Depressão e influência espiritual
Acompanhei um caso interessante de depressão com um componente
espiritual presente. Um rapaz de vinte e dois anos, universitário,
revelou a sua mãe seu descontentamento com seu curso e sua vontade de
deixá-lo. Mesmo com os conselhos
contrários da mãe ele abandonou a faculdade. Passou a ficar muito tempo em casa, em seu quarto e a falar de forma monossilábica.
Emagreceu, pois comia muito pouco e passou a se demorar por muito
tempo em frente à televisão. Ele morava só com a mãe. Seu pai havia
falecido quando ele tinha doze anos e isso não abalou sua vida, pois
sempre demonstrou disposição para viver e estudar.
Sempre foi bom aluno e não apresentou, desde a morte do pai, nenhum
sintoma de qualquer transtorno. Porém, de repente, já adulto, passou a
ter um comportamento não habitual e de isolamento progressivo. Conduzido
a um médico, a muito custo, pela mãe, foi diagnosticada a depressão.
Passou a tomar remédios, porém sem alteração nos sintomas.
A alguns quilômetros de sua casa, numa das reuniões mediúnicas do
Centro Espírita Harmonia, apresentou-se um espírito dizendo-se sem fé e
sem perspectiva em sua vida. Sabia que havia falecido há cerca de
quarenta anos, vítima de falência múltipla
dos órgãos. Disse ter se dedicado à religião, tornando-se padre, mas
que não tinha muita convicção em suas pregações e em sua fé. Fora levado
à religião por influência da tradição familiar, que reservava um dos
filhos para o ministério de evangelizar o próximo.
Ele fora escolhido por ser o caçula. Mesmo aceitando o ofício, nunca
se entusiasmou com a tarefa. Cometeu muitos desatinos, vivendo de forma
moralmente condenável. Seus familiares se afastaram dele e seus fiéis
não se sentiam bem ao seu lado nem o procuravam para conselhos.
Achavam-no despreparado e evasivo em seus sermões. Viveu seus últimos
dias doente, sem visitas e sem amigos. Faleceu com pouco mais de
quarenta anos num hospital público, sem nenhum familiar próximo e sem
que ninguém se lembrasse dele. Morreu como viveu, isolado e sem vínculos
afetivos. Como a vida continua, perambulou pelo mundo dos espíritos em
torno do ambiente religioso que viveu, desnorteado procurando por Jesus e
pelos santos da Igreja. Depois de algum
tempo, sem encontrar o que esperava e sem saber o que fazer, à
procura de algum referencial familiar, refugiou-se numa igreja distante
daquela em que outrora pregara. Um dia, passados alguns anos desde seu
falecimento, atraído por uma senhora que passou a ir àquela igreja,
seguiu-a até sua casa. Lá encontrou um jovem universitário cheio de
vida. Automaticamente ligou-se a ele por se sentir atraído pela sua
jovialidade e disposição de viver.
Seu interesse pela senhora se deu por causa da persistente oração que
fazia em favor do filho. Ela notara que seu filho estava vivendo algum
processo difícil, que não compreendia, então resolveu buscar auxílio nos
santos de sua devoção. Seus pensamentos e a projeção mental da imagem
do rapaz atraíram o padre desencarnado.
Ele a seguiu à saída da igreja sem saber ao certo aonde ia, porém
algo o levava a ela. Seu desejo era mais forte do que sua consciência do
ato. No íntimo achava que iria encontrar uma resposta para sua vida,
que se achava paralisada. Chegando à casa dela, ao ver o rapaz,
sentiu-se atraído a ele. Estremeceu como se estivesse diante de alguém
muito importante em sua vida. Sentiu um frio dentro de si e leve tremor
no corpo. Teve ímpetos de abraçá-lo, mas se conteve, temendo uma reação
contrária por parte do rapaz. Naquele momento constatou que o conhecia
de algum lugar e que ele era alguém muito
querido seu. Por sua vez, o rapaz, ante a situação, sem saber da
presença do espírito em sua casa, sentiu uma sensação de pesar e
tristeza, aliadas a uma certa alegria íntima simultânea. Levantou-se da
cama e foi à sala, na qual sua mãe acabara de entrar. Ali estavam os
três num mesmo ambiente, porém só o espírito tinha consciência do fato.
Os outros dois acreditavam estar sozinhos. O rapaz, ao cumprimentar sua
mãe, sem perceber a presença do espírito, disse-lhe não estar se
sentindo bem naquele momento e pediu-lhe que fizesse uma oração. Feita a
oração, acompanhada pelo padre desencarnado, que se sentiu muito bem
ali, o rapaz melhorou e voltou ao seu quarto.
A partir daquele dia, por conta da presença de seu amigo padre
desencarnado, sem disso ter consciência, foi se tornando uma pessoa
isolada e sem ânimo para fazer o que habitualmente fazia. Depois de
alguns dias sua mãe o levou a um médico.
Um dia, a vizinha, após a mãe lhe ter contado que seu filho não
passara bem no dia anterior, convidou-a a levá-lo a um Centro Espírita,
pois acreditava que a ocorrência poderia estar associada a alguma
influência espiritual. Provavelmente a vizinha agira sob inspiração de
espíritos, inclusive quando conseguiu levá-los ao Centro Espírita dias
depois. Após insistentes convites da mãe, o rapaz se decidiu a ir, mesmo
contrariado.
