A Caminho da Luz

domingo, 26 de agosto de 2012

BEZERRA DE MENEZES CAVALCANTI O MÉDICO DOS POBRES

 


BEZERRA DE MENEZES
CAVALCANTI
O MÉDICO DOS POBRES



Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti
Jornalista - Médico - Político - Espírita
Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, nasceu no dia 29 de
agosto de 1831, na antiga freguesia do Riacho do Sangue (hoje Jaguaretama),
no estado do Ceará.
Filho de Antônio Bezerra de Menezes e de Fabiana de Jesus
Maria Bezerra, oriundo de tradicional família de políticos do Sul, uma
das primeiras que vieram povoar aquele estado, foi criado por seus
pais dentro dos princípios religiosos do catolicismo e disciplina militar,
tendo o dever e a honra como norma a seguir.
Não teve vida fácil, contudo com esforço e dedicação alcançou
posições de destaque chegando a ser médico, jornalista, político e
presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB).
No ano de 1838, entrou para a escola pública da Vila do Frade.
Bem cedo revelou sua fulgurante inteligência. Aos 6 anos sabia ler, ao
7, iniciava o curso primário, e, aos 11, principiava o Curso de Humanidades,
em virtude da transferência de sua família para o Rio Grande
do Norte, matriculando-se na aula pública de latinidade que funcionava
na Serra do Martins, dirigida pôr jesuítas. Seu aproveitamento era
notável, bastando lembrar que aos 13 anos, conhecia tão bem o latim que ministrava, a seus companheiros,
aulas dessa matéria na própria escola em que fazia seus preparatórios, quando do impedimento de seu professor.
Orientava-o, nos estudos, o tio e grande amigo, Dr. Manoel Soares da Silva Bezerra.
Seu pai, o capitão das antigas milícias e tenente-coronel da Guarda Nacional, Antônio Bezerra de Menezes,
homem severo, de honestidade a toda prova e de ilibado caráter, tinha bens de fortuna em fazendas de
criação. Com a política, e por efeito do seu bom coração, que o levou a dar abonos de favor a parentes e amigos,
que o procuravam para explorar-lhe os sentimentos de caridade, comprometeu aquela fortuna. Percebendo,
porém, que seus débitos igualavam seus haveres, procurou os credores e lhes propôs entregar tudo o
que possuía, o que era suficiente para integralizar a dívida. Os credores, todos seus amigos, recusaram a proposta,
dizendo- lhe que pagasse como e quando quisesse.
O velho honrado insistiu; porém, não conseguiu demover os credores sobre essa resolução, por isso deliberou
tornar-se mero administrador do que fora sua fortuna, não retirando dela senão o que fosse estritamente
necessário para a manutenção da sua família, que assim passou da abastança às privações.
Cumpridos os 5 anos de ginásio e animado do firme propósito de orientar-se pelo caráter íntegro de
seu pai, Bezerra de Menezes, com a minguada quantia de R$ 38$000 (trinta e oito mil Réis) que seus parentes
lhe deram, e animado do propósito de sobrepujar todos os óbices, partiu para o Rio de Janeiro em 05 de
fevereiro de 1851, a fim de seguir a carreira que sua vocação lhe inspirava: a Medicina.
Para poder estudar, dava aulas particulares de Filosofia e Matemática, e como não podia comprar livros,
estudava nas bibliotecas, mas sempre tirou ótimas notas, pois se esforçava muito.
Digno de registro foi um caso sucedido com o Dr. Bezerra de Menezes, quando ainda era estudante de
Medicina. Ele estava em sérias dificuldades financeiras, precisando da quantia de cinqüenta mil réis, para
pagamento das taxas da Faculdade e para outros gastos indispensáveis em sua habitação, pois o senhorio,
sem qualquer contemplação, ameaçava despejá-lo.
Desesperado - uma das raras vezes em que Bezerra se desesperou na vida - e como não fosse incrédulo,
ergueu os olhos ao Alto e apelou a Deus.
Poucos dias após bateram-lhe à porta. Era um moço simpático e de atitudes polidas que pretendia tratar
algumas aulas de Matemática.
