Reforma Íntima – Consciência de Si
Reforma íntima não deve ser entendida apenas como contenção de
impulsos inferiores. Muito além disso, torna-se urgente analisá-la como o
compromisso de trabalhar pelo desenvolvimento dos lídimos valores
humanos na intimidade. Circunscrevê-la a regimes de disciplina pela
vigência e pela vontade poderá instituir a cultura do martírio e da
tormenta como quesitos indispensáveis ao seu dinamismo.
Contenção é aglutinação de forças de defesa contra a rotina mental
dos reflexos do mal em nós, todavia, somente a edificação da
personalidade cristã, pródigas de qualidades morais nobres, permitirá a
paz interior e o serviço de libertação definitiva para além-muros da
morte corporal. Por essa razão entre os seguidores da mensagem espírita,
urge difundir noções mais lúcidas sobre o nível de comprometimento a
que devem se afeiçoar todos os seus aprendizes. Apenas evitar o mal não
basta, imperioso fazer todo o bem ao nosso alcance. A reforma de
profundidade exige devoção integral aos deveres da espiritualização,
onde quer que estejamos, criando condições para vivências íntimas que
assegurem comoções afetivas revitalizadoras e modificadoras a rumos mais
vastos na ação e na reação: é a criação de condicionamentos novos e
elevados.
Assim como o corpo não extirpa partes adoecidas, mas procura
harmonizá-las ao todo, a alma procede seu crescimento dentro princípio
de “reaproveitamento” de todas as experiências infelizes.
Quem busca o aprimoramento de si mesmo tem como primeiro desafio o
encontro consigo. A ausência de ideias claras sobre nós próprios
constitui pesados ônus a ser superado, o qual tem levado corações
sinceros e bem intencionados a dolorosos conflitos mentais com a melhora
individual, instaurando um doloroso processo de martírio a si mesmo.
Não existe reforma íntima sem dores, razão pela qual será oportuno
discernir quais são as dores do crescimento e quais são as dores que
decorrem de nossa incapacidade de lidar com as forças ignoradas da vida
subjetiva em nós mesmos. A distinção entre ambas tornará nosso programa
de melhoria pessoal um tanto mais eficaz e menos doloroso.
Fala-se muito do homem velho e quase nada sobre como consolidar o
homem novo. Dominados pelo mau hábito de destacar suas doenças
espirituais, criou-se um sistema neurótico de supervalorização das
imperfeições morais que tem conduzido muitos espíritas à condição de
autênticos “hipocondríacos da alma”.
Conter o mal é parte do processo transformador, construir o bem é a etapa nova que nos aguarda.
Bem além de controle, educação.
Acima de disciplina com inclinações, desenvolvimentos de qualidades inatas.
Maturidade pode ser definida pela capacidade individual de ouvir a
consciência em detrimento dos apelos do ego. Quanto mais fizermos isso,
mais seremos maduros e libertos. A saúde é estar em contato pleno com a
consciência e a doença é a escravidão ao ego. Reformar-se é tomar
consciência do “si mesmo”, da “perfeição latente” a qual nos destinamos.
Em outras palavras, estamos enaltecendo o ato da autoeducação.
Foi o notável Jung que afirmou: “até onde podemos discernir, o único
propósito da existência humana é acender uma luz na escuridão do mero
ser”.
Imperioso que acendamos essa luz, a luz que promana da autocrítica, sem a qual não nos educaremos.
E como exercer um juízo crítico honesto sem conhecimento das artimanhas da velha personalidade que geramos?
Senso crítico é, portanto, um dos pilares essenciais para a formação
da autoconsciência, o qual nos permitirá desvendar as trilhas em direção
aos tesouros divinos incrustados em pleno coração dessa selva de
imperfeições, que trazemos dos evos.
Ermance Dufaux
Nenhum comentário:
Postar um comentário