BREVE HISTÓRICO SOBRE O MAGNETISMO
Adilton
Pugliese da obra "Terapia pelos Passes",
Projeto
Manoel P. Miranda, Editora Leal
Identificar as
origens da terapia espírita conhecida como passes é realizar longa viagem aos
tempos imemoriais, aos horizontes primitivos da pré-história, porquanto essa
técnica de cura está presente em toda a história do homem. "Desde essa
época remota, o homem e os animais já conviviam com o acidente e com a doença.
Pesquisas destacam que os dinossauros eram afetados' por tumores na sua
estrutura óssea; no homem do período paleolítico e da era neolítica há
evidência de tuberculose da espinha e de crises epilépticas".
"Herculano Pires
diz que o passe nasceu nas civilizações antigas, como um ritual das crenças
primitivas. A agilidade das mãos sugeria a existência de poderes misteriosos,
praticamente comprovados pelas ações cotidianas da fricção que acalmava a dor.
As bênçãos foram as primeiras manifestações típicas dos passes. O selvagem não
teorizava, mas experimentava, instintivamente, e aprendia a fazer e a desfazer
as ações, com o poder das mãos".
No Antigo Testamento,
em II Reis, encontramos a expectativa de Naamá: "pensava eu que ele sairia
a ter comigo, por-se-ia de pé, invocaria o nome do Senhor seu Deus, moveria a
mão sobre o lugar da lepra, e restauraria o leproso".
Na Caldéia e na
Índia, os magos e brâmanes, respectivamente, curavam pela aplicação do olhar,
estimulando a letargia e o sono. No Egito, no templo da deusa Isis, as
multidões aí acorriam, procurando o alívio dos sofrimentos junto aos
sacerdotes, que lhes aplicavam a imposição das mãos.
Dos egípcios, os
gregos aprenderam a arte de curar. O historiador Heródoto destaca, em suas
obras, os santuários que existiam nessa época para a realização das fricções
magnéticas.
Em Roma, a saúde era
recuperada através de operações magnéticas. Galeno, um dos pais da medicina
moderna, devia sua experiência na supressão de certas doenças de seus pacientes
à inspiração que recebia durante o sono. Hipócrates também vivenciou esses
momentos transcendentais, bem como outros nomes famosos, como Avicena,
Paracelso...
Baixos relevos
descobertos na Caldéia e no Egito, apresentam sacerdotes e crentes em atitudes
que sugerem a prática da hipnose nos templos antigos, com finalidades
certamente terapêuticas.
"Com o passar
dos tempos, curandeiros, bruxas, mágicos, faquires e, até mesmo, reis (Eduardo,
O Confessor; Olavo, Santo Rei da Noruega e vários outros) utilizavam os toques
reais".
Depreendemos, a
partir desses breves registros, que a arte de curar através da influência
magnética era prática normal desde os tempos antigos, sobretudo no tempo de
Jesus, quando os seus seguidores exercitavam a técnica da cura fluídica através
das mãos. Em o Novo Testamento vamos encontrar o momento histórico do próprio
Mestre em ação: E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica
limpo! E imediatamente ele ficou limpo da lepra. "Os processos energéticos
utilizados pelo Grande Mestre da Galiléia são ainda uma incógnita. O talita
kume! ecoando através dos séculos, causa espanto e admiração. A uma ordem do
Mestre, levanta-se a menina dada como morta, pranteada por parentes e
amigos".
Todos esses fatos
longínquos pertencem ao período anterior a Franz Anton Mesmer, nascido a
23.05.1733 em Weil, Áustria. Educado em colégio religioso, estudou Filosofia,
Teologia, Direito e Medicina, dedicando-se também à Astrologia.
"No século
XVIII, Mesmer, após estudar a cura mineral magnética do astrônomo jesuíta
Maximiliano Hell, professor da Universidade de Viena, bem como os trabalhos de
cura magnética de J.J. Gassner, divulgou uma série de técnicas relativas à
utilização do magnetismo humano, instrumentalizado pela imposição das mãos.
Tais estudos levaram-no a elaborar a sua tese de doutorado - De Planetarium
Inflexu, em 1766 - de cujos princípios jamais se afastou. Mais tarde, assumiram
destaque as experiências do Barão de Reichenbach e do Coronel Alberto de
Rochas".
