Minhas queridas irmãs, queridos irmãos, jovens, nossos votos de muita paz!
Vivemos um momento de conturbação histórica. Seis mil anos de cultura, de ética e de civilização não lograram tornar a criatura humana mais feliz, nem mais pacífica. Mata-se hoje com a mesma naturalidade dos bárbaros depois de Jesus ou das civilizações primitivas na conquista de espaço.
A ciência, aliada à tecnologia, moveu a criatura humana até o planeta Marte de onde duas sondas espaciais vêm mandando mensagens ininterruptas apresentando a probabilidade da existência de água hoje, ou no passado, o que redundaria na probabilidade de haver qualquer tipo de vida. O telescópio Huble, já agora em decadência técnica, continua mandando diariamente fotografias à Terra que comovem, pela grandiosidade do universo. É possível acompanharmos pela internet ou nas televisões, galáxias que nascem, galáxias que são devoradas pelos buracos negros, demonstrando que vivemos num universo finito e relativo, que deve ser a continuação de outros que já existiram e que, um dia, darão lugar a outros que virão.
A ciência médica conseguiu dar um salto eloquente e grandioso prolongando a saúde da criatura humana e dando-lhe bem-estar. Sempre se pensou que a função da ciência médica era impedir morte e isto é um grande equívoco: a morte biológica é inevitável e a criatura humana, desde que foi gerada pela aglutinação das moléculas, terá o seu momento de morte biológica pela desarticulação das células. Mas a medicina vem podendo prolongar a vida, o que antes, constituía uma rara exceção. A longevidade hoje é perfeitamente natural. Nos países subdesenvolvidos já podemos contar com uma existência normal de sessenta anos para o homem e sessenta e cinco para a mulher. Nos países de grande desenvolvimento tecnológico já se pode contar com setenta anos para o homem, setenta e cinco anos para a mulher, numa idade medial saudável e lúcida. No entanto, apesar de vermos a engenharia realizar voos audaciosos ligando continentes a ilhas, transformando pântanos em jardins, desertos em pomares e fazendo que qualquer forma de terra seja habitável e agrária, porque que a criatura humana continua tão infeliz? Qual a razão dos problemas de comportamento, a insatisfação, a ansiedade? Vivemos um momento típico da depressão. A Organização Mundial de Saúde estabeleceu que a ultima metade do século XX pode ser chamada “a era da depressão” e nós começamos o terceiro milênio com a grande tragédia de onze de setembro de 2001 com o ato de terrorismo que mudou o destino da história moderna.
Porque que a criatura humana, que tem tudo, aparentemente, é tão infeliz? Qual a razão das estatísticas alarmantes a respeito da depressão?
Um dos maiores repórteres americanos, o senhor Andrew Solomon, escreveu um livro extraordinário ao qual ele deu o nome: O Demônio do Meio-Dia (The Noonday Demon: An Atlas of Depression). Trata em seiscentas páginas, exclusivamente, do que a ciência médica chama “transtorno depressivo” ou “transtorno de afetividade”. Solomon apresenta estatísticas preocupantes: nos EUA, atualmente 260 milhões de habitantes, 25 milhões são depressivos crônicos, 25 milhões são depressivos recorrentes, aqueles que têm a chamada “depressão sazonal”: a depressão do inverno, a depressão do natal, a depressão do aniversario, a depressão das datas festivas, e mais 25 milhões serão depressivos nos próximos três anos do que a psiquiatria chama de depressão pós-traumática: nós temos um choque, na hora, reagimos muito bem, daí há meses, um ano, dois, entramos em depressão. Os efeitos de onze de setembro em New York e Washington estão sendo sentidos agora. Porque naquele momento foi o trauma, o horror, agora é o medo, a insegurança. São os fenômenos que decorrem daquele choque que o organismo não absorveu. Morre uma pessoa querida nossa e nós reagimos relativamente bem. As pessoas vão visitar-nos e dizem: “mas está muito bem!” É o choque: naquele período a pessoa está muito bem, mas à medida que os dias passam e o sistema nervoso relaxa, a pessoa começa a digerir o drama e faz o processo de angústia. A depressão hoje mata mais, no mundo, do que o câncer, a AIDS e a tuberculose juntos. Só perde para as doenças cardiovasculares. Então é a segunda maior estatística de óbito na terra, a que decorre da depressão. Teólogos, sociólogos, psicólogos, perguntam por quê. E então se assevera que deve ser resultado do stress, da ansiedade. Será? Até onde possamos recuar a depressão sempre esteve presente na história da humanidade, somente que era chamada “melancolia”.
A melancolia foi detectada pela primeira vez quatrocentos anos antes de Cristo, pelo pai da medicina grega, Hipócrates. Ele percebeu entre os seus pacientes, aqueles que eram tomados de melancolia, uma tristeza profunda e inexplicável e estabeleceu que a criatura humana, periodicamente, entra num estado melancólico. Duzentos anos depois, outro pai da medicina grega, Galeno, estabeleceu que a nossa saúde é resultado de quatro fatores que se conjugam para o nosso bem-estar. Ele dizia que esses quatro fatores são os “humores”. Esses quatro humores estabelecem o nosso bem ou o nosso mal-estar. Esses humores são: a bílis negra, a bílis amarela, o sangue e a fleuma. Quando há uma harmonia desses quatro elementos em nosso organismo, nós estamos bem. Quando qualquer um deles descompensa, nós entramos em transtorno de saúde: tanto pode ser orgânica, como pode ser psicológica, como pode ser psiquiátrica. Para Galeno, a bílis negra era a responsável pela maioria das nossas doenças, principalmente quando ela era excessiva. Em realidade, não se sabe em que ele fundamentava essa tese. Então ele recomendava, como terapia, as sangrias: a pessoa eliminava a bílis negra; também, ele recomendava laxantes e vomitórios. E era uma medicina bárbara, porquanto as pessoas morriam desidratadas. Não se conhecia ainda na época a hidratação das nossas células. As nossas células ficam em um banho de água salgada que se renova incessantemente enquanto elas se dividem: uma morre, outra sobrevive, no fenômeno que é chamado de cissiparidade ou mitose celular. Afirmava, então, Galeno, que o excesso de bílis negra era responsável pelos transtornos em geral. A melancolia era considerada pelos gregos como uma dádiva ou castigo dos deuses. Era uma dádiva, quando a pessoa entrava em melancolia e fiava inspirada e vamos ter a oportunidade de ouvir Aristóteles dizer que Sócrates e Platão entravam em melancolia quando os deuses conversavam com eles. Ao mesmo tempo a tradição grega assevera que a melancolia era um castigo que os deuses infligiam às pessoas rebeldes, mal educadas e que precisavam ser disciplinadas. Era portanto um conceito genérico. Se nós formos à bíblia vamos encontrar a melancolia de uma maneira surpreendente no rei Saú: periodicamente o rei Saú entrava em melancolia e de repente ficava exaltado. Nós iremos ver o que acontecia: nesse período ele era tomado por forças ignotas e só se acalmava quando Davi cantava os Salmos.
Os Salmos são a primeira músico-terapia que a humanidade tem notícia. Mas na Índia nós vamos ver acerca desse fenômeno num de seus livros sagrados o Bhagavad-Gita que é uma das bíblias da Índia. Lá Krishna, o deus ou mestre, dialoga com um seu discípulo e diz a ele que ele é um príncipe pândava, nobre e, portanto, ele tem inimigos terríveis que são os kurus que devem ser combatidos com toda rudeza porque os pândavas necessitam de sobreviver para realizarem a sua tarefa. E o jovem pergunta: “mas quem são esses inimigos?” “Teus irmãos, teus tios, teus avós, teus primos, teus cunhados e necessitas de mata-los!” “Mas como, matar os meus familiares?” “Sim, porque eles são muitos, enquanto que os pândavas são poucos”. “Mas como eu poderei fazer isto?” “Terás que os matar antes que eles te matem”. “Mas aonde eu irei estabelecer esta guerra?” “Na consciência. A consciência é o campo de batalha porque os kurus são os vícios, os pândavas são as virtudes. Virtudes e vícios são familiares, eles vêm do mesmo tronco: hábitos. Quem não tem bons hábitos, tem maus hábitos”. O que é educar? Educar, do latim educeren, é arrancar de dentro hábitos saudáveis que nós consideramos, que são os hábitos socialmente aceitos. Então, quando o jovem soube que teria que lutar contra as suas imperfeições, entrou em grande tristeza e ficou melancólico.
