Sócrates e Platão, filósofos da Grécia Antiga, foram sem margem para
dúvida, dois precursores da filosofia espírita-cristã, porquanto, todos
os diálogos platónicos são intemporais, pois para além de já anunciarem
alguns dos princípios espíritas-cristãos, destacam-se pela busca
incessante dos Ideais ou Arquétipos, pelo que é lícito afirmar-se que a
filosofia socrático-platónica contém os germens, quer do Cristianismo,
quer do Espiritismo, que a bem dizer constituem uma só Doutrina: a
Espírita-Cristã; Sócrates e Platão foram assim dois pioneiros em busca
dos Ideais ou Arquétipos Puros, que prepararam o caminho para a divina
missão do Cristo, o Homem Arquetípico, ou seja, o Guia e Modelo de
Perfeição Moral, que toda a Humanidade Terrestre deve seguir como
exemplo de conduta, que por sua vez, preparou o caminho para o
surgimento do Espiritismo, porquanto, ao prenunciar a vinda do Espírito
da Verdade, Cristo referia-se ao advento do Espiritismo, que é o
desenvolvimento natural e científico do Cristianismo.
A Filosofia
Socrático-Platónica, o Cristianismo e o Espiritismo, têm assim em comum,
para além dos princípios básicos da existência de Deus, da imortalidade
da alma, da reencarnação, das penas e recompensas futuras, (…), o facto
de se caracterizarem pela busca incessante dos Arquétipos de Verdade,
Justiça, Beleza, Bondade, (...), ou seja, pela procura dos Ideais em si
mesmos; note-se que ao falar aqui em Arquétipos, não me refiro às
simples definições ou termos de comparação relativos, dos respectivos
valores; refiro-me sim, aos Ideais Absolutos, Eternos e Imutáveis, ou
seja, à Verdade, à Justiça, ao Belo, ao Bem, (…), em si e por si mesmos,
ou seja, não sujeitos a qualquer mutação e isentos de toda e qualquer
definição relativista, pois que são sempre iguais a si mesmos.
Será
que estes Arquétipos a que me refiro existem de facto? Existem; e Deus,
o Ser Divino, é quem Os possui; mas, será que só a Divindade é que é
detentora de Arquétipos? Penso que não; e por isso, tentarei demonstrar,
que para além destes Arquétipos Divinos, existem outros arquétipos, que
designarei de arquétipos humano-espirituais, que por sua vez, serão
inferiores aos Divinos, visto que é impossível alguém igualar-se a
Deus.
É sabido que Deus, o Ente Supremo, cria os espíritos, simples
e ignorantes, ou seja, com todas as faculdades que lhes são inerentes
em estado embrionário, se assim me posso exprimir, pois que por essa
altura, não possuem quaisquer conhecimentos, nem qualquer
desenvolvimento moral; é assim, através das sucessivas existências, que
os espíritos vão desenvolvendo as respectivas faculdades morais e
intelectuais. Segue-se que, para facilitar o caminho aos espíritos, ou
seja, para nos facilitar o caminho, pois que todos somos espíritos,
Deus, nos dotou com um roteiro, a que se dá o nome de consciência, e
nessa mesma consciência espiritual, no acto da criação, deixou gravadas e
escritas as Suas Leis, ou seja, as Leis Divinas, assim como, um artista
assina a sua obra depois desta estar terminada; as Leis Divinas,
constituem, se assim me posso exprimir, uma espécie de Assinatura
Divina, ou seja, a marca de Deus, nas suas criações espirituais: os
espíritos.
Se temos as Leis de Deus, gravadas na consciência, porque
é que nem todos seguem o caminho do bem? Porque é que existe o mal? E,
afinal de contas, como distinguir o bem do mal?
Nem todos seguem o
caminho do bem e existe o mal, pois Deus, para além de nos dotar com
este roteiro, que serve para distinguirmos o bem do mal, também nos
criou dotados de livre arbítrio, ou seja, com tanta e igual liberdade,
para seguirmos o caminho do bem, como o do mal; do contrário, pergunto
eu: onde estaria o mérito, em fazer o bem e renunciar ao mal?
Se
assim não fosse, seríamos apenas simples máquinas orgânicas mais ou
menos pré-destinadas, com uma liberdade muito limitada, e sem
responsabilidade, a nível de pensamentos e sentimentos; com o livre
arbítrio, somos livres, para pensar e sentir, o que bem entendermos,
mas, como somos responsáveis pelo que pensamos e sentimos, sofremos a
todo o momento, as consequências boas ou más, desses mesmos pensamentos e
sentimentos, consoante eles sejam bons ou maus, respectivamente;
afinal, o que é mais justo, mais sensato e mais lógico? Ser uma máquina
pré-destinada ou ser um espírito dotado de livre arbítrio?
