A Caminho da Luz

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O CONQUISTADOR DIFERENTE

O CONQUISTADOR DIFERENTE.Espírito: IRMÃO X.Os conquistadores aparecem no mundo, desde as recuadas eras da selvageria
primitiva. E, há muitos séculos, postados sem soberbos carros de triunfo, exibem
troféus sangrentos e abafam, com aplausos ruidosos, o cortejo de misérias e lágrimas
que deixam à distância. Sorridentes e felizes, aceitaram as ovações do povo e
distribuem graças e honrarias, cobertos de insígnias e incensados pelas frases
lisonjeiras da multidão. Vasta fileira de escritores congrega-se-lhes em torno,
exaltando-lhes as vitórias no campo de batalha. Poemas épicos e biografias
romanceadas surgem no caminho, glorificando-lhes a personalidade que se eleva,
perante os homens falíveis, à dourada galeria dos semideuses.
Todavia, mais longe, na paisagem escura, onde choram os vencidos, permanecem
as sementeiras de dor que aguardarão os improvisados heróis na passagem implacável
do tempo. Muitas vezes, contudo, não chegam a conduzir para o túmulo as medalhas
que lhes brilham no peito dominador, porque a própria vida humana se incumbe de
esclarece-los, através das sombras da derrota, dos espinhos da enfermidade e das
amargas lições da morte.
Dario, filho de Histaspes, reis dos persas, após fixar o poderio dos seus exércitos,
impôs terríveis sofrimentos à Índia, a Trácia e à Macedônia, conhecendo, em seguida,
a amargura e a derrota, à frente dos gregos.
Alexandre Magno, por tantos motivos e admirado na história do mundo, titulou-se
generalíssimo dos helenos, em plena mocidade e, numa série de movimentos militares
que o celebrizaram para sempre, infligiu inomináveis padecimentos aos lares gregos,
egípcios e persas; todavia, apesar das glórias bélicas com que desafiava cidades e
guerreiros, fazendo-se acompanhar de incêndios e morticínios, rendeu-se à doença
que lhe imobilizou os ossos em Babilônia.
Aníbal, o grande chefe cartaginês, espalhou o terror e a humilhação entre os
romanos, em sucessivas ações heróicas que lhe imortalizaram o nome, na crônica
militar do Planeta; contudo, em seguida à bajulação dos aduladores e à falsa
concepção de poder, foi vencido por Cipião, transformando-se num foragido sem
esperança, suicidando-se, por fim, num terrível complexo de vaidade e loucura.
Júlio César, o famoso general que pretendia descender de Vênus e de Anquises,
constitui um dos maiores expoentes do engenho humano; submeteu a Gália e
desbaratou os adversários em combates brilhantes, governando Roma, na qualidade
de magnífico triunfador; no entanto, quando mais se lhe dilatava a ambição, o punhal
de Bruto, seu protegido e comensal, assassinou-o, sem comiseração, em pleno
Senado.
Napoleão Bonaparte, o imperador dos franceses, depois de exercer no mundo uma
influência de que raros homens puderam dispor na Terra, morre, melancolicamente,
numa ilha apagada, ao longo da vastidão do mar.
Ainda hoje, os conquistadores modernos, depois dos aplausos de milhões de
vozes, após a dominação em que se fazem sentir, magnânimos para os seus amigos e
cruéis para os adversários, espalhando condecorações e sentenças condenatórias,
caem ruidosamente dos pedestais de barro, convertendo-se em malfeitores comuns, a
serem julgados pelas mesmas vozes que lhes cantavam louvores na véspera.
Todos eles, dominadores e tiranos, passam no mundo, entre as púrpuras do
poder, a caminho os mistérios do sofrimento e dos desencantos da morte. Em verdade,
sempre deixam algum bem no campo das relações humanos, pelas novas estradas
abertas e pelas utilidades da civilização, cujo aparecimento aceleram; todavia, o
progresso amaldiçoa-lhes a personalidade, porque as lágrimas das mães, os soluços
dos lares desertos, as aflições da orfandade, a destruição dos campos e o horror da
natureza ultrajada, acompanham-nos, por toda parte, destacando-os com execráveis
sinais.
Um só conquistador houve no mundo, diferente de todos pela singularidade de
sua missão entre as criaturas. Não possuía legiões armadas, nem poderes políticos,
nem mantos de gala. Nunca expediu ordens e soldados, nem traçou programas de
dominação. Jamais humilhou e feriu. Cercou-se de cooperadores aos quais chamou
“amigos”. Dignificou a vida familiar, recolheu crianças desamparadas, libertou os
oprimidos, consolou os tristes e sofredores, curou cegos e paralíticos. E, por fim, em
compensação aos seus trabalhos, levados a efeito com humildade e amor; aceitou
acusações para que ninguém as sofresse, submeteu-se à prisão para que outros não
experimentassem a angústia do cárcere, conheceu o abandono dos que amava,
separou-se dos seus, recebeu, sem revolta, ironias e bofetadas, carregou a cruz em
que foi imolado e na sua morte passou por ser a de um ladrão.
Mas, desde a última vitória no madeiro, tecida em perdão e misericórdia,
consolidou o seu infinito poder sobre as almas, e, desde esse dia, Jesus Cristo, o
conquistador diferente, começou a estender o seu divino império no mundo,
prosseguindo no serviço sublime da edificação espiritual, no Oriente e no Ocidente, no
Norte e no Sul, nas mais cariadas regiões do Planeta, erguendo uma Terra
aperfeiçoada e feliz, que continua a ser construída, em bases de amor e concórdia,
fraternidade e justiça, acima da sombria animalidade do egoísmo e das ruínas geladas
da morte.
FONTE: LIVRO ANTOLOGIA MEDIÙNICA DO NATAL –
Psicografia: Francisco Cândido Xavier
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