Minhas
queridas irmãs, queridos irmãos, jovens, nossos votos de muita paz!
Vivemos
um momento de conturbação histórica. Seis mil anos de cultura, de ética e de
civilização não lograram tornar a criatura humana mais feliz, nem mais pacífica.
Mata-se hoje com a mesma naturalidade dos bárbaros depois de Jesus ou das
civilizações primitivas na conquista de espaço.
A
ciência, aliada à tecnologia, moveu a criatura humana até o planeta Marte de
onde duas sondas espaciais vêm mandando mensagens ininterruptas apresentando a
probabilidade da existência de água hoje, ou no passado, o que redundaria na
probabilidade de haver qualquer tipo de vida. O telescópio Huble, já agora em
decadência técnica, continua mandando diariamente fotografias à Terra que
comovem, pela grandiosidade do universo. É possível acompanharmos pela internet
ou nas televisões, galáxias que nascem, galáxias que são devoradas pelos buracos
negros, demonstrando que vivemos num universo finito e relativo, que deve ser a
continuação de outros que já existiram e que, um dia, darão lugar a outros que
virão.
A
ciência médica conseguiu dar um salto eloquente e grandioso prolongando a saúde
da criatura humana e dando-lhe bem-estar. Sempre se pensou que a função da
ciência médica era impedir morte e isto é um grande equívoco: a morte biológica
é inevitável e a criatura humana, desde que foi gerada pela aglutinação das
moléculas, terá o seu momento de morte biológica pela desarticulação das
células. Mas a medicina vem podendo prolongar a vida, o que antes, constituía
uma rara exceção. A longevidade hoje é perfeitamente natural. Nos países
subdesenvolvidos já podemos contar com uma existência normal de sessenta anos
para o homem e sessenta e cinco para a mulher. Nos países de grande
desenvolvimento tecnológico já se pode contar com setenta anos para o homem,
setenta e cinco anos para a mulher, numa idade medial saudável e lúcida. No
entanto, apesar de vermos a engenharia realizar voos audaciosos ligando
continentes a ilhas, transformando pântanos em jardins, desertos em pomares e
fazendo que qualquer forma de terra seja habitável e agrária, porque que a
criatura humana continua tão infeliz? Qual a razão dos problemas de
comportamento, a insatisfação, a ansiedade? Vivemos um momento típico da
depressão. A Organização Mundial de Saúde estabeleceu que a ultima metade do
século XX pode ser chamada “a era da depressão” e nós começamos o terceiro
milênio com a grande tragédia de onze de setembro de 2001 com o ato de
terrorismo que mudou o destino da história moderna.
Porque
que a criatura humana, que tem tudo, aparentemente, é tão infeliz? Qual a razão
das estatísticas alarmantes a respeito da depressão?
Um
dos maiores repórteres americanos, o senhor Andrew Solomon, escreveu um livro
extraordinário ao qual ele deu o nome: O Demônio do Meio-Dia (The Noonday Demon:
An Atlas of Depression). Trata em seiscentas páginas, exclusivamente, do que a
ciência médica chama “transtorno depressivo” ou “transtorno de afetividade”.
Solomon apresenta estatísticas preocupantes: nos EUA, atualmente 260 milhões de
habitantes, 25 milhões são depressivos crônicos, 25 milhões são depressivos
recorrentes, aqueles que têm a chamada “depressão sazonal”: a depressão do
inverno, a depressão do natal, a depressão do aniversario, a depressão das datas
festivas, e mais 25 milhões serão depressivos nos próximos três anos do que a
psiquiatria chama de depressão pós-traumática: nós temos um choque, na hora,
reagimos muito bem, daí há meses, um ano, dois, entramos em depressão. Os
efeitos de onze de setembro em New York e Washington estão sendo sentidos agora.
Porque naquele momento foi o trauma, o horror, agora é o medo, a insegurança.
São os fenômenos que decorrem daquele choque que o organismo não absorveu. Morre
uma pessoa querida nossa e nós reagimos relativamente bem. As pessoas vão
visitar-nos e dizem: “mas está muito bem!” É o choque: naquele período a pessoa
está muito bem, mas à medida que os dias passam e o sistema nervoso relaxa, a
pessoa começa a digerir o drama e faz o processo de angústia. A depressão hoje
mata mais, no mundo, do que o câncer, a AIDS e a tuberculose juntos. Só perde
para as doenças cardiovasculares. Então é a segunda maior estatística de óbito
na terra, a que decorre da depressão. Teólogos, sociólogos, psicólogos,
perguntam por quê. E então se assevera que deve ser resultado do stress, da
ansiedade. Será? Até onde possamos recuar a depressão sempre esteve presente na
história da humanidade, somente que era chamada “melancolia”.
A
melancolia foi detectada pela primeira vez quatrocentos anos antes de Cristo,
pelo pai da medicina grega, Hipócrates. Ele percebeu entre os seus pacientes,
aqueles que eram tomados de melancolia, uma tristeza profunda e inexplicável e
estabeleceu que a criatura humana, periodicamente, entra num estado melancólico.
Duzentos anos depois, outro pai da medicina grega, Galeno, estabeleceu que a
nossa saúde é resultado de quatro fatores que se conjugam para o nosso
bem-estar. Ele dizia que esses quatro fatores são os “humores”. Esses quatro
humores estabelecem o nosso bem ou o nosso mal-estar. Esses humores são: a bílis
negra, a bílis amarela, o sangue e a fleuma. Quando há uma harmonia desses
quatro elementos em nosso organismo, nós estamos bem. Quando qualquer um deles
descompensa, nós entramos em transtorno de saúde: tanto pode ser orgânica, como
pode ser psicológica, como pode ser psiquiátrica. Para Galeno, a bílis negra era
a responsável pela maioria das nossas doenças, principalmente quando ela era
excessiva. Em realidade, não se sabe em que ele fundamentava essa tese. Então
ele recomendava, como terapia, as sangrias: a pessoa eliminava a bílis negra;
também, ele recomendava laxantes e vomitórios. E era uma medicina bárbara,
porquanto as pessoas morriam desidratadas. Não se conhecia ainda na época a
hidratação das nossas células. As nossas células ficam em um banho de água
salgada que se renova incessantemente enquanto elas se dividem: uma morre, outra
sobrevive, no fenômeno que é chamado de cissiparidade ou mitose celular.
