Endeusamento de médiuns
Mais uma vez um monte de espíritas vai ficar morrendo de raiva do A, porque eu vou dizer coisas aqui que muita gente sabe, muita gente percebe, quem tem consciência do que de fato é o Espiritismo sabe que eu tenho razão, mas pouca gente, ou quase ninguém, tem coragem de dizer, posto que temos que ser “humildes” e “caridosos” para com os outros, temos que ter “compreensão” para com as imperfeições dos outros e temos que ser POLÍTICOS, para ficarmos “bem na fita” com todos, e sermos considerados agradáveis e dóceis por todo mundo.
Não importa se estamos sendo honestos e decentes, porque isto é irrelevante, basta que sejamos políticos, e está tudo resolvido.
Em todos os segmentos religiosos há pessoas que adoram endeusar determinados líderes.
Os muçulmanos adoram endeusar os aiatolás, porque acham que eles são verdadeiros representantes de Alá... o nome como eles identificam aquele que chamamos de Deus... católicos tratam o papa como o “Santo Padre”, se ajoelham diante dele, beijam-lhe as mãos, assim como muitos fazem com cardeais, bispos e padres. Protestantes também consideram pastores das suas igrejas como autênticos mensageiros de Deus e há aqueles que acham que o simples tocar nas vestes do pastor, podem receber um milagre.
No meio espírita isto não é diferente. Já que não tem papa, não tem cardeal e não tem pastor, vamos endeusar quem? Os médiuns, obviamente, porque esses contatam diretamente com os que já morreram e, principalmente, com os que chamamos espíritos de luz.
Partindo do princípio que muitos espíritas consideram alguns espíritos, como Bezerra de Menezes, Emmanuel, Joanna de Ângelis, André Luiz e outros como verdadeiros santos, embora não há costume em nosso meio de chamá-los de santos, os vêem como operadores de milagres, curas e “resolvedores” dos problemas da nossa vida.
Quando se vêem diante de um médium que “recebe” um desses espíritos, aí, misericórdia, acham que podem mandar um recado aos espíritos, através daquele que fala diretamente com eles, fazendo os seus pedidos, na certeza de que ocorrerá o atendimento, posto que se trata de espíritos bons, caridosos e com poderes de curas e tudo quanto é poder.
Se eu sei que o Espiritismo trata do intercâmbio do mundo material com o mundo espiritual e sei que o médium é o elemento que fala com aquele que está desencarnado, qual o entendimento que vem à minha cabeça?
Que ele pode falar a vontade com os meus entes queridos que estão
desencarnados, que possa saber onde eles estão, como eles estão e, por
causa deste poder, me dá notícias.
Este entendimento faz com que muitos espíritas recorram aos médiuns
como se fossem criaturas poderosas, super dotadas, fantásticas e sempre
dotados de elevação espiritual irreparável, conduta moral sempre
ilibada.
Durante toda a vida de Chico Xavier, enquanto encarnado, todos
sabemos das inúmeras caravanas que se deslocavam de todos os estados em
direção primeiro à Pedro Leopoldo depois à Uberaba, para beijar-lhe as
mãos, em busca de estabelecerem um contato com o seu desencarnado.Do mesmo jeito que a igreja católica diz que Jesus está em todas as suas igrejas e que a missa celebrada pelo padre João, do interior do Ceará, tem o mesmo valor da que é celebrada pelo padre Jerônimo, do interior de São Paulo ou de qualquer parte do mundo, o Espiritismo diz que o intercâmbio mediúnico realizado num pequeno e modesto centro espírita localizado perto da sua casa tem o mesmo valor daquele realizado nos centros onde estão presentes aqueles que consideramos como grandes e famosos médiuns.
Podemos afirmar, até com certa segurança, que ninguém estabeleceu contatos com os espíritos como Chico Xavier. Muitos receberam e recebem espíritos, mas ninguém como ele, é o que todo mundo diz, de certa forma com razão.
