Embora essas mudanças ocorram muito rapidamente, talvez, de uma geração para a outra, é possível registrarem-se historicamente grandes mudanças sociais que marcaram época.
Os períodos de transformações mais marcantes estão relacionados com as grandes descobertas ou com as revoluções nos paradigmas vigentes.
A revolução tecnológica e industrial se iniciou com o domínio do fogo e das técnicas de agricultura, causando as primeiras grandes renovações no comportamento social do ser humano. A agricultura fixou o homem em pontos estratégicos, garantindo uma subsistência mais duradoura. Ao desfrutar de interesses comuns, ele se organizou socialmente e passou a defender com mais empenho o seu território.
As descobertas da imprensa, da máquina a vapor, do motor a combustão, do rádio, do cinema, do telefone, da televisão, do computador entre outras, provocaram transformações vultosas exigindo novas sistemáticas de organização para o trabalho e para a hierarquia da sociedade. Essas conquistas instrumentalizaram o homem, permitindo que ele multiplique sua força, amplie sua velocidade, economize seu tempo, difunda suas idéias, divulgue seus costumes e, enfim, concretize seus sonhos.
A revolução dos paradigmas científicos que ocorreu em épocas diversas, repercutiu também no comportamento e nos costumes das sociedades humanas.
René Descartes separa definitivamente o corpo da alma. Copérnico desmistifica a Terra como sendo centro do Universo. Galileu Galilei visualiza com lunetas os planetas e seus satélites, e inaugura a experimentação científica sistematizada. Charles Darwin desloca o homem do centro da criação e descobre como se hierarquiza o desenvolvimento da vida na Terra. Isaac Newton descreve as leis fundamentais do movimento e da atração e repulsão entre os corpos, descobrindo a Lei da Gravidade, e Albert Einstein disseca a anatomia da luz, expõe a relatividade do tempo e do espaço, e identifica a matéria como energia condensada.
Através da ciência, o homem se transforma, reinterpretando o mundo onde vive, modificando suas relações com o meio ambiente e com o seu semelhante.
Por outro lado, enquanto ser social, o Homem tem sempre um comportamento político. É através da política que ele estabelece e impõe a hierarquia de poderes.
Esse poder tem sido exercido quase sempre de maneira autoritária, centralizadora, subjugando povos inteiros e manipulando a consciência humana, impondo regras para os costumes e os comportamentos sociais.
Mesmo assim, e apesar disso, o livre-arbítrio e a liberdade individual têm sido o ideal e a esperança desejada por todos os povos e, sempre que essas condições deixaram de ser respeitadas, ultrapassando-se o grau de liberdade, o direito de cada um e as tradições de cada povo, o Homem se aviltou e a suja sociedade sucumbiu.
Talvez angustiado pela sua fragilidade e perplexo diante da Natureza que o cerca, o Homem desenvolveu um caráter místico e transcendente. Ao criar suas tradições e crenças religiosas, ele estabeleceu regras que disciplinaram a ética e a moral, fazendo-o distinguir o comportamento certo do errado e o objeto sagrado do profano.
Porém, a maioria das Religiões que deveriam abrir a mente humana favorecendo as conquistas espirituais para todos, quase sempre, se constituíram em doutrinas sectárias que estabeleceram limites rígidos de liberdade física e psicológica. E, quase todas, criaram um sistema de troca de favores com Deus ou com suas Divindades, ignoraram o princípio de Igualdade entre os Homens perante Deus, estabelecendo um sistema hierárquico entre seus sacerdotes e uma escala de privilégios entre seus seguidores.
Por isso, ainda hoje, o fanatismo religioso serve de argumento para oprimir e segregar a mulher nos países muçulmanos, para separar em dezenas de grupos o mesmo povo na Índia, ou para guerrear e matar na Palestina.
Na atualidade, uma transformação social profunda através da religião só ocorrerá quando cada um por si mesmo realizar sua reforma interior. O Homem terá que desenvolver sua segurança através da sua autoconfiança. Ele terá que se libertar das amarras culturais e dos preconceitos, de mitos e crendices, e dos estigmas sociais. Ele terá que saber que pode aprender de tudo, mas só deverá vivenciar o melhor.
Ele terá que evoluir por experiência própria e decidir por si mesmo os seus caminhos e as suas companhias. Suas relações com seus semelhantes e com o meio onde respira a vida deverão ser de cordialidade, de cooperação, de parceria solidária uns com os outros.
Por enquanto, o Homem ainda vive e convive com os mesmos costumes primitivos que colocam uns contra os outros, na disputa do poder, na ostentação de valores materiais ou na permissividade de vícios ou paixões sem limites.
Nas últimas décadas, transformações sociais gigantescas e rápidas ultrapassaram qualquer previsão calculada e atropelaram qualquer controle político ou cultura.
Curiosamente, ao lado de ganhos tecnológicos espantosos, o Homem atual vive um paradoxo de perdas morais. Dispondo de conhecimentos para alimentar todos os que têm fome, ele se sacia à fartura, aumentando a mortalidade pela obesidade por comer demais. Contando com pílulas para controlar a concepção, ele descontrola a licenciosidade sexual e aumenta o número de adolescentes grávidas. Conhecendo as drogas que sanearam a loucura, esvaziando os hospícios, aumentam os que consomem drogas na rua, exigindo, pela violência, que os que são sadios se tranquem em casa para não morrerem.
Decodificando o DNA para identificar com precisão a paternidade, desconhecemos qualquer código moral que nos oriente no que fazer com milhares de embriões de proveta, que permanecerão sem pais.
Mesmo conhecendo os primores da técnica cirúrgica que embeleza, optamos, muitas vezes, por matar um feto mal-formado.
O mesmo "Laser" que "opera" na sala de cirurgia, para salvar vidas, é usado para matar nas "operações de guerra".
A Televisão que difunde cultura e divertimento, ensina as técnicas para matar, os golpes para roubar, as mentiras para enganar, estimula o sexo sem compromisso e exalta a família dissoluta, desunida, sem raízes, e que debocha das tradições.
O computador hoje está no endereço de todas as casas, a Internet destina a correspondência a todos os cantos da Terra, mas o Homem parece que perdeu o endereço da sua consciência, do seu Deus e possivelmente do seu futuro.
Permanecemos com a mesma fragilidade de antes porque sabemos escrever apenas a estória do nosso ontem, já desvendamos milhões de anos sobre o nosso comportamento social, na mais remota antiguidade e nos dias contemporâneos, mas somos incapazes de determinar com certeza como será nosso próximo minuto, e menos o nosso amanhã.
Resta-nos a esperança de uma nova era de transformações sociais mais profundas, que está para ocorrer com base nos valores transcendentes do ser humano, e com direito a todos de usufruí-la.
Nas últimas décadas, transformações sociais gigantescas e rápidas ultrapassaram qualquer previsão calculada e atropelaram qualquer controle político ou cultural.
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