A melancolia avança e no século segundo antes de Cristo ela passou a ser conhecida como ascídia ou ascedia. A ascídia era tão cruel que dizimava cidades! Cidades inteiras entravam em ascidia, como se fosse uma epidemia e as autoridades não sabiam como agir. Merece considerar que o século segundo é o século em que o cristianismo está espalhando-se no norte da África, na Ásia e está começando a instalar-se em Roma.
Logo depois, vem a idade-média, a grande noite medieval. E, na noite medieval, onde a ignorância predominava e as pessoas eram castradas psicologicamente, é óbvio que a ascídia tomasse conta da cultura. Nós vemos a arquitetura medieval: barroca, pesada, paredes grossíssimas, falta de luz, asfixia. Era cultural, era depressivo. Os conventos úmidos, fechados, a vida religiosa de martírio, de punição, de flagelo: consciência de culpa, melancolia. E, no século XII, a ascídia foi tão numerosa que a Igreja Católica denominou como pecado capital e condenava ao inferno e à fogueira, aqueles que entravam em estado de melancolia. Porque, era como se uma força demoníaca, dizia a Igreja, tomasse conta dos cristãos, padres, freiras, monges para não trabalharem, uma preguiça... Eles ignoravam o mecanismo da depressão.
A partir da renascença italiana esse estado mórbido começa a desaparecer através da arte. Mas, os artistas não puderam viver plenamente porque os seus estados mentais, emocionais e pessoais eram melancólicos.
Se nós olharmos a obra de Shakespeare, Hamlet é o vulto depressivo clássico: sempre vestido de negro, do alto do seu castelo na Dinamarca, ele olha os prados imensos e interroga: “que é a vida? Morrer, dormir, sonhar, talvez amar.” E com uma caveira na mão ele pergunta: “ser ou não ser?” É o retrato do próprio Shakespeare, que era um melancólico. Na obra Lady Macbeth, depois que ela mata o seu marido, o rei, ela começa ater delírios de melancolia. Ela tem a sensação que suas mãos estão sujas de sangue e começa a lavá-las. É a segunda vez na história, que nós vamos encontrar um problema, chamado modernamente de TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo: a pessoa, na mente, tem uma ideia de algo que existe mas só está na sua imaginação. Tem medo de micróbios, como determinado artista pop que anda de máscara: ele não é excêntrico; é portador de transtorno obsessivo compulsivo. Pessoas que não apertam a mão de ninguém, para não pegarem doenças; tomam vinte banhos num dia e depois passam álcool. Eu tenho uma paciente que tomava o banho durante três horas para livrar-se do contágio. A roupa era esterilizada numa autoclave cirúrgica e ela a pegava com luvas, não tocava em ninguém, não encostava em lugar nenhum. Há uma personagem célebre, Howard Hugues, que foi um grande diretor cinematográfico. Ele alugou na Costa Rica e, mais tarde, num outro país da América Central, todo um andar, mandou assepsiar, para ficar ali dentro para não se contaminar e morreu em putrefação total. São paradoxos, são transtornos obsessivos compulsivos. O primeiro da história é Pilatus: depois que ele lavou as mãos, simbolicamente a respeito do destino de Jesus, ele ficou com a psicose. Toda hora ele lavava as mãos. E quando ele caiu em desgraça e viajou para Roma, foi mandado por Tibério para o exílio na Suíça e suicidou-se atirando-se sobre um vulcão extinto pois todo aquele que tem o transtorno obsessivo compulsivo está a um passo do suicídio, e nós veremos porque.
É nesse período de turbulência que nós vamos notar escritores, artistas, poetas com profundos transtornos melancólicos.
É no fim do século XVII, começo do século XVIII, que aparece pela primeira vez na história da medicina a palavra “depressão” em língua inglesa. Nós vamos ver o que a depressão fez com a nossa sociedade.
Leon Tolstoy, o grande escritor russo, era depressivo clássico. Fredericque Chopin era também um depressivo clássico. Rembrandt, suas telas são caracterizadas pelas cores fortes, escuras; ele é o mais notável pintor do claro-escuro, o seu estado interior. A Ronda Noturna, que está aqui bem próximo, caracteriza muito o seu conflito íntimo, profundo, a sua visão de mundo, embora ele seja o maior gênio desse gênero de pintura da humanidade.
Mas nós, temos nos dias modernos, o célebre poema “O Corvo” : a história de um corvo, por um grande escritor e poeta norte-americano, que é o protótipo da depressão total. E vamos encontrar no Teatro, momentos de depressão, principalmente no teatro Tcheco-eslovaco, com personalidades, hoje, fantásticas da arte teatral, portadoras de depressão. Mas, porque?
A Ciência até o século XVII ignorava totalmente a função do cérebro e afirmava que o cérebro não tinha qualquer função: era uma massa que ornamentava a cabeça... Afirmava-se, por exemplo, que as pessoas amam com o coração e pensam com o fígado. Até hoje, quando damos uma declaração dizemos “eu te amo com todo meu coração” e ainda botamos a mão para apoiar o coração. É muito comum os grandes pensadores do passado estarem sempre com a mão no fígado: estavam pensando... Hoje, nós pensamos com a mão na cabeça, mas é devido à evolução da ciência. Às vezes, quando eu vejo um cientista presunçoso, que ataca tudo o que ignora, mesmo o Espiritismo e falam o nome da Ciência com a boca cheia, eu rio para ele, bem calmo e digo assim: “mas qual ciência?”
A Ciência começou da estupidez humana. Pasteur descobriu os micróbios por acaso, por causa de uma lamparina. As vacinas foram descobertas por acaso. Se descobriu que nós falávamos no cérebro e não na garganta, por acaso. Então, qual é a ciência?
A Ciência é o resultado de fatos que se confirmaram e estabeleceram paradigmas. A Ciência tem seus paradigmas: é científico tudo aquilo que pode ser repetido e dar o mesmo resultado. É um paradigma científico, resultado da observação.
A doutrina espírita é uma ciência de observação. Não é uma ciência acadêmica, porque o espírito vem quando quer, se quiser e diz o que lhe aprouver porque ele não é uma “forma-massa”; ele é uma “forma-pensamento”. Ninguém pode obrigar o pensamento a agir quando nós queremos. Se alguém, por exemplo, na Mansão do Caminho disser “eu quero falar com o Divaldo agora” isso é uma impossibilidade, mesmo que se use um telefone celular, porque eu não posso atender agora. No mundo espiritual também existem leis. Não é pelo fato de alguém estar desencarnado que podemos dizer: “venha cá!”. A doutrina espírita é uma ciência e tem os seus paradigmas que são diferentes dos paradigmas de laboratório. Se eu misturar oxigênio com hidrogênio eu terei água sempre. Se eu misturar esta com aquela substância eu terei uma terceira substância. Mas no espiritismo eu não posso misturar uma comunicação com outra, para tirar um terceiro exemplo porque se trata de personalidades diferentes, com seus caprichos e com sua individualidade. Quando cientistas me perguntam “qual são as provas que o espiritismo dá?” eu digo: “as mesmas que a ciência dá!” Por exemplo, na área da psicologia, qual é a prova psicológica que se tem para mostrar que uma pessoa é uma histérica, uma psicótica, uma neurótica ou uma esquizofrênica? Não há prova nenhuma! Há possibilidades que são claro-escuro. O neurótico pode ser psicótico, mas nem todo psicótico é neurótico. O esquizofrênico é um psicótico profundo, mas pode não ser depressivo. O autista perde toda a mobilidade, pode entrar no estado de catatonia, ficar paralisado e pode estar pensando perfeitamente bem, apenas não se comunica. Portanto os parâmetros são todos por aproximação. Não existe um parâmetro definitivo, razão pela qual o mesmo medicamento que se dá a dois esquizofrênicos pode resultar muito bem num e em outro, não. Pode até ser que um outro piore, usando o mesmo medicamento. Daí, quando falamos sobre ciência e vem as pessoas presunçosas querendo subestimar o espiritismo na nossa face, eu tenho duas atitudes: ou me afasto ou defendo o espiritismo. Se for uma pessoa sem autoridade no assunto, eu saio; primeiro, é falta de educação falar mal de qualquer coisa na frente de outro que esposa aquela idéia e então saio discretamente porque já sei que a pessoa não tem respeito ou, defendo com a pergunta: “o que você já leu de espiritismo?” A ciência espírita é parte da chamada ciência psicológica.
