A Caminho da Luz

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

CRIAÇÕES ENFERMIÇAS LEGIÃO,,,,

Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos.
Mateus 22:14
Portanto, também nós, uma vez que estamos
rodeados por tão grande nuvem de testemunhas,
livremo-nos de tudo o que nos atrapalha
e do pecado que nos envolve (...).
Hebreus 12:1
CAPÍTULO lCRIAÇÕES ENFERMIÇAS
Reunimo-nos na metrópole espiritual com a qual mantemos sintonia. Seria realizada uma conferência
em que espíritos amigos discorreriam a respeito de problemas relativos às obsessões complexas,
dando prosseguimento às observações que antes havíamos realizado no livro Aruanda, complementando
nossas observações com suas experiências e conhecimento. Da reunião participariam oito médiuns
desdobrados, entre eles os médiuns Wander, Raul e Carlos, velhos conhecidos nossos devido aos trabalhos
prestados em nossa dimensão.
Raul, possuidor de lucidez extrafísica, participava ativamente das atividades da metrópole espiritual.
Durante determinado período da noite, enquanto desdobrado, ele era um aluno que se dedicava a
realizar tarefas com o objetivo de ampliar seu conhecimento mais intensamente. Logo após as atividades,
em geral executadas a partir das 23 horas, conforme o fuso horário terreno, ele assumia a direção
de um grupo de espíritos, ministrando aulas na universidade espiritual que nos abrigava. Nesses encontros,
o médium discorria a respeito da ética mediúnica ante os desafios dos planos astral e espiritual.
Entre os participantes no estudo das disciplinas, havia dez encarnados em desdobramento, que diariamente
— ou melhor, noturnamente — estavam presentes entre os demais participantes, todos desencarnados.
As aulas eram ministradas num salão onde compareciam médiuns e candidatos a médiuns
nas próximas experiências que viveriam, corporificados na Cresta. Como o médium Raul havia desenvolvido
lucidez e videncia extrafísicas, ele falava com convicção a respeito de temas ligados ao comportamento
do médium e do animista em diversas situações nas quais era requerida sua participação,
nas esferas próximas à Crosta.
Quando recebi o chamado para integrar a equipe que estudaria os temas relativos à obsessão
complexa, resolvi convidar Raul, juntamente com Wander e Carlos, a participarem.
Encontrei o primeiro dos médiuns diante de uma tela, cujas dimensões aproximadas eram de 8
por 15 metros, aplicando os recursos da tecnologia sideral para a transmissão de seu pensamento, que
se materializava em formato tridimensional à frente dos espíritos que. assistiam à aula naquele momento.
O recurso já era conhecido em nossa comunidade espiritual há mais de 60 anos e se constituía
de uma película finíssima de matéria astral, semelhante a cristal, dentro da qual entravam em conflito
partículas de ectoplasma modificado nos laboratórios do mundo invisível, além de outras partículas de
matéria astral em movimento, em altíssima velocidade. Compunham o elemento catalisador através do
qual o pensamento poderia ser transformado em imagem, som, cheiro e diversas outras sensações experimentadas
pelos espíritos libertos do corpo. No processo de aprendizado em nossa universidade, constituía-
se num instrumento de imenso valor para a execução das nossas atividades de aprendizado.
Assim que me viu, Raul dispôs-se a sair, transferindo a Wander a incumbência da continuidade
das tarefas, que em breve seriam encerradas naquela noite. Convidei-o formalmente, estendendo a pos6
sibilidade de participar das conferências também a Carlos e Wander, porém interessado principalmente
na participação de Raul, devido à afinidade dele com temas como o que seria abordado na ocasião.
— Sabe, Ângelo — iniciou Raul —, sinto-me honrado com o convite. No entanto, devo participar
de um estudo com Joseph Gleber e outros amigos, aos quais já dei minha palavra. Creio que ficará para
outra oportunidade.
— Mas Joseph será um dos espíritos a realizar a conferência nesta noite... Talvez estejamos falando
do mesmo evento, e você ainda não tenha se dado conta.
— É verdade! Quanto a Wander e Carlos, também foram convidados para participar, mas alegaram
compromissos em outra área do conhecimento e, delicadamente, recusaram o convite.
— Pois eu deixei uma mensagem, convidando-os também. Creio que não poderão ignorar a
oportunidade que se faz presente para todos nós. Se não sentem afinidade com o tema ou com a perspectiva
com que os espíritos o abordam, quem sabe participem das outras turmas que estão reunidas
nesta noite na universidade de nossa metrópole?
— Pois é — respondeu Raul. — Os dois alegam compromissos diferentes e interesse por tópicos
mais brandos do que aqueles que me cativam. Costumam dizer que só gosto de assuntos picantes, polêmicos...
— Talvez por você andar muito em minha companhia — falei a Raul, com certa ironia. — Como
não tenho um comportamento ortodoxo nem me encaixo nos caixotes mentais que engessam o pensamento,
você se contaminou comigo!
Rimos os dois e abraçamo-nos, como velhos amigos. Dirigimo-nos em seguida ao salão multifuncional
no qual se realizariam as conferências da noite. De imediato encontramos velhos conhecidos
nossos. Pai João de Aruanda estava radiante e, junto dele, o nosso amigo Tupinambá, vestindo um elegante
traje que em nada lembrava a roupa típica de índio; remetia aos paramentos utilizados pelos iniciados
maias. Zarthú caminhava junto a Estêvão e Martha Figner, e, mais além, estavam diversos trabalhadores
ligados às tarefas desobsessivas. Sentimo-nos em casa, e somente então Raul obteve a certeza
de que estava integrado à atividade certa, pois viu que ambos os convites que recebera eram relativos
ao mesmo evento. Não lhe restava mais dúvida.
O tempo transcorreu para nós de forma mais rápida do que de costume, pois nos embriagávamos
com as palavras dos benfeitores, que falavam, um a um, a respeito de tema tão controvertido e atraente:
o das obsessões complexas. Zarthú discorreu serenamente a respeito dos componentes psicológicos que
envolviam o intricado processo utilizado por magos e cientistas e falou de forma interessante sobre os
modelos mentais desses espíritos, traçando um mapa psíquico de seu comportamento. Joseph Gleber
abordou com maestria os fundamentos científicos dos processos de obsessão complexa, tais como a
síndrome dos aparelhos parasitas, e elaborou uma tese que melhor definiu o comportamento das partículas
mentais e das correntes parasitas de pensamento desorganizado. O tema arrebatou a platéia de
espíritos encarnados e desencarnados. Estêvão entrou em cena e apresentou elementos ligados ao pensamento
evangélico, falando a respeito dos processos obsessivos nos tempos bíblicos e, em seguida, da
era cristã em diante, culminando com o pensamento de Allan Kardec e a necessidade de atualização da
metodologia e do conhecimento sobre o assunto. Falou longamente da importância de os médiuns se
colocarem à disposição para uma abordagem mais ampla e detalhada no tocante ao chamado reino das
sombras.
