A Caminho da Luz

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Os fins não justificam os meios


Os fins não justificam os meios


“As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.” - Jesus (Mateus, 8:20)



Uma das bênçãos concedidas a nós pelo Pai Celestial, o livre-arbítrio, permite-nos avaliar caminhos, ponderar alternativas e escolher o que entendemos ser o melhor para o momento. Sublime instrumento evolutivo, através dele tornamo-nos responsáveis por nosso destino e por toda influência por nós exercida no meio que nos envolve. É nas tessituras das relações que vamos montando o grande tapete da vida, no qual cada fio vai se envolvendo a outros fios, dentro do divino caminho da construção de nós mesmos e do mundo que habitamos.
Jesus, assim como nós, exerceu seu livre-arbítrio, desde antes a sua vinda ao plano carnal. Programou o local, a época de Seu nascimento e Sua missão, ensinando-nos através de suas escolhas o melhor roteiro para nossas próprias decisões.

Poderia ter escolhido o berço intelectual da antiga Grécia para enriquecer-nos com sua filosofia excelsa. Poderia, ainda, ter optado pelo berço rico da pomposa Roma, estando próximo aos “senhores do mundo”, que imperavam absolutos no tempo antigo. Mas não. Preferiu a manjedoura, numa cidade de pouca expressão, sob domínio de outra civilização, num país árido e descontente, em uma época de grandes dificuldades em diversos setores da vida humana.

Diz-nos Emmanuel que “ninguém mais humilde que Ele, o Divino Governador da Terra. Podia eleger um palácio para a glória do nascimento, mas preferiu sem mágoa a manjedoura simples. Podia reclamar os princípios da cultura para o seu ministério de paz e redenção; contudo, preferiu pescadores singelos para instrumentos sublimes do seu verbo de luz”. (Emmanuel, p. 43)

Através das escolhas de Jesus, podemos sondar nossas próprias escolhas.

Foi Ele o exemplo de simplicidade, de humildade, de fé. Não buscava destaques, embora sua Luz nunca tenha passado despercebida. Utilizava-se da natureza para ensinar, conduzindo seu rebanho pelos caminhos da Boa Nova, indicando que deveriam guardar o tesouro do coração nos bens imperecíveis do Espírito imortal.

Lançou ao mundo a maior de todas as Doutrinas, pedindo aos companheiros que confiassem no Pai amoroso, pois que nada lhes faltaria pelo caminho desértico da divulgação daquelas sublimes ideias.
Com Ele aprendemos que todo o homem inclinado ao Bem é e sempre será socorrido pelas forças do bem, sendo que o bem não se alia ao mal para seus fins.

O Mestre não defendeu a utilização de comércio na Casa do Pai para justificar os gastos da Casa material. Também não aconselhou que seus seguidores juntassem dinheiro para seguirem pregando, em Seu nome, pelo mundo antigo. Tampouco optou por conchavos com os Fariseus para que a Boa Nova fosse aceita.

Proclamou que o Reino dos Céus é para os simples, os humildes, os mansos.

Nós, os espíritas da atualidade, na certeza de que aqui estamos com o objetivo maior de fazer reviver o Cristianismo Primitivo, precisamos focar a imprescindibilidade da vivência dos exemplos de Jesus. “Os tempos são modernos, mas a verdade é única!” (Pereira, 2010). Não podemos divulgar a Doutrina que abraçamos, utilizando-nos, para isso, de meios antidoutrinários, anticristãos.

Muitos espíritas, no afã de angariarem fundos para a manutenção das Casas onde atuam, com a ideia de que devem aumentar as fontes para a ajuda das pessoas financeiramente carentes, esquecem-se de preceitos básicos, abraçando a prática de rifas, bingos, palestras cobradas, congressos gigantescos e caros, venda de livros não espíritas que trazem conceitos estranhos ao Espiritismo, etc.
Como poderíamos justificar o uso de jogos de azar para soerguimento de recursos para manutenção de uma Casa Espírita?