Todavia, se isto aconteceu, não é porque o Chico fosse privilegiado pela administração espiritual superior como o super médium, e sim porque os espíritas de outras regiões e outros centros não entenderam o Espiritismo como ele entendeu, não se esforçaram para conhecer profundamente a doutrina em toda a sua potencialidade, limitando-se apenas ao conhecimento superficial, suficiente para conduzir a sua “igrejinha” espírita, chamada de centro.
O cuidado excessivo e exagerado de muitos, terminou por colocar freios nas mediúnicas e a constranger os médiuns que estão pertos de nós, haja vista o patrulhamento à conduta do médium que, para precaver-se e evitar maiores problemas, faz um esforço danado para exercer a sua mediunidade da forma mais “discreta” possível, bloqueando até mesmo determinados espíritos, por acharem que não são “merecedores” de tais comunicações por seu intermédio, em nome de uma “humildade” muito mal entendida, o que ocorre com a maioria dos espíritos.
Por conta disto, restringiram a mediunidade a uns poucos, emprestando a eles toda a deferência, admiração, respeito especial e até idolatria, que é o que chamo de endeusamento.
Chico Xavier deixou de ser apenas o espírita dedicado, fiel, disciplinado e verdadeiramente humilde e bom, para ser visto como São Chico; Divaldo, também, por sua vez passou a ser visto com São Divaldo e assim muitos fazem em relação a M, a R, como fizeram com Arigó, Peixotinho, Júlio Cezar Grande Ribeiro, Dona Yvone Pereira e outros no passado.
Há pessoas que se excedem tanto que chegam a ser inconvenientes e chatas mesmo. Chico Xavier, ao contrário do que muita gente imagina, chegou a perder a paciência muitas vezes e até a se irritar com o excesso de frescura de muita gente que o ia visitar.
Há pessoas que chegam diante do médium, beijam, lambem, abraçam,
pegam na mão e não querem soltar mais e outras até se descontrolam e
descambam a chorar, “emocionadamente”, para impressionar ao médium e a
platéia que está em volta.
- “Divaldo, quando eu cheguei aqui eu estava péssima, foi só tocar em você eu estou me sentindo ótima”.- “A, eu vou te contar: Eu estava péssima aqui, o tempo todo, foi M entrar, eu senti aquele cheiro de éter e agora estou ótima. Com certeza doutor Bezerra estava com ele”.
- “Olha, quando eu estou mal, corro lá em Dona Celeste e volto boazinha. Sei lá, ela recarrega as minhas energias. Só em estar ao lado dela eu me elevo.”
- “Eu entrei na fila para pegar um autógrafo do R. Na hora, abracei ele e fixei-me naqueles seus olhos verdes. Parece que eu estava olhando para Jesus e senti um alívio impressionante. Fiquei ótima”.
Existem, de fato, pessoas que têm energias muito boas e que conseguem transmiti-las para outras, com um abraço, um beijo, um aperto de mão e até um contato via telefone e até mesmo por MSN ou um meio destes modernos de comunicação, mas isto independe dela ser médium, padre, pastor ou qualquer líder religioso, visto que a poderosíssima energia do Amor está muito acima da religião. Há pessoas comuns que com o simples colocar as mãos em nossa cabeça, já nos dão um certo alívio assim como há, também, outras, cujo abraço, o toque de mão e até o olhar nos causam um tremendo mal estar.
Os variáveis níveis de energia estão aí no mundo, dentro das variáveis freqüências de vibração de cada um.
Chico transmitia, sim, essas energias, mas não pelo fato de ser médium e sim por ser um homem de bem, de caráter, de conduta moral elevada e que se sintonizava sempre com valores elevados. Outros confrades espíritas, a mesma coisa. Há também médiuns pilantras e até os que se apresentam como médiuns, sem ser.
Ser médium não quer dizer que tenha super poderes, energia privilegiada e capacidades curativas e transformadoras de ninguém.
Médiuns como Divaldo, M e R, por exemplo, não têm podido permanecer nos locais, onde acabam de fazer as suas palestras, não é porque ficaram metidos a bestas não, é por causa dos exageros que muitas pessoas fazem.