Qual não foi a nossa surpresa quando, em meio à fala de Estêvão, que encerraria as exposições da
noite, entraram no ambiente Carlos e Wander, que, desdobrados, participavam de outras tarefas em
nossa metrópole.
— Ufa! — falou Wander. — Não agüentei os comentários das outras salas de aula e resolvi convidar
Carlos para participarmos aqui.
— Pena que já está no final. Vocês dois foram os primeiros a chegar para o término da série de
palestras — ironizou Raul.

Ambos entenderam a zombaria de Raul, mas decidiram engolir em seco, pois perceberam os
olhares atentos de Dona Maria e do amigo Fernandes, que estavam participando conosco, sentados ao
lado de Pai João.
A conferência terminou, e logo vários grupos se reuniam, comentando o assunto de maior interesse.
Fomos procurados por Joseph Gleber e Zarthú, espíritos que nos tutelavam as tarefas, profundamente
ligados ao nosso projeto espiritual. Propuseram uma excursão aos planos mais densos e o desenvolvimento
de uma tarefa de psicografia na qual seriam transmitidas as informações e experiências
adquiridas nessa incursão ao reino das sombras. Olhei para Raul, Wander e Carlos na tentativa de obter
deles a participação. Wander saiu de mansinho, e Carlos procurou a companhia do companheiro Fernandes
para tratar de assuntos pertinentes ao seu trabalho como médium. Raul sorriu discretamente e
falou para Joseph Gleber e Zarthú:
— Parece que não sobrou quase ninguém para a tal excursão.
Sério, porém de forma amorosa, Joseph Gleber respondeu:
— O suficiente para a realização da tarefa. Você aceita a incumbência?
Sem pensar muito, Raul indagou, visivelmente interessado:
— Quais espíritos participarão dessa tarefa?
— Vocês estarão sob a coordenação de João Cobú, e naturalmente Ângelo seguirá junto. Mas a
equipe aumentará à medida que estiverem em contato com regiões mais densas. Estarei pessoalmente
em sintonia com vocês, mas preciso de alguém que possa captar meu pensamento com mais intensidade
além de loão Cobú e Ângelo.
— Conte comigo! — acatou Raul, imediatamente.
— Não é simples assim — tornou Joseph Gleber. — Você estará submetido a pressões internas
muito intensas, e seu corpo espiritual poderá se ressentir, transmitindo ao físico a ressonância vibratória
das regiões visitadas.
Pensativo, Raul perguntou:
— Isso significa o que, mais precisamente?
— É provável que seu corpo físico se impressione no contato com as vibrações que encontrará
nas regiões subcrustais. Sua saúde poderá oscilar muito.
— Vou desencarnar?
— Com certeza — respondeu o amigo Joseph Gleber. — Mas não devido a isso.
— Então eu estou dentro. Pode contar comigo.
Olhei para Raul de soslaio e, no fundo, dei-me por satisfeito com a sua decisão. Estaríamos juntos
novamente no prosseguimento de nossas tarefas espirituais, e Raul, uma vez mais, estaria junto comigo
e Pai João nas tarefas que a vida nos ofertava.
Após os preparativos em nossa cidade espiritual, começamos a descida vibratória em direção à
crosta planetária. Nossa excursão destinava-se a estudar o reino das sombras, mas, antes, passaríamos
na residência do médium Raul, que nos acompanharia, desdobrado. O espírito Pai João de Aruanda,
conhecido também como João Cobú, seria nosso instrutor, como em outras oportunidades3. Segundo
ele, fazia-se necessário alguém encarnado, que doasse certa quantidade de ectoplasma com relativa
facilidade tanto quanto com qualidade. Raul, médium conhecido nosso, fora escolhido não devido a
títulos de santidade, os quais definitivamente não possuía. Era trabalhador ativo e, em nosso plano, costumava
deslocar-se com lucidez, colocando-se à disposição para o trabalho independentemente da hora
ou da maneira como a atividade se apresentasse.
— Precisamos de colaboração em nossas observações — explicou-me João Cobú, o pai-velho. —
Nossos irmãos encarnados possuem reserva de energia ectoplásmica, da qual precisamos para este tipo
3 Uma das oportunidades a que se refere o autor espiritual está registrada no livro Aruanda, que narra excursão anterior feita sob a
coordenação de João Cobú e aborda temas como magia negra, elementáis, pretos-velhos e caboclos, sob a ótica espírita (PINHEIRO,
Robson pelo espírito Ângelo Inácio).

de estudo que lhe é afim, Ângelo. Um médium desdobrado será excelente auxiliar em nosso projeto e,
caso possua clarividencia extrafísica, poderá contribuir ainda mais para certas tarefas do lado de cá da
vida.
Curioso, indaguei do preto-velho a respeito de suas observações:
— Mas não são todos os médiuns que gozam da visão desenvolvida quando se encontram desdobrados
em nosso plano?
— De forma alguma, meu filho. A grande maioria ainda transita entre as expressões da matéria e
as impressões que guardam da vida espiritual, sem a necessária lucidez quando atuam fora do corpo.
Tudo é questão de exercício, trabalho e dedicação. Além do mais, alguns dos médiuns atualmente encarnados
na Crosta vêm de um passado no qual receberam iniciação espiritual em antigos templos e no
seio de povos que já não existem com a glória de outrora. Com experiências na Atlântida, no Egito ou
junto a outros povos da Antigüidade, diversos sacerdotes do passado permanecem aperfeiçoando-se ou
resgatando a paz de consciência em meio às lides espíritas, umbandistas ou esoteristas. Muitos são médiuns,
que atualmente lidam com as questões do psiquismo orientados por espíritos que os dirigem do
nosso plano. O conhecimento adormecido nos escaninhos da memória espiritual desperta ou emerge
das profundezas do campo mental na hora necessária, para sua utilização adequada.
— De acordo com seus comentários, podemos depreender que todos os médiuns são iniciados de
outras épocas?