Como poderíamos defender a ideia de se cobrar de um irmão do caminho determinado valor para que ele possa conhecer as Leis de Deus?

Como poderíamos admitir personalismos deprimentes dentro do Movimento, diante dos exemplos deixados por Jesus? Teria Ele destacado algum de seus seguidores?

Disse-nos, ao contrário, que aquele que quiser ser o primeiro que seja o ultimo e que aquele que quiser ser o maior, que seja o mais humilde...

Meus irmãos! Acordemos! Mais que isso: Confiemos! Deus nunca nos desampara na causa do Bem! Deixemos de lado a ilusão de que precisamos de meios escusos para realizar o bem no mundo! O próprio Mestre nos deu as diretrizes com relação a estas questões: “Também vós não indagueis o que comer, o que beber; não estejais inquietos. Pois estas coisas as nações do mundo buscam, mas vosso Pai Celestial sabe que necessitais disto. Todavia, buscai primeiramente o Reino Dele, e estas coisas vos serão acrescentadas”. (Lucas, 12: 29 a 31)

Chico Xavier, nos primórdios de seu apostolado mediúnico e caritativo, quando visitado pela Benfeitora Espiritual Isabel de Aragão, que lhe pediu para que doasse pães aos pobres daquela cidade, sentiu medo. “- Senhora, sou pobre e nada tenho par dar. Que auxílio poderei prestar aos mais pobres do que eu mesmo?” . – (...) quase sempre não tenho pão para mim. Como poderei repartir pães com os outros?... A dama sorriu e esclareceu: "Chegará o tempo em que você disporá de recursos. Você vai escrever para as nossas gentes peninsulares e, trabalhando por Jesus, não poderá receber vantagem material alguma pelas páginas que você produzir, mas vamos providenciar para que os Mensageiros do Bem lhe tragam recursos para iniciar a tarefa. Confiemos na Bondade do Senhor". (Neto, 1992).

Nunca lhe faltaram os recursos para manter a Casa onde realizou abençoada tarefa durante todos os anos de sua vida. Nunca soubemos de Chico vendendo cartelas de rifas, bingos ou participando de palestras cobradas para realizar seu trabalho. Escrevia livros e doava seu esforço cristão ao bem. Defendia a literatura barata, o livro simples, a pureza doutrinária, os encontros à sombra do abacateiro. Auxiliou verdadeiras multidões, mantendo-se dentro da simplicidade, sua marca inconfundível de trabalhador do Cristo.

Jorge Hessen, comentando sobre a grave questão das palestras espíritas pagas, diz-nos que “é evidente que essas práticas, em nome de Kardec, têm fragilizado as bases da Doutrina dos Espíritos, provocando rachaduras no edifício doutrinário. Há desmesurada distância entre aqueles simples bancos e cadeiras de madeira do Grupo Espírita da Prece de Uberaba e os soberbos hotéis que servem de tablado para espetáculos de oradores que, absortos em suas insânias dinásticas, veiculam temas decorados apoiados nas suas memórias privilegiadas”. (Hessen, 2011)

Ponderemos que, assim como o saudoso Chico, Francisco de Assis, Gandhi, Buda, Yvonne Pereira, irmã Dulce e tantos outros exemplos a serem seguidos, nos deram seu recado de confiança e postura do verdadeiro filho de Deus.

Estudemos esses Espíritos. Estudemos Kardec! Estudemos Jesus!

Deixemos de lado as práticas complicadas. Não precisamos destes caminhos para realizarmos o bem. O bem é simples e puro. Ele é confiança e calma.

Auxiliemos com o recurso de que dispomos. Sempre que for o momento de o trabalhador sincero e atento agir, o campo lhe será apresentado. Trabalhemos confiantes, exercitando nosso livre-arbítrio com sabedoria, com sensatez. Pois, assim como nos alerta o confrade Jorge Hessen, “menos pesa na consciência o epíteto de puritanos do que de vendilhões das coisas santas!” (Hessen, 2011)


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