Na ciência psicológica no final do século XVII, os cientistas descobriram que o nosso cérebro era também constituído de células. Eles conseguiram conceber que nós possuíamos uma célula muito especial à qual eles deram o nome de neurônio, uma célula diferente das outras porque tem uma cauda chamada axônio. Os axônios entrelaçavam-se e descobriu-se depois que eles eram responsáveis pelas nossas ideias, pelos nossos movimentos, pelo nosso bom-humor, pelo nosso mau-humor, pela nossa alegria de viver, pelo nosso afeto porque os axônios produzem certas substâncias e se comunicam. Quando, por exemplo, eu olho para alguém e quero me lembrar do nome, milhões de neurônios se comunicam para eu chegar ao resultado. Quando eu vou dizer uma palavra, milhões de neurônios mandam as mensagens aos arquivos da memória que liberam a palavra que eu quero. Agora, imaginem que maravilha, nós pensarmos em tantas palavras de vez e os neurônios dando-nos as palavras que nós precisamos. De vez em quando, vamos dizer uma palavra e ela não vem: o neurônio não conseguiu conectar. Mais tarde, é feita a conexão e nós temos a palavra e achamos isso uma maravilha. Graças à nossa cabeça. A maravilha está dentro desse dínamo que é a máquina computadorizada mais extraordinária que a mente humana jamais contemplou.
Foi mais ou menos no fim do século XIX que, pela primeira vez, se pode estudar a depressão com mais seriedade, porque até então ela estava envolta em mitos, em tabus e se estudou que a depressão era resultado de dois tipos de fatores: internos e externos. Como fatores internos, que a ciência chama de endógenos, a hereditariedade, as doenças infecto-contagiosas. A ciência estabeleceu que toda pessoa que descende de alguém depressivo tem 30% de possibilidade de ser depressivo também; se ambos os pais são depressivos os filhos tem 75% de possibilidade de serem depressivos também. Anteriormente, falando da Dra. Dana Zohar, nos referimos ao fato de que sua mãe era depressiva, seu pai era alcoólatra, ela teve um surto depressivo e tombou no alcoolismo. As nossas células estão impregnadas da tendência para o problema de natureza depressiva. Porque é importante saber disso? Porque se qualquer um de nós consegue saber que seu pai ou sua mãe foram depressivos, pode fazer um tratamento preventivo porque vai ter possibilidade de depressão: uma contrariedade, uma perda, etc. Portanto se pode constatar que existem fatores internos e externos. Os externos são: psico-sociais, socioeconômicos, afetivos.
No ano de 1900 Freud terá ocasião de dizer que toda vez que nós sofremos uma perda nós temos uma depressão. A perda do emprego, a perda de uma viagem, a perda de um relacionamento, a perda de alguém que morre. Eu não gosto do verbo “perder” quando morre alguém. É muito comum nós dizermos: “eu perdi meu filho, eu perdi meu marido, eu perdi minha mãe”. E, quando falam comigo, eu digo: “e aonde perdeu?” “Não, não, morreu!” “Ah, sim! Morrer é outra coisa!” Morrer, desencarnar, falecer: o nosso inconsciente tem tanto horror à morte que a gente diz assim: “ai, eu perdi meu pai!”, como quem perde chave, chapéu, sapato. Gente nós não perdemos: gente morre. Vamos aplicar o verbo morrer, acostumar com a ideia, porque torna a máscara menor. Se nós mascaramos a verdade, estamos sempre fugindo e a verdade atrás da gente, até a hora em que a gente é obrigado a enfrentar, não tem resistência e deprime, entra no transtorno depressivo. Em resumo, a partir dessas observações, se pode saber que a depressão tem dois tipos de fatores: endógenos ou internos (hereditariedade, as doenças infecto-contagiosas, as sequelas) e os exógenos ou externos (a perda de emprego, dificuldades financeiras, dificuldades afetivas, solidão, ansiedade). Há também os conflitos pessoais, conflitos de raça, de posição social. Há pessoas que sentem a infelicidade porque não estão no topo. Mas ninguém chega ao topo; só os reis, até serem assassinados ou morrerem: outros tomam o lugar. Nós temos uma visão distorcida do que é o triunfo e achamos que o triunfo é ter muito dinheiro, ser o novo Bill Gates, ou quem quer que seja, mas a gente não quer pagar o preço que eles pagaram e ter os conflitos que eles têm. Importante não é “ter”, é “ser”. Não é “ter mais”, mas “ser mais”. Toda vez que a gente tem mais, quer mais e quanto mais tem, mais tem medo de perder.
Por volta de 1900, um outro cientista, Emil Kraeppeling, teve oportunidade de fazer uma análise mais profunda da depressão. Ele descobriu, por exemplo, que a depressão apresenta-se sob dois aspectos que podem levar o indivíduo ao suicídio, que é a tragédia da depressão: a depressão “unipolar” que é a tristeza, a melancolia, o desinteresse pela vida, a pessoa não sai da cama, não toma banho, não cuida da aparência, não tem forças e a depressão “bi-polar”: sai desse estado e se acha um ser formidável, começa a ouvir vozes, a ter visões, a se achar Jesus Cristo, Napoleão Bonaparte, o Homem América, o Homem Aranha. Eu conheci em Hamburg, há três anos, um jovem que foi me ouvir numa cadeira de rodas, entubado, acompanhado por dois enfermeiros. A palestra foi na universidade de Hamburg e me pediram para falar sobre depressão. Quando terminei, fui conversar com o jovem e com muita dificuldade (ele usava um aparelho especial na traquéia para poder falar) ele me disse que era um depressivo bi-polar. Ele saía da tristeza e um dia ele sentiu que era o Homem-de-Aço, o Superman. Correu para a estação ferroviária de Hamburg e quando vinha um trem, ele pulou nos trilhos para segurar o trem. Ele foi jogado a uma longa distância, se arrebentou todo e continuou depressivo pois o problema é no cérebro. Não teve nenhuma lesão cerebral. Eu conversei muito com ele, expliquei a tese espírita, dei alguns exercícios mentais para ele sair da depressão. No ano seguinte ele voltou e no ano passado ele esteve na conferência, já sem estar entubado. Soube há poucos dias que ele havia desencarnado.
A ciência continua evoluindo. Em 1940 se descobriu que nós tínhamos 5 bilhões de neurônios e que eles são muito particulares: são as únicas células que quando morrem não se repetem. As nossas células duram uma média de 30 dias, morrem e outra vem no lugar. Quando nós chegamos aqui nós tínhamos um corpo que já não é o mesmo porque em cada segundo de nossa vida morrem 30 milhões de glóbulos vermelhos em nossa corrente sanguínea. Imaginem em 24 horas, quantos morrem! Mas outros vão sendo processados e substituem. Em cada 15 minutos de nossa vida nós perdemos uma décima parte de nosso corpo e uma décima parte é recolocada. Um homem de setenta anos já teve 10 corpos e não notou! Diariamente morrem 15 mil neurônios. Olhe bem: a gente quando nasce, já nasce com todos eles e já começam a morrer desde a hora que nascem, que máquina extraordinária! Se dizia então, que uma pessoa de 40 anos era velha. Os homens de 40 anos botavam boné, arrastavam os pés e ficavam jogando dama, paciência, gamão; as mulheres depois da menopausa ficavam fazendo tricô, crochê e a vida alheia porque já estavam “velhos”, não tinham mais a capacidade de pensar. Mas, era um conceito falso: como nós somos vítimas de sugestão! Por volta dos anos 50, graças ao advento dos microscópios eletrônicos, a ciência neurológica começou a dizer que nós possuíamos 50 bilhões de neurônios e por mais que morram, se a nossa mente for ativa (detalhe importante), as caudas dos neurônios sobreviventes multiplicam-se em ramos (dendrites) e substituem os que morrem. Se estabeleceu então que a idade mental passou a ser a idade de 55 anos. Os neurônios que morrem não fazem falta. A partir dos anos 70 a ciência evoluiu tanto que conseguiu dizer que nós temos 75 bilhões de neurônios, aproximadamente, só que, não usamos! Muita gente é preguiçosa, não usa a cabeça! Se eu não usar meus músculos, eles ficam flácidos; se eu não falar, esqueço as palavras, se eu não usar a cabeça, os neurônios vão morrendo e os sobreviventes não passam as mensagens. A ciência acreditava que essas mensagens eram elétricas, mas quando se fizeram as primeiras cirurgias cerebrais a partir dos anos 40 se constatou que são eletroquímicas: substâncias químicas que são emitidas eletricamente pelos neurônios. E nos anos 90 tínhamos 100 bilhões de neurônios; a ciência evoluiu dessa forma e os neurônios passaram a ser de relevante importância para as nossas reflexões.