Afirmava, então, Galeno, que o excesso de bílis negra era responsável pelos
transtornos em geral. A melancolia era considerada pelos gregos como uma dádiva
ou castigo dos deuses. Era uma dádiva, quando a pessoa entrava em melancolia e
fiava inspirada e vamos ter a oportunidade de ouvir Aristóteles dizer que
Sócrates e Platão entravam em melancolia quando os deuses conversavam com eles.
Ao mesmo tempo a tradição grega assevera que a melancolia era um castigo que os
deuses infligiam às pessoas rebeldes, mal educadas e que precisavam ser
disciplinadas. Era portanto um conceito genérico. Se nós formos à bíblia vamos
encontrar a melancolia de uma maneira surpreendente no rei Saú: periodicamente o
rei Saú entrava em melancolia e de repente ficava exaltado. Nós iremos ver o que
acontecia: nesse período ele era tomado por forças ignotas e só se acalmava
quando Davi cantava os Salmos.
Os
Salmos são a primeira músico-terapia que a humanidade tem notícia. Mas na Índia
nós vamos ver acerca desse fenômeno num de seus livros sagrados o Bhagavad-Gita
que é uma das bíblias da Índia. Lá Krishna, o deus ou mestre, dialoga com um seu
discípulo e diz a ele que ele é um príncipe pândava, nobre e, portanto, ele tem
inimigos terríveis que são os kurus que devem ser combatidos com toda rudeza
porque os pândavas necessitam de sobreviver para realizarem a sua tarefa. E o
jovem pergunta: “mas quem são esses inimigos?” “Teus irmãos, teus tios, teus
avós, teus primos, teus cunhados e necessitas de mata-los!” “Mas como, matar os
meus familiares?” “Sim, porque eles são muitos, enquanto que os pândavas são
poucos”. “Mas como eu poderei fazer isto?” “Terás que os matar antes que eles te
matem”. “Mas aonde eu irei estabelecer esta guerra?” “Na consciência. A
consciência é o campo de batalha porque os kurus são os vícios, os pândavas são
as virtudes. Virtudes e vícios são familiares, eles vêm do mesmo tronco:
hábitos. Quem não tem bons hábitos, tem maus hábitos”. O que é educar? Educar,
do latim educeren, é arrancar de dentro hábitos saudáveis que nós consideramos,
que são os hábitos socialmente aceitos. Então, quando o jovem soube que teria
que lutar contra as suas imperfeições, entrou em grande tristeza e ficou
melancólico.
A
melancolia avança e no século segundo antes de Cristo ela passou a ser conhecida
como ascídia ou ascedia. A ascídia era tão cruel que dizimava cidades! Cidades
inteiras entravam em ascidia, como se fosse uma epidemia e as autoridades não
sabiam como agir. Merece considerar que o século segundo é o século em que o
cristianismo está espalhando-se no norte da África, na Ásia e está começando a
instalar-se em Roma.
Logo
depois, vem a idade-média, a grande noite medieval. E, na noite medieval, onde a
ignorância predominava e as pessoas eram castradas psicologicamente, é óbvio que
a ascídia tomasse conta da cultura. Nós vemos a arquitetura medieval: barroca,
pesada, paredes grossíssimas, falta de luz, asfixia. Era cultural, era
depressivo. Os conventos úmidos, fechados, a vida religiosa de martírio, de
punição, de flagelo: consciência de culpa, melancolia. E, no século XII, a
ascídia foi tão numerosa que a Igreja Católica denominou como pecado capital e
condenava ao inferno e à fogueira, aqueles que entravam em estado de melancolia.
Porque, era como se uma força demoníaca, dizia a Igreja, tomasse conta dos
cristãos, padres, freiras, monges para não trabalharem, uma preguiça... Eles
ignoravam o mecanismo da depressão.
A
partir da renascença italiana esse estado mórbido começa a desaparecer através
da arte. Mas, os artistas não puderam viver plenamente porque os seus estados
mentais, emocionais e pessoais eram melancólicos.
Se
nós olharmos a obra de Shakespeare, Hamlet é o vulto depressivo clássico: sempre
vestido de negro, do alto do seu castelo na Dinamarca, ele olha os prados
imensos e interroga: “que é a vida? Morrer, dormir, sonhar, talvez amar.” E com
uma caveira na mão ele pergunta: “ser ou não ser?” É o retrato do próprio
Shakespeare, que era um melancólico. Na obra Lady Macbeth, depois que ela mata o
seu marido, o rei, ela começa ater delírios de melancolia. Ela tem a sensação
que suas mãos estão sujas de sangue e começa a lavá-las. É a segunda vez na
história, que nós vamos encontrar um problema, chamado modernamente de TOC,
Transtorno Obsessivo Compulsivo: a pessoa, na mente, tem uma ideia de algo que
existe mas só está na sua imaginação. Tem medo de micróbios, como determinado
artista pop que anda de máscara: ele não é excêntrico; é portador de transtorno
obsessivo compulsivo. Pessoas que não apertam a mão de ninguém, para não pegarem
doenças; tomam vinte banhos num dia e depois passam álcool. Eu tenho uma
paciente que tomava o banho durante três horas para livrar-se do contágio. A
roupa era esterilizada numa autoclave cirúrgica e ela a pegava com luvas, não
tocava em ninguém, não encostava em lugar nenhum. Há uma personagem célebre,
Howard Hugues, que foi um grande diretor cinematográfico. Ele alugou na Costa
Rica e, mais tarde, num outro país da América Central, todo um andar, mandou
assepsiar, para ficar ali dentro para não se contaminar e morreu em putrefação
total. São paradoxos, são transtornos obsessivos compulsivos. O primeiro da
história é Pilatus: depois que ele lavou as mãos, simbolicamente a respeito do
destino de Jesus, ele ficou com a psicose. Toda hora ele lavava as mãos. E
quando ele caiu em desgraça e viajou para Roma, foi mandado por Tibério para o
exílio na Suíça e suicidou-se atirando-se sobre um vulcão extinto pois todo
aquele que tem o transtorno obsessivo compulsivo está a um passo do suicídio, e
nós veremos porque.