Há pessoas que chegam, aproveitando a oportunidade rara dele estar em
sua cidade, e de estar frente a frente com ele, querem contar toda a
sua vida, falar dos problemas do seu cônjuge, dos seus filhos, falar de
um parente que já desencarnou... enfim, esquece que tem um monte de
gente na fila que só quer um autógrafo no livro e uma fotografia.
Acham sempre que o seu problema é mais sério do que o de todas as outras pessoas que foram àquele local.É por isto que muitos deles, quando ficam, é no máximo, sentados, para atender a um autógrafo de livros ou tirar as fotografias e se retiram imediatamente, porque sabem o que vêm depois.
Há casos até engraçados, principalmente quando fazem determinados pedidos, como alguns que já fizeram a M.
- “M, o que quero pedir a você é muito reservado, mas é muito sério, eu gostaria que outras pessoas não ouvissem, porque é coisa muito minha”.
- “O que é, minha irmã, pode falar, se eu puder ajudar...”
- “M, é pelo meu marido. O que quero lhe pedir é com muita caridade, para o bem dele, porque eu não quero que ele comprometa a encarnação dele mais do que está comprometida”.
- “Mas sim, minha irmã. O que o seu marido tem? Como eu posso ajudá-lo?”
- “Sabe, M, eu sei que você é assim com Dr. Bezerra, não é?. Dá pra pedir ao Dr. Bezerra para levar o meu marido?”
- “Levar pra onde, minha irmã?”
- “Desta para uma melhor, M, para o bem dele”.
- “Minha irmã, você está querendo que eu peça ao Dr. Bezerra para desencarnar o seu marido?”
- “É, ééé, é mais ou menos isto. Mas isto com muita caridade, M, porque só eu sei o que ele anda fazendo e quero o melhor para o seu espírito”.
E o diabo da mulher insistia em querer relatar para M tudo o que a peste do marido fazia, sem levar em consideração que tinha um monte de gente numa fila enorme também querendo dar um abraço nele ou tirar uma foto.
M, já perdendo a paciência, sem querer ser desagradável em ter que dizer a ela que não poderia mais continuar lhe dando atenção, ainda mais com aquele papo apelativo e desagradável, porque tinha muita gente para atender, politicamente saiu-se com esta:
- “Tá bom, minha irmã, tá bom, tá bom, eu vou sim fazer o seu pedido a Dr. Bezerra, tá? Que Deus proteja a você e a ele. Tchauuuu”
- “Eu sabia, M, que podia contar contigo. Mas olha: não precisa dizer a ninguém não, viu?”
E foi-se embora, feliz da vida.
Uma semana depois, ao sair do trabalho, no TRT de ,,,,,,,, um amigo convida M a dar uma passada numa capela, no caminho, para visitar um velório de um freqüentador da Cidade da Luz, que ele não sabia bem quem era, e ele aceitou.
Ao entrar, foi se aproximando do caixão e a primeira pessoa que percebeu era a viúva, chorando, quando a reconheceu: Era a dita cuja.
Quando se dirigiu a ela para os cumprimentos formais, ao abraçá-la:
- “Meus sentimentos, minha senhora, que os bons espíritos o recebam no seu retorno”.
- “Êta mediunidade desgraçada essa sua, M. Inda há quem duvide. Muito obrigado, M, mas eu lhe pedi com muita caridade, viu?”
- “Minha irmã, peraí, eu não tenho nada a ver com isso não. Você está confundindo as coisas, eu não pedi isto pra ninguém não”.
- “Pediu, sim, mas eu entendo a sua humildade, meu irmão, não se incomode não. Terça-feira eu tô lá de novo.”
Tem gente que é assim e termina até comprometendo aos outros.
Há pessoas que hospedam Divaldo em suas casas e, aproveitando-se da sua presença no lar, chamam os seus filhos, muitas vezes até envolvidos com drogas, botam pra sentar na sala, forçada, para terem uma conversa com o médium e pedem pra Divaldo falar para eles um monte de coisas que eles não querem ouvir. Fazem isto com R e com vários outros expositores espíritas.
Outro dia um casal me hospedou e, na hora do jantar, todos sentados à mesa, inclusive o casal, quando ela começou a puxar um papo me pedindo para dar uns conselhos para o seu marido, que era muito sem vergonha, que vivia dando em cima da vizinha do apartamento ao lado. E olha que eu nem sou médium!
