O
QUE CONVÉM FAZER
"Se
alguém dentre os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que
for posto diante de vós, sem nada perguntardes, por motivo de consciência". I
Coríntios - Cap. 10, v. 27.
Todas
as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas convém que sejam feitas. O mundo
não poderia ser feito somente com as coisas de que gostas, porque nele vivem
bilhões de espíritos reencarnados, com direitos, opiniões e gostos
diferentes.
Se
uma religião proíbe a carne como alimento, e te convém abster-te de comê-la,
faze-o, sem contudo, julgar a quem come, porquanto, em regiões trevosas há
muitos vegetarianos e no campo da luz, como servidores fiéis do Cristo, há
muitos e muitos que, quando no corpo físico, comiam carne nos seus repastos. Se
a vida situou alguém na embriaguez permanente, não desdenhes dele, nem o
maltrates, porque muitos dos embriagados, conhecidos como delirantes de vício,
modificaram-se com maior rapidez do que muitos que nunca, naquela existência,
levaram um copo com álcool aos lábios; mas há também o contrário. Ao conheceres
um assassino, não o julgues como pária da sociedade, sem salvação aos olhos de
Deus; muitos deles tornar-se-ão espíritos de luz, com pouco tempo; a força da
regeneração transmita a ganga da alma em joias preciosas de valores ilimitados,
e alguns dos que se consideram portadores das leis ainda viajam nos campos das
sombras, sem saberem quando o de que maneira poderão livrar-se delas, mas
encontra-se, também, o caso inverso.
Se
possuis vultosa fortuna, e com ela movimentas meio mundo, não julgues os que
nada têm, acreditando que os pobres o são de tudo, até da graça de Deus; existem
muitos que foram pobres na terra, mas a resignação, a humildade, o esforço no
bem, mesmo em situação penosa, fizeram-nos chegar à plenitude espiritual; e
muitos ricos, que esbanjaram fortunas e mais fortunas no mundo, pensando que
continuariam com as mesmas riquezas depois da morte, enganaram-se, sofrendo e
chorando no vale das sombras, querendo retornar, sem poder, ao corpo físico,
mesmo que seja na miséria, e até mendigando de porta em porta; mas há casos,
igualmente, do reverso da medalha. Se observares mulheres que se degradaram mais
do que os animais, também não as julgues; ora por elas, porque há casos em que,
de uma hora para outra, às vezes às portas da morte física, elas se transformam
no coração e, com pouco tempo, estão nas lides do Cristo, não raro ajudando aos
próprios julgadores.
Os
que se julgaram muito puros vão encontrar dificuldades no mundo espiritual, de
ajudarem, qual elas auxiliam, com desembaraço; como há, também, o contrário.
Se
a tua consciência julga que não deves fazer determinada coisa, não a faças, mas
não queiras distribuir essa regra para as consciências alheias, por não estarem
todas as pessoas no mesmo nível espiritual que o teu. Todas as coisas são
lícitas, mas nem tudo pode ser feito por todos; cada um faça o que lhe convém
fazer, eis a melhor maneira de se viver em paz com a consciência. Muitos dos que
vivem distribuindo conselhos a mancheias, vivem em muitos casos, carecendo
deles. Não procures ninguém para orientar; caso venham ao teu encontro, faze o
que puderes, e cuida de ver o limite de ajudar. A maior ajuda é a que cada um dá
a si mesmo. Tolo é aquele que se transforma em espelho, para ver os defeitos dos
semelhantes, fazendo-se de magistrado; cuidado, porque alguém pode estar
focalizando-o, com o mesmo interesse.
Jesus
já asseverava, há muito tempo, que "não é o que entra pela boca que macula a
alma, e sim o que sai do coração". Isso não quer dizer que podes tomar estanho
derretido e veneno em altas doses; tudo, como diz o Evangelho, é como convém
fazer, nas doses certas; tudo é útil, tanto para o corpo, quanto para as almas;
o exagero é que perturba os espíritos, onde estiverem.
As
regras evangélicas, somente os espíritos superiores as compreendem e vivem; da
sua escala para baixo, tanto a compreensão quanto a vivência são relativas à
posição espiritual em que cada um se encontra. Nem Deus, nem Jesus Cristo vai
amaldiçoar a quem ainda não conseguiu viver todas as virtudes da Boa Nova; e a
tolerância e o amor pregados pelos céus? Isso é o que não falta, porque há
milhares de anos os mentores espirituais vêm tendo e continuam a ter para com
todos nós; somente o completista vive e prega em verdade o Evangelho.
Porventura
podemos exigir de uma criança a mesma coisa que um adulta já aprendeu, em toda
sua existência? Seria isso justiça? O que convém fazer é aquilo que podemos
realizar. O que nos convém fazer é o que a consciência ditar ou aprovar. O que
nos convém fazer é cumprir com os deveres, onde eles nos chamarem. Mas sempre no
reto pensar, na reta consciência e no reto proceder. E nunca, mas nunca,
esquecer de nos esforçarmos para atingir as culminâncias de todas as virtudes
evangélicas, pois é com e através dos próprios esforços, que pisaremos de degrau
e galgamos os cimos da superioridade. Mas antes disso acontecer, se alguém te
convidar para alguma coisa, sê metódico e prudente, sabendo que tudo é lícito,
mas nem tudo convém que seja feito.
"Se
alguém dentre os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que
for posto diante de vós, sem nada perguntardes, por motivo de consciência".
(Livro:
Alguns ângulos dos ensinos do Mestre. João Nunes Maia por Miramez
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