É
nesse período de turbulência que nós vamos notar escritores, artistas, poetas
com profundos transtornos melancólicos.
É
no fim do século XVII, começo do século XVIII, que aparece pela primeira vez na
história da medicina a palavra “depressão” em língua inglesa. Nós vamos ver o
que a depressão fez com a nossa sociedade.
Leon
Tolstoy, o grande escritor russo, era depressivo clássico. Fredericque Chopin
era também um depressivo clássico. Rembrandt, suas telas são caracterizadas
pelas cores fortes, escuras; ele é o mais notável pintor do claro-escuro, o seu
estado interior. A Ronda Noturna, que está aqui bem próximo, caracteriza muito o
seu conflito íntimo, profundo, a sua visão de mundo, embora ele seja o maior
gênio desse gênero de pintura da humanidade.
Mas
nós, temos nos dias modernos, o célebre poema “O Corvo” : a história de um
corvo, por um grande escritor e poeta norte-americano, que é o protótipo da
depressão total. E vamos encontrar no Teatro, momentos de depressão,
principalmente no teatro Tcheco-eslovaco, com personalidades, hoje, fantásticas
da arte teatral, portadoras de depressão. Mas, porque?
A
Ciência até o século XVII ignorava totalmente a função do cérebro e afirmava que
o cérebro não tinha qualquer função: era uma massa que ornamentava a cabeça...
Afirmava-se, por exemplo, que as pessoas amam com o coração e pensam com o
fígado. Até hoje, quando damos uma declaração dizemos “eu te amo com todo meu
coração” e ainda botamos a mão para apoiar o coração. É muito comum os grandes
pensadores do passado estarem sempre com a mão no fígado: estavam pensando...
Hoje, nós pensamos com a mão na cabeça, mas é devido à evolução da ciência. Às
vezes, quando eu vejo um cientista presunçoso, que ataca tudo o que ignora,
mesmo o Espiritismo e falam o nome da Ciência com a boca cheia, eu rio para ele,
bem calmo e digo assim: “mas qual ciência?”
A
Ciência começou da estupidez humana. Pasteur descobriu os micróbios por acaso,
por causa de uma lamparina. As vacinas foram descobertas por acaso. Se descobriu
que nós falávamos no cérebro e não na garganta, por acaso. Então, qual é a
ciência?
A
Ciência é o resultado de fatos que se confirmaram e estabeleceram paradigmas. A
Ciência tem seus paradigmas: é científico tudo aquilo que pode ser repetido e
dar o mesmo resultado. É um paradigma científico, resultado da observação.
A
doutrina espírita é uma ciência de observação. Não é uma ciência acadêmica,
porque o espírito vem quando quer, se quiser e diz o que lhe aprouver porque ele
não é uma “forma-massa”; ele é uma “forma-pensamento”. Ninguém pode obrigar o
pensamento a agir quando nós queremos. Se alguém, por exemplo, na Mansão do
Caminho disser “eu quero falar com o Divaldo agora” isso é uma impossibilidade,
mesmo que se use um telefone celular, porque eu não posso atender agora. No
mundo espiritual também existem leis. Não é pelo fato de alguém estar
desencarnado que podemos dizer: “venha cá!”. A doutrina espírita é uma ciência e
tem os seus paradigmas que são diferentes dos paradigmas de laboratório. Se eu
misturar oxigênio com hidrogênio eu terei água sempre. Se eu misturar esta com
aquela substância eu terei uma terceira substância. Mas no espiritismo eu não
posso misturar uma comunicação com outra, para tirar um terceiro exemplo porque
se trata de personalidades diferentes, com seus caprichos e com sua
individualidade. Quando cientistas me perguntam “qual são as provas que o
espiritismo dá?” eu digo: “as mesmas que a ciência dá!” Por exemplo, na área da
psicologia, qual é a prova psicológica que se tem para mostrar que uma pessoa é
uma histérica, uma psicótica, uma neurótica ou uma esquizofrênica? Não há prova
nenhuma! Há possibilidades que são claro-escuro. O neurótico pode ser psicótico,
mas nem todo psicótico é neurótico. O esquizofrênico é um psicótico profundo,
mas pode não ser depressivo. O autista perde toda a mobilidade, pode entrar no
estado de catatonia, ficar paralisado e pode estar pensando perfeitamente bem,
apenas não se comunica. Portanto os parâmetros são todos por aproximação. Não
existe um parâmetro definitivo, razão pela qual o mesmo medicamento que se dá a
dois esquizofrênicos pode resultar muito bem num e em outro, não. Pode até ser
que um outro piore, usando o mesmo medicamento. Daí, quando falamos sobre
ciência e vem as pessoas presunçosas querendo subestimar o espiritismo na nossa
face, eu tenho duas atitudes: ou me afasto ou defendo o espiritismo. Se for uma
pessoa sem autoridade no assunto, eu saio; primeiro, é falta de educação falar
mal de qualquer coisa na frente de outro que esposa aquela idéia e então saio
discretamente porque já sei que a pessoa não tem respeito ou, defendo com a
pergunta: “o que você já leu de espiritismo?” A ciência espírita é parte da
chamada ciência psicológica.