Bezerra recusou, a princípio, alegando ser essa matéria a que mais detestava, entretanto, o visitante insistiu
e por fim, lembrando-se de sua situação desesperadora, resolveu aceitar.
O moço pretextou então que poderia esbanjar a mesada recebida do pai, pediu licença para efetuar o
pagamento de todas as aulas adiantadamente. Após alguma relutância, convencido, acedeu. O moço entregou-
lhe então a quantia de cinqüenta mil réis. Combinado o dia e a hora para o início das aulas, o visitante
despediu-se, deixando Bezerra muito feliz, pois conseguiu assim pagar o aluguel e as taxas da Faculdade.
Procurou livros na biblioteca pública para se preparar na matéria, mas o rapaz nunca mais apareceu.
Em novembro de 1852, ingressou como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia.
Doutorou-se em 1856 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese "Diagnóstico do
Cancro", com 25 anos. Nessa altura abandonou o último patronímico, passando a assinar apenas Adolfo Bezerra
de Menezes.
Abriu, com um colega, consultório no centro do comércio, onde esteve espantando moscas por longos
meses. Mas, em sua casa, a clínica ia crescendo, pois era gente que não pagava.
Recebe a alcunha de "Médico dos Pobres". Foi-lhe dado mais por troça, mas ele a aceitou com orgulho,
disse depois que foi o mais honroso título que já recebera.
A 27 de abril de 1857, candidatou-se ao quadro de membros titulares da Academia Imperial de Medicina,
com a memória "Algumas Considerações sobre o Cancro encarado pelo lado do Tratamento". O parecer
foi lido pelo relator designado, Acadêmico José Pereira Rego, a 11 de maio de 1857, tendo a eleição se
efetuado a 18 de maio do mesmo ano e a posse a 1º de junho. Foi eleito redator dos seus Anais, posto que
ocupou com brilho durante 4 anos. Em 1858 candidatou-se a uma vaga de lente substituto da Seção de Cirurgia
da Faculdade de Medicina. Por intercessão do mestre Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, então
Cirurgião-Mor do Exército, Bezerra de Menezes foi nomeado seu assistente, no posto de Cirurgião-Tenente.
Casou-se com Maria Cândida de Lacerda em 06 de novembro
de 1858, mas esta veio a falecer em 1863, acometida por rápida enfermidade,
deixando-lhe dois filhos ainda pequenos.
Um ano depois, casou-se pela segunda vez com Cândida Augusta
Lacerda, irmã materna de sua primeira esposa, com quem teve
07 filhos.
Político, grande defensor da abolição da escravatura, líder do
Partido Liberal, eleito vereador municipal em 1861, teve sua eleição
impugnada pelo chefe conservador, Haddock Lobo, sob a alegação de
ser médico militar. Objetivando servir o seu Partido, que necessitava
dele a fim de obter maioria na Câmara, resolveu Bezerra de Menezes
afastar-se do Exército. Em 1867 foi eleito Deputado Geral, tendo ainda
figurado em lista tríplice para uma cadeira no Senado.
Quando político, levantou-se contra ele, a exemplo do que ocorre com todos os políticos honestos, uma
torrente de injúrias que cobriu o seu nome de impropérios. Entretanto, a prova da pureza da sua alma deu-se
quando, abandonando a vida pública, foi viver para os pobres, repartindo com os necessitados o pouco que
possuía.
Corria sempre ao tugúrio do pobre, onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto de
sua palavra de bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio da sua bolsa minguada e generosa.
Missionário que sempre fora, um dia ao atender uma mulher, prescreveu os remédios e lhe disse que
poderia compra-los ali mesmo, ao que esta respondeu que não tinha nem para dar o que comer, quanto mais
comprar remédios. Bezerra procurou nos bolsos e nada encontrou, olhou em volta e nada viu, reparou então
em seu anel de formatura, e deu-o, sem pestanejar para comprar medicamento para o filho doente.