— Absolutamente, meu filho. Na grande maioria, são espíritos endividados, que aproveitam a sagrada
oportunidade da mediunidade para resgatarem seu passado em tarefas beneméritas, enquanto
aprendem a lidar com as manifestações do psiquismo. Aqueles que foram iniciados no passado, cujo
conhecimento e experiências estão arquivados em sua memória espiritual, são reconhecidos pelo trabalho
que realizam em um âmbito mais abrangente. Infelizmente, nem todos permanecem fiéis ao
mandato espiritual ou ao compromisso assumido antes de reencarnar.
— Isso significa que retardam seu progresso espiritual... — comentei.
— Não somente isso, Ângelo, como também comprometem a incumbência que receberam, adiando
projetos traçados do lado de cá da vida por elevados amigos do Mundo Maior.
— Poderíamos dizer que no mandato mediúnico existem dois tipos de tarefas e tarefeiros, isto é:
aqueles que no passado já experimentaram a vivência mediúnica e outros que a têm pela primeira vez?
— Vamos tentar esclarecer, meu filho. O Evangelho de Nosso Senhor nos diz que muitos são
chamados. Quando observamos as experiências relatadas ñas páginas do Evangelho, vemos duas categorias
de pessoas que davam sua colaboração ao trabalho do Mestre. De um lado, os chamados discípulos,
ou aqueles que foram chamados a servir como aprendizes da escola espiritual que o Cristo coordenou,
tal qual um professor ou rabi. A essa classe numerosa eram dados ensinamentos espirituais
compatíveis com sua experiência e sua capacidade de entendimento. Eram a maior parte. De outro lado,
no entanto, havia o apostolado, que foi conferido apenas a uns poucos. Aqueles que dele usufruíram
foram os eleitos pelo Mestre devido a seu currículo espiritual, no qual certamente se registrava uma
ficha de serviço mais intensa e ininterrupta.
"O apostolado pode ser entendido como uma convocação ou uma outorga divina para tarefas que
exigem pessoas mais experientes ou com maturidade maior que os demais, em determinado contexto.
Por essa razão, vemos nas páginas do Evangelho muitos discípulos e poucos apóstolos. Aos últimos
eram conferidos ensinamentos mais amplos e detalhados, que exploravam idéias expressas aos demais
apenas através de imagens fortes e parábolas. Em contrapartida, exigia-se dos apóstolos atitudes mais
condizentes com a importância da tarefa que lhes fora confiada.
"Ao transportarmos para o campo mediúnico tais observações, notaremos que muitos recebem o
chamado da mediunidade como discípulos do Mestre, porém, como médiuns, não dão respostas em
suas vidas e atitudes com a intensidade que o serviço apostelar exige. São apenas discípulos. No entanto,
há aqueles poucos que traduzem sua tarefa em obras de verdadeiro heroísmo espiritual, deixando
suas marcas por onde passam. É inegável que estes médiuns receberam uma outorga divina e que já

trazem de seu passado larga experiência no trato com as questões espirituais, o que lhes impõe inclusive
certa conduta, certo ritmo. Constróem sua obra espiritual e, à medida que avançam, vão arregimentando
outros, discípulos do Mestre, que caminham tendo nesses servidores uma espécie de referência
para seu roteiro de vida em busca de espiritualidade.
"Esse serviço do apóstolo moderno, que pode ser denominado mediunato, é algo que não pode
ser negado. Os frutos desse chamado divino são percebidos de forma ostensiva, e a autoridade moral do
medianeiro ou daquele que recebeu o chamado direto do Alto salta aos olhos nas ações que empreendem
no dia-a-dia. Mas nem todos os médiuns são assim; aliás, são poucos os que são chamados diretamente
para uma tarefa específica, o que nos faz relembrar as palavras de Nosso Senhor: 'Muitos são os
chamados [discípulos], mas poucos os escolhidos [apóstolos]'."
Atingimos a residência do médium, e, antes que adentrássemos o ambiente íntimo, notei que uma
barreira vibratória, aparentemente intransponível, envolvia o local. Um pouco mais próximo do apartamento
de nosso parceiro nas atividades espirituais, alguns guardiões estavam a postos, e nosso ingresso
só foi permitido após sermos identificados aos sentinelas.
Ante minha surpresa, Pai João esclareceu:
— Muitos espíritos inteligentes e sem o compromisso ético com as tarefas do bem poderiam se
disfarçar e tentar algo contra o equilíbrio duramente conquistado. Com a presença de espíritos guardiões,
cada ser desencarnado que se aproximar deste local precisa ser identificado mediante as vibrações
que emana, antes de adentrar o ambiente. Fazemos tudo isso para a proteção do médium, que é nosso
parceiro nas atividades, embora ainda se encontre em meio às lutas naturais ao próprio aperfeiçoamento
íntimo. Como parceiros, sentimo-nos no dever de providenciar recursos para a manutenção do clima
espiritual e evitar que entidades das sombras possam interferir diretamente em seu cotidiano, prejudicando
nossas atividades.
O médium estava diante do aparelho de televisão, assistindo a um documentário, quando adentramos
sua residência. Percebendo-nos a presença, imediatamente dirigiu-se ao quarto, deitando-se e se
preparando para a tarefa em desdobramento. Proferiu uma breve oração e assim se colocou à disposição
para o trabalho. Aproximei-me dele e apliquei intenso magnetismo na região do córtex cerebral, sensibilizando-
o e ao mesmo tempo preparando-o para que o médium mantivesse o máximo de lucidez possível
durante as tarefas que tínhamos pela frente.
Pai João aplicou-lhe passes longitudinais, projetando o perispirito4 do nosso amigo para fora dos
limites do corpo físico. A princípio, ele ficou meio tonto, talvez desnorteado, ao se ver fora do corpo.
Em poucos instantes, porém, pôde perceber a presença de João Cobú, o nosso Pai João, e somente então
me tornei visualmente perceptível a ele.
Mais um passe aplicado, agora no chacra frontal, e ele sentiu-se mais à vontade, pela percepção
mais intensa da dimensão extrafísica.
Pai João sorriu amistosamente, demonstrando que estava atento a cada detalhe do que ocorria. O
médium, por sua vez, entregou-se inteiramente ao trabalho, questionando apenas quanto a como ser
mais útil naquilo que era esperado dele.
Os preparativos foram realizados com sucesso até aquele momento, e chegou a hora de começarmos
nossa excursão espiritual.