Lá chegando, acompanhado pelo espírito, que mesmo tendo consciência
do lugar para onde estava indo, não se incomodou, o rapaz assistiu a uma
palestra e tomou passes. Disse à mãe que se sentiu bem e que retornaria
lá na semana seguinte. Por sua vez, durante o passe, o padre se sentiu
desligado dele e permaneceu na instituição, interessado no que lá
ocorria. Viu que ali se falava de religião de forma diferente da que se
acostumara a pregar, sem dogmatismo nem subserviência. A palestra da
noite discorreu sobre o Cristo-homem, que realizou sua vida de acordo
com seus firmes propósitos de educar as pessoas a também realizarem seu
próprio destino. O Cristo era mostrado como uma pessoa e não como um
Deus. Como alguém que era capaz de aceitar o outro com suas
deficiências, sem lhes exigir santidade. Isso lhe foi muito útil e
recebido como um alento, pois se sentia culpado pelo seu passado. Era
como se o próprio Cristo o absolvesse, sendo mostrado simplesmente um
ser humano como ele.
Permaneceu ali naquela Instituição por alguns dias, até ser admitido
numa de suas reuniões mediúnicas para o diálogo com aqueles que fazem
parte do mundo do qual ele ainda não havia se desligado completamente.
Na reunião mediúnica, questionado sobre os motivos pelos quais se
ligara àquele rapaz, disse não saber, bem como não se lembrar de nada
que se referisse aos dois. Passou a acompanha-lo como se o fizesse a um
grande amigo. Gostava do rapaz, sentindo-se bem ao seu lado, porém sem
perceber que estaria prejudicando sua vida. Sua ligação psíquica com o
rapaz desencadeou os sintomas da depressão. Não entendia que seu próprio
estado mental contaminava o do outro.
Interessante como a influência espiritual, ou proximidade entre um
espírito e outro que esteja em dimensão diferente, promove alterações
psíquicas. Neste caso, pelo estado mental do padre falecido, a
influência era negativa. Seria o que se chama de obsessão não
intencional, por não haver desejo de domínio sobre o outro. Esse tipo de
influência, que no caso específico contribuiu para a instalação da
depressão, também é comum nos casos de síndrome de pânico. A
proximidade psíquica entre espíritos desencarnado e encarnado pode
provocar uma série de reações orgânicas concomitantemente a alterações
no estado de consciência e em sua invasão pelo inconsciente.
O estudo dos processos psicogênicos certamente conduzirá a uma
percepção das influências espirituais, além de uma melhor compreensão a
respeito do inconsciente.
Passados alguns dias, após o desligamento voluntário do padre da
companhia do rapaz, este veio a melhorar e a voltar à sua habitual
jovialidade e ao interesse pelos estudos.
Muitos casos de depressão possuem um componente espiritual de difícil
percepção. Às vezes se trata de parentes desencarnados que se ligam,
por laços afetivos, ao encarnado, mas que lhe contaminam com seus
pensamentos derrotistas. Outras vezes, o depressivo pode perder a
motivação para a vida, por saber de antemão que enfrentará grandes
desafios decorrentes de seu passado culposo. Parece que ele quer recuar
da prova ou expiação a enfrentar. Ao se aproximar o período em que
enfrentará seu próprio passado, acercam-se dele, espíritos que, pelo
estado em que se encontram, influenciam sobremaneira seu psiquismo.
Depressivos desencarnados, quando se aproximam de pessoas pessimistas
e frágeis psicologicamente, facilmente transmitem seus estados mentais.
O processo de transferência se dá de períspirito a perispírito, de
mente a mente, como num sistema de radiofrequência.
Um emite e o outro capta, estando ambos na mesma freqüência psíquica.
Como em todos os casos, vale a pena selecionar as companhias que se
quer ter. Quem sintoniza com a depressão atrairá depressivos e
desiludidos nos dois lados da vida:
material e espiritual.
A influência espiritual é fato normal, pois espíritos existem em toda
parte. Alguns, mais adiantados, se estruturam em organizações
espirituais que se assemelham às cidades, outros, ainda presos à
sociedade terrena, permanecem vinculados ao que aqui ocorre. Estes
últimos vivem e convivem com os encarnados, como se ainda estivessem no
corpo físico. Transmitem e recebem fluidos, pensamentos e emoções.
Adoecem e fazem adoecer.
Parece uma sociedade dentro da outra, numa incrível comunhão de
idéias e de sentimentos. Pode-se observar que algumas atitudes resultam
de intenções de um lado e de outro.
A depressão causada exclusivamente por influência espiritual, via de
regra, apresenta sintomas mais perturbadores ao indivíduo,
principalmente quanto à confusão mental que provoca.
Neste caso, será imprescindível o tratamento espiritual, para o esclarecimento também do espírito que a desencadeia.
A maneira mais adequada de identificar quando a depressão é causada
por obsessão espiritual é verificar a existência de seus sintomas
típicos. Os sintomas5 típicos da obsessão espiritual são:
1. Falhas freqüentes no curso, conteúdo ou forma do pensamento, com conseqüentes perturbações no contato com a realidade;
2. Alterações freqüentes de comportamento à revelia da pessoa,
gerando constrangimentos e dificuldades em viver a normalidade
cotidiana;
3. Perturbações psicóticas (alucinações, delírios persecutórios,
audição de vozes, etc.), que provoquem dificuldades de conciliação com a
normalidade do ego;
4. Alterações constantes da senso-percepção, promovendo constantes
distorções na qualidade e quantidade do que é captado pelos cinco
sentidos;
5. Sintomas característicos da Síndrome de Pânico (taquicardia,
sensação de asfixia, medo sem causa aparente, suor frio nas
extremidades, medo de sair sozinho, etc.), provocando alterações na vida
diária;
6. Sensações típicas da mediunidade não educada, perturbando a vida e as relações da pessoa;
7. Alterações constantes na quantidade e qualidade do sono, provocando insônias ou dormir em quantidade além do habitual;
8. Recorrências em distúrbios descritos pela Psiquiatria como
Transtornos Mentais, exceto aqueles cujas causas se devem a problemas
neurológicos e aos congênitos.
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