Dedicava-se unicamente aos pobres, dando consultas gratuitas. Como não conseguia cobrar, seu amigo,
dono da farmácia onde atendia é quem pedia ajuda aos que podiam. Não tendo nenhuma fonte de renda
além dessa, passava portanto, muitas privações.
Muitas vezes, comovido com o pesar das pessoas, ia até o amigo farmacêutico e pegava tudo o que ele
tinha recebido e distribuía aos necessitados que o procuravam.
Em certa ocasião a situação estava muito ruim, sua mulher lhe disse que não teriam o que comer à noite,
e ele respondeu que confiasse em Jesus. Ao voltar de noite ela reclamou do seu exagero, o que ele estranhou,
então ela mostrou uma enorme quantidade de alimentos que lhe foi entregue de manhã, cuja origem
jamais souberam.
Outra vez, um homem o procurou dizendo estar desempregado e doente, como os seus. Bezerra olhou
nos bolsos e nada encontrou, perguntou então se ele acreditava em Nossa Senhora, o que ele disse que sim,
então lhe deu um abraço dizendo que era em nome dela, e disse para repetir o gesto em casa. Na semana
seguinte voltou para agradecer pois ficou curado e arranjara emprego.
Desviado interinamente da atividade política e dedicando-se a empreendimentos empresariais, criou a
Companhia de Estrada de Ferro Macaé a Campos, na então província do Rio de Janeiro. Depois, empenhouse
na construção da via férrea de Santo Antônio de Pádua, etapa necessária ao seu desejo, não concretizado,
de levá-la até o Rio Doce. Era um dos diretores da Companhia Arquitetônica que, em 1872, abriu o "Boulevard
28 de Setembro", no então bairro de Vila Isabel, cujo topônimo prestava homenagem à Princesa Isabel.
Em 1875, era presidente da Companhia Carril de São Cristóvão.
Quando comandava a empresa de trens, ao findar o expediente, um conhecido chegou até ele dizendo
que seu filho havia morrido. Não deixou ele continuar, chamou a um canto, tirou a carteira e nem olhou o
quanto tinha, deu-lhe tudo, percorreu os bolsos e deu até as moedas que possuía. Não esperou agradecimentos
e foi embora, só então percebeu que não tinha nem para o bonde, de modo que foi obrigado a pedir a amigos
a passagem.
Retornando à política, foi eleito vereador em 1876, exercendo o mandato até 1880. Foi ainda presidente
da Câmara e Deputado Geral pela Província do Rio de Janeiro, no ano de 1880.
Fica descontente de tudo, passando a ler a Bíblia para se consolar.
O Dr. Carlos Joaquim Travassos integrante do primeiro grupo
espírita do país, "Confúcios", havia empreendido a primeira tradução
das obras de Allan Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa
de "O Livro dos Espíritos". Logo que esse livro saiu do prelo, o Dr.
Joaquim Travassos, durante uma viagem de bonde, ofertou um exemplar
a Bezerra de Menezes, entregando-o com dedicatória. O episódio
foi descrito do seguinte modo por Bezerra:
"Deu-mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem
de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração
para a longa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o
inferno por ler isto... Depois, é ridículo confessar-me ignorante desta
filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando
assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a
Bíblia.
Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para
mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no "O Livro dos Espíritos". Preocupei-me seriamente
com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo
como se diz vulgarmente, de nascença".
Para se convencer, faz uma consulta anônima, mandando por um amigo um papel contendo apenas seu
nome e idade, e recebeu de volta a descrição dos seus sintomas, a causa deles e a prescrição para cura, e cura
um problema de cinco anos apenas com homeopatia.
Comentou com um vizinho que já estava melhor, quando recebeu o comunicado do espírito dizendo
que ainda não estava de todo bem, chegando a mensagem uma hora depois do comentário, exatamente o
tempo da viagem até sua casa.
Sua esposa tinha problemas, e os médicos diziam que era tuberculose, o que era muito grave na época.
Os espíritos indicaram problema em outro lugar, no útero, e a curaram.
