Todos são unânimes em afirmar a importância da educação. No entanto, o momento evolutivo que vivemos requer uma avaliação cuidadosa sobre o nosso sistema educacional e uma definição real do que seja educação.
Os sistemas educacionais, em quase todo o planeta, possui o mesmo modelo de formar um ser humano para obter sucesso na vida, ter um bom emprego, obter conforto e segurança, tornar-se uma pessoa importante, etc.
Parece tudo muito bom, mas então por que ainda existem crimes bárbaros, traficantes e usuários de drogas, tráfico de seres humanos e todo tipo de violência física e moral? O porquê das guerras que ainda persistem neste limiar do terceiro milênio? Por que o aumento das doenças físicas e, principalmente, mentais?
Qual o valor da capacidade técnica e industrial, se a utilizamos para nos destruirmos mutuamente? Somos educados para várias profissões dentro de um sistema que se funda na exploração, na concorrência, na disputa e no medo. Somos educados para lutarmos em nosso próprio interesse. Sem dúvida, isso criará dentro de cada indivíduo uma barreira psicológica que o separa e o mantém isolado dos outros.
E se o homem consegue a estabilidade, encontrará um cantinho sossegado, onde possa viver com o mínimo de conflito possível. Essa educação induz o indivíduo a adaptar-se a um padrão, eliminando a possibilidade de compreender a si mesmo e de desenvolver o imenso potencial que ele, como ser humano, possui.
Alguém poderia alegar que, contudo, a educação atual prima pela eficiência. No entanto, essa é a eficiência da ambição, que, sem o amor, gera a indiferença pelo outro ou, pior que isso, gera a crueldade e a guerra.
Nosso progresso tecnológico das últimas décadas é fantástico. A educação tecnicista tem produzido cientistas, engenheiros, médicos e conquistadores do espaço, mas não oferece uma visão global da vida e nem o conhecimento de si mesmo.
O especialista vive num só nível, sem perceber o processo global da vida. O homem que aprendeu a dividir o átomo não sabe "dividir a si mesmo" e ainda não aprendeu a amar.
A verdadeira educação, sem descurar da técnica, deve levar o homem a sentir o processo integral da vida e a descobrir o "porquê da vida".
A inteligência sem amor torna o homem egoista e até perverso. Até a justiça, sem amor, se torna implacável e pode se tornar vingança. A inteligência deve, pois, nascer do amor e não da astúcia e do egoísmo.
Além de tudo, podemos tirar diplomas e sermos mecanicamente eficientes em determinadas áreas sem sermos inteligentes. Inteligência não é mera cultura intelectual, nem conhecimento acumulado e nem se consegue com exames e diplomas.
A verdadeira inteligência é sabedoria, é capacidade de realização e, principalmente, capacidade de perceber o essencial, os reais valores da alma. A verdadeira educação nos ajuda a descobrir valores perenes, para não nos apegarmos a fórmulas, repetir slogans pré-fabricados e pensar dentro de uma rotina criada por interesses escusos.
A educação não deve estimular o indivíduo a adaptar-se a uma sociedade simplesmente, mas ajudá-lo a descobrir novos e verdadeiros valores que surgem com a investigação e não repetir conhecimentos anteriores. Tudo no Universo é dinâmico e caminha para a frente e para cima. Tudo evolui, melhora, progride.
A educação esta intimamente ligada à atual crise mundial, a esse caos universal que vemos atualmente. O educador sincero deve perguntar a si mesmo como despertar a inteligência e o sentimento do estudante para que as gerações futuras não produzam os mesmos conflitos e desastres.
Como criar um ambiente adequado ao desenvolvimento da inteligência, mas também do amor e da bondade, para que a criança, atingindo a madureza, seja capaz de atender aos graves problemas que a vida lhe oferecer? E, com certeza, vai oferecer problemas gravíssimos, como herança das gerações anteriores.
A educação atual não favorece a compreensão das tendências internas e das influências ambientais que condicionam a mente e o coração. Não oferece meios de romper esses condicionamentos para realmente "produzir" o homem integral e integrado no todo universal.
Somente a educação no seu aspecto amplo e espiritual nos ajuda a compreender o significado da vida e, principalmente, a conhecer a si mesmo.
O CONHECIMENTO DE SI MESMO
O autoconhecimento, não superficial, mas de forma profunda e integral, implica no domínio de si mesmo e na capacidade de auto-análise e direcionamento da energia mental para os canais superiores da vida.
