A Caminho da Luz

domingo, 12 de agosto de 2012

Meu filho,,,,,,,,,,,

Se seu pai já desencarnou (já morreu), assim como o meu, não tem problema, envie bons pensamentos a ele, onde quer que esteja, afinal pode estar na erraticidade (no plano espiritual) ou talvez já ter reencarnado (retornado ao Orbe Terrestre ou outra morada pois "na casa de Meu Pai há muitas moradas").

Dedico este texto a todos os Pais,
em cujos corações pulsa
o sincero amor por seus filhos.
Que Deus abençoe a todos,
em mais este Dia dos Pais.

Campinas, segundo domingo de agosto / 2012
A QUEM CONTAREI MEUS SONHOS?
Ariovaldo Cavarzan

"Era um Pássaro diferente de
todos os demais - era Encantado"
(Rubem Alves)
Meu filho,
Está chegando novamente o Dia dos Pais.
Ainda ontem, enquanto o acompanhava na caminhada
que fizemos, notei fios de cabelos brancos em você.
O tempo é mesmo implacável;
nós é que nem percebemos a sua passagem.
Parece que foi ontem o dia em que o vi pela primeira vez,
recém-chegado a este mundo,
frágil e desajeitado, como se a me dizer:
"Papai, eu estou aqui!"

Gostaria de contar-lhe um sonho que tive na noite passada,
com certeza inspirado no lindo texto de Rubem Alves,
intitulado "A Menina e o Pássaro Encantado",
do livro "Cantos do Pássaro Encantado" (editora Verus),
sobre o nascimento, morte e ressurreição do amor,
falando de um Pássaro que habitava uma gaiola,
cuja porta era mantida sempre aberta, a fim de que,
vez ou outra, ele pudesse sair em liberdade,
voando em busca de novos lugares e novas experiências, retornando sempre que sentisse saudades,
ocasiões em que exibia em suas penas
as cores dos lugares por onde passou,
fazendo alegre a Menina que o estimava
como seu melhor amigo.

Em meu sonho, um pai me falava do amor que sentia
por um filho que resolvera viajar a um país distante,
e da saudade que estava sentindo,
embora soubesse que estava perto
a hora em que deveria voltar.

O relato pretendia ilustrar argumentos
sobre a certeza de que, um dia,
a morte nos fará entristecidos diante
de uma grande separação,
na ante-sala das alegrias de cada novo reencontro.

Fiquei imaginando como seria bom se também
a você fosse possível, vez ou outra,
alçar altos vôos solos, nas asas da liberdade,
para que também nós dois pudéssemos
experienciar rituais de partidas e chegadas,
a fim de que um dia não venhamos a ser pegos de surpresa, quando chegar a hora do grande adeus.

Realmente, pode-se dizer que aquele filho
se assemelha ao Pássaro Encantado do conto de Rubem Alves, eis que sai livremente quando deseja
e sempre sabe a hora em que deve voltar.

Ao contrário, você, meu filho,
por ter aportado neste mundo com necessidades especiais, assemelha-se mais a um Pássaro Ferido,
confiado por Deus aos meus cuidados e proteção,
sendo-lhe permitido tão somente ensaiar breves vôos rasantes, por entre as árvores do sítio da escola
que frequenta, e de onde é também
aguardado com muito amor e saudade,
em cada retorno seu à nossa casa.

Por isso, meu filho, às vésperas de mais um Dia dos Pais,
resolvi contar-lhe esse sonho que tive na noite passada e do qual me lembrei ao contemplar fios brancos em seus cabelos, evidenciando que nós dois estamos envelhecendo.
Quantos pais, na minha idade,
podem ainda dar-se ao luxo de participar de festas
de carinho nas escolas de seus filhos,
quase quarentões, por ocasião dos dias dos Pais,
das Mães, nas festas juninas e nos Natais?
Não faz mal que a sua formatura
nunca tenha feito parte desse calendário festivo.

A propósito do sonho, lembrei-me de novamente agradecer a Deus, pela oportunidade de ter você aqui,
como verdadeiro anjo tutelar de nossa família,
ajudando-nos a compreender que somente os desafios do caminho são capazes de nos fazer progredir,
em aprendizado e espiritualidade,
tornando-nos um pouco melhores, a cada dia.

Afinal de contas, ao longo dos seus trinta e nove anos,
a sua presença só nos tem fortalecido e ajudado,
ensinando-nos a assimilar novos e importantes valores,
mercê de um cotidiano exercício de amor,
acolhimento, dedicação, compreensão,
renúncia, gratidão, paciência e esperança.
Desde a hora em que o vi pela primeira vez,
aceitei com humildade a incumbência que Deus me confiou,
de recebê-lo como filho do meu coração,
para amá-lo e protegê-lo, do jeito que você é,
semelhante a um Pássaro Ferido.
E também abracei com serena alegria a rotina
de encaminhá-lo diariamente ao seguro bosque das árvores
de sua escola, para seus ensaios de breves
e desajeitados vôos, em busca de liberdade.

E se algo devesse pedir a Deus,
no próximo Dia dos Pais, seria no sentido de não
permitir que você parta desta vida antes de mim,
ousando sair sozinho pela porta aberta de sua gaiola,
quando chegar a hora da nossa grande separação,
porque ficarei sem ninguém a quem
contar os meus sonhos.

Mas, caso eu tenha que seguir viagem antes de você,
que eu possa esperá-lo no lugar onde estiver,
guardando o coração cheio de saudade e amor,
até o momento de novamente poder abraçá-lo,
quando você por lá aparecer, aí sim,
na condição de Pássaro Encantado,
finalmente liberto da gaiola dos desafios que juntos
aprendemos a enfrentar e vencer,
exatamente como Deus sempre esperou de nós.

Uma vez novamente juntos,
teremos condições de voar livremente para qualquer parte,
até onde o nosso pensamento ousar chegar,
e eu voltarei a ter a quem contar
meus sonhos de coragem, amor,
esperança, felicidade e paz.

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