Certa vez sua esposa foi procura-lo pois sua filha estava muito doente, mas ao sair foi chamado por outra
mulher, pedindo ajuda para o filho que também adoecera, Disse a esposa que não pode deixar de atender
a quem chama, de modo que entrega a filha a Jesus, e vai até o outro enfermo, esperando, ao retornar à casa,
encontrar a filha morta, mas a doença passara completamente, de onde conclui que Jesus é melhor médico
que ele.
No dia 16 de agosto de 1886, um auditório de cerca de duas mil pessoas da melhor sociedade enchia a
sala de honra da Guarda Velha, na rua da Guarda Velha, atual Avenida 13 de Maio, no Rio de Janeiro, para
ouvir em silêncio, emocionado, atônito, a palavra sábia do eminente político, do eminente médico, do eminente
cidadão, do eminente católico, Dr. Bezerra de Menezes, que proclamava a sua decidida conversão ao
Espiritismo.
Bezerra era um religioso no mais elevado sentido. Sua pena, por isso, desde o primeiro artigo assinado,
em janeiro de 1887, foi posta a serviço do aspecto religioso do Espiritismo. Demonstrada a sua capacidade
literária no terreno filosófico e religioso, quer pelas réplicas, quer pelos estudos doutrinários, a Comissão de
Propaganda da União Espírita do Brasil, incumbiu-o de escrever, aos domingos, no "O Paiz" tradicional órgão
da imprensa brasileira, a série de "Estudos Filosóficos", sob o título "O Espiritismo". O Senador Quintino
Bocaiúva, diretor daquele jornal de grande penetração e circulação, "o mais lido do Brasil", tornou-se
mesmo simpatizante da Doutrina Espírita.
Os artigos de Max, pseudônimo de Bezerra de Menezes, marcaram a época de ouro da propaganda espírita
no Brasil. De novembro de 1886 a dezembro de 1893, escreveu ininterruptamente, ardentemente.
Da bibliografia de Bezerra de Menezes, antes e após a sua conversão do Espiritismo, constam os seguintes
trabalhos: "A Escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a
Nação", "Breves considerações sobre as secas do Norte", "A Casa Assombrada", "A Loucura sob Novo
Prisma", "A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica", "Casamento e Mortalha", "Pérola Negra", "Lázaro
-- o Leproso", "História de um Sonho", "Evangelho do Futuro". Escreveu ainda várias biografias de homens
célebres, como o Visconde do Uruguai, o Visconde de Carvalas, etc. Foi um dos redatores de "A Reforma",
órgão liberal da Corte, e redator do jornal "Sentinela da Liberdade".
Em 1888, sofreu a perda de dois filhos.
Bezerra de Menezes tinha a função de médico no mais elevado conceito, por isso, dizia ele:
"Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de perguntar se é longe ou perto, quando
um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e
achar-se fatigado, ou por ser alta hora da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro, o que
sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que
procure outro - esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos
gastos de formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer
uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que
jamais se perderá nos vaivéns da vida."
Em 1883, reinava um ambiente francamente dispersivo no seio do Espiritismo brasileiro e os que dirigiam
os núcleos espíritas do Rio de Janeiro sentiam a necessidade de uma união mais bem estruturada e que,
por isso mesmo, se tornasse mais indestrutível.
Os Centros, onde se ministrava a Doutrina, trabalhavam de forma autônoma. Cada um deles exercia a
sua atividade em um determinado setor, sem conhecimento das atividades dos demais. Esse sentimento levou-
os à fundação da Federação Espírita Brasileira.
Nessa época já existiam muitas sociedades espíritas, porém, as únicas que mantinham a hegemonia de
mando eram quatro: a "Acadêmica", a "Fraternidade", a "União Espírita do Brasil" e a "Federação Espírita
Brasileira", entretanto, logo surgiram entre elas vivas discórdias.
Sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e acatando prescrições das importantes "Instruções" recebidas
do plano espiritual pelo médium Frederico Júnior, foi fundado o famoso "Centro Espírita", o que, entretanto,
não impediu que Bezerra desse a sua colaboração a todas as outras instituições.
O entusiasmo dos espíritas logo se arrefeceu, e o velho seareiro se viu desamparado dos seus companheiros,
chegando a ser o único freqüentador do Centro. A cisão era profunda entre os chamados "místicos"
e "científicos", ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam
simplesmente pelo lado científico e filosófico.