Ao ultrapassarmos os limites do local onde residia o médium, avistei uma das ruas da grande cidade
que visitávamos. A primeira coisa que me chamou a atenção foi a presença de certos espíritos,
que encontramos policiando as imediações. Em algumas esquinas, não todas, havia uma classe de espíritos
de prontidão, como se fossem soldados. Naturalmente eles também notaram a nossa presença e
4 Segundo a terminologia espírita, o mesmo que corpo espiritual, corpo astral, psicossoma ou corpo psicossomático. O termo
perispírito é cunhado por Allan Kardec em alusão ao perisperma — em botânica, tecido que envolve a semente. (Saiba
mais em KARDEC, Allan. O livro dos espíritos, parte n, cap. 1: Dos espíritos, especialmente itens 93 a 95, além dos itens
135,150 e 155, entre outros.)

reverenciaram João Cobú, como se o conhecessem. Pai João socorreu-me o pensamento, que, com certeza,
também refletia as indagações do médium que nos acompanhava desdobrado.
— Estes seres são os guardiões, meus filhos. Trabalham sob a tutela do Plano Superior e têm função
equivalente à dos soldados da Terra, que algumas vezes policiam as ruas. A diferença está no fato
de que, do lado de cá da vida, devem estar atentos aos seres que, no dia-a-dia dos habitantes do mundo,
não são regularmente percebidos. Também exercem certo controle ou vigilância sobre algumas criações
mentais ou formas parasitárias que encontramos do lado de cá.
Nesse momento do comentário, o médium que nos acompanhava interferiu com um questionamento:
— Pensei que os guardiões só policiavam outros espíritos; nunca imaginei tais espíritos exercendo
o papel de vigilantes das criações mentais.
— O trabalho desses espíritos é muito mais complexo do que se pode imaginar. É uma pena que
os nossos irmãos espiritualistas não pesquisem mais a respeito. Teriam imensos recursos à disposição,
para seus trabalhos de assistência espiritual — falou Pai João. — Muitas criações mentais de encarnados
e desencarnados representam um imenso perigo aos humanos desdobrados ou mesmo um obstáculo
a certas tarefas dos desencarnados mais conscientes. Observem ali, por exemplo — apontou à sua direita.
Ao longe observamos uma cintilação dourada, que exercia um fascínio, devido à sua aparente
beleza. À medida que focalizávamos o olhar, as cintilações foram percebidas com maior detalhe. Vimos
uma fina camada de algo que mais parecia uma rede, tecida em material do plano astral semelhante
a fios de nylon, com coloracão dourada. Com mais atenção ainda, percebemos que o material se
espalhava por uma área imensa da cidade ou daquele bairro onde estávamos. Alguns indivíduos transitavam
por ali, vindos de seus divertimentos noturnos, despercebidos da realidade extrafísica a seu redor,
naturalmente oculta, devido à sua situação de encarnados. Ao cruzarem aquele ponto, alguns deles
eram como que atacados por imenso contingente daquelas formações estranhas, que pareciam ser atraídas
para eles como a limalha de ferro é atraída pelo ímã. O ataque não se concretizou, em virtude da
ação de um grupo de guardiões, que imediatamente percebeu o que ocorria e providenciou para que as
algas energéticas — assim eu as chamei — não atingissem tais pessoas.
Um dos guardiões trazia um aparelho pequeno, que parecia funcionar com eletricidade retirada da
atmosfera. Assim deduzi a partir do ocorrido. Logo que o aparelho foi posicionado perto dos encarnados,
notamos uma descarga elétrica no ambiente à volta, parecendo que a eletricidade era transferida
para o pequeno objeto trazido pelos guardiões. Um campo de força foi percebido imediatamente ao
redor das pessoas, impedindo que as chamadas algas energéticas as atingissem. Pai João explicou-nos:
— Essas criações mentais vagueiam por muito tempo nessa região. A cintilação dourada, por sua
vez, denota que agem preferencialmente no campo mental das pessoas, atraídas naturalmente pelas
ondas e pelos raios emitidos pela mente de cada um, devido aos pensamentos abrigados e irradiados.
Tais criações que você, Ângelo, denominou algas energéticas sobrevivem das irradiações mentais de
encarnados e desencarnados. No entanto, ao se acoplarem ao campo mental das pessoas, elas imediatamente
começam um processo mórbido de absorção das ondas mentais do hospedeiro. À medida que
absorvem e se nutrem dos pensamentos emitidos pelos encarnados, descarregam em sua aura uma cota
considerável de resíduos ou toxinas mentais, que envenenam as correntes de pensamento.
— Esse veneno mental poderá ser comparado aos venenos que encontramos na esfera física? —
inquiriu Raul.
— Utilizamos o termo veneno por falta de um vocabulário mais rico; entretanto, podemos fazer
uma comparação, meu filho — respondeu Pai João. — Toda vez que essas criações mentais absorvem
elementos dos encarnados ou desencarnados, agregam em sua estrutura uma espécie de fluido mórbido,
pois que se nutrem das criações inferiores. O resíduo tóxico ou o excesso acumulado em sua estrutura
íntima é transferido automaticamente para novos hospedeiros, formando intenso círculo vicioso. O resultado
é que os pensamentos desorganizados de nossos irmãos passam a ser mais constantes e formam

assim um circuito fechado de ondas-pensamento desequilibradas. Nesse sistema de circuito fechado,
atraem mais e mais outras criações desorganizadas e daninhas para o equilíbrio de meus filhos, agravando
mais e mais sua situação. Nota-se o efeito nos diversos crimes, nas brigas e no uso de drogas,
largamente difundido nas noites terrestres, quando os raios benéficos do sol não exercem ação destrutiva
nessas comunidades de formas-pensamento desequilibradas. Aliás, tais comunidades energéticas que
vocês observaram são produto dos pensamentos dos próprios encarnados, as quais são mantidas e utilizadas
por espíritos das sombras, mais inteligentes.
— Então, não são apenas o resultado dos pensamentos desequilibrados ou desorganizados dos
encarnados? As criações mentais são também instrumentos de entidades perversas?
— Isso é certo, Ângelo — tornou Pai João. — Entidades mais inteligentes, porém com disposições
íntimas egoístas, sabem da atração que essas formas-pensamento exercem sobre encarnados em
geral e alguns desencarnados em particular. Utilizam-nas para os chamados roubos de energia. Cultivam
muitas dessas formas mentais parasitárias em seus redutos e delas extraem o resíduo mental acumulado
para se nutrirem, como vampiros que são, até que se esgotem as reservas. Nesse caso, quando
as criações mentais já não têm mais conteúdo apreciável ou extrato mental roubado de suas vítimas,
tais espíritos as distribuem novamente em lugares propícios, onde encarnados se reúnem, para que comece
novamente o processo enfermiço.
