Missão de Allan Kardec - "A missão dos reformadores está cheia
de escolhos e de perigos e a tua é rude, disso te previno, porque é o mundo
inteiro que se trata de agitar e de transformar." - Espírito Verdade (Obras
Póstumas)
Escrevo
esta nota no dia 1º de janeiro de 1867, dez anos e meio depois que esta
comunicação me foi dada, e verifico que ela se realizou em todos os pontos,
porque experimentei todas as vicissitudes que nela me foram anunciadas. Tenho
sido alvo do ódio de implacáveis inimigos, da injúria, da calúnia, da inveja e
do ciúme; têm sido publicados contra mim infames libelos; as minhas melhores
instruções têm sido desnaturadas; tenho sido traído por aqueles em quem
depositara confiança, e pago com a ingratidão por aqueles a quem tinha prestado
serviços. A Sociedade de Paris tem sido um contínuo foco de intrigas, urdidas
por aqueles que se diziam a meu favor, e que, mostrando-se amáveis em minha
presença, me detratavam na ausência. Disseram que aqueles que adotavam o meu
partido eram assalariados por mim com o dinheiro que eu arrecadava do
Espiritismo. Não mais tenho conhecido o repouso; mais de uma vez, sucumbi; sob o
excesso do trabalho, tem-se-me alterado a saúde e comprometido a
vida. Entretanto, graças à proteção e à assistência dos bons Espíritos, que
sem cessar me têm dado provas manifestas de sua solicitude, sou feliz em
reconhecer que não tenho experimentado um único instante de desfalecimento nem
de desânimo, e que tenho constantemente prosseguido na minha tarefa com o mesmo
ardor, sem me preocupar com a malevolência de que era alvo. Segundo a
comunicação do Espírito Verdade, eu devia contar com tudo isso, e tudo se
verificou. Allan Kardec
HIPPOLYTE
LÉON-DENIZARD RIVAIL (ALLAN KARDEC) - Allan Kardec nasceu
Hippolyte Léon-Denizard Rivail, em 03 de Outubro de 1804 em Lyon, França, no
seio de uma antiga família de magistrados e advogados. Educado na Escola de
Pestalozzi, em Yverdum, Suíça, tornou-se um de seus discípulos mais
eminentes. Foi membro de várias sociedades sábias, entre as quais a Academie
Royale d'Arras. De 1835 à 1840, fundou em seu domicílio cursos gratuitos, onde
ensinava química, física, anatomia comparada, astronomia, etc. Dentre suas
inúmeras obras de educação, podemos citar: "Plano proposto para a melhoria da
instrução pública" (1828); "Curso prático e teórico de aritmética (Segundo o
método de Pestalozzi)", para uso dos professores primários e mães de família
(1829); "Gramática Francesa Clássica" (1831); "Programa de cursos usuais de
química, física, astronomia, fisiologia"(LYCÉE POLYMATIQUE); "Ditado normal dos
exames da Prefeitura e da Sorbonne", acompanhado de "Ditados especiais sobre as
dificuldades ortográficas (1849). Por volta de 1855, desde que duvidou das
manifestações dos Espíritos, Allan Kardec entregou-se a observações
perseverantes sobre esse fenômeno, e, se empenhou principalmente em deduzir-lhe
as conseqüências filosóficas. Nele entreviu, desde o início, o princípio de
novas leis naturais; as que regem as relações do mundo visível e do mundo
invisível; reconheceu na ação deste último uma das forças da Natureza, cujo
conhecimento deveria lançar luz sobre uma multidão de problemas reputados
insolúveis, e compreendeu-lhe a importância do ponto de vista religioso. As
suas principais obras espíritas são: "O Livro dos Espíritos", para a parte
filosófica, e cuja primeira edição surgiu em 18 de Abril de 1857; "O Livro dos
Médiuns", para a parte experimental e científica (Janeiro de 1861); "O Evangelho
Segundo o Espiritismo", para a parte moral (Abril de 1864); "O Céu e o Inferno",
ou "A Justiça de Deus segundo o Espiritismo" (Agosto de 1865); "A Gênese, os
Milagres e as Predições (Janeiro de 1868); "A Revista Espírita", jornal de
estudos psicológicos. Allan Kardec fundou em Paris, a 1º de Abril de 1858, a
primeira Sociedade Espírita regularmente constituída, sob o nome de "Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas". Casado com Amélie Gabrielle Boudet, não
teve filhos. Trabalhador infatigável, desencarnou no dia 31 de março de 1869,
em Paris, da maneira como sempre viveu: trabalhando. ("Obras Póstumas",
Biografia de Allan Kardec, edição IDE)
ALLAN KARDEC E O
BRASIL - Cremos que 1864 é o ano que pela primeira vez
aparece citado na Revue Spirite o nome da então capital brasileira : Rio de
Janeiro. Trata-se de um artigo publicado na seção "Crônicas de Paris", no
"Jornal do Commercio", do Rio, de 23 de setembro de 1863. Seu autor começa
falando dos espetáculos fantasmagóricos que se tornaram populares nos teatros de
Paris e, em seguida, passa a tecer comentários em torno do Espiritismo. Allan
Kardec limita-se a mostrar que o autor do artigo não se aprofundou no estudo do
Espiritismo, de cuja parte teórica ignora os processos. Elogia-lhe, porém, o
comportamento sensato diante dos fatos, para a explicação dos quais não
levantara teorias temerárias. "Pelo menos" - escreve Kardec - "ele não julga
pelo que não sabe." Ao final do seu breve comentário, assim se expressava o
mestre (Revue Spirite, julho de 1864, p. 213): "Verificamos, com satisfação
que a idéia espírita faz progressos sensíveis no Rio de Janeiro, onde ela conta
com numerosos representantes, fervorosos e devotados. A pequena brochura "Le
Spiritisme à sa plus simple expression", publicada em língua portuguesa,
contribuiu, não pouco, para ali espalhar os verdadeiros princípios da
Doutrina." Sob o título - "O Espiritismo no Brasil", o Codificador dá a saber
a seus leitores da Revue que o "Diário da Bahia" de 26 e 27 de setembro de 1865
contém dois artigos, que são a tradução, em português dos que foram publicados,
havia seis anos, pelo Dr. Amédée Déchambre (1812 - 1885), autor do importante
"Dictionnaire des sciences médicales", artigos em que o autor fizera uma
exposição semiburlesca. Entre outras coisas, dizia o ilustre médico que o
fenômeno das mesas girantes e falantes é falado por Teócrito (poeta grego, 300
-250 a.C), daí concuindo que não sendo novo esse fenômeno não tinha ele nenhum
fundo de realidade. "Lamentamos que a erudição do Sr. Déchambre" - comentou
Kardec -, "não lhe tenha permitido ir mais longe, porque teria encontrado o
fenômeno no antigo Egito e nas Índias." (Pp. 334/335) Os espíritas da Bahia
refutaram esses artigos no próprio "Diário da Bahia", no número de 28 de
setembro. A carta que antecedeu a refutação, dirigida à redação da folha baiana
e assinada por Luiz Olímpio Teles de Menezes, José Álvarez do Amaral e Joaquim
Carneiro de Campos, parece fazer supor que o referido jornal só publicara o
trabalho do Dr. Déchambre por julgar houvesse nele apreciação exata da Doutrina
Espírita. A refutação consistiu num extrato, bastante extenso, da introdução
de "O Livro dos Espíritos", o que fez Kardec dizer: "As citações textuais das
obras espíritas são, com efeito, a melhor refutação às desfigurações que certos
críticos fazem sofrer a Doutrina." (P.336.)
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