Em 1892, Bezerra de Menezes, por sua desambição das coisas materiais e por efeitos da implantação
da República, foi reduzido à pobreza e ao isolamento. Ainda, assim, mantinha a seção dominical de “O Paiz”;
escrevia artigos para o “Reformador” e veio a lume o romance “Lázaro, o Leproso”.
Em 1893, todas as vozes se calaram, porém Max continuou incansável, escrevendo. Foi a derradeira
pena a parar, e só em 25 de dezembro encerrou os estudos Filosóficos”, no “O Paiz”, escrevendo tocante
homenagem a mãe de Jesus. Em 1893, a convulsão provocada no Brasil pela Revolta da Armada, ocasionou
o fechamento de todas as sociedades espíritas ou não.
Em 1894, o ambiente mostrou tendências para melhora e o nome de Bezerra de Menezes foi lembrado
como o único capaz de unificar o movimento espírita.
Nos trabalhos de desobsessão na FEB, um espírito não queria aceitar a Deus, dizendo que este não existia.
Como nada mais lhe restava a dizer, decidiu orar, fazendo-o tão sentidamente que convenceu o espírito
reticente: "Basta! para que vocês orem desse modo, é preciso que um Deus exista".
Também na desobsessão, após convencer um espírito obsessor, este lhe disse: "Bom velhinho, não foram
suas palavras que me convenceram, mas os seus sentimentos".
O infatigável batalhador, com 63 anos de idade, foi convocado por companheiros espíritas a assumir a
presidência da Federação Espírita Brasileira.
Em vista da relutância dele em assumir aquele espinhoso encargo, travou-se a seguinte conversação:
- Querem que eu volte para a Federação. Como vocês sabem aquela velha sociedade está sem presidente
e desorientada. Em vez de trabalhos metódicos sobre Espiritismo ou sobre o Evangelho, vive a discutir
teses bizantinas e a alimentar o espírito de hegemonia.
- O trabalhador da vinha, disse Bittencourt Sampaio, é sempre amparado. A Federação pode estar errada
na sua propaganda doutrinária, mas possui a Assistência aos Necessitados, que basta por si só para atrair
sobre ela as simpatias dos servos do Senhor.
- De acordo. Mas a Assistência aos necessitados está adotando exclusivamente a Homeopatia no tratamento
dos enfermos, terapêutica que eu adoto em meu tratamento pessoal, no de minha família e recomendo
aos meus amigos, sem ser, entretanto, médico homeopata. Isto aliás me tem criado sérias dificuldades,
tornando-me um médico inútil e deslocado que não crê na medicina oficial e aconselha a dos Espíritos, não
tendo assim o direito de exercer a profissão.
- E por que não te tornas médico homeopata? disse Bittencourt.
- Não entendo patavinas de Homeopatia. Uso a dos Espíritos e não a dos médicos.
Nessa altura, o médium Frederico Júnior, incorporando o Espírito de Santo Agostinho, que era o guia
espiritual de Bezerra deu um aparte:
- Tanto melhor. Ajudar-te-emos com maior facilidade no tratamento dos nossos irmãos.
- Como, bondoso Espírito? Tu me sugeres viver do Espiritismo?
- Não, por certo! Viverás de tua profissão, dando ao teu cliente o fruto do teu saber humano, para isso
estudando Homeopatia como te aconselhou nosso companheiro Bittencourt. Nós te ajudaremos de outro modo:
Trazendo-te, quando precisares, novos discípulos de Matemática...
Não teve como dizer não, ficando ora no cargo de presidente, ora de vice-presidente, até a sua desencarnação.
À frente da FEB, conciliou, em nome do amor, místicos e cientistas, empunhando sempre o slogan
"Deus, Cristo e Caridade", e muito trabalhando pelo bem comum.
Iniciava-se o ano de 1900, e Bezerra de Menezes foi acometido de violento ataque de congestão cerebral,
que o prostrou no leito, de onde não mais se levantaria.