Fiquei muito pensativo quanto ao papel dos guardiões ao exercerem suas atividades, muitas vezes
tão ignoradas pelos estudiosos da vida espiritual. Nesse momento de minhas reflexões, o espírito Pai
João interferiu:
— Os guardiões são especializados em diversas tarefas, meus filhos. Nem todos são aptos a enfrentar
essas situações relativas às criações mentais inferiores. Do lado de cá da vida, a especialização é
necessária para que possamos trabalhar com maior eficácia. Esses guardiões, por exemplo, já entram
em contato com as tais algas energéticas há muito tempo. Sua organização é muito ampla, e aqueles
espíritos mais experientes que coordenam as tarefas dos guardiões promovem as especializações de
acordo com as tendências e até mesmo com as profissões e atividades desempenhadas pelos espíritos
quando ainda encarnados. Alguns guardiões são simplesmente vigilantes, que observam os acontecimentos
para fazerem seu relatório a outros, mais especializados. Outra equipe de guardiões trabalha
como soldados do plano astral, e outra ainda, mais especializada, exerce uma atividade mais intensa no
planejamento e na estratégia de ação contra o domínio das sombras.
— Dessa forma — disse Raul —, podemos entender que os espíritos que trabalham como
soldados ou guardiões são tão importantes quanto os chamados mentores, em suas atividades mais
espiritualizadas.
— Isso mesmo! Tudo e todos têm a sua importância. Sem o trabalho desses espíritos que enfrentam
as vibrações mais grosseiras e densas das mentes desajustadas, não seria possível a tarefa dos chamados
mentores ou guias. Todos dependemos uns dos outros em qualquer departamento do universo.
Ignorar essa interdependência é pura arrogância. Também os encarnados dependem diretamente do
trabalho dessas equipes de espíritos especializados; do contrário, sucumbiriam entre as próprias criações
mentais desorganizadas. O acúmulo de energia mental de natureza densa formaria uma crosta em
torno dos encarnados que dificilmente seria rompida por eles próprios. Isso dificultaria a conexão com
os Planos Superiores através das intuições e inspirações. Também, na esfera mais física, o cúmulo
energético pernicioso de tais criações exerceria uma influência sobre a respiração e a circulação sangüínea
nos corpos de nossos irmãos encarnados.
— Não pensei que essas criações mentais fossem tão desastrosas assim no contato com os encarnados
— concluiu Raul.
— Pois é, meu filho — acrescentou Pai João. — Além da fronteira do mundo físico, a realidade é
também palpável, real e muitas vezes imensamente grave. As organizações existentes do lado de cá
representam o equilíbrio do sistema. Se por um lado existe uma série de seres, coisas e situações que
influenciam perigosamente o homem terrestre, por outro lado, o mundo espiritual se organizou ao lon12
go dos milênios de tal maneira que, para cada situação emergencial ou complicada que possa comprometer
o equilíbrio geral, constituíram-se equipes especializadas. Tais equipes são conhecidas por diversos
estudiosos do pensamento espiritual, embora o silêncio que se faz a respeito de sua existência e
de seu trabalho.
Após as explicações de Pai João acerca das criações mentais, continuamos nossa caminhada.
Uma pausa se fez notar em nossas considerações, talvez para que pudéssemos pensar mais a respeito de
certas situações corriqueiras do lado de cá, mas pouco abordadas por espíritos e espíritas de modo geral.
Nossos pensamentos já voavam com os comentários de João Cobú, quando ele próprio nos convidou
a observar mais atentamente ao redor. Os detalhes eram muito importantes para nosso estudo.
Ao longe, divisamos um grupo de espíritos de aparência estranha. Pareciam zumbis que perambulavam
pelas ruas sem saber ao certo aonde iam. Aproxímamenos lentamente, mantendo, contudo,
distância razoável, considerada adequada para observações mais amplas sem comprometer a segurança
de nossa diminuta equipe.
Os espíritos em foco se assemelhavam a mortos-vivos; arrastavam-se penosamente pelo chão do
planeta, olhar perdido, como se representassem um papel num filme criado pela imaginação de algum
louco por aí.
— São os sonámbulos — sentenciou Pai João, depois de dar um tempo para nossa inspeção. O
médium Raul parecia atento a cada detalhe, porém mais parecia um gato, arredio, desconfiado. Mantinha-
se mais afastado, sem, contudo, perder os detalhes. Pai João continuou:
— Muitos querem vir para o lado de cá da vida através da chamada viagem astral, mas ignoram
que enfrentarão aqui uma vida real, e não uma ilusão dos sentidos. Não se preparam através de estudos
e intentam conhecer o país além da esfera física sem ter informações precisas a respeito de seus habitantes,
costumes e geografia5.
— É tão sensato como fazer, na Terra, uma longa viagem internacional sem a mínima noção sobre
a cultura a ser visitada — comparou Raul, com ironia.
— Exato — retomou o pai-velho. — Com isso, ao se defrontarem com o panorama que ora presenciamos,
situado na dimensão contígua à esfera física humana, alcançam pouco proveito em suas
realizações. O fascínio que até então os movia se dilui ante a realidade encontrada. Apavoram-se ao
deparar com seres com os quais não sabem se relacionar. Em sua fantasia, esperam penetrar diretamente,
sem escalas, em regiões superiores, onde desfrutariam da companhia de mentores e mestres do
pensamento espiritualizado... Decepcionam-se amargamente, pois se vêem em regiões sombrias, próximas
à Crosta, à morada dos homens, totalmente desprovidas de elementos idílicos ou angelicais.
Como se não bastasse, notam que o perfil dos habitantes desse mundo extrafísico não confere com descrições
recheadas de fantasia que muitos apresentam como informações mediúnicas confiáveis.
5 Apesar de não ter podido avançar muito na descrição da realidade extrafísica em seus breves 14 anos de pesquisas espíritas —
desde o primeiro contato com as manifestações até a formulação e o aprofundamento dos estudos —, Allan Kardec deixou noções
fundamentais a respeito da natureza do mundo invisível. Repleta de exemplos esclarecedores a esse respeito, ainda que de modo
esparso, cita-se a Revista espírita: jornal de estudos psicológicos, sua obra mais extensa, que editou pessoalmente a cada mês, sem
interrupções, desde janeiro de 1858 até sua desencarnação, às vésperas de publicar o número de abril de 1869. (A FEB possui a
tradução mais moderna e cuidadosa da obra, mas outras editoras brasileiras também têm os 12 volumes anuais da Revista em
seu catálogo.) Todavia, as bases para o estabelecimento da paisagem extrafísica encontram-se cristalinas no capítulo intitulado
Do laboratório do mundo invisível, em O livro dos médiuns (KARDEC, Allan, parte n, cap. 8, diversas editoras) e em A
gênese (idem, cap. 14, item i: Natureza e propriedades dos fluidos). Anos mais tarde, principalmente com as obras de Francisco
Cândido Xavier, de autoria do espírito André Luiz, e as da médium Yvonne do Amaral Pereira, o espiritismo ganharia
contribuição notável a fim de preencher essa lacuna.