Os neuropsiquiatras descobriram que os nossos neurônios, além dessa função eletroquímica, produzem substâncias especiais que passaram a ser chamadas neuro-peptídeos, produzidas em doses infimamente pequenas, mas que respondem pela nossa harmonia. Cada neurônio secreta algumas dessas doses específicas.
Nós temos duas partes posteriores no cérebro que produzem duas substâncias: a serotonina e a noradrenalina. Quando, por qualquer motivo, deixam de ser produzidas, nós entramos em depressão. A depressão é um fenômeno fisiológico: a falta dessas substâncias no nosso organismo que pode ser causada por hereditariedade, determinadas doenças como câncer, lepra, AIDS, enfermidades infecciosas em geral e também fatores externos como um choque, a ansiedade, o stress, uma inconformação; nós gastamos tanto o sistema nervoso a produção de serotonina e noradrenalina diminui ou cessa e nós entramos em torpor, no desinteresse. Perdemos o amor pelas pessoas. A depressão é chamada: transtorno da afetividade; a pessoa não tem compaixão, não tem entusiasmo, não tem amor. A mãe mais devotada olha para o filho como se fosse uma peca de mobília, não tem sentimentos, porque os sentimentos são estimulados pelas substâncias orgânicas.
Até agora se descobriu que nós temos 64 dessas substâncias. Por exemplo, a dopamina, é responsável pelo equilíbrio. O Papa, por exemplo, tem distúrbio de Parkinson: os músculos vão se ressentindo da falta de dopamina. Descobriu-se recentemente que o mamão tem muita dopamina e que ajuda no tratamento de algumas doenças.
Quanto ao Alzheimer temos a ação de duas outras substâncias. Se vai perdendo a memória e volta à infância. Perde-se totalmente o contato com a vida. Era doença de velhice; agora, não mais. Porque os fatores emocionais são tantos que nós ficamos desajustados, gastamos as substâncias e o organismo não repõe. Mas, por misericórdia de Deus, a ciência médica evoluiu tanto que a farmacologia conseguiu sintetizar substâncias químicas que vem substituir as em nosso organismo, se tomadas com a orientação do psiquiatra.
Invariavelmente, quando falamos em psiquiatra, as pessoas reagem. Nós temos horror a psiquiatra, principalmente os latino-americanos. Mas temos que procura-los porque esses distúrbios nós não notamos; as manias, nós não notamos e a família também não nota de início; só quando acontece um surto. Se houver um golpe, notamos mas, em geral vamos ficando maníacos vagarosamente: essas manias são transtornos neuróticos.
Hoje temos produtos médicos extraordinários para a depressão. O prozac, por exemplo, com orientação medica, envolve os neurônios que não conseguem mais produzir a serotonina e torna possível de novo a comunicação entre os neurônios até o organismo se estimular e começar a produzir de novo. A depressão pode ser perfeitamente controlada se nós procurarmos recursos técnicos, o psicólogo, o psiquiatra, dependendo do fator que desencadeou a nossa depressão.
A Organização Mundial de Saúde acredita que a depressão de tal forma vai tomar conta da Terra que, se não estivermos vigilantes, construiremos uma sociedade amorfa, indiferente, o que já está acontecendo: a gente vê uma pessoa sendo assaltada e diz “não tenho nada com isso”;vê uma coisa errada e diz “não vou tocar para não ter problema”. Estamos ficando amorfos. Daí vamos perdendo contato com a vida e entramos num processo de depressão profunda.
Tecnicamente, à luz da psicologia e da psiquiatria, a depressão, de uma forma muito suave, é isto que nós acabamos de narrar.
Nós fizemos uma análise da depressão sob o ponto de vista psiquiátrico. É claro que usamos uma linguagem popular, acessível, somente para dar uma ideia dos riscos que nós todos estamos enfrentando.
Vamos fazer agora uma análise à luz da Doutrina Espírita.
Segundo a Doutrina Espírita nós somos semeadores e colhedores. De acordo com a sementeira é a nossa colheita. Os Indianos, os Exoteristas, os Teosofistas, os Rosacrucialistas e outros, chamam a isto de “carma”, estabelecendo que o carma é o resultado inevitável dos nossos atos. “Carma” é uma palavra sânscrita que significa “o retorno”, como uma roda: volta ao ponto de origem.
Allan Kardec foi muito prudente quando não usou em toda a Doutrina Espírita a palavra “carma”, porque segundo a lei do carma, o mal que nós fazemos nós pagamos pelo sofrimento. Na Índia, em vários países budistas e hinduístas, se pode acompanhar de perto a experiência cármica: se alguém é portador de lepra, a gente não ajuda porque ele está “queimando” o seu carma, ele está ali resgatando; se a pessoa tem uma problemática de cegueira, paralisia, uma enfermidade qualquer deformadora, se deve deixar a pessoa sofrer; ajudar moralmente, dar conforto mas, ela tem que “carregar” o seu carma.
O Espiritismo vem diretamente do Cristianismo, que por sua vez, veio do Judaísmo.
No Judaísmo, a figura preponderante é Moisés que estabeleceu como fundamental para a felicidade humana, o Decálogo, que ele teria recebido como inspiração (e não como tábuas ou pedras) no monte Sinai. São consideradas as dez leis mais perfeitas da humanidade. Antes de Moises havia códigos: códigos de ética, códigos de equilíbrio, o código dos Sumérios, que era muito importante. Havia também um código muito celebre, com seiscentos itens, escrito em um pedaço de pedra, que era o “código de Hamurabi”. Esses códigos estabeleciam aquilo que mais tarde nós chamaríamos de as leis civis, as leis sociais, as leis religiosas. Moises havia encontrado no código de Hamurabi a lei chamada “de Talião”. A Lei de Talião, como o próprio nome diz, significa “tal e qual”. Equivale dizer: olho por olho, dente por dente; se alguém me pisou no pé, eu tenho que lhe pisar no pé; se me cegou, eu tenho que o cegar. Era a chamada “Lei Antiga”. Quando Moises trouxe os hebreus do Egito, ele teve compaixão das criaturas comprometidas e recebeu no Sinai a Lei de Deus: o amor acima de todas as coisas, substituindo a Lei de Talião. Então ele estabelece uma lei mais justa, mais equânime, porém uma lei muito dura. Pois o povo era muito duro, muito primitivo. Um povo que ficou na escravidão quatrocentos anos perdeu o brio, perdeu a dignidade, perdeu a auto-estima. Vivia de fazer tijolo com palha e lama; usavam o sexo como animal e nada mais.
Mas o judeu, o hebreu em geral, é um povo de fibra muito forte e conseguiu manter as suas tradições o que manteve o povo mais ou menos unificado. Quando Moises propõe ao faraó libertar esse povo e levar à Terra de Canaã, que ninguém sabia aonde era, ele se dá conta de que aquelas pessoas eram tão viciadas, ou tão cômodas que não tinham metas. Moises teve necessidade de construir um povo forte. A Bíblia diz que ele ficou vagando no deserto por quarenta anos. Ora bem: do Egito, atravessando o Mar Vermelho até a Terra de Canaã, a atual Palestina, se pode chegar a pé ou de camelo, em dois meses. Ele demorou quarenta anos vagando no deserto. Para que? Para que morressem os velhos, os viciados, os maníacos e pudesse formar um povo forte, dentro da lei do Decálogo. Moises estabelece então a necessidade de uma lei de justiça e começa a escrever o chamado Pentateuco, os cinco livros básicos da Bíblia: a Gênese, os Números, etc, que são a historia do povo hebreu; não temos nada com isso. Como o povo hebreu era o povo da revelação espiritual, essa revelação nos interessa por causa da mediunidade: os profetas de ontem, são os médiuns de hoje, como diz Allan Kardec.
