Mulheres no Evangelho: MARIA DE MAGDALA - A Ovelha Perdida
psicografado por Robson Pinheiro
Então os discípulos voltaram para casa, mas Maria ficou chorando fora, junto à entrada do sepulcro.
Enquanto chorava, abaixou-se para olhar para dentro do sepulcro, e viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro nos pés.
Os anjos perguntaram:
- Mulher, por que choras?
Ela respondeu:
- Levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.
Tendo dito isto, voltou-se e viu Jesus ali em pé, mas não percebeu que era Jesus.
Perguntou-lhe Jesus:
- Mulher, por que choras? - À quem procuras?
Pensando tratar-se do Jardineiro, ela respondeu:
- Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o irei buscar.
Disse Jesus:
- Maria!
Ela, voltando-se, disse em hebraico: Raboni! (que quer dizer Mestre).
Disse-lhe Jesus:
- Não me detenhas, pois ainda não voltei ao Pai. Mas vais ter com meus irmãos, e dize-lhes:
- Eu volto para meu Pai e nosso Pai, meu Deus e nosso Deus. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos:
- Vi o Senhor! E disse que ele lhe falara estas coisas.
A mensageira da ressurreição, como ficou conhecida Maria de Magdala, deixou registrada sua história, que somente há bem pouco tempo os cristãos começaram a descobrir na palavra do Evangelho.
Maria representa todos aqueles que têm um comportamento emocional, afetivo e sexual diferente daquele que a maioria considera correto e diz ser normal. Seu estilo de vida chocava, por fugir aos padrões religiosos e morais de seus contemporâneos. Sua conduta, considerada pecaminosa pelos religiosos, era a marca de sua personalidade. O comportamento emocional e sexual que lhe foi atribuído ao longo destes dois mil anos representa todos aqueles que ainda hoje adotam ou têm um comportamento emocional, afetivo e sexual que é classificado pelos moralistas como comportamento alternativo.
Mas a história de Magdala traz luz claríssima sobre as ações ou reações que carecemos aprender, mesmo sendo nós, pretensamente, representantes e apologistas das verdades evangélicas.
Quando Maria foi ao encontro de Jesus em Cafarnaum, ela não se transformou primeiro para depois ir em direção ao Mestre. Também em momento algum lhe foi exigida qualquer mudança em seu comportamento, interpretado e mal-interpretado em todas as épocas.
O Evangelho representa o encontro do Céu e da Terra. O divino e o humano.
Maria de Magdala, simplesmente, foi ao encontro de Jesus, e Ele jamais lhe impôs qualquer exigência de modificação, por entender que cada um tem o momento certo de despertamento. Jesus simplesmente a recebeu, inebriando-a com seu amor e conquistando-lhe para sempre o respeito. No Evangelho, nenhum relato quanto à exigência de mudança; nada que indique a urgência de um comportamento padronizado pela ignorância e os preconceitos humanos.
Maria Madalena, inspirada pelo encontro com Jesus, enriqueceu sua vida com novas experiências espirituais, sem deixar de ser humana. A experiência humana é o maior empreendimento que o espírito eterno tem diante de si. Não é exigido de ninguém que deixe de ser o que é.
Vejamos, por exemplo, a parábola da ovelha perdida, cujo conteúdo é sempre atual. Na linguagem figurada empregada pelo Mestre, a ovelha estava desgarrada, perdida, desamparada. O pastor deixa então as 99 ovelhas no aprisco e vai em busca daquela que se havia desgarrado. Ele a encontra, cura-lhe as feridas, coloca-a em seus ombros, acolhendo-a. Em seguida, ela retorna feliz ao convívio das demais.
A parábola não registra condenação por parte do pastor; em instante algum ele questiona a ovelha sobre o porquê de seu comportamento, que difere daquele adotado pelas demais; não encontramos por parte do pastor nenhuma pergunta que denote o realce das diferenças. Ele simplesmente cura suas feridas, deposita-a sobre seus ombros e retorna com a ovelha para o aprisco. Ainda sob a luz do Evangelho, notamos que a experiência de desgarrar-se das demais ovelhas foi necessária, valiosa e, pela reação silenciosa do pastor, valorizada em si mesma.
Maria de Magdala, em sua história de vida, vibrante e repleta de exemplos de grande riqueza, faz-nos refletir a respeito da nossa compreensão daqueles que agem e que têm um comportamento diferente da maioria. E quando falamos em comportamento emocional, afetivo e sexual diferentes, não estamos ajuizando que tal comportamento seja pior ou melhor. Não estamos fazendo apologia nem mesmo realizando julgamentos com conotações moralistas. Detemo-nos apenas a analisar as ações e reações de Jesus quanto às experiências humanas. Respeito, valorização da experiência humana, incentivo discreto ao progresso e às melhoras íntimas, tanto quanto compreensão generosa com relação ao momento evolutivo de cada um.
Ainda assim, o divino enviado encerra sua mensagem a todos nós transformando Maria de Magdala, aquela que se comportava de modo diferente, em mensageira da ressurreição.
Esta mensagem é uma das mais importantes do Evangelho, por isso perpassa todo o seu texto: Jesus não se utiliza de pessoas santas, resolvidas ou que tenham um comportamento emocional, social ou sexual considerando exemplar. Ele tão-somente valoriza o que de bom cada um traz dentro de si.
Maria de Magdala continuou sendo mal-interpretada e rejeitada pelo colégio apostólico, que a recebe cheio de dúvidas e preconceitos. Todavia, assim mesmo, foi ela a escolhida para anunciar a ressurreição. Sua mensagem permanece ainda hoje como desafio ao entendimento do homem e do cristão do século XXI.
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