Mesmer admitia a
existência de uma força magnética que se manifestava através da atuação de um
"fluido universalmente distribuído, que se insinuava na substância dos
nervos e dava, ao corpo humano, propriedades análogas ao do imã. Esse fluido,
sob controle, poderia ser usado como finalidade terapêutica".
Grande foi a
repercussão da Doutrina de Mesmer, desde a publicação, em 1779, das suas
proposições: A memória s0bre a descoberta do Magnetismo Animal, passando, em
seguida, a ser alvo de hostilidades e, em face das surpreendentes experiências
práticas de terapia, conseguindo curas consideráveis, na época vistas como maravilhosas,
transformar-se em tema de discussões e estudos.
"Em breve,
formaram-se dois campos: os que negavam obstinadamente todos os fatos, e os
que, pelo contrário, admitiam-nos com fé cega, levada, algumas vezes até à
exageração".
Enquanto a Faculdade
de Medicina de Paris "proibia qualquer médico declarar-se partidário do
Magnetismo Animal, sob pena de ser excluído do quadro dos doutores da
época", um movimento favorável às idéias de Mesmer levava à formação das
Sociedades Magnéticas, sob a denominação de Sociedades de Harmonia, que tinham
por fim o tratamento das moléstias.
Em França, por toda a
parte, curava-se pelo novo método. "Nunca, diria Du Potet, a medicina
ordinária ofereceu ao público o exemplo de tantas garantias", em face dos
relatórios confirmando as curas, que eram impressos e distribuídos em grande
quantidade para esclarecimento do povo.
Como destacamos, o
Magnetismo era tema principal de observação e estudos, sendo designadas
Comissões para estudar a realidade das técnicas mesmerianas, atraindo a atenção
de leigos e sábios. Em 1831, a Academia de Ciências de Paris, reestudando os
fenômenos, reconhece os fluidos magnéticos como realidade científica. Em 1837,
porém, retrata-se da decisão anterior, e nega a existência dos fluidos.
Deduz-se que essa
atitude dos relatores teria sido provocada pela forma adotada pelos
magnetizadores para tornar popular a novel Doutrina: explorando o que se chamou
A Magia do Magnetismo, utilizando pacientes sonambúlicos, teatralizando a série
de fenômenos que ocorriam durante as sessões, e as encenações ruidosas, que
ficaram conhecidas como a Câmara das Crises ou O Inferno das Convulsões, tendo
como destaque central
a Tina de Mesmer - uma grande caixa redonda feita de carvalho, cheia de água,
vidro moído e limalha de ferro, em torno da qual os doentes, em silêncio,
davam-se as mãos, e apoiavam as hastes de ferro, que saiam pela tampa
perfurada, sobre a parte do corpo que causava a dor. Todos eram rodeados por
uma corda comprida que partia do reservatório, formando a corrente magnética.
Todo esse aparato,
porém, não era apropriado para convencer os observadores do efeito eficaz e
positivo das imposições e dos passes.
Ipso facto, as
Comissões se inclinaram pela condenação do Magnetismo, considerando que as
virtudes do tratamento ficavam ocultas, enquanto os processos empregados
estimulavam desconfiança e descrédito.
Os seguidores de
Mesmer, entretanto, continuaram a pesquisar e a experimentar.
"O Marquês de
Puységur descobre, à custa de sugestões tranquilizadoras aos magnetizados; o
estado sonambúlico do hipnotismo; seguem os seus passos Du Potet e Charles
Lafontaine".
No sul da Alemanha, o
padre Gassner leva os seus pacientes ao estado cataléptico, usando fórmulas e
rituais, admitindo a influência espiritual.
Em 1841, um médico
inglês, o Dr.James Braid, de Manchester, surpreendeu-se com a singularidade dos
resultados produzidos pelo conhecido magnetizador Lafontaine, assistindo uma de
suas sessões públicas, ao agir sobre os seus pacientes, fixando-lhes os olhos e
segurando-lhes os polegares.
Braid, em seus
trabalhos e escritos científicos, procurou explicar o estado psíquico especial,
que era comum nos fenômenos ditos magnéticos, sonambúlicos e sugestivos. Em
seus
derradeiros trabalhos
passou a admitir a hipótese de dois fenômenos de efeitos semelhantes: um
hipnótico, normal, devido a causas conhecidas e um magnético, paranormal, a
exemplo da visão a distância e a previsão do futuro.