"Tais espíritos, semelhantes a zumbis, constituem apenas um dos grupos entre os muitos que ignoram
quem são ou qual é sua situação na erraticidade6. Esse contingente de espíritos ignorantes compõe
a maior parte da população terrena. Segundo as estatísticas atuais a que temos acesso, são aproximadamente
40 bilhões de seres que, em suas existências, transitam entre as dimensões, ora no plano
físico, ora no extrafísico. Com características diferentes entre si, em sua grande maioria são como esses
sonámbulos. Compondo esse grupo, há desencarnados que caminham por todo lado à procura de vitalidade,
em geral encontrada junto aos encarnados. Em seguida, acoplam-se a suas auras e absorvem inconscientemente
o tônus vital de milhares de seres humanos. Como fantasmas, perambulam pela Terra,
uma vez que durante suas existências físicas não en- „ traram em contato ou não se relacionaram intimamente
com a realidade do espírito. Portanto, permanecem ignorantes de sua vida de espírito. Suas
mentes vagam entre o pesadelo de sua conduta na última existência e a falta de referência para uma
vida mais espiritualizada. Como disse, essa situação de absoluta inépcia é o quadro típico que verificamos
na grande massa de desencarnados do planeta Terra."
— Fico imaginando — falou o médium, desdobrado — como as coisas deste lado da vida são parecidas
com as do nosso plano, o corpóreo. Chego a pensar que estamos sujeitos a leis equivalentes às
do mundo físico, da sociedade e a outras circunstâncias próprias desse campo.
— O mundo extrafísico, Raul — prosseguiu Pai João —, tem muita semelhança com o chamado
plano cros-ta-a-crosta, ou seja, o mundo objetivo, material. Em seus desdobramentos, com o espírito
parcialmente liberto do corpo carnal, você pode constatar que, no ambiente onde nos movemos, há uma
geografia própria, coexistente com a realidade humana. Muitos espiritualistas, ao dizerem que a Terra é
uma cópia da paisagem extra-física, entendem de modo equivocado que sua natureza repete as bases
corpóreas. Dá-se exatamente o contrário! Existe uma forma fixa e definida para o ambiente astral —
cuja investigação mais ampla ainda está por ser realizada —, e é ela que serve de molde. A possibilidade
de pesquisar, catalogar e avançar mais profundamente na compreensão das nuances do horizonte
ex-tracorpóreo é algo a respeito do que a maioria dos médiuns ou sensitivos ainda não se pronunciou.
"O cenário é em tudo muito semelhante àquele encontrado na Crosta; porém, temos de considerar
o estado de fluidez e plasticidade da matéria astral, a qual reflete com extrema precisão o teor vibratório
dos pensamentos emitidos em ambas as dimensões. Isso quer dizer, meu filho, que os pesadelos e
temores abrigados nas mentes de nossos irmãos dos dois lados da vida se refletem com o máximo de
fidelidade aqui. Veja, por exemplo, o caso das criações mentais inferiores. Normalmente, assumem a
forma externa de elementos encontrados no mundo físico, tais como larvas, baratas, escorpiões, aranhas
ou outros seres mais elementares da escala evolutiva. Constata-se assim que há mais do que simples
cópia da realidade astral manifesta no campo físico; há, em certa medida, uma interação das dimensões,
que se interpenetram profundamente. No exemplo citado, a esfera física reproduz-se no âmbito extrafísico,
o que soa paradoxal.7
— Já observei isso em alguns casos — disse, pensativo. — Embora nunca houvesse refletido
mais detidamente sobre o assunto.
— Pois bem — continuou a explicar o preto-velho. — Ao longo do tempo, aliás, ao longo dos
milênios, o ser humano conviveu intensamente com pestes, animais selvagens e algumas formas de
seres que durante eras têm acompanhado a marcha humana sobre a Terra. Com o decorrer do tempo, o
imaginário popular classificou alguns desses seres como criaturas pestilenciais, negativas, que provo-
6 Vocábulo espírita que caiu em desuso, erraticidade era como Kardec preferencialmente chamava o período entre vidas,
entre encarnações ou existências corpóreas, termo este também de sua predileção.
 Apesar de soar paradoxal, o fato de a realidade extracorpórea ser a matriz definitiva — ou o mundo normal primitivo, conforme
denomina Kardec — não se torna obstáculo à interação entre ambas as dimensões. É o que assinalam os espíritos em sua resposta
ao Codificador: "Eles [os mundos físico e extrafísico] são independentes; contudo, é incessante a correlação entre ambos, porquanto
um sobre o outro incessantemente reage" (KARDEC, Alian. O livro dos espíritos, parte n, cap. l, item 86: Mundo normal
primitivo).

cam asco em qualquer pessoa que com elas se depare. Formou-se, a partir daí, uma espécie de egrégora,
com tais formas firmemente associadas a situações e idéias desagradáveis. Na verdade, tornaram-se
símbolos dessas situações. Por exemplo: a barata causa mal-estar, nojo, repulsa. As aranhas, em especial
as maiores, consideradas perigosas, transmitem uma idéia de repugnância, medo e horror, assim
como ocorre com ratos, cobras e escorpiões, cada um a sua maneira.
"Quando a mente em desequilíbrio produz matéria mental tóxica, mórbida e doentia, essa matéria
adquire imediatamente o aspecto já consagrado pelas mentes de milhões de criaturas como algo indesejável.
Verifiquemos, na prática, como tais criações (que são seres vivos, dotados, contudo, de vida
artificial) assumem formas ditadas pelas mentes humanas e passam a agir na aura das pessoas."