Portanto, na Bíblia, o que nos interessa não é que tal rei matou aquele outro, que este venceu aquele. Não! Isso é a historia do povo hebreu. É o mesmo que, em razão do espiritismo no Brasil ser muito próspero, querer implantar a historia do Brasil, no mundo. Isso é um equívoco! O Velho Testamento é a historia de um povo buscando a sua identidade. Como nessa historia existem muitos fenômenos mediúnicos (Elias que vai se reencarnar como João Batista, Joel, Malaquias e outros), isso nos interessa sob o ponto de vista mediúnico. E como Moises foi um grande legislador, interessa-nos a lei que ele apresentou e que é uma lei extraordinária.
Infelizmente, as religiões que se derivaram do cristianismo adulteraram a lei de Moises e não a traduziram corretamente. Todos nós sabemos: o primeiro mandamento da Lei de Deus: “amar a Deus acima de todas as coisas”. Foi o que todos nós aprendemos no catecismo. Mas não é isto que está no texto!
No texto está o seguinte: “amarás ao teu Deus, senhor de todas as coisas, acima de todos os interesses, porque eu sou o senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão. Diante de Mim não terás outros deuses, nem do que está acima nos céus, nem do que está abaixo, nem nas águas. Porque Eu sou o Deus generoso que ama até a centésima geração e que pune a partir da terceira geração”. Isso é de uma importância impressionante: a partir da terceira geração. Este é o mandamento!
O que fizeram as religiões? Amputaram o texto: amarás a Deus acima de todas as coisas. E introduziram os santos: do que está na terra, do que está nos céus, do que está nas águas: nasceram as chamadas linhas anímicas que são as interpretações anímicas para aquilo que outras religiões haviam estabelecido como seus deuses na mitologia de todos os povos.
Mas, então, porque a terceira geração? Vejamos:
Eu tenho um filho e sou uma pessoa má, cometo atos ignóbeis. A Divindade me alcança porque eu reencarno como meu neto. Na terceira geração eu sou neto de mim mesmo. Então a Lei me pega quando eu sou neto; não pode me pegar na segunda geração porque eu não posso ser meu filho reencarnado. Portanto, Moises já prega a reencarnação: está no Evangelho Segundo o Espiritismo quando Allan Kardec estuda o Primeiro Mandamento, a Lei de Amor.
O nosso vínculo com Moises é a Lei porque ele anulou a Lei de Talião. Não é mais a Lei de Talião, mas a Lei do Amor, porém um amor duro: essa mulher pecou, é apedrejada até a morte! E o homem que pecou? Não é apedrejado! O homem era o rei da Criação. É outro erro bíblico. A Bíblia é machista. Absolutamente machista: Deus é homem; o primeiro ser criado é homem; Adão teve três filhos homens; mais tarde os protestantes emendaram e colocaram que ele também teve filhas, mas no original não tem; toda a tradição bíblica é masculina. Jesus é homem, os apóstolos foram homens. Daí nós temos até hoje um preconceito contra a mulher. Esse preconceito nasceu na Bíblia hebréia, porque na Índia, por exemplo, não foi assim. Na Índia Deus é Pater-Mater: Krishna aparece voltado para dois lados, as duas polaridades Ying e Yang que juntas formam o Tao, a Perfeição, mas isso é um outro estudo...
Moises nos lega portanto esse patrimônio. Quando vem Jesus, ele então declara: eu não vim combater a Lei (porque a Lei continua válida: quem fez o mal tem que pagar); eu vim completar a Lei com o Amor: o Amor cobre a multidão dos pecados. É de uma beleza incomparável! Antes de Jesus, Budha havia dito: o sândalo perfuma o machado que o corta; se o cavalo pisa na violeta, a pata fica perfumada; é o mesmo que dizer que nós temos que retribuir todo o mal com o bem, dando seguimento ao pensamento de Buda, ao pensamento de Sócrates, ao pensamento de Platão trezentos anos antes dele. Platão disse: se não houver vida depois da vida, bom negócio fazem os maus! Porque fazem o mal e acabou! Para a falta de sorte deles, a vida continua depois da morte e cada um será o que é. Quando se viaja de um país para outro, se muda de hábitos, horários, idioma, moedas mas, se continua a mesma pessoa. A morte, para nós, é um passaporte. O documento que apresentamos para entrar na espiritualidade é a morte biológica. Esse passaporte nos dá acesso ao que nós somos: continuaremos sendo o que nós somos.
Jesus veio então nos dar a Lei de Amor: o amor apaga o pecado. O bem que se faz anula o mal que se fez. Se uma pessoa vem a mim e eu a mato, me torno um devedor; mas se vejo uma outra pessoa em apuros e salvo-lhe a vida, anulo assim a minha dívida porque eu não devo à pessoa e sim à Lei. Se alguém matar aqui uma pessoa, não é a vítima que vai encarcerar o assassino mas sim a justiça do país porque houve uma transgressão do código civil. Nós não nos devemos uns aos outros: nós devemos à Lei. Se a minha vítima me perdoar, ótimo para ela porque ela fica em paz; se ela não me perdoar, pior para ela porque ficará perturbada. O bem que eu fiz já anulou a minha dívida; mesmo que a vítima queira me perseguir, ela não vai encontrar sintonia, porque eu já estou em outra faixa. Quando eu descubro que fiz um grande mal, eu vou à vítima e peço perdão; ela tem o dever de me perdoar porque eu também tenho o direito de errar. Eu não tenho o direito de ficar no erro. Cabe-nos perdoar sempre, até as coisas que não mereçam perdão. A psicologia do perdão diz: se você não é capaz de perdoar, pelo menos, desculpe; dê ao outro o direito de ele ser assim: o que posso fazer com um psicopata? Ele é um psicopata e pode me agredir a qualquer momento. Se eu o agredir de volta, sou pior que ele porque ele está doente e eu não; eu tenho o discernimento. A lei de amor é esta: quem faz o mal está doente. A terapia a usar é a compaixão.
Allan Kardec usou em lugar da palavra “carma” a “Lei de Causa e Efeito” estabelecendo que esta é a lei do universo porque todo efeito provém de uma causa e todo efeito inteligente provém de uma causa inteligente.
Se eu jogo uma pedra para cima, ela vai invariavelmente cair; se eu ficar embaixo ela vai arrebentar a minha cabeça. É o fenômeno do efeito. Não foi Deus que me castigou: foi o efeito do meu próprio ato. Portanto que cada um faça a sua parte e a vida completará as suas lições.
Essa Lei de Causa e Efeito está sincronizada no amor. Toda vez que nós amarmos nós estamos nos depurando. Se eu fizer mal a uma pessoa, não é necessário que ela me faça mal; alguém me fará ou posso ter um acidente: estou resgatando o mal que fiz. O importante não é o fato de se ter inimigos; é não ser inimigo! Quando outras pessoas são minhas inimigas o problema é delas; quando eu me torno inimigo o problema é meu. A beleza do Espiritismo está nesta Lei de Causa e Efeito que é um convite à nossa contínua transformação moral.
Todos nós temos o direito de errar, mas não temos permissão de continuar no erro.
A Doutrina Espírita é a doutrina do perdão, da mansidão, da caridade, do amor. E graças a essa Lei de Causa e Efeito, o depressivo o é porque ele tem dívidas perante a Consciência Cósmica e essa dívida ele transforma num transtorno de natureza neuronial. Imaginemos que alguém é um caluniador, um adúltero, um traidor e ninguém alem da própria pessoa saiba. Nós somos semeadores. Se eu pratiquei o mal eu sei disso, daí eu construo uma consciência de culpa que vai me levar a uma reencarnação de resgate e então eu não vou reencarnar na família que eu mereço mas, na família que eu preciso. Existe uma mensagem de Emmanuel (espírito) que diz: tu nasceste não no lar que mereces mas, no lar que escolheste.