Outros pesquisadores
seguiram-no: Charcot, Janet, Myers, Ochorowicz, Binet e outros.
Em 1875, Charles
Richet, então ainda estudante, busca provar a autenticidade científica do
estado hipnótico, que segundo ele, mais não era que um estado fisiológico
normal, no qual a inteligência se encontrava, apenas, exaltada".
Antes, porém, em
Paris, o Magnetismo também atrairá a atenção do pedagogo, homem de ciências,
Professor Hippolyte Léon Denizard Rivail. Consoante o Prof. Canuto Abreu, em
sua célebre obra O Livro dos Espíritos e sua Tradição Histórica e Lendária,
Rivail integrava o grupo de pesquisadores formado pelo Barão Du Potet
(1796-1881), adepto de Mesmer, editor do Journal du Magnétisme e dirigente da
Sociedade Mesmeriana. À página 139 dessa elucidativa obra, depreende-se que o
Prof. Rivail freqüentava, até 1850, sessões sonambúlicas, onde buscava solução
para os casos de enfermidades a ele confiados, embora se considerasse modesto
magnetizador.
Os vínculos, do
futuro Codificador da Doutrina Espírita, com o Magnetismo, ficam evidenciados
nas suas anotações intimas, constantes de Obras Póstumas, relatando a sua
iniciação no Espiritismo, quando em 1854 interessa-se pelas informações que lhe
são transmitidas pelo magnetizador Fortier, sobre as mesas girantes, que lhe diz:
"parece que já não são somente as pessoas que se podem
magnetizar"..., sentindo-se à vontade nesse diálogo com o então
pedagogista Rivail. São dois magnetizadores, ou passistas, que se encontram e
abordam questões do seu íntimo e imediato interesse.
Mais tarde, ao
escrever a edição de março de 1858 da Revista Espírita, quase um ano após o
lançamento de O Livro dos Espíritos em 18.04.1857, Kardec destacaria: " O
Magnetismo preparou o caminho do Espiritismo(...). Dos fenômenos magnéticos, do
sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas(...) sua conexão é tal que,
por assim dizer, é impossível falar de um sem falar de outro". E conclui,
no seu artigo: "Devíamos aos nossos leitores esta profissão de fé, que
terminamos com uma justa homenagem aos homens de convicção que, enfrentando o
ridículo, o sarcasmo e os dissabores, dedicaram-se corajosamente à defesa de
uma causa tão humanitária
É o depoimento
inconteste do valor e da profunda importância da terapia através dos passes, e,
mais tarde, em 1868, ao escrever a quinta e última obra da Codificação, A
Gênese, abordaria ele a "momentosa questão das curas através da ação
fluídica", destacando que todas as curas desse gênero são variedades do
Magnetismo, diferindo apenas pela potência e rapidez da ação. O princípio é
sempre o mesmo: é o fluido que desempenha o papel de agente terapêutico, e o
efeito está subordinado à sua qualidade e circunstâncias especiais.
Os passes têm
percorrido um longo caminho desde as origens da humanidade, como prática
terapêutica eficiente, e, modernamente, estão inseridos no universo das
chamadas Terapêuticas Espiritualistas.
Tem sido exitosa, em
muitos casos, a sua aplicação no tratamento das perturbações mentais e de
origem patológica. Praticado, estudado, observado sob variáveis nomenclaturas,
a exemplo de magnoterapia, fluidoterapia, bioenergia, imposição das mãos,
tratamento magnético, transfusão de energia-psi, o passe vem notabilizando a
sua qualidade terapêutica, destacando-se seus desdobramentos em Passe
Espiritual (energias dos Espíritos), Passe Magnético (energias do médium) e
Passe Mediúnico (energias dos Espíritos e do médium), constituindo-se, na
atualidade, em excelente terapia praticada largamente nas Instituições
Espíritas.
Amparado por um
suporte científico, graças, sobretudo, às experiências da Kirliangrafia ou
efeito Kirlian, de que se têm ocupado investigadores da área da Parapsicologia,
e às novas descobertas da Física no campo da energia, vem obtendo a aceitação e
a prescrição de profissionais dos quadros da Medicina, sobretudo da
psiquiátrica, confirmando a excelência do Espiritismo, que explica a etiologia
das enfermidades mentais e oferece amplas possibilidades de cura desses
distúrbios psíquicos, ampliando a ação terapêutica da Psicoterapia moderna.
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