A Caminho da Luz

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A escola das almas

Congregados, em torno do Cristo, os domésticos de Simão ouviram a voz suave e persuasiva

do Mestre, comentando os sagrados textos.


Quando a palavra divina terminou a formosa preleção, a sogra de Pedro indagou, inquieta:


— Senhor, afinal de contas, que vem a ser a nossa vida no lar?


Contemplou-a Ele, significativamente, demonstrando a expectativa de mais amplos esclarecimentos,


e a matrona acrescentou:


— Iniciamos a tarefa entre flores para encontrarmos depois pesada colheita de espinhos.


No começo é a promessa de paz e compreensão; entretanto, logo após, surgem pedras e dissabores...


Reparando que a senhora Galiléia se sensibilizara até às lágrimas, deu-se pressa Jesus em


responder:


— O lar é a escola das almas, o templo onde a sabedoria divina nos habilita, pouco a


pouco, ao grande entendimento da Humanidade.


E, sorrindo, perguntou:


— Que fazes inicialmente às lentilha, antes de servi-las à refeição?


A interpelada respondeu, titubeante:


— Naturalmente, Senhor, cabe-me levá-las ao fogo para que se façam suficientemente


cozidas. Depois, devo temperá-las, tornando-as agradáveis ao sabor.


— Pretenderias, também, porventura, servir pão cru à mesa?


— De modo algum — tornou a velha humilde —; antes de entregá-lo ao consumo caseiro,


compete-me guardá-lo ao calor do forno. Sem essa medida...


O Divino Amigo então considerou:


— Há também um banquete festivo, na vida celestial, onde nossos sentimentos devem


servir à glória do Pai. O lar, na maioria das vezes, é o cadinho santo ou o forno preparador. O


que nos parece aflição ou sofrimento dentro dele é recurso espiritual. O coração acordado para


a Vontade do Senhor retira as mais luminosas bênçãos de suas lutas renovadoras, porque, somente


aí, de encontro uns com os outros, examinando aspirações e tendências que não são


nossas, observando defeitos alheios e suportando-os, aprendemos a desfazer as próprias imperfeições.


Nunca notou a rapidez da existência de um homem? A vida carnal é idêntica à flor da


erva. Pela manhã emite perfume, à noite, desaparece... O lar é um curso ligeiro para a fraternidade


que desfrutaremos na vida eterna. Sofrimentos e conflitos naturais, em seu círculo, são


lições.


A sogra de Simão escutou, atenciosa, e ponderou:


— Senhor, há criaturas, porém, que lutam e sofrem; no entanto, jamais aprendem.


O Cristo pousou na interlocutora os olhos muito lúcidos e tornou a indagar:


— Que fazes das lentilhas endurecidas que não cedem à ação do fogo?


— Ah! sem dúvida, atiro-as ao monturo, porque feririam a boca do comensal descuidado


e confiante.


— Ocorre o mesmo — terminou o Mestre — com a alma rebelde às sugestões edificantes


do lar. A luta comum mantém a fervura benéfica; todavia, quando chega a morte, a grande


selecionadora do alimento espiritual para os celeiros de Nosso Pai, os corações que não cederam


ao calor santificante, mantendo-se na mesma dureza, dentro da qual foram conduzidos ao


forno bendito da carne, serão lançados fora, a fim de permanecerem, por tempo indeterminado,


na condição de adubo, entre os detritos da Natureza.

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