A consciência de culpa vai me levar a reencarnar de um homem e de uma mulher que tenham espermatozóides e óvulos degenerados para eu nascer com uma hereditariedade. Vamos dizer que agora aos trinta anos alguém é um caluniador, morre aos cinquenta e reencarna. Quando chegar aos trinta, terá depressão porque a sua consciência vai trabalhar no óvulo e nos espermatozóides e eles vão imprimir um cérebro cujos neurônios aos trinta anos vão começar a parar de trabalhar: a Lei de Causa e a Lei de Efeito. A reencarnação modela o corpo, a depressão é um transtorno fisiológico, mas o espírito é o autor do corpo que usa. Começa então um transtorno depressivo por um fenômeno reencarnatório. Ou por fatores sociais: pode-se nascer com um corpo ótimo, mas vai-se morar num país miserável. Ou pode-se ter que morar num país difícil, onde não se consiga emprego, onde se sofra discriminação racial, ou discriminação política, discriminação religiosa e com o sofrimento se entra em depressão. Ou ainda, como consequência do desamor semeado, pode-se nascer sem afetividade. A Lei de Causa e Efeito é responsável por todo e qualquer tipo de problema na nossa vida: situação financeira, dificuldade social, problemas mentais, QI, QE, QS. Quando se diz “não consigo aprender, tenho dificuldade”, isso é um problema cármico. Desistir, nunca! Estamos na Terra para aprender! Qualquer distúrbio na inteligência, na emoção, na evolução, são resultados de carmas. Nós programamos a nossa vida. Problemas de saúde, distúrbios orgânicos, são nossos carmas.
A Divindade é tão misericordiosa que além dos cinco sentidos que nos deu para o contato com a vida, deu-nos também o sentido paranormal, o sentido parafísico como chamava o Professor Richet que denominou este sentido como “sexto sentido”, a percepção extra-física que nós temos. Allan Kardec chamou de “mediunidade”.
No Livro dos Médiuns, capítulo 14, Allan Kardec diz: todo aquele que sente, em determinado grau, a presença dos espíritos é, por isso mesmo, médium. A mediunidade é um sentido que nos permite entrar em um campo vibratório além do mundo físico e essa percepção pode apresentar-se sob dois aspectos: aquela percepção do próprio espírito que capta as idéias (fenômenos anímicos do Latim “anima”, alma) que são esses fenômenos eminentemente dos espíritos: sonhos premonitórios, a clarividência, a telepatia, a intuição, a materialização chamada no fenômeno parapsicológico como fenômeno psi-capa; ou quando há a interferência dos espíritos se tem um fenômeno mediúnico porque o individuo se torna um “instrumento de” e como instrumento dos espíritos esse individuo é um sensitivo. E Allan Kardec disse mais: “todos somos médiuns” porque todos temos essa percepção.
A mediunidade se apresenta sob dois aspectos: a mediunidade natural que é essa genérica, e a mediunidade ostensiva, aquela que caracteriza os indivíduos com uma ampla possibilidade. Num determinado grupo de pessoas todos são inteligentes, mas há os que são menos e os que são muito mais inteligentes, ou seja, as pessoas normais e as pessoas geniais; assim também existem os portadores de um alto quociente mediúnico: aqueles que veem, aqueles que ouvem, aqueles que se tornam instrumento dos espíritos com facilidade, aquele que escreve com muita facilidade.
A mediunidade é uma faculdade orgânica porque o espírito é que tem o dom e o corpo oferece as células para que o fenômeno tenha o seu campo. A inteligência é do espírito, o cérebro oferece os neurônios para poder decodificar. É como um computador: se um programa é instalado, o programa é o que conta; o computador vai dar a resposta quando alguém digitar. Nós somos como que computadores, mas são os espíritos que digitam os fenômenos mediúnicos através de nós.
A mediunidade natural pode ser desenvolvida pelo exercício que vulgarmente chama-se de “educação mediúnica” ou “desenvolvimento da mediunidade”.
A mediunidade ostensiva é espontânea e também podemos educar porque desde que nós temos essa faculdade e transitamos de um campo para o outro, se somos espíritos elevados nós transitaremos em campos altos; se somos espíritos endividados transitaremos em campos inferiores. Em campos inferiores estão os espíritos infelizes o que seria o que a Igreja Católica chamaria de “purgatório”, os umbrais, que Allan Kardec chama de “erraticidade inferior”; são os espíritos errantes.
Um espírito endividado reencarna com um grau de mediunidade que está na razão direta das suas necessidades evolutivas; vem com uma certa percepção se foi um traidor e já traz a consciência de culpa. Seu cérebro vai ter o registro e ele como espírito vai sintonizar com espíritos a quem ele deve e eles vêm cobrar as dividas: surgem os fenômenos de obsessão natural na infância, na adolescência e também perpetuamente, porque é muito mais fácil nós encontrarmos os maus do que os bons. À medida que nós vamos nos educando, nós conseguimos sair daquele campo vibratório para outros mais elevados, mas sempre estaremos susceptíveis a influências negativas porque nos contrariamos, porque temos ciúmes, porque temos inveja, temos mágoas; toda vez que um sentimento desses toma conta de nós, caímos vibratoriamente e sintonizamos com os espíritos infelizes; quando nós oramos, meditamos, praticamos o bem, nós nos elevamos e sintonizamos com os espíritos superiores. Daí a mediunidade ser um campo extraordinário como a inteligência, como a memória, como a emoção. Todos nós temos que controlar a emoção. Às vezes alguém vai contar uma coisa simples, começa a chorar de emoção e não consegue terminar; mas se for controlando a emoção é possível terminar. Outro individuo não sente nada; pode ver a cena mais grosseira, mais agressiva, escabrosa e não sente nada. Isso é possível porque isso é um estado esquizofrênico; ele pode trabalhar, passar a amar e então ele vai sentir: ele vai produzir serotoninas.
O corpo responde aos impulsos do espírito. Daí seguir que a velhice é mais da mente que do corpo. Há pessoas debilitadas, cansadas, sem energia, de mente ativa e continuam trabalhando, esforçando-se. E há pessoas de corpos ótimos e de mente envelhecida: se entregam. Tem uma dor e se entregam, ficam gemendo; tem um problema e se entregam, ficam chorando. Não é a dor em si o mais importante: é o caráter do individuo, o seu espírito que resiste mais ou menos a dores morais ou a dores físicas. Pode-se ser resistente a uma dor moral, mas perder a alegria por causa de uma dor física.
A mediunidade é uma faculdade que está muito ligada à nossa saúde física emocional e psíquica. Se nós encaminharmos a nossa faculdade para as vibrações superiores, nós estaremos sempre irradiados por energias saudáveis. Se nós cultivarmos o lado negativo, nós desceremos a influências perturbadoras e teríamos presenças que nos levam a moléstias.
O doutor David Baum (não espírita nem espiritualista) da universidade de Harvard, sendo um cultor da física quântica, ele estabeleceu com um outro colega que: toda vez que nós pensamos o bem, que nós amamos, que nós perdoamos, os nossos neurônios produzem uma substância como se fossem fótons. Os fótons têm o poder de atrair moléculas equilibrando o organismo. Um pensamento bom penetra no nosso organismo, vai para o sistema nervoso central, assimilado pelas glândulas endócrinas, vai para o sistema imunológico e nos defende da agressão de bactérias. Quando temos pensamentos negativos como, por exemplo, o ódio, a mágoa, o ressentimento, nós produzimos substâncias como se fossem elétrons capazes de desagregar moléculas e absorvidos pelo sistema nervoso central, influenciam os sistemas endócrino e imunológico e nós ficamos receptivos a doenças. Por isso eles sugeriram “risoterapia”. As pessoas que riem (não as que gargalham) gozam mais de saúde do que as pessoas introvertidas. Sempre que nós sorrimos, nós produzimos na saliva uma substância encarregada da digestão (imunoglobulina) que produz defesas para o aparelho respiratório.