Somente o autoconhecimento pode gerar a humildade por nos oferecer uma visão real de nós mesmos. Não havendo autoconhecimento, a expressão individual pode se transformar em arrogância, fortalecendo o egoísmo e o orgulho naqueles que se acreditam sábios ou "donos da verdade". De outro lado, a ignorância de si mesmo pode gerar a falta de confiança em si, a depreciação de seus valores interiores e até mesmo a perda do amor-próprio e a perversão. São os dois extremos do pêndulo da ignorância.
A confusão e o caos existente atualmente no mundo surgiu porque o indivíduo não foi educado para compreender a si mesmo e perceber os valores perenes da vida.
A verdadeira educação deve ajudar cada um individualmente a compreender as ilusões que ele próprio criou e torná-lo consciente das influências condicionantes que o cercam, limitando sua mente e lançando-o nas oscilações pendulares da ignorância de si mesmo.
A Doutrina Espírita nos apresenta um significado mais alto e mais profundo para a vida. Somos Espíritos imortais, filhos de Deus e dotados do germe da perfeição, da essência Divina e nosso objetivo é evoluir, num constante "vir a ser", rumo à perfeição.
O objetivo da vida não se restringe à Terra, mas à vida cósmica. Somos cidadãos do Universo. A vida continua além, muito além do aspecto biológico, extuando em plenitude pelo Universo.
A verdadeira educação auxilia o desenvolvimento das capacidades interiores, do imenso potencial do Espírito imortal que somos todos nós.
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Além do reconhecimento de que somos Espíritos imortais, filhos de Deus, dotados do germe da perfeição, a Doutrina Espírita nos revela que vivemos muitas vidas, num processo evolutivo que se transcorreu em milênios anteriores.
Temos, pois, além de um futuro glorioso, um passado de experiências das mais diversas, que corresponde ao nosso inconsciente profundo.
A nossa mente, pois, é um campo de ação de várias forças, de naturezas elevadas e inferiores. Às vezes, os instintos que trazemos ainda de existências anteriores e as qualidades elevadas já conquistadas se entrechocam dentro de nossa própria mente, provocando conflitos interiores.
Muitas vezes, vivemos o "passado", vivenciando sensações antigas, que retornam, atendendo aos estímulos do meio. Muitos se entregam às mesmas paixões e até viciações antigas, ficando praticamente governados pelas forças cegas dessas paixões. Apegam-se a determinadas sensações de natureza inferior e não conseguem se libertar delas, estacionando temporariamente na escalada evolutiva.
A satisfação sensorial intensifica o impulso e gera, ao contrário do esperado, uma insatisfação psicológica, pois a alma foi criada para evoluir, avançar, progredir e, daí, surgem os tremendos conflitos mentais que perturbam nosso estado mental. O objetivo da vida é, acima de tudo, o desenvolvimento das faculdades superiores da alma.
Sem dúvida, é mais fácil entregar-se a impulsos que já existem dentro de nós. Corresponde à "porta larga" do evangelho.
O trabalho de construção mental, nos níveis superiores da mente, corresponde à "porta estreita" pois exige esforço próprio.
Mas se conseguirmos sintonizar a nossa mente com o mundo espiritual superior, podemos nos transportar ao estado mais sutil das vibrações que trazem saúde, paz, harmonia e felicidade.
Sempre que pensamos, manipulamos energia mental. Se o nosso pensamento está baseado nos aspectos superiores da vida, então a energia estará bem concentrada e conservada, sendo utilizada para as metas elevadas, dentro do ritmo evolutivo de cada um.
Quando é estimulado pelos impactos das sensações inferiores, então a energia mental é dissipada ou consumida pela luta interior ou conflitos interiores ao invés de ser utilizada na construção superior da própria mente.
Conduzir essa energia para os canais superiores da vida é nossa meta atual. Daí a importância de "conhecer a si mesmo", observar, analisar e estudar nosso próprio pensamento e as reações dele oriundas, sem ficarmos psicologicamente perturbados por ele.
Penetrar nas profundas sedimentações da mente, aquietando as emoções inferiores e reconduzindo nossa energia para os níveis superiores da vida espiritual, eis um dos grandes objetivos da educação.
A ENERGIA CRIADORA DA MENTE
A Doutrina Espírita, ao abrir a cortina do mundo espiritual, nos revela uma visão panorâmica da vida, até então desconhecida pela maioria dos homens: Somos essencialmente Espíritos, filhos de Deus, o Criador e, portanto, temos em nós a capacidade de criar ou produzir energia criadora que é a própria energia mental.