Na
ciência psicológica no final do século XVII, os cientistas descobriram que o
nosso cérebro era também constituído de células. Eles conseguiram conceber que
nós possuíamos uma célula muito especial à qual eles deram o nome de neurônio,
uma célula diferente das outras porque tem uma cauda chamada axônio. Os axônios
entrelaçavam-se e descobriu-se depois que eles eram responsáveis pelas nossas
ideias, pelos nossos movimentos, pelo nosso bom-humor, pelo nosso mau-humor,
pela nossa alegria de viver, pelo nosso afeto porque os axônios produzem certas
substâncias e se comunicam. Quando, por exemplo, eu olho para alguém e quero me
lembrar do nome, milhões de neurônios se comunicam para eu chegar ao resultado.
Quando eu vou dizer uma palavra, milhões de neurônios mandam as mensagens aos
arquivos da memória que liberam a palavra que eu quero. Agora, imaginem que
maravilha, nós pensarmos em tantas palavras de vez e os neurônios dando-nos as
palavras que nós precisamos. De vez em quando, vamos dizer uma palavra e ela não
vem: o neurônio não conseguiu conectar. Mais tarde, é feita a conexão e nós
temos a palavra e achamos isso uma maravilha. Graças à nossa cabeça. A maravilha
está dentro desse dínamo que é a máquina computadorizada mais extraordinária que
a mente humana jamais contemplou.
Foi
mais ou menos no fim do século XIX que, pela primeira vez, se pode estudar a
depressão com mais seriedade, porque até então ela estava envolta em mitos, em
tabus e se estudou que a depressão era resultado de dois tipos de fatores:
internos e externos. Como fatores internos, que a ciência chama de endógenos, a
hereditariedade, as doenças infecto-contagiosas. A ciência estabeleceu que toda
pessoa que descende de alguém depressivo tem 30% de possibilidade de ser
depressivo também; se ambos os pais são depressivos os filhos tem 75% de
possibilidade de serem depressivos também. Anteriormente, falando da Dra. Dana
Zohar, nos referimos ao fato de que sua mãe era depressiva, seu pai era
alcoólatra, ela teve um surto depressivo e tombou no alcoolismo. As nossas
células estão impregnadas da tendência para o problema de natureza depressiva.
Porque é importante saber disso? Porque se qualquer um de nós consegue saber que
seu pai ou sua mãe foram depressivos, pode fazer um tratamento preventivo porque
vai ter possibilidade de depressão: uma contrariedade, uma perda, etc. Portanto
se pode constatar que existem fatores internos e externos. Os externos são:
psico-sociais, socioeconômicos, afetivos.
No
ano de 1900 Freud terá ocasião de dizer que toda vez que nós sofremos uma perda
nós temos uma depressão. A perda do emprego, a perda de uma viagem, a perda de
um relacionamento, a perda de alguém que morre. Eu não gosto do verbo “perder”
quando morre alguém. É muito comum nós dizermos: “eu perdi meu filho, eu perdi
meu marido, eu perdi minha mãe”. E, quando falam comigo, eu digo: “e aonde
perdeu?” “Não, não, morreu!” “Ah, sim! Morrer é outra coisa!” Morrer,
desencarnar, falecer: o nosso inconsciente tem tanto horror à morte que a gente
diz assim: “ai, eu perdi meu pai!”, como quem perde chave, chapéu, sapato. Gente
nós não perdemos: gente morre. Vamos aplicar o verbo morrer, acostumar com a
ideia, porque torna a máscara menor. Se nós mascaramos a verdade, estamos sempre
fugindo e a verdade atrás da gente, até a hora em que a gente é obrigado a
enfrentar, não tem resistência e deprime, entra no transtorno depressivo. Em
resumo, a partir dessas observações, se pode saber que a depressão tem dois
tipos de fatores: endógenos ou internos (hereditariedade, as doenças
infecto-contagiosas, as sequelas) e os exógenos ou externos (a perda de emprego,
dificuldades financeiras, dificuldades afetivas, solidão, ansiedade). Há também
os conflitos pessoais, conflitos de raça, de posição social. Há pessoas que
sentem a infelicidade porque não estão no topo. Mas ninguém chega ao topo; só os
reis, até serem assassinados ou morrerem: outros tomam o lugar. Nós temos uma
visão distorcida do que é o triunfo e achamos que o triunfo é ter muito
dinheiro, ser o novo Bill Gates, ou quem quer que seja, mas a gente não quer
pagar o preço que eles pagaram e ter os conflitos que eles têm. Importante não é
“ter”, é “ser”. Não é “ter mais”, mas “ser mais”. Toda vez que a gente tem mais,
quer mais e quanto mais tem, mais tem medo de perder.