É fascinante ver a ciência provar o que a religião diz. Quando amamos, estamos em sintonia com o alto e nosso organismo produz substâncias. É tão notável que para aprovar isso foi apresentada uma ciência com o nome de psico-neuro-endocrino-imunologia: a ação da mente vai para o sistema nervoso central, para as glândulas, para o sistema imunológico e nós gozamos de saúde ou de doença, de acordo com o tipo de pensamento. Naqueles que são médiuns, de acordo com o tipo de espíritos que os influenciam, o organismo vai produzir fótons ou elétrons; se são espíritos inferiores, que estão na cabeça dando ideias más, dando medo, aparecendo como pesadelos, sugerindo comportamentos absurdos, o indivíduo começa a construir e o organismo a atender porque está no campo mental. Daí a obsessão que é espiritual, se transforma num problema orgânico. Diz Allan Kardec com muita sabedoria (últimas três linhas do Evangelho Segundo o Espiritismo): “quando uma obsessão é muito prolongada o individuo passa a sofrer do cérebro sendo necessário tratamento médico e magnético”. Como ele pode perceber uma coisa que a ciência está descobrindo agora! Esses distúrbios foram identificados a partir de 1990 como fenômenos produzidos pelos neurônios cerebrais. Kardec havia detectado em 1864!
As obsessões só existem porque os indivíduos são portadores de sexto sentido, de mediunidade. A defesa contra obsessões são os bons pensamentos (Livro dos Médiuns, capítulo 23); os bons pensamentos, as boas ações, a oração. Quando oramos, criamos fótons e nos defendemos: qualquer má influencia que vier não nos afetará. Portanto, Allan Kardec sugere as boas ações, porque somos devedores, estamos sofrendo, estamos pagando, teremos que pagar: pela dor ou pelo amor. Se estamos sofrendo e fazendo o bem, ficaremos bem muito mais rapidamente. Se estamos sofrendo e não fazemos bem algum, então isso demora até pagar o último centil. “Ninguém entrará no reino dos céus sem pagar a dívida até o último centil”, disse Jesus. Disse Jesus também: “mas nenhuma das ovelhas que o Pai me confiou se perderá”. Equivale a dizer que não existe inferno! Todos teremos a chance de resgatar!
As obsessões podem ser expiatórias ou provacionais. Kardec demonstrou que nós estamos na Terra para sofrer provas ou expiações. Sofrer provas porque nós estamos progredindo. Prova é um exame: se é submetido a um exame, a uma prova, uma provação. É fácil de superar a provação: a depressão é uma provação. O catatonismo, o autismo são expiações. O espírito é tão endividado, agiu tão mal que não merece uma chance de ser aprovado para o bem: tem que pagar pela dor. Ou vem com uma deficiência: uma deficiência ocular, uma deficiência auditiva, uma deformidade orgânica; é uma expiação. Daí existem as doenças expiatórias e as doenças provacionais. As provacionais são aquelas que a gente leva relativamente bem. As expiatórias são aquelas que a gente leva sob um fardo de grande dor.
Quanto à mediunidade, nós renascemos com uma certa predisposição: já temos o carma e os nossos inimigos ou os nossos amigos acercam-se de nós para ajudar-nos a resgatar o nosso débito ou a progredir. Que fazermos? Educarmos a mediunidade como nós educamos a inteligência, como educamos a emoção, a memória, como educamos qualquer faculdade orgânica: através do exercício, da disciplina, da repetição. Allan Kardec demonstrou que a mediunidade mais fácil de ser educada é a psicográfica: não tem risco e é fácil de avaliar. Se nós escrevemos alguma coisa, depois examinamos e podemos avaliar se aquilo é nosso ou se está acima do nosso nível ou abaixo do nosso nível cultural. Podemos ler imediatamente e guardar; depois de um mês, lemos de novo; depois de dez anos, voltamos a ler e assim desenvolvemos um critério de avaliação. É necessário sempre muita disciplina porque nós temos a tendência de fazer as coisas conforme nos agradam e não conforme devemos. Não se pode deixar de ir a uma reunião mediúnica por conta de, por exemplo, algum compromisso social no dia seguinte: o grupo mediúnico é um grupo harmônico, é como se fosse uma orquestra. Se falta o violino, o piano não substitui. A reunião mediúnica é o resultado de um grupo de estudos bem orientado, com pessoas de responsabilidade, para atrair espíritos responsáveis. Para uma reunião de pessoas frívolas, comparecem espíritos iguais, espíritos vulgares. Se as pessoas não tem caráter, vão atrair espíritos semelhantes. Qual a inteligência séria que vai ficar respondendo a perguntas frívolas e vulgares? O respondente tem que ser um semelhante! Aí surgem as obsessões. Nas sessões mediúnicas surgem as obsessões! Certas pessoas gostam de consultar cartomantes (sem nenhum demérito para as cartomantes), os tarots, médiuns que vivem isolados a dar consultas e fazer disso uma profissão! Em Paris há 25 mil consultórios de médiuns cuja consulta varia de 30 a 100 euros e vivem assim!
O Espiritismo nos dá os meios de tornar a nossa vida mais agradável, mais apetecida, mais confortável: o autodescobrimento, o nosso preventivo: diariamente quando deitarmos, perguntarmos “como foi o meu dia?”, “como foram os meus atos?” Se agimos corretamente, dormiremos em paz; senão, amanhã vamos pedir desculpas a uns e outros. Se não nos desculparem, o problema é deles, nós já fizemos a nossa parte para viver em paz: é a questão 919 do Livro dos Espíritos (o conhecimento de si mesmo). Santo Agostinho comentando dizia “façam como eu quando estava na Terra: diariamente ao deitar-me eu fazia um exame de consciência para avaliar o que havia praticado. Quando me dava conta de que havia procedido mal, no dia seguinte procurava reabilitar-me; quando me dava conta de que havia atuado bem, eu continuava aquilo que estava fazendo”. Às vezes diz-se “estou com um cansaço tão grande que não vou ter tempo de examinar o meu dia”; e com esse cansaço vai para regiões inferiores do mundo espiritual, porque o espírito está aturdido. Seja qual for o cansaço, oremos. Nós temos que criar mecanismos de defesa espiritual, resguardar a nossa mediunidade. Os inimigos do bem, aqueles inimigos pessoais estão vigiando. O inimigo não para; o amigo é que descuida.0103
A mediunidade pode ser aplicada ao beneficio da nossa saúde através da nossa comunhão com o mundo espiritual, dos nossos deveres, do atendimento aos espíritos sofredores. Não pode haver nada mais reconfortante nem gratificante do que chegar um espírito que está sofrendo há quarenta ou cinquenta anos e em meia hora recuperar a paz! Não pode haver nada mais gratificante do que ouvir a palavra de um benfeitor espiritual, a mensagem de um ser querido, que são a prova da imortalidade da alma: a comunicação dos espíritos.
Perguntas do público presente:
Um médium com o seu corpo físico doente tem a sua mediunidade afetada?
O estado de doença física de um médium não afeta a sua mediunidade. No caso de uma doença nervosa ou debilitante como o câncer, naturalmente, as forças mediúnicas não diminuem mas, as resistências orgânicas sim. Chico Xavier até os 92 anos trabalhou tranquilamente. Yvone do Amaral Pereira até os 85 anos trabalhou normalmente. Se a pessoa é um médium de incorporação deve evitar, nas sessões mediúnicas, os obsessores porque eles como que absorvem energias físicas como uma esponja. A grande vantagem de ser médium para ajudar os espíritos sofredores é que quando um espírito que está sofrendo muito se incorpora (termo incorreto, só para dar uma ideia), o médium absorve todo aquele sofrimento e o espírito se alivia; quando ele sai melhor porque todo aquele mal-estar ficou no campo áurico, na áurea do médium que logo depois elimina. Mas um espírito obsessor ao incorporar ele absorve a energia do médium: é o contrário. A energia do médium vai acalmá-lo. O médium é pacífico, é passivo, é gentil, essa energia balsâmica vai absorvida e o obsessor, por mais violento que seja, sai sempre melhor. Se as comunicações repetirem-se ele termina por ceder. Ao entrarmos num jardim, mesmo que não queiramos, saímos perfumados. Ou se entrarmos num pântano: sem querer nós saímos com odor característico. Portanto, com uma doença debilitante, deve o médium evitar as comunicações dos obsessores e isso, na realidade, o médium pode fazer muito bem porque ele é sensível e quando perceber que se trata de uma comunicação pesada, pode orar, mudar de plano mental e superar mas, as outras comunicações o médium doente pode receber perfeitamente: serão sempre benéficas.014228
Como pode uma pessoa leiga perceber que tem mediunidade?