Sabemos que "o cérebro é o dínamo que produz a energia mental…" (Emmanuel), mas também sabemos, por André Luiz (diversas obras) que o cérebro é o órgão de que o Espírito se vale para se manifestar. É o Espírito quem pensa, sente e age, por intermédio do corpo físico.
Mas a produção, a qualidade e a intensidade dessa energia mental depende das potências do Espírito. Mas, quais são essas potências?
AS POTÊNCIAS DO ESPÍRITO
Léon Denis e outros autores nos afirmam que são três as potências da Alma: o amor, a inteligência e a vontade.
Amigos espirituais nos informam que o conhecimento (ou aspecto cognitivo) possui um aspecto estrutural e, como edifício do conhecimento, precisa ser construído tijolo por tijolo. Corresponde ao aspecto quantitativo da energia mental, o quanto o indivíduo sabe ou a abrangência de sua capacidade intelectual. Define a capacidade de entendimento e compreensão dos fatos, a sua "maneira de ver" o mundo.
O sentimento (ou aspecto afetivo) é energético e representa a qualidade da energia mental – sentimentos bons ou negativos.
A vontade (ou aspecto volitivo) é energia ativa e representa a força que direciona a ação e define a intensidade dessa energia.
Para que a energia mental se produza, depende das estruturas mentais, ou do aspecto cognitivo, que corresponde ao aspecto quantitativo ou abrangência do intelecto. A qualidade, boa ou má, depende do aspecto afetivo, e a intensidade ou poder de penetração, depende do aspecto volitivo.
O Espírito se manifesta no mundo, físico e espiritual, através da inteligência, do sentimento e da vontade.
Tudo o que pensamos, sentimos e fazemos depende desses aspectos de nossa energia mental, energia criada pela nossa mente, mas também, energia criadora, causal. Utilizamos nossa mente para construir ou ampliar as possibilidades da própria mente, ou seja, de nós mesmos.
A educação do Espírito não pode, pois, descuidar de nenhum dos aspectos (cognitivo, afetivo e volitivo), pois deles dependem a produção, qualidade e intensidade dessa energia mental e, portanto, da amplitude da própria mente.
O desenvolvimento da inteligência e do conhecimento (aspecto cognitivo), através do conteúdo da "verdade universal" que a Doutrina Espírita nos apresenta, amplia as possibilidade do pensamento, melhorando o entendimento e a compreensão de si mesmo e das Leis que regem os mundos e os seres, propiciando uma mudança da atitude mental do indivíduo, desbloqueando as amarras mentais que ele próprio criou.
"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará", afirmou Jesus.
O desenvolvimento do sentimento, em especial do sentimento de amor, ampliará consideravelmente o padrão vibratório do indivíduo, levando-o, cada vez mais, a sintonizar com as vibrações superiores que pululam no Universo de Deus em seu mais elevado sentido.
O desenvolvimento da vontade amplia a intensidade da ação mental, o poder de penetração em outras mentes, ou poder de indução, mas também a persistência na realização dos objetivos que define para si mesmo.
Hitler e Mussolini possuíam uma energia mental de grande intensidade (aspecto volitivo), com poder de indução nas mentes que com ele sintonizavam. Possuíam também, ao que tudo indica, o aspecto cognitivo bastante desenvolvido, mas o aspecto afetivo terrivelmente empobrecido.
Gandhi e Luther King também possuíam o aspecto volitivo muito desenvolvido, mas também o aspecto cognitivo e afetivo. A diferença entre eles é enorme.
Madre Tereza de Calcutá, Francisco de Assis são exemplos de um grande desenvolvimento afetivo, um amor imenso que se revelava em todos os seus atos, deixando transparecer as qualidades superiores de suas almas, em todos os aspectos.
O Espírito, filho de Deus, foi criado para a plena autonomia intelectual e moral. Mas somente logrará alcançar esse estágio através do desenvolvimento e equilíbrio entre todos os aspectos que interagem dentro de si mesmo. O maravilhoso em tudo isso é que as potências do Espírito, uma vez desenvolvidas, jamais retrocedem. A escalada evolutiva é um devir constante, rumo à perfeição.
A Doutrina Espírita, pois, inaugura um novo paradigma que nos conduzirá a uma nova etapa evolutiva, que os próprios Espíritos denominam de Era do Espírito.
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