maneira muito importante sobre a alma, e menosprezar as necessidades que são indicadas pela natureza é desconhecer as leis de Deus.
O conceito de que o Espiritismo não veio para curar corpos físicos é de fundamento duvidoso, uma vez que a conceituação que possuímos é a de que a casa espírita é um Hospital de atendimento integral aos homens. Os que manifestam posição contrária deixam evidências do pouco conhecimento que têm das dimensões dos Centros espíritas e suas funções.
Nos dias atuais assistimos passivamente a companheiros de outros credos se refestelando nas reuniões de cura em nome do Senhor Jesus, mesmo podendo dar tão pouco, e nós espíritas cheios de puritanismo e pudor permanecemos hibernados, deixando de utilizar uma prerrogativa que deveria ser do Espiritismo, já que a doutrina se reveste da condição de Cristianismo redivivo, e o Senhor assegurava aos seus discípulos que acompanharia uma condição excepcional em que, se impusessem as mãos sobre os enfermos, estes ficariam curados. (6)
Se as atividades das casas espíritas desde a portaria até a saída do visitante fossem divulgadas a ele, inclusive a energização curativa recebida, é possível que não se contasse o número de estudantes e trabalhadores em nossas casas, e não mais ouviríamos na câmara secreta de nosso coração a enternecida palavra de Jesus “A messe é grande, mas os ceifeiros são poucos”.
Bibliografia:
1. O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XV, item 02
2. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVI, item 02
3. Conversando com Divaldo P. Franco, (I) FEP, p. 73
4. Nosso Lar, Cap. 50
5. Missionários da Luz, Cap. 12
6. Novo Testamento, Marcos, Cap. 16 v. 18.
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