Pelas sensações que a pessoa sente. Se a pessoa tem sonhos premonitórios, se sonha com coisas que acontecem, se a pessoa tem a sensação de alguém acompanhando, se tem algumas manias mentais que não sejam propriamente perturbações psíquicas mas: achar que vai lhe acontecer uma coisa, estar com ansiedade, estressar-se com facilidade são também sintomas mediúnicos; se a mediunidade é ostensiva, a pessoa ouve ou vê mas, se a pessoa não tem isso, ela tem sensações. São as sensações que identificam a presença de uma mediunidade. Então se começa a estudar o Livro dos Médiuns para poder compreender o organismo, como se deve proceder. Comumente se acredita que se tem que ir a uma sessão mediúnica para “desenvolver” a mediunidade, como se fosse uma borracha que se pudesse puxar. Por certo que não! Se trata de um trabalho sério como, por exemplo, desenvolver a inteligência. Na mediunidade há toda uma técnica para aprimorar e facilitar cada vez a pessoa captar mais. Certos distúrbios que são confundidos com distúrbios nervosos, muitas vezes são também mediúnicos. A pessoa lendo, estudando, participando de um grupo de estudos sério, indo às reuniões mediúnicas, isto se dá. Quando foi mencionado o termo incorporação, dissemos também que a palavra era incorreta. É incorreta porque o espírito não entra no corpo do médium como uma água que entrasse no copo. Muita gente pensa que um espírito vem e “entra” no médium. Não é assim. Nós somos constituídos de três elementos: o espírito que é o ser real, é o princípio inteligente do universo, disse Allan Kardec na questão 23 do Livro dos Espíritos e questão 72 do mesmo livro. Os espíritos são seres imateriais que povoam o universo fora do mundo material. O espírito é envolto numa energia que Allan Kardec chama “perispírito”. O perispírito, o segundo elemento, é um envoltório, como se fosse uma roupa que alguém estivesse usando. O terceiro elemento é o corpo material. Portanto, somos seres constituídos desses três elementos; morre o corpo, as experiências do corpo são arquivadas no perispírito e quando o espírito vai reencarnar, ele usa esse modelo (perispírito) para fazer o corpo que ele precisa. A parapsicologia criou um nome muito interessante: Modelo Organizador Biológico: toda forma vem de um molde. O perispírito é o molde onde o nosso corpo se desenvolve. Vamos supor que na presente encarnação alguém dá um tiro na própria cabeça e se suicida. O cérebro foi então destruído. O perispírito vai ficar com o campo desorganizado e transmite ao espírito essa violência. Quando houver uma reencarnação, o espírito devolve ao perispírito a informação para moldar um corpo com cérebro deficiente e se nasce, por exemplo, idiota, autista, com hidrocefalia, com microcefalia, com anencefalia (ausência de cérebro), porque no ato do suicídio foi o espírito que dirigiu o corpo. Não existe matéria fraca; não existe a “carne fraca”: a carne é o que o espírito comanda; afinal, nós vamos para onde queremos, não são as nossas pernas que nos levam, somos nós que levamos as pernas. Todo ato nosso é imprimido no perispírito que vai imprimir no corpo. Toda ação que degenera o corpo vai-se imprimir no perispírito que programa a sua futura reencarnação com aquela deficiência.
O trio de três elementos vai organizar uma criatura humana que irradia aquilo que é. A essa irradiação nós chamamos aura, que é a energia de que somos constituídos. Morrendo o corpo, o desencarnado tem espírito e perispírito. Portanto ele tem também um campo de aura. Quando ele se aproxima do médium, a aura dele mescla-se na aura do médium e o médium entra em transe. A influência acontece sempre de uma aura para outra. Se o encarnado não tem mediunidade a influência não é captada. As comunicações são sempre de perispírito a perispírito. A glândula pineal do médium vai receber a indução do espírito que então pode falar, pintar, escrever, tocar um instrumento, falar em idiomas estranhos, enfim o espírito faz o que fazia na Terra com as suas características.
A pessoa nasce com mediunidade ou se desenvolve a mediunidade?
A pessoa nasce e desenvolve a mediunidade como também nasce com inteligência, com memória e vai desenvolvendo na medida em que nós vamos educando. Nós nascemos com a faculdade de falar mas, para falar bem precisamos educar.
Como lidar com uma situação em que uma pessoa protestante tem sinais de mediunidade e não tem acesso a informações a respeito de mediunidade?
Fazendo chegar a ela o Livro dos Médiuns informando que um protestante pode estar ignorando muita coisa. Indica-se também à pessoa protestante a leitura na Bíblia dela em Atos dos Apóstolos, capítulo 2, versículos 17 e 18: “nos últimos dias, disse o Senhor, eu derramarei sobre toda carne o meu espírito. Os servos profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos”. Ou ainda Paulo, na primeira epístola aos Coríntios, capítulo 12, versículos 4 a 11 (variedade dos dons): “há os que falam, há outros que ouvem mas o espírito é o mesmo, há uns que profetizam mas o espírito é o mesmo, há outros que curam mas o espírito é o mesmo”. Se for uma pessoa que realmente está interessada em aprofundar o conhecimento, isso é muito fácil: ela pode continuar protestante e pode ter uma visão de uma realidade paranormal. É só ter o interesse.
Comentário do palestrante:
Interessar-se por saber é o mais importante. Muitas vezes a pessoa pode ter um preconceito contra o Espiritismo e quando ela mesma se depara com um fenômeno mediúnico, não quer assumir responsabilidade. Toda vez que ela tenta, os próprios inimigos impedem, geram situações complicadas, geram doenças, a pessoa vai a um centro espírita e tem a impressão de que voltou muito pior. Mas, na verdade tem que ficar pior: quando se começa o tratamento de uma doença, se piora porque o organismo reage. Quem está com uma ferida e vai ao médico, ele tem que cortar todo o tecido danificado, até chegar na parte saudável e isso dói. Nas obsessões, a pessoa piora porque os obsessores atacam mais porque começou a cura do doente. E o que faz a pessoa? Desiste e os obsessores aliviam o ataque. E a pessoa reage: eu abandonei o tratamento e melhorei. Melhorou até o próximo ataque. Na próxima vez eles atacam e não soltam mais.
Para os candidatos a tratamento de obsessões podemos falar com toda a franqueza: se quiser a terapêutica, é da maneira como fazemos no Espiritismo. Não pode ser seguida por um dia e não ter prosseguimento nunca mais, porque não há milagres: não se pense que o Espiritismo é um poço de milagres; siga por um mês ou dois e observe; se não der certo, abandone: não está gastando nada. O Espiritismo é a única doutrina na qual ninguém ganha nada e ninguém cobra nada! Tudo é grátis. A vítima de obsessão indo ao psiquiatra vai melhorar por conta do tratamento dos sintomas com barbitúricos mas, vai ficar amortecida ou impregnada. No tratamento espírita vamos impregnar de energia que vai impedir a continuidade do espírito. Quando damos um passe em alguém, a nossa energia vai para a aura e a fortalece. Quando o espírito obsessor (mau) se aproxima, não tem conexão porque nós estamos numa vibração superior: é a luz apagando a treva. Quando uma pessoa se posiciona com muitos escrúpulos dizendo “mas, eu não acredito nisso”; ótimo, não tem que acreditar mas, também não se queixe! Muita gente mantém uma certa “postura ética” dizendo: eu não quero me envolver com isso. Nada disso, na verdade importa: quando a dor apertar, a pessoa vai até onde não imagina! Ainda há os que se dizem incrédulos mas, a maioria é incrédula por conveniência.
E aqui é chegada a hora para uma mensagem de união: como espíritas não podemos criar distâncias entre nós; lembremos-nos da parábola do feixe de varas. Se nós ficarmos isolados seremos destruídos pelas forças do mal, pelas nossas paixões, pelas nossas competições. Se ficarmos unidos seremos uma força de aglutinação. Vamos ficar juntos respeitando as nossas diferenças, porque cada grupo tem a sua forma de ser. Procuremos a união para a unificação, não para a uniformização. Uniformizar é vestir tudo igual; unificar é reunir; unir é tornar amigos. Vamos treinar a fraternidade entre nós, ajudarmos-nos, tolerarmos-nos.