Assim que pronunciou essas palavras, Pai João nos chamou a atenção para dois jovens que passavam
em frente a uma casa noturna, inebriados com a idéia de adentrar no ambiente eletrizante. Paramos
do lado de fora, observando o trânsito de pessoas, quando o pai-velho apontou em direção ao solo,
próximo aos pés das pessoas, particularmente dos dois jovens. Algo parecido com baratas surgia por
onde pisavam; porém, as formas pareciam ser feitas de plástico. Moviam-se pernas acima, como que
absorvendo dos encarnados alguma espécie de alimento invisível, mas necessário. Novamente foi Pai
João quem nos orientou:
— As baratas, meus filhos, são animais de hábitos noturnos. Nesse período é que saem do abrigo
para alimentação, cópula, oviposição, dispersão e vôo. Portanto, as formas-pensamento inferiores,
quando assumem a aparência de baratas, são classificadas como parasitas noturnos. Naturalmente, são
encontrados onde há maior concentração de energias mentais desequilibradas e maior número de pessoas
reunidas, cujo hálito mental esses parasitas absorvem, a fim de se manterem vitalizados.
"Durante o dia, as baratas que convivem com os humanos esquivam-se da luz e das pessoas; entretanto,
algumas condições especiais contribuem para seu aparecimento diurno, tais como excesso de
população, falta de alimento ou água, ocorrência de coisas estragadas, com odores em geral desagradáveis
aos humanos, além de locais com pouca higiene. Quando consideramos os parasitas astrais elaborados
e mantidos através de formas-pensamento inferiores com feição de baratas, podemos entender
que o fluido mórbido que serviu de matéria-prima para esses insetos também tem comportamento noturno,
tal qual suas duplicatas do mundo visível. São formas parasitárias comumente encontradas em
ambientes fechados e possuem hábitos que contrariam a higiene mental e espiritual. Por analogia, são
atraídas para lugares onde se encontra uma população encarnada que adota hábitos compatíveis com os
seus, onde, ainda por cima, não há muita luz natural. Tais criações não assimilam corretamente as radiações
solares, por isso a atração por locais que funcionam à noite. Como regra, sugam as energias de
seus hospedeiros a partir dos membros inferiores, provocando nos encarnados uma descompensação
energética intensa."
Convidando-nos a examinar outro local, Pai João nos conduziu a um ambiente totalmente diferente.
— Aqui, meus filhos, veremos outra aparência de parasitas energéticos, que assumiram a forma
de aranhas. São criações mentais peçonhentas e de maior gravidade para o elemento humano.
Estávamos agora próximos a um hospital, mais precisamente num pronto-socorro municipal,
onde várias pessoas doentes, acidentadas ou sob a ação de tóxicos aguardavam, há algum tempo, o cuidado
por parte dos profissionais de saúde. O local cheirava mal, e a sensação desagradável era aumentada
principalmente devido à ação do pensamento das pessoas ali presentes. Agoniadas, exaltando cada
uma delas seu próprio mal-estar, procuravam realçar cada detalhe de suas dores. Mais uma vez, Pai
João nos intimou a vasculhar os detalhes da cena.
Diversos indivíduos que exalavam odores desagradáveis pareciam atrair formas mentais assemelhadas
a aranhas, que andavam sobre seus corpos e, em determinado momento, inseriam pequenos ferrões
nos corpos de suas vítimas, como se injetassem algum veneno nelas. A visão era de causar arrepios
em qualquer um que observasse.

— Quando consideramos as aranhas materializadas na Terra — retomou Pai João —, sabemos
que são animais carnívoros que se alimentam principalmente de insetos, como grilos e baratas. Muitas
têm hábitos domiciliares e possuem ferrões, utilizados para inoculação de veneno. Em geral, a forma
astral mantida pelos parasitas energéticos que assumem o aspecto aracnídeo ataca o ser humano atraída
pelo teor energético de pensamentos desleixados e mórbidos, emitidos por quem se entrega ao sofrimento
e não zela pela educação íntima de suas emoções. São pessoas que trazem a marca do desespero
e têm prazer em ressaltar suas dores, transferindo aos outros a responsabilidade por aquilo que lhes
acontece. Os parasitas energéticos que se alimentam desse tipo de fluido mórbido atacam através da
aura da saúde, injetando o veneno fluídico em sua vítima por via cutânea. Surgem então as inflamações
energéticas características, que acometem a periferia do duplo etérico exatamente nos pontos em que
houve picadas. O agravamento desse quadro dá-se com ulceração e posterior rompimento da estrutura
da aura das pessoas. A partir daí, as conseqüências são mais drásticas, pois, sem a integridade do duplo,
a saúde e o equilíbrio ficam seriamente prejudicados.
Notamos, Raul e eu, que as pessoas sugadas e atacadas pelas formas energéticas de aranhas apresentavam
suas auras rompidas, como se houvesse um rasgo ou uma ruptura no duplo dessas pessoas.
— Através dessa ruptura energética, os nossos amigos encarnados absorvem mais facilmente as
correntes mentais infelizes de desencarnados e, ao mesmo tempo, perdem energias vitais preciosas.
Vejam que a ação dos parasitas vampiriza os encarnados, baixando-lhes tanto a resistência energética
quanto a imunológica.
Um indivíduo destacou-se dos demais, pois um número maior de aranhas — ou de criaturas
mentais com tal aspecto — sugava-lhe mais intensamente. Estava todo coberto desses parasitas, que lhe
penetravam pelo nariz, pela boca, pelos olhos e ouvidos; após exame mais atento, reparamos que a região
da genitalia também se transformara em uma abertura no seu campo energético. Esses seres arrojavam-
se, por todos os orifícios, para o interior do corpo de seu hospedeiro. A visão causava repugnância
e, ao mesmo tempo, despertava em nós vontade de auxiliar, impedindo que ocorresse aquele tipo de
vampirização energética tão voraz.
— Não adianta, por ora, qualquer recurso magnético, Ângelo — interferiu Pai João. — Poderíamos
até liberar a aura de nossos irmãos desses parasitas ferozes; no entanto, cada um tem de desenvolver
suas próprias defesas psíquicas, através da educação das emoções e dos pensamentos, para que a
situação de desequilíbrio não retorne. Nesse momento, nossa ação seria ineficaz, pois esses companheiros
nem sequer acordaram para a realidade espiritual e, por isso, não estão preparados mental e emocionalmente
para uma reprogramação de suas vidas. Somente com essa reprogramação e as ações dela
decorrentes é que poderiam se ver livres definitivamente das criações mentais peçonhentas.
"Vejam, meus filhos, como o quadro é complexo. Além do ataque através da aura da saúde, que é
efetuado pelos poros da epiderme perispiritual, outras formas parasitárias penetram no interior dos corpos
astral e etérico, causando uma resposta imunológica que evolui para anemia, ictericia cutâneomucosa
e hemoglo-binúria (que é a presença de sangue na urina); entre outros sintomas, a insuficiência
renal aguda é a complicação mais nociva ao corpo físico quando a pessoa é atacada por esses seres peçonhentos.
