Física Quântica e Espiritismo I: Um Alerta!
Alexandre Fontes da Fonseca
Apesar
dos fenômenos ao nível quântico revelarem uma realidade muito diferente
da que estamos habituados, carecemos ainda de maiores pesquisas antes
de afirmar que a Física Quântica está confirmando os princípios
espiritualistas.
A Física Quântica tem sido considerada, no
meio espírita, como em alguns grupos religiosos, como sendo aquela que
vai confirmar a existência de Deus e do espírito. Nesta matéria, temos
um ponto de vista mais cuidadoso do que é normalmente apresentado. De
fato, os fenômenos ao nível quântico têm feito os cientistas se sentirem
incomodados e perplexos já que eles mostram que na realidade os nossos
cinco sentidos nos fazem crer numa verdade ilusória. Porém, isso não
significa que a Física Quântica esteja admitindo a existência de “algo exterior” ou “além da matéria”,
conforme proposto pelas doutrinas espiritualistas. O movimento espírita
deve, portanto, ser cuidadoso ao divulgar idéias ligadas aos fenômenos
espíritas e àquelas propostas pela Física.
Nesta matéria um importante alerta é feito: afirmativas como “o perispírito causa a flutuação do vácuo quântico”, “a Física Quântica prova a existência de Deus” e “o espaço-tempo negativo representa o mundo espiritual”.
Estas afirmativas carecem de credibilidade tanto científica como
espírita, porque não foram obtidas conforme critérios científicos e da
Doutrina Espírita. Não se sabe como essas conclusões foram obtidas e que
passos teóricos e experimentais foram seguidos para obtenção do
resultado final. Para que uma afirmativa seja considerada científica,
não basta que ela envolva um assunto científico e nem que o autor dessa
afirmativa seja cientista. É preciso que seja apresentada uma explicação
mais detalhada e doutrinariamente embasada.
Apesar das nobres
intenções de nossos irmãos que divulgam essas idéias, elas podem trazer
consequências negativas para o movimento espírita. Para entendermos
melhor o enfoque do problema, citamos Kardec (ítem VII da Intro-dução de
O Livro dos Espíritos[1]): “Na ausência de fatos, a dúvida é a opinião do homem prudente”.
Esta é a principal razão pela qual se deve tomar cuidado na divulgação
de idéias e teorias espíritas que utilizem conceitos das outras
ciências. Como os paradoxos da Física Quântica ainda não foram
resolvidos pelos cientistas, é prudente esperarmos pelo desenvolvimento
das pesquisas nesta área, de modo que possamos, como espíritas, nos
posicionarmos melhor perante elas. Pelo simples fato de que nem todos os
resultados experimentais da teoria quântica foram totalmente
explicados, não autoriza ninguém a afirmar, por exemplo, que Deus ou o
espírito é que estão por trás desses fenômenos. Esta atitude é
equivocada, não-científica e, o que é pior, expõe o Espiritismo a
críticas desnecessárias, afastando as pessoas que trabalham no meio
científico e que conhecem bem o assunto.
Novas descobertas causam
enormes revisões nos modelos teóricos existentes, demonstrando a
fragilidade e o caráter efêmero das recentes teorias da Física.
Recentemente tivemos a oportunidade de comentar a respeito desta
fragilidade na Física, devido a uma importante descoberta na Física de
partículas, e comparar com a solidez da Doutrina Espírita que passou
incólume perante todos os descobrimentos do século XX[2]. Esta solidez se dá justamente porque o Espiritismo é uma doutrina baseada em fatos experimentais[2]1.
Comumente
critica-se a comunidade científica por não se interessar pelas questões
espiritualistas, no entanto, essa postura é bastante prudente. Imaginem
se a Ciência desse crédito a toda teoria espiritualista que diz
basear-se na Física Quântica para provar a existência de Deus, do
espírito ou qualquer outro princípio. Uma pesquisa rápida na internet
mostra que existem grupos e seitas religiosas que se utilizam da Física
Quântica para darem respaldo aos mais variados assuntos. É importante
saber que a comunidade científica prefere rejeitar tais idéias do que se
arriscar com uma que seja completamente equivocada. Não foi isso que
Kardec nos orientou com relação a novas questões? O espírito de Erasto
nos orienta: “mais vale repelir 10 verdades que admitir uma só mentira, uma só teoria falsa”[4].
Por
outro lado, esta afirmação não impede ao leitor de estudar e pesquisar
seriamente tais fenômenos. Propostas teóricas serão sempre bem vindas.
Porém, é preciso que o pesquisador entenda perfeitamente tanto as
informações científicas quanto a Doutrina Espírita. É necessário que
cada proposta teórica seja consistente tanto com os fenômenos materiais,
quanto com os doutrinários aos quais se referem. Um ponto
importantíssimo é que qualquer idéia ou sugestão não comprovadas
científicamente deve ser divulgada e declarada como tal e não como uma
certeza científica. Isto é importante, pois orienta os futuros leitores
quanto ao atual status da pesquisa em determinados assuntos.
Na
próxima matéria pretendemos explicar porque alguns fenômenos ao nível
quântico geram uma idéia de que algo de origem divina esteja por trás
deles. Comentaremos alguns pontos positivos e negativos a respeito da
recente proposta espiritualista feita pelo físico Prof. Dr. Amit Goswami
para solucionar os paradoxos da Física Quântica.
Lembremos ainda
o ceticismo de Allan Kardec com relação às mesas girantes antes de
conhecer melhor as causas do fenômeno. Achava ele que se tratava de um
frívolo divertimento sem objetivo muito sério. Mas após constatar o
fenômeno, buscou interpretá-lo à luz dos conhecimentos científicos da
época. E, percebendo que os fatos tinham origem inteligente, Kardec
iniciou um longo e paciente trabalho de pesquisa onde, somente após
muita observação, estudo e questionamento, publicou sua primeira obra, O
Livro dos Espíritos. Caros irmãos de ideal espírita, a ciência se
desenvolveu muito desde então, porém, o exemplo do Codificador permanece
tão atual quanto o foi em sua época. Sigamos o seu exemplo trabalhando
na pesquisa espírita com muita perseverança, paciência, observação,
meditação, estudo e, só então, depois de muita análise e muita
autocrítica, é que devemos levar a público os frutos de nossa pesquisa.
Não é necessário pressa, mas sim que tenhamos cuidado naquilo que
estivermos informando. Nada como um pequeno passo após o outro. As
gerações futuras agradecerão nossos esforços de hoje.
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