Como
distinguir então o bem do mal? Eis, a última das questões
supramencionadas; primeiro, direi que o bem, conceptualmente falando, é
tudo o que está de acordo com as Leis de Deus, logo, fazer o bem, é agir
de acordo com essas mesmas Leis; por sua vez, o mal, resulta da
transgressão das respectivas Leis Divinas, de onde se conclui, muito
facilmente, que o criador do mal é o ser humano e não Deus; porquanto, é
o ser humano, que através do livre arbítrio, opta por transgredir as
Leis de Deus, contrariando assim a própria consciência, e originando
aquilo que vulgarmente se designa de mal.
É por isso, que quando
fazemos o mal, sentimos aquilo que comummente se apelida de peso na
consciência, que é o resultado da transgressão às Leis, que temos
gravadas na consciência, originando-se o respectivo mal-estar moral
interior; já, quando fazemos o bem, sentimos o respectivo bem-estar
moral interior, pois que estamos a agir em conformidade com a nossa
própria consciência.
À medida, então, que evoluímos, quer moral, quer
intelectualmente, vamo-nos consciencializando cada vez mais, desses
arquétipos espirituais, que temos gravados na consciência, que
constituem as Leis Divinas; senão vejamos: a que seres humanos dotados
de bom senso, não lhes repugna somente a ideia, dos actos bárbaros, que
narra a história, há séculos e séculos atrás? Não é isto o reflexo e
resultado da evolução moral e intelectual dos espíritos humanos?
Portanto,
distinguir o bem do mal, não é assim tarefa tão difícil, quanto possa
parecer à primeira vista, isto se, seguirmos o guia infalível da
consciência, e as máximas morais, preconizadas por Cristo, que nos
dizem, que o bem, conceptualmente falando, consiste em não fazermos aos
outros, o que não queremos que os outros nos façam, e, em fazermos aos
outros, o que queremos que os outros nos façam; e, que o mal, por sua
vez, resulta da transgressão destas respectivas máximas morais;
porquanto, da consciência arquetípica de Cristo, já resplandeciam os
arquétipos espirituais da humildade, verdade, justiça, bondade, (…),
pois que a mesma, já não se encontrava obscurecida pelo orgulho, egoísmo
e restantes imperfeições humanas, que daí se originam.
Ora, se
estes arquétipos espirituais a que me refiro não existissem, onde
estaria então o fundamento das definições e expressões relativistas, que
todos nós usamos diariamente, ao dizermos por exemplo que determinadas
coisas ou acções, são justas, verdadeiras, belas, bondosas, (…), ou,
injustas, falsas, feias, maldosas? (…); não constitui este facto, a
prova evidente de que os arquétipos existem de facto? Eis, que seguindo a
regra axiomática de que todo o efeito tem uma causa, é possível provar
que os ideais ou arquétipos de justiça, verdade, beleza, bondade, (…),
não constituem uma utopia, como muitos possam pensar, pois que é pela
busca incessante dos mesmos, que os seres humanos, vão construindo as
respectivas definições relativas, mais ou menos imperfeitas, acerca dos
respectivos arquétipos; e, é exactamente por este motivo, que as noções
actuais de justiça e bondade, se bem que ainda imperfeitas, estão mais
aperfeiçoadas, se comparadas com as definições acerca da justiça e
bondade, dos tempos bárbaros, logo, estão mais próximas da Justiça e do
Bem Arquetípicos; porquanto, à medida que os espíritos humanos progridem
em ciência, arte e moralidade, através das sucessivas encarnações,
vão-se depurando, cultivando as virtudes e eliminando os defeitos, ou
seja, vão-se dando conta dos arquétipos espirituais que estão contidos
na própria consciência; daí as definições divergentes, relativas e mais
ou menos imperfeitas, que cada ser humano atribui aos respectivos
ideais, pois que não nos encontramos todos no mesmo nível moral e
intelectual; isto significa, que quanto mais obscurecida, por assim
dizer, estiver a consciência arquetípica, com os mais variados defeitos e
vícios humanos, mais deficitárias serão as respectivas definições
relativas acerca dos arquétipos espirituais. Segue-se daí, que quanto
mais trabalharmos no nosso próprio aperfeiçoamento moral e intelectual,
cultivando as virtudes e eliminando os defeitos, tão mais depressa,
alcançaremos o nosso objectivo final, que é a Pureza Espiritual; nessa
altura, saberemos então o que são em si mesmos, os Arquétipos
Espirituais, porquanto, a nossa consciência arquetípica, já não se
encontrará obscurecida, por nenhuma imperfeição humana.
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