Celebração de Natal
A
prepotência da força gerara a arbitrariedade do poder. O mundo era,
então, um espólio fácil nas garras dos insaciáveis esbulhadores.
Homens,
mulheres e crianças facilmente transitavam de mão em mão sob a canga de
vil cativeiro, cujas rédeas eram conduzidas pela impiedade triunfante
no carro da guerra...
A
ostentação e a miséria, a opulência e a sordidez, a exuberância do
desperdício e a escassez de recursos constituíam contrastes
aparvalhantes naqueles dias...
Dominadores
de uma hora tombavam, logo depois, desfilando como hilotas ou sucumbiam
asfixiados nos rios de sangue em que se compraziam...
Intrigas na política de César, desídias nas hostes poderosas, desmandos criminosos
e conciliábulos argentários confraternizavam disfarçados com as tricas
religiosas, as disputas pela primazia e as ambições desmedidas, fazendo
que a alma dos povos sofresse o jugo do pulso férreo dos títeres do
mundo e a mão veludosa, porém, traiçoeira, dos mandatários da fé.
A
felicidade se consubstanciava na fortuna enganosa de um dia, no sorriso
de um momento, logo convertidos em miséria de largo período e esgar de
contínua contração facial.
Nenhuma fanfarra apregoadora. Festividade alguma entoando alvíssaras.
Nem palácio, nem berço de ouro.
Anunciado por profetas e anjos, Ele era esperado como o Justiçador.
Os
que O aguardavam transferiam para Ele os métodos da violência e da
subjugação com que esperavam submeter os outros homens, vencendo os
povos e os humilhando vergonhosamente.
...Ele, todavia, elegeu o altar de uma lapa e o império imensurável da Natureza para apresentar-se aos homens.
Somente
alguns poucos ouviram a melodia angélica e perceberam o lucilar da
estrela indicadora, saudando o Seu advento e a Sua jornada.
Sua vida, no entanto, modificou a estrutura moral e espiritual da Humanidade desde então.
Esperança
dos infelizes, fez-se porto de segurança dos desesperados. A partir
daquele momento, em quaisquer conjunturas, Jesus é o alfa e o ômega das
criaturas terrenas, apontando as direções seguras para a paz e a
felicidade.
* * *
De
certo modo, ante a semelhança destes tempos com aqueles dias, não te
distraias nas exterioridades frívolas com que recordam o nascimento do
Senhor.
Esparze
em derredor a luz da alegria, o bálsamo do consolo e o pão da bondade,
celebrando o Natal com as mãos da caridade e os tesouros do amor, de
modo a transformares o coração num altar e a alma na sede do Seu reino,
donde Ele possa novamente apresentar-se, por teu intermédio, aos
desditosos, reconstruindo a vida sob a excelsa sinfonia dos anjos a
repetirem:
Glória a Deus nas alturas; paz aos homens de boa vontade!
Joanna de Ângelis
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