Por
volta de 1900, um outro cientista, Emil Kraeppeling, teve oportunidade de fazer
uma análise mais profunda da depressão. Ele descobriu, por exemplo, que a
depressão apresenta-se sob dois aspectos que podem levar o indivíduo ao
suicídio, que é a tragédia da depressão: a depressão “unipolar” que é a
tristeza, a melancolia, o desinteresse pela vida, a pessoa não sai da cama, não
toma banho, não cuida da aparência, não tem forças e a depressão “bi-polar”: sai
desse estado e se acha um ser formidável, começa a ouvir vozes, a ter visões, a
se achar Jesus Cristo, Napoleão Bonaparte, o Homem América, o Homem Aranha. Eu
conheci em Hamburg, há três anos, um jovem que foi me ouvir numa cadeira de
rodas, entubado, acompanhado por dois enfermeiros. A palestra foi na
universidade de Hamburg e me pediram para falar sobre depressão. Quando
terminei, fui conversar com o jovem e com muita dificuldade (ele usava um
aparelho especial na traquéia para poder falar) ele me disse que era um
depressivo bi-polar. Ele saía da tristeza e um dia ele sentiu que era o
Homem-de-Aço, o Superman. Correu para a estação ferroviária de Hamburg e quando
vinha um trem, ele pulou nos trilhos para segurar o trem. Ele foi jogado a uma
longa distância, se arrebentou todo e continuou depressivo pois o problema é no
cérebro. Não teve nenhuma lesão cerebral. Eu conversei muito com ele, expliquei
a tese espírita, dei alguns exercícios mentais para ele sair da depressão. No
ano seguinte ele voltou e no ano passado ele esteve na conferência, já sem estar
entubado. Soube há poucos dias que ele havia desencarnado.
A
ciência continua evoluindo. Em 1940 se descobriu que nós tínhamos 5 bilhões de
neurônios e que eles são muito particulares: são as únicas células que quando
morrem não se repetem. As nossas células duram uma média de 30 dias, morrem e
outra vem no lugar. Quando nós chegamos aqui nós tínhamos um corpo que já não é
o mesmo porque em cada segundo de nossa vida morrem 30 milhões de glóbulos
vermelhos em nossa corrente sanguínea. Imaginem em 24 horas, quantos morrem! Mas
outros vão sendo processados e substituem. Em cada 15 minutos de nossa vida nós
perdemos uma décima parte de nosso corpo e uma décima parte é recolocada. Um
homem de setenta anos já teve 10 corpos e não notou! Diariamente morrem 15 mil
neurônios. Olhe bem: a gente quando nasce, já nasce com todos eles e já começam
a morrer desde a hora que nascem, que máquina extraordinária! Se dizia então,
que uma pessoa de 40 anos era velha. Os homens de 40 anos botavam boné,
arrastavam os pés e ficavam jogando dama, paciência, gamão; as mulheres depois
da menopausa ficavam fazendo tricô, crochê e a vida alheia porque já estavam
“velhos”, não tinham mais a capacidade de pensar. Mas, era um conceito falso:
como nós somos vítimas de sugestão! Por volta dos anos 50, graças ao advento dos
microscópios eletrônicos, a ciência neurológica começou a dizer que nós
possuíamos 50 bilhões de neurônios e por mais que morram, se a nossa mente for
ativa (detalhe importante), as caudas dos neurônios sobreviventes multiplicam-se
em ramos (dendrites) e substituem os que morrem. Se estabeleceu então que a
idade mental passou a ser a idade de 55 anos. Os neurônios que morrem não fazem
falta. A partir dos anos 70 a ciência evoluiu tanto que conseguiu dizer que nós
temos 75 bilhões de neurônios, aproximadamente, só que, não usamos! Muita gente
é preguiçosa, não usa a cabeça! Se eu não usar meus músculos, eles ficam
flácidos; se eu não falar, esqueço as palavras, se eu não usar a cabeça, os
neurônios vão morrendo e os sobreviventes não passam as mensagens. A ciência
acreditava que essas mensagens eram elétricas, mas quando se fizeram as
primeiras cirurgias cerebrais a partir dos anos 40 se constatou que são
eletroquímicas: substâncias químicas que são emitidas eletricamente pelos
neurônios. E nos anos 90 tínhamos 100 bilhões de neurônios; a ciência evoluiu
dessa forma e os neurônios passaram a ser de relevante importância para as
nossas reflexões.
Os
neuropsiquiatras descobriram que os nossos neurônios, além dessa função
eletroquímica, produzem substâncias especiais que passaram a ser chamadas
neuro-peptídeos, produzidas em doses infimamente pequenas, mas que respondem
pela nossa harmonia. Cada neurônio secreta algumas dessas doses específicas.
Nós
temos duas partes posteriores no cérebro que produzem duas substâncias: a
serotonina e a noradrenalina. Quando, por qualquer motivo, deixam de ser
produzidas, nós entramos em depressão. A depressão é um fenômeno fisiológico: a
falta dessas substâncias no nosso organismo que pode ser causada por
hereditariedade, determinadas doenças como câncer, lepra, AIDS, enfermidades
infecciosas em geral e também fatores externos como um choque, a ansiedade, o
stress, uma inconformação; nós gastamos tanto o sistema nervoso a produção de
serotonina e noradrenalina diminui ou cessa e nós entramos em torpor, no
desinteresse. Perdemos o amor pelas pessoas. A depressão é chamada: transtorno
da afetividade; a pessoa não tem compaixão, não tem entusiasmo, não tem amor. A
mãe mais devotada olha para o filho como se fosse uma peca de mobília, não tem
sentimentos, porque os sentimentos são estimulados pelas substâncias
orgânicas.
Até
agora se descobriu que nós temos 64 dessas substâncias. Por exemplo, a dopamina,
é responsável pelo equilíbrio. O Papa, por exemplo, tem distúrbio de Parkinson:
os músculos vão se ressentindo da falta de dopamina. Descobriu-se recentemente
que o mamão tem muita dopamina e que ajuda no tratamento de algumas doenças.
Quanto
ao Alzheimer temos a ação de duas outras substâncias. Se vai perdendo a memória
e volta à infância. Perde-se totalmente o contato com a vida. Era doença de
velhice; agora, não mais. Porque os fatores emocionais são tantos que nós
ficamos desajustados, gastamos as substâncias e o organismo não repõe. Mas, por
misericórdia de Deus, a ciência médica evoluiu tanto que a farmacologia
conseguiu sintetizar substâncias químicas que vem substituir as em nosso
organismo, se tomadas com a orientação do psiquiatra.