"Para agravar ainda mais a contaminação fluídica, na contraparte astral esse tipo de parasita é
utilizado por obsessores com regalo, pois sua manutenção não exige deles nenhuma cota de energia
mental. Para sustentar o processo de ataque energético e envenenamento vital, bastam as emoções
transtornadas de seus próprios alvos. Só lhes cabe canalizar os seres aracnóides para a aura dos encarnados;
a partir daí, os próprios homens, com sua invigilância mental, produzem o fluido mórbido que
dá forma e alimenta a existência dos parasitas.
"No campo físico, o tratamento soroterápico é o indicado para deter o processo das inflamações
causadas por animais peçonhentos; na esfera sutil, somente o passe magnético intensivo, acompanhado
de um processo de reeducação mental e de descontaminação energética, poderá liberar o indivíduo das
formas monstruosas e de sua ação nefasta sobre a saúde de meus filhos. Muitos pais-velhos costumam

prescrever o uso de ervas cujo teor energético é antiinflamatório e antiinfeccioso. Ministradas através
de banhos ou beberagens, tais ervas têm seu bioplasma ativado com tamanha intensidade que suas propriedades
energéticas e terapêuticas promovem uma limpeza intensa na estrutura do duplo eté-rico.
Ultra-sensível, o corpo etérico absorve do elemento curativo das plantas as irradiações benéficas e sanea-
doras e naturalmente passa a expulsar as comunidades de parasitas mentais que se agregaram em
suas linhas de força. O magnetismo administrado através dos passes é recurso muito útil; todavia, em
qualquer caso, há que se proceder a uma modificação intensa dos hábitos mentais e das emoções do ser,
senão outras comunidades parasitárias fatalmente assumirão o lugar daquelas que foram expurgadas de
seus corpos."
Raul e eu considerávamos as informações que Pai João nos transmitia como uma enxurrada de
ensinamentos difíceis de absorver na íntegra, devido às associações que ambos fazíamos com casos
conhecidos. Contudo, Pai João parecia inspirado naquele momento, embriagando-nos com outras explicações,
que por certo dariam muito que pensar.
— Existem outros tipos de contaminações energéticas, cujos elementais artificiais8 envolvidos
adquirem outros aspectos, sempre relacionados a "moldes" do plano físico. Algumas criações mentais
inferiores, principalmente aquelas desenvolvidas em laboratórios de espíritos especializados no mal,
apresentam-se com o aspecto das lacraias. Embora, no mundo físico, o veneno das lacraias não seja
considerado muito tóxico para o homem, as formas astrais desses parasitas sintonizam-se geralmente
com os elementos do sexo desrespeitoso e vulgar. São criações mentais elaboradas e mantidas com o
intuito de sugar especificamente as energias sexuais e estimular o desejo descontrolado pelo sexo fácil
e intenso, mas que jamais satisfaz os anseios do indivíduo. Isso ocorre porque as formas energéticas
que contaminam o hospedeiro, introduzidas nas regiões genital e anal, alimentam a compulsão pelo
sexo. Fisicamente, poderão ser detectados, em alguns casos, dores fortes e inchaço (ou edema) no local
onde as formas energéticas são implantadas e se prendem por magnetismo. O alvo ainda está sujeito a
apresentar estado febril, calafrios, tremores e sudorese, além de pequenas feridas na região afetada, por
onde os parasitas penetram no interior do corpo físico e, por conseguinte, do duplo etérico. É bastante
comum também que as formas astrais de lacraias estejam associadas, no corpo físico, ao aparecimento
do vírus conhecido como HPV.
"O uso de bebidas alcoólicas aumenta o teor energético dessa espécie de criação mental, que suga
do fluido etérico emanado pelo álcool um tipo específico de vitalidade, da qual se utiliza para se fixar
internamente nos órgãos do corpo físico ou nos órgãos energéticos, os chacras."
Pai João falava com tanta propriedade que dificilmente conseguíamos apreender todos os detalhes.
O pai-velho nos saturava de informações preciosíssimas.
— Outra forma energética que é comum observar em processos de contaminação fluídica —
continuou — são as criações mentais que assumem o aspecto de formigas. Em geral percebidas apenas
em sua ação, causam dores aparentes, inexistentes no corpo físico, mas perfeitamente sentidas por seus
hospedeiros. Isso ocorre em virtude de esse tipo de parasita energético se agregar exclusivamente ao
duplo etérico das pessoas. Além das dores, que mudam constantemente de lugar, causam uma espécie
de coceira, que resiste a toda qualidade de medicamento utilizado pela medicina alopática e, às vezes,
também pela homeopática. As formigas do astral agem de tal forma no duplo etérico que promovem a
ressonância vibratória, com efeitos palpáveis no corpo físico, de modo mais e mais ágil, conforme perdure
a enfermidade energética. Com o decorrer do tempo, sua ação nefasta passa a ser sentida quase
que imediatamente. Podem, inclusive, provocar edemas e eritemas no corpo, sem causa aparente ou
conhecida e resistentes a tratamentos convencionais. A presença desses parasitas assemelhados a for-
8 Nomenclatura utilizada por Pai João também no livro Aruanda, do qual é personagem, e definida pelo espírito Joseph
Gleber em sua obra Além da matéria (PINHEIRO, Robson), cap. 18. A propósito das questões aqui abordadas, recomendamos
enfaticamente a leitura dos capítulos 15 a 19 desse último livro citado.

migas normalmente provoca nos médiuns clarividentes mais sensíveis, quando a percebem, transtornos
de origem etérica, como calafrios, sudorese e taquicardia.
Depois das explicações de João Cobú, saímos do pronto-socorro, demandando outros ambientes.
Fomos à Serra do Curral, local conhecido na metrópole onde estávamos realizando observações, a fim
de abastecer-nos de energias da natureza, pois eram muitas informações para o início de uma jornada.
Nossa mente precisava absorver e decantar tanto conhecimento novo e detalhado.
Enquanto eu anotava as elucidações de Pai João para trabalhos futuros, Raul, que dizia não ser
curioso, aproveitava para esclarecer suas dúvidas junto ao pai-velho. Os guardiões que nos acompanhavam
estavam atentos o tempo todo, providenciando para que o ambiente à nossa volta não sofresse
alteração energética prejudicial aos nossos objetivos e às nossas atividades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário