Senhor, lembrando a Tua crucificação entre malfeitores, sacrificado
em Teu ministério de amor universal, ouvimos apelos de vários setores religiosos
do mundo presente, invocando-Te o nome para incentivar os movimentos
tumultuários da renovação política que convulsiona o Planeta...
Asseguram-Te
a posição de maior revolucionário de todos os tempos. Afirmam que abalaste os
fundamentos sociais da ordem humana, que alteraste o curso da civilização, que
transformaste os povos da Terra,
Quem
Te negará, Senhor, a condição de Embaixador Celeste? Quem desconhecerá Teu
apostolado de redenção?
Entretanto,
divulgando a mensagem da Boa-Nova, jamais insultaste o governo
estabelecido...
Amigo
de todos os sofredores e necessitados, nunca congregaste os infelizes em
sinistras aventuras de ódio ou indisciplina. Aproximavas-Te dos desamparados,
curando-lhes as enfermidades, ensinando-lhes o caminho do bem, estendendo-lhes
mãos benfeitoras e diligentes. Dirigindo-Te à massa anônima e desditosa, em nome
do Eterno Pai, não preconizaste movimentos armados de desrespeito às autoridades
legalmente constituídas. Ao invés do incitamento à revolta, recomendavas que a
Lei de Moisés fosse respeitada, que os sacerdotes dignos fossem honrados,
asseverando que o Reino de Deus não surgiria com aparências exteriores e, sim,
com a elevação espiritual do homem de qualquer raça ou nacionalidade,
sinceramente interessado em aproveitar os dons divinos.
Expondo
princípios superiores ao coração popular, não disputaste lugar saliente, junto
ao romano dominador, a pretexto de patrocinar a liberdade e, sim, aconselhaste
acatamento a César com a obrigação de resgatar-se o tributo que se lhe
devia.
Erguendo
novas colunas no templo da fé viva, conclamando mãos limpas e corações puros ao
serviço do Céu, não desprezaste a legião dos pecadores e criminosos, que se
abeiravam de Ti, sedentos de transformação para a tarefa bendita... Não falaste
a eles de uma tribuna dourada, acentuando fronteiras de separação. Comungaste
com todos no caminho da vida, a pleno chão, abraçando leprosos e delinqüentes,
avarentos e rixosos, bonecas e mulheres desventurados. Não impunhas, no entanto,
qualquer compromisso que envolvesse a administrarão dos interesses públicos, nem
traçavas, com astutas palavras, qualquer insinuarão ao desespero. Pedias tão
somente renovassem o coração para que a Luz do Reino lhes penetrasse as
profundidades do ser.
Sustentando
o sublime ideal de obediência a Deus, nunca ordenaste morte ou punição aos
companheiros menos corajosos. Suportaste as fragilidades dos discípulos mais
queridos, confiando no futuro, certo de que se podiam faltar a Ti, nos instantes
mais duros, não falhariam para com o Pai, nas grandes horas, desde que não te
desanimasses na semeadura da fraternidade e proteção, pelo esforço da palavra e
do exemplo no círculo educativo.
Se
confiavas num mundo vasto, onde reinaria a solidariedade nas relações humanas,
jamais tentaste apressar diretrizes absolutas pelo império da força. Começaste
sempre a propaganda dos propósitos divinos em Ti mesmo, revelando o próprio
coração, cultivando o trabalho e a esperança, com suprema fidelidade ao Poder
Mais Alto que marcou estação adequada à semente e à germinação, à flor e ao
fruto. Em momento algum mobilizaste a violência, alegando necessidades do
serviço superior e, em todo o Teu apostolado, jamais desdenhaste o menor ensejo
de amparar o próximo, edificando-o.
Para
isso, abraçaste os velhos e os doentes, os deserdados e os tristes, os aleijados
e as criancinhas...
Nunca
disseste, Senhor, que os discípulos deveriam dominar em Roma para serem úteis na
Judéia, nem prometeste primeiros lugares, nas Estradas da Glória, aos
companheiros diletos, ainda mesmo em se tratando de João e Tiago que Te foram
carinhosos amigos. Mas garantiste a vitória sublime a todos os homens que se
fizessem devotados servos dos semelhantes por amor ao Pai Celestial.
Invariàvelmente,
solicitaste socorro e proteção, desculpas e auxílios para os que Te perseguiam,
gratuitamente, irônicos e ingratos...
Tua
ordem era de amor e paz para que todo espírito se converta ao Infinito
Bem...
Hoje,
contudo, improvisam-se guerras sanguinolentas e sobram discórdias em Teu nome.
Há companheiros que disputam situações de relevo, a fim de servirem à Tua causa,
como se o sacrifício pessoal não constituísse a Tua senha na obra redentora.
Outros Te recordam os ensinos para justificar a inconformação e a desordem.
Sim,
foste, em verdade, o Grande Renovador, Transformaste os séculos e as nações,
trabalhando e perdoando, ajudando e servindo, esperando e amando sempre!...
Um
dia, na praça pública, quando ficaste a sós com humilde e infortunada irmã, que
se vira fustigada pelo populacho ignorante, perguntaste -lhe,
emocionadamente:
Mulher,
onde estão os perseguidores que te acusam?
Hoje,
Mestre, lamentando embora o tempo que também perdi na Terra, iludido e
envenenado quanto os outros homens, lembrando-Te ainda na cruz afrontosa,
sozinho em Tua exemplificação de amar e renúncia, abnegação e martírio, ouso
interrogar-Te, com as lágrimas de meu profundo arrependimento :
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