Invariavelmente,
quando falamos em psiquiatra, as pessoas reagem. Nós temos horror a psiquiatra,
principalmente os latino-americanos. Mas temos que procura-los porque esses
distúrbios nós não notamos; as manias, nós não notamos e a família também não
nota de início; só quando acontece um surto. Se houver um golpe, notamos mas, em
geral vamos ficando maníacos vagarosamente: essas manias são transtornos
neuróticos.
Hoje
temos produtos médicos extraordinários para a depressão. O prozac, por exemplo,
com orientação medica, envolve os neurônios que não conseguem mais produzir a
serotonina e torna possível de novo a comunicação entre os neurônios até o
organismo se estimular e começar a produzir de novo. A depressão pode ser
perfeitamente controlada se nós procurarmos recursos técnicos, o psicólogo, o
psiquiatra, dependendo do fator que desencadeou a nossa depressão.
A
Organização Mundial de Saúde acredita que a depressão de tal forma vai tomar
conta da Terra que, se não estivermos vigilantes, construiremos uma sociedade
amorfa, indiferente, o que já está acontecendo: a gente vê uma pessoa sendo
assaltada e diz “não tenho nada com isso”;vê uma coisa errada e diz “não vou
tocar para não ter problema”. Estamos ficando amorfos. Daí vamos perdendo
contato com a vida e entramos num processo de depressão profunda.
Tecnicamente,
à luz da psicologia e da psiquiatria, a depressão, de uma forma muito suave, é
isto que nós acabamos de narrar.
Nós
fizemos uma análise da depressão sob o ponto de vista psiquiátrico. É claro que
usamos uma linguagem popular, acessível, somente para dar uma ideia dos riscos
que nós todos estamos enfrentando.
Vamos
fazer agora uma análise à luz da Doutrina Espírita.
Segundo
a Doutrina Espírita nós somos semeadores e colhedores. De acordo com a
sementeira é a nossa colheita. Os Indianos, os Exoteristas, os Teosofistas, os
Rosacrucialistas e outros, chamam a isto de “carma”, estabelecendo que o carma é
o resultado inevitável dos nossos atos. “Carma” é uma palavra sânscrita que
significa “o retorno”, como uma roda: volta ao ponto de origem.
Allan
Kardec foi muito prudente quando não usou em toda a Doutrina Espírita a palavra
“carma”, porque segundo a lei do carma, o mal que nós fazemos nós pagamos pelo
sofrimento. Na Índia, em vários países budistas e hinduístas, se pode acompanhar
de perto a experiência cármica: se alguém é portador de lepra, a gente não ajuda
porque ele está “queimando” o seu carma, ele está ali resgatando; se a pessoa
tem uma problemática de cegueira, paralisia, uma enfermidade qualquer
deformadora, se deve deixar a pessoa sofrer; ajudar moralmente, dar conforto
mas, ela tem que “carregar” o seu carma.
O
Espiritismo vem diretamente do Cristianismo, que por sua vez, veio do
Judaísmo.
No
Judaísmo, a figura preponderante é Moisés que estabeleceu como fundamental para
a felicidade humana, o Decálogo, que ele teria recebido como inspiração (e não
como tábuas ou pedras) no monte Sinai. São consideradas as dez leis mais
perfeitas da humanidade. Antes de Moises havia códigos: códigos de ética,
códigos de equilíbrio, o código dos Sumérios, que era muito importante. Havia
também um código muito celebre, com seiscentos itens, escrito em um pedaço de
pedra, que era o “código de Hamurabi”. Esses códigos estabeleciam aquilo que
mais tarde nós chamaríamos de as leis civis, as leis sociais, as leis
religiosas. Moises havia encontrado no código de Hamurabi a lei chamada “de
Talião”. A Lei de Talião, como o próprio nome diz, significa “tal e qual”.
Equivale dizer: olho por olho, dente por dente; se alguém me pisou no pé, eu
tenho que lhe pisar no pé; se me cegou, eu tenho que o cegar. Era a chamada “Lei
Antiga”. Quando Moises trouxe os hebreus do Egito, ele teve compaixão das
criaturas comprometidas e recebeu no Sinai a Lei de Deus: o amor acima de todas
as coisas, substituindo a Lei de Talião. Então ele estabelece uma lei mais
justa, mais equânime, porém uma lei muito dura. Pois o povo era muito duro,
muito primitivo. Um povo que ficou na escravidão quatrocentos anos perdeu o
brio, perdeu a dignidade, perdeu a auto-estima. Vivia de fazer tijolo com palha
e lama; usavam o sexo como animal e nada mais.
Mas
o judeu, o hebreu em geral, é um povo de fibra muito forte e conseguiu manter as
suas tradições o que manteve o povo mais ou menos unificado. Quando Moises
propõe ao faraó libertar esse povo e levar à Terra de Canaã, que ninguém sabia
aonde era, ele se dá conta de que aquelas pessoas eram tão viciadas, ou tão
cômodas que não tinham metas. Moises teve necessidade de construir um povo
forte. A Bíblia diz que ele ficou vagando no deserto por quarenta anos. Ora bem:
do Egito, atravessando o Mar Vermelho até a Terra de Canaã, a atual Palestina,
se pode chegar a pé ou de camelo, em dois meses. Ele demorou quarenta anos
vagando no deserto. Para que? Para que morressem os velhos, os viciados, os
maníacos e pudesse formar um povo forte, dentro da lei do Decálogo. Moises
estabelece então a necessidade de uma lei de justiça e começa a escrever o
chamado Pentateuco, os cinco livros básicos da Bíblia: a Gênese, os Números,
etc, que são a historia do povo hebreu; não temos nada com isso. Como o povo
hebreu era o povo da revelação espiritual, essa revelação nos interessa por
causa da mediunidade: os profetas de ontem, são os médiuns de hoje, como diz
Allan Kardec.
