NÃO HAVERÁ PAZ ENTRE OS HOMENS SEM A OBSERVÂNCIA DOS DESÍGNIOS DE DEUS
Segundo Emmanuel, na Terra já experimentamos "épocas de lutas amargas, desde os primeiros anos do século XX, a guerra se aninhou com caráter permanente em quase todas as regiões do planeta. A Liga das Nações, o Tratado de Versalhes, bem como todos os pactos de segurança da paz, não têm sido senão fenômenos da própria guerra, que somente terminarão com o apogeu dessas lutas fratricidas, no processo de seleção final das expressões espirituais da vida terrestre." (1)
Disse o meigo Rabi: "deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá." (2) Lamentavelmente, somos educados numa cultura de guerra (violência) e não de paz. Os heróis da infância cibernáutica, em sua maioria, são guerreiros, saqueadores e sanguinários. As histórias em quadrinhos e os videogames sempre estão repletos de sensualismos e de violências. Urge criarmos uma cultura de não-violência, de paz. Não essa "paz" conquistada por convenções legais ou diplomáticas, porém uma paz oriunda de uma convicção profunda, íntima, que o verdadeiro homem de bem externa em cada gesto, cada palavra, cada pensamento ou cada decisão. O Século XX, recentemente findo, foi o século mais sangrento de todos os anteriores. Após a Segunda Guerra Mundial, já ocorreram 160 conflitos bélicos, resultando em 40 milhões de mortos. Se contabilizarmos os resultados dessas paixões primitivas desde 1914, estes números sobem para 401 guerras e 187 milhões de mortos, numa projeção bem superficial.
Segundo o dicionário "Aurélio", a paz pode ser definida como ausência de lutas, de violências ou de perturbações sociais; pode ser tranqüilidade pública. Pode ser, ainda, ausência de conflitos íntimos, ou seja, tranqüilidade de alma. O dicionário também conceitua paz como situação de um país que não está em guerra com outro, ou, ainda, restabelecimento de relações amigáveis entre países beligerantes com a cessação de hostilidades, etc.
Como podemos perceber, para o dicionarista, a paz é tranqüilidade pública, sem perturbações sociais, mas é, também, a ausência de conflitos íntimos, é equilíbrio interior, e aí está a definição mais importante.
Jesus declarou que nos daria a sua paz, que deixaria para nós a sua paz, e, neste instante em que a humanidade tanto se desentende, a busca da paz tem sido um delírio constante. Em verdade, a nossa paz, quase sempre, é construída com a infelicidade alheia. Por isso, temos de dar a nossa paz para o semelhante e não retê-la, sendo o único beneficiado.
Enquanto não distribuirmos o supérfluo, ou mesmo parte do necessário, deixando de beneficiar quem está em piores condições, por maior que seja a nossa "paz", ela será aparente, somente, e nada produzirá de útil. Jesus nos deixou, há 2.000 anos, a grande lição do amor, a fim de que chegássemos ao estágio de perfeita harmonia interior. O Mestre Galileu avisou: "Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei," (3) e, logo adiante, acrescentou: "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros". (4)
Dentre as possibilidades da conquista da harmonia íntima, é na "caridade que devemos procurar a paz do coração, o contentamento da alma, o remédio para as aflições da vida." (5) A caridade bem compreendida é mais importante do que os fenômenos mediúnicos, do que as pesquisas científicas, do que a fé, do que a esmola, do que o sacrifício. Quem diz isso é Paulo de Tarso, ouçamo-lo: "Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine. Ainda que eu tivesse a dom das profecias, o conhecimento de todos os mistérios e de todas as ciências, ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, eu nada seria. Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria." (6)
As religiões ensinam sobre a importância da beneficência. O Espiritismo afirma que "fora da caridade não há salvação". Os Benfeitores do além nos advertem que sem caridade, toda fé se resume a uma adoração sem proveito; a esperança não passa de uma flor incapaz de frutescência e a própria filantropia se circunscreve a um jogo de palavras brilhantes, em torno do qual os nus e os famintos, os necessitados e enfermos costumam parecer pronunciando maldições.
Atualmente, somos quase 7 bilhões de pessoas na Terra, sendo que 57% estão concentrados em grandes cidades, 21% são europeus, 8% são africanos, 4% são americanos. No jogo frio dos números estatísticos, sabemos que 6% possuem quase 60% de toda riqueza e (pasmem!) 6% (sim, 6% de 60%) são norte americanos. Considerando que 80% de pessoas vivem em condições subumanas, 50% sofrem de desnutrição, 70% não sabem ler, 1% (sim, só 1%) tem educação universitária, 1% possui um computador. Se temos alimento suficiente para uma subsistência digna, um vestuário que nos possibilite uma aparência discreta e saudável, um teto que nos abrigue e proteja das intempéries da vida, acreditem, somos mais ricos que 75% da população mundial.
Nesse dramático contexto, ao Espiritismo está reservada a tarefa de alargar os horizontes das propostas de pacificação nos domínios da alma, contribuindo para a solução dos enigmas que atormentam o homem contemporâneo, projetando luz nas questões, quase que indecifráveis do destino e do sofrimento humano.
Por oportuno, evocamos um trecho do espírito Neio Lúcio que cita, no último capítulo do livro Jesus no Lar (O livro traz conversações travadas na intimidade do lar de Pedro, sobre os problemas do Reino de Deus), o seguinte episódio: "(...) Após o último culto doméstico na casa de Simão Pedro, nas vésperas de embarcar para a cidade de Sidon, o Mestre abriu o livro de Isaías e comentou-o com sabedoria, após o que, proferindo a prece de encerramento, advertiu: - Pai, ajude os que não se envergonham de ostentar felicidade ao lado da miséria, do infortúnio e da dor.(...). Ergue aqueles que caíram sob o excesso do conforto material."(7) A felicidade é mediata, vazada na elaboração das fontes vitais da paz de todos, a começar hoje e nunca terminar, até porque, a alegria de fazer alguém feliz é a felicidade em forma de alegria.
Jamais olvidemos que é impossível deter a paz em abundância sem a máxima observância dos desígnios divinos, sintetizados no Evangelho e desdobrados ao nível da cultura contemporânea pela Terceira Revelação.
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