Verdadeira romaria de visitantes acorria à sua casa. Ora o rico, ora o pobre, ora o opulento, ora o que
nada possuía.
Ninguém desconhecia a luta tremenda em que se debatia a família do grande apóstolo do Espiritismo.
Todos conheciam suas dificuldades financeiras, mas ninguém teria a coragem de oferecer fosse o que fosse,
de forma direta. Por isso, os visitantes depositavam suas espórtulas, delicadamente, debaixo do seu travesseiro.
No dia seguinte, a pessoa que lhe foi mudar as fronhas, surpreendeu-se por ver ali desde o tostão do pobre
até a nota de duzentos mil reis do abastado!...
Adolfo Bezerra de Menezes desencarnou no dia 11 de abril de 1900, sem deixar bens materiais para a
família, pois era um espírito missionário, para quem a maior riqueza do homem é a purificação da alma.
Amor ao próximo, solidariedade, abnegação e desprendimento foram e são as suas heranças.
Ocorrida a sua desencarnação, verdadeira peregrinação demandou sua residência a fim de prestar-lhe a
última visita.
O enterro do corpo de Bezerra foi uma apoteose. Gente de toda a cidade do Rio de Janeiro, especialmente
dos morros, das favelas, gente humilde, descalça, maltrapilha, os pobres de espírito, os humildes de
coração, beneficiados pela Medicina do seu Amor, ali se achavam em mistura com outra gente rica e poderosa,
pertencente ao mundo oficial do Governo e às entidades culturais do Distrito Federal.
E todos choravam como se tivessem se apartado de um Pai, do maior de seus amigos!
No dia 17 de abril, promovido por Leopoldo Cirne, reuniram-se alguns amigos de Bezerra, a fim de
chegarem a um acordo sobre a melhor maneira de amparar a sua família, tendo então sido formada uma comissão
que funcionou sob a presidência de Quintino Bocaiúva, senador da República, para se promover espetáculos
e concertos, em benefício da família daquele que mereceu o cognome de "Kardec Brasileiro".
"Um dia perguntado ao Dr. Bezerra de Menezes qual foi a sua maior felicidade quando chegou ao plano
espiritual. Ele respondeu:
- A minha maior felicidade, meu filho, foi quando Celina, a mensageira de Maria Santíssima, se aproximou
do leito em que eu ainda estava dormindo e, tocando-me, falou suavemente:
- Bezerra, acorde, Bezerra!
Abri os olhos e vi-a, bela e radiosa.
- Minha filha, é você Celina?!
- Sim, sou eu, meu amigo. A mãe de Jesus pediu-me que lhe dissesse que você já se encontra na Vida
Espiritual, havendo atravessado a porta da imortalidade. Agora, Bezerra, desperte feliz.
Chegaram os meus familiares, os companheiros queridos das hostes espíritas que me vinham saudar.
Mas eu ouvia um murmúrio, que me parecia vir de fora. Então, Celina me disse:
- Venha ver, Bezerra.
Ajudando a erguer-me do leito, amparou-me até a escada, e eu vi uma multidão que acenava, com ternura
e lágrimas nos olhos.
- Quem são, Celina - perguntei - não conheço ninguém. Quem são?
- São aqueles a quem você consolou, sem nunca perguntar-lhes o nome. São aqueles espíritos atormentados,
que chegaram às sessões mediúnicas e a sua palavra caiu sobre eles como um bálsamo numa ferida em
chaga viva; são os esquecidos da Terra, os destroçados do mundo, a quem você estimulou e guiou. São eles,
que o vêm saudar no pórtico da eternidade...
E o Dr. Bezerra concluiu:
- A felicidade sem lindes existe, minha filha, como decorrência do bem que fazemos, das lágrimas que
semeamos no caminho, para atapetar a senda que um dia percorremos".
No Plano Espiritual, em 1950, Maria de Nazaré chamou-o para zonas superiores, mas ele preferiu ficar
aqui, junto de seus pobres e doentes.
Sua vida é um exemplo de probidade, de amor ao próximo, em que ele ganhou 50 encarnações em

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