Portanto,
na Bíblia, o que nos interessa não é que tal rei matou aquele outro, que este
venceu aquele. Não! Isso é a historia do povo hebreu. É o mesmo que, em razão do
espiritismo no Brasil ser muito próspero, querer implantar a historia do Brasil,
no mundo. Isso é um equívoco! O Velho Testamento é a historia de um povo
buscando a sua identidade. Como nessa historia existem muitos fenômenos
mediúnicos (Elias que vai se reencarnar como João Batista, Joel, Malaquias e
outros), isso nos interessa sob o ponto de vista mediúnico. E como Moises foi um
grande legislador, interessa-nos a lei que ele apresentou e que é uma lei
extraordinária.
Infelizmente,
as religiões que se derivaram do cristianismo adulteraram a lei de Moises e não
a traduziram corretamente. Todos nós sabemos: o primeiro mandamento da Lei de
Deus: “amar a Deus acima de todas as coisas”. Foi o que todos nós aprendemos no
catecismo. Mas não é isto que está no texto!
No
texto está o seguinte: “amarás ao teu Deus, senhor de todas as coisas, acima de
todos os interesses, porque eu sou o senhor teu Deus que te tirou do Egito, da
casa da escravidão. Diante de Mim não terás outros deuses, nem do que está acima
nos céus, nem do que está abaixo, nem nas águas. Porque Eu sou o Deus generoso
que ama até a centésima geração e que pune a partir da terceira geração”. Isso é
de uma importância impressionante: a partir da terceira geração. Este é o
mandamento!
O
que fizeram as religiões? Amputaram o texto: amarás a Deus acima de todas as
coisas. E introduziram os santos: do que está na terra, do que está nos céus, do
que está nas águas: nasceram as chamadas linhas anímicas que são as
interpretações anímicas para aquilo que outras religiões haviam estabelecido
como seus deuses na mitologia de todos os povos.
Mas,
então, porque a terceira geração? Vejamos:
Eu
tenho um filho e sou uma pessoa má, cometo atos ignóbeis. A Divindade me alcança
porque eu reencarno como meu neto. Na terceira geração eu sou neto de mim mesmo.
Então a Lei me pega quando eu sou neto; não pode me pegar na segunda geração
porque eu não posso ser meu filho reencarnado. Portanto, Moises já prega a
reencarnação: está no Evangelho Segundo o Espiritismo quando Allan Kardec estuda
o Primeiro Mandamento, a Lei de Amor.
O
nosso vínculo com Moises é a Lei porque ele anulou a Lei de Talião. Não é mais a
Lei de Talião, mas a Lei do Amor, porém um amor duro: essa mulher pecou, é
apedrejada até a morte! E o homem que pecou? Não é apedrejado! O homem era o rei
da Criação. É outro erro bíblico. A Bíblia é machista. Absolutamente machista:
Deus é homem; o primeiro ser criado é homem; Adão teve três filhos homens; mais
tarde os protestantes emendaram e colocaram que ele também teve filhas, mas no
original não tem; toda a tradição bíblica é masculina. Jesus é homem, os
apóstolos foram homens. Daí nós temos até hoje um preconceito contra a mulher.
Esse preconceito nasceu na Bíblia hebréia, porque na Índia, por exemplo, não foi
assim. Na Índia Deus é Pater-Mater: Krishna aparece voltado para dois lados, as
duas polaridades Ying e Yang que juntas formam o Tao, a Perfeição, mas isso é um
outro estudo...
Moises
nos lega portanto esse patrimônio. Quando vem Jesus, ele então declara: eu não
vim combater a Lei (porque a Lei continua válida: quem fez o mal tem que pagar);
eu vim completar a Lei com o Amor: o Amor cobre a multidão dos pecados. É de uma
beleza incomparável! Antes de Jesus, Budha havia dito: o sândalo perfuma o
machado que o corta; se o cavalo pisa na violeta, a pata fica perfumada; é o
mesmo que dizer que nós temos que retribuir todo o mal com o bem, dando
seguimento ao pensamento de Buda, ao pensamento de Sócrates, ao pensamento de
Platão trezentos anos antes dele. Platão disse: se não houver vida depois da
vida, bom negócio fazem os maus! Porque fazem o mal e acabou! Para a falta de
sorte deles, a vida continua depois da morte e cada um será o que é. Quando se
viaja de um país para outro, se muda de hábitos, horários, idioma, moedas mas,
se continua a mesma pessoa. A morte, para nós, é um passaporte. O documento que
apresentamos para entrar na espiritualidade é a morte biológica. Esse passaporte
nos dá acesso ao que nós somos: continuaremos sendo o que nós somos.
Jesus
veio então nos dar a Lei de Amor: o amor apaga o pecado. O bem que se faz anula
o mal que se fez. Se uma pessoa vem a mim e eu a mato, me torno um devedor; mas
se vejo uma outra pessoa em apuros e salvo-lhe a vida, anulo assim a minha
dívida porque eu não devo à pessoa e sim à Lei. Se alguém matar aqui uma pessoa,
não é a vítima que vai encarcerar o assassino mas sim a justiça do país porque
houve uma transgressão do código civil. Nós não nos devemos uns aos outros: nós
devemos à Lei. Se a minha vítima me perdoar, ótimo para ela porque ela fica em
paz; se ela não me perdoar, pior para ela porque ficará perturbada. O bem que eu
fiz já anulou a minha dívida; mesmo que a vítima queira me perseguir, ela não
vai encontrar sintonia, porque eu já estou em outra faixa. Quando eu descubro
que fiz um grande mal, eu vou à vítima e peço perdão; ela tem o dever de me
perdoar porque eu também tenho o direito de errar. Eu não tenho o direito de
ficar no erro. Cabe-nos perdoar sempre, até as coisas que não mereçam perdão. A
psicologia do perdão diz: se você não é capaz de perdoar, pelo menos, desculpe;
dê ao outro o direito de ele ser assim: o que posso fazer com um psicopata? Ele
é um psicopata e pode me agredir a qualquer momento. Se eu o agredir de volta,
sou pior que ele porque ele está doente e eu não; eu tenho o discernimento. A
lei de amor é esta: quem faz o mal está doente. A terapia a usar é a
compaixão.