Já pensou o constrangimento que a gente fica?
Amar os nossos médiuns é dever de todos nós, tratá-los com carinho e o indispensável respeito e consideração é algo que não se questiona, mas concebê-los da forma como muita gente concebe é absurdo, gera inconveniência, desconforto e em muitas das vezes deixa a pessoa em situação difícil, levando-a inclusive ao ridículo.
Outra coisa que eu já contei em artigo anterior e que nunca é demais repetir:
Com todo respeito ao livre arbítrio de quem fuma e, provavelmente, deve achar o cigarro uma delícia e uma maravilha; para quem não fuma é uma verdadeira desgraça ter que tolerar cheiro de cigarro e ainda mais ficar fedendo a cigarro.
Pois bem: Há aquela pessoa, fumante, que não está fumando ali no local, onde foi realizada a palestra e onde está a fila para pedir autógrafos e cumprimentos ao palestrante, mas que, depois que termina a palestra, antes de entrar na fila, dá aquela saidinha, vai lá fora, fuma o seu cigarro e depois volta para a fila.
Aí agarra o médium, que detesta cigarro, abraça, aperta a sua mão com aquela mão que está impregnada de nicotina e ainda beija, deixando aquela baba na buchecha da pessoa.
Sangue de Jesus tem poder! Misericórdia! Quem é que agüenta?
E quando o homi recebe cinco ou dez beijos daqueles, numa noite de autógrafos?
Não tem santa Joanna de Ângelis que dê jeito, não tem são Camilo que dê jeito, né R?
Quando eu falei exatamente sobre isto, em outro email que abordei este mesmo assunto, uma amiga, de uma determinada cidade, me mandou um email, danada da vida.
- “Eu já sei, A, que esse seu recado foi pra mim, que lhe abracei e lhe beijei, quando você esteve aqui e foi muito bem recebido por todos nós. Olha, eu quero lhe dizer que eu não vou largar o meu cigarro, porque quem manda na minha vida sou eu. Tem muito espírita que não fuma mas faz muitas coisas piores. Você está muito metido, viu?”
É por isto que eu disse, no início do artigo, que algumas pessoas iriam ficar com raiva de mim, por causa do artigo.
Toda pessoa que é portadora do problema que está sendo enfocado em algum artigo tem a tendência natural de ficar com raiva da pessoa que escreveu. Ela não admite que tem o problema, ou melhor, que aquilo seja um problema, mas fica com raiva e aquela raiva é característica do peso na consciência.
Sempre depois de um artigo deste, um escrito qualquer que toca em alguma ferida, traz, invariavelmente, um retorno do tipo: “Eu gostaria que você retirasse o meu email da sua lista. Não tenho interesse em receber os seus emails”.
Aí, já que gosto muito de estudar o comportamental humano, antes de retirar o email do meu banco de dados, o que faço sempre, claro, eu procuro dar uma olhadinha no histórico de emails que essa mesma pessoa me mandou antes, e deparo-me muito com elogios aos artigos, coisas do tipo “adoro os seus artigos”, “adoro esse seu jeito de escrever” e, de uma hora para outra, vem o “não tenho interesse em receber os seus emails”. Termino sabendo o porquê não quer mais receber.
Isto ocorre, com freqüência, quando escrevo sobre os desvios doutrinários, condutas de casas e dirigentes espíritas, absolutamente contraditórias ao que Kardec ensinou e ao que realmente é a doutrina. Quando você vai ver, trata-se de uma casa ou de um dirigente que faz exatamente aquilo que eu questionei no artigo, não muda, não quer mudar porque não faz o menor esforço em procurar dar uma olhada melhor no pensamento de Kardec, daí ser mais cômodo adotar o famoso “O A, é polêmico, é bom não convidá-lo para a nossa casa”, pois é, senão o freqüentador da casa vai começar a pensar, a raciocinar e poder ter condições de identificar um monte de bobagens que faz lá, em nome do Espiritismo.
Amém.
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