Allan
Kardec usou em lugar da palavra “carma” a “Lei de Causa e Efeito” estabelecendo
que esta é a lei do universo porque todo efeito provém de uma causa e todo
efeito inteligente provém de uma causa inteligente.
Se
eu jogo uma pedra para cima, ela vai invariavelmente cair; se eu ficar embaixo
ela vai arrebentar a minha cabeça. É o fenômeno do efeito. Não foi Deus que me
castigou: foi o efeito do meu próprio ato. Portanto que cada um faça a sua parte
e a vida completará as suas lições.
Essa
Lei de Causa e Efeito está sincronizada no amor. Toda vez que nós amarmos nós
estamos nos depurando. Se eu fizer mal a uma pessoa, não é necessário que ela me
faça mal; alguém me fará ou posso ter um acidente: estou resgatando o mal que
fiz. O importante não é o fato de se ter inimigos; é não ser inimigo! Quando
outras pessoas são minhas inimigas o problema é delas; quando eu me torno
inimigo o problema é meu. A beleza do Espiritismo está nesta Lei de Causa e
Efeito que é um convite à nossa contínua transformação moral.
Todos
nós temos o direito de errar, mas não temos permissão de continuar no erro.
A
Doutrina Espírita é a doutrina do perdão, da mansidão, da caridade, do amor. E
graças a essa Lei de Causa e Efeito, o depressivo o é porque ele tem dívidas
perante a Consciência Cósmica e essa dívida ele transforma num transtorno de
natureza neuronial. Imaginemos que alguém é um caluniador, um adúltero, um
traidor e ninguém alem da própria pessoa saiba. Nós somos semeadores. Se eu
pratiquei o mal eu sei disso, daí eu construo uma consciência de culpa que vai
me levar a uma reencarnação de resgate e então eu não vou reencarnar na família
que eu mereço mas, na família que eu preciso. Existe uma mensagem de Emmanuel
(espírito) que diz: tu nasceste não no lar que mereces mas, no lar que
escolheste.
A
consciência de culpa vai me levar a reencarnar de um homem e de uma mulher que
tenham espermatozóides e óvulos degenerados para eu nascer com uma
hereditariedade. Vamos dizer que agora aos trinta anos alguém é um caluniador,
morre aos cinquenta e reencarna. Quando chegar aos trinta, terá depressão porque
a sua consciência vai trabalhar no óvulo e nos espermatozóides e eles vão
imprimir um cérebro cujos neurônios aos trinta anos vão começar a parar de
trabalhar: a Lei de Causa e a Lei de Efeito. A reencarnação modela o corpo, a
depressão é um transtorno fisiológico, mas o espírito é o autor do corpo que
usa. Começa então um transtorno depressivo por um fenômeno reencarnatório. Ou
por fatores sociais: pode-se nascer com um corpo ótimo, mas vai-se morar num
país miserável. Ou pode-se ter que morar num país difícil, onde não se consiga
emprego, onde se sofra discriminação racial, ou discriminação política,
discriminação religiosa e com o sofrimento se entra em depressão. Ou ainda, como
consequência do desamor semeado, pode-se nascer sem afetividade. A Lei de Causa
e Efeito é responsável por todo e qualquer tipo de problema na nossa vida:
situação financeira, dificuldade social, problemas mentais, QI, QE, QS. Quando
se diz “não consigo aprender, tenho dificuldade”, isso é um problema cármico.
Desistir, nunca! Estamos na Terra para aprender! Qualquer distúrbio na
inteligência, na emoção, na evolução, são resultados de carmas. Nós programamos
a nossa vida. Problemas de saúde, distúrbios orgânicos, são nossos carmas.
A
Divindade é tão misericordiosa que além dos cinco sentidos que nos deu para o
contato com a vida, deu-nos também o sentido paranormal, o sentido parafísico
como chamava o Professor Richet que denominou este sentido como “sexto sentido”,
a percepção extra-física que nós temos. Allan Kardec chamou de
“mediunidade”.
No
Livro dos Médiuns, capítulo 14, Allan Kardec diz: todo aquele que sente, em
determinado grau, a presença dos espíritos é, por isso mesmo, médium. A
mediunidade é um sentido que nos permite entrar em um campo vibratório além do
mundo físico e essa percepção pode apresentar-se sob dois aspectos: aquela
percepção do próprio espírito que capta as idéias (fenômenos anímicos do Latim
“anima”, alma) que são esses fenômenos eminentemente dos espíritos: sonhos
premonitórios, a clarividência, a telepatia, a intuição, a materialização
chamada no fenômeno parapsicológico como fenômeno psi-capa; ou quando há a
interferência dos espíritos se tem um fenômeno mediúnico porque o individuo se
torna um “instrumento de” e como instrumento dos espíritos esse individuo é um
sensitivo. E Allan Kardec disse mais: “todos somos médiuns” porque todos temos
essa percepção.
A
mediunidade se apresenta sob dois aspectos: a mediunidade natural que é essa
genérica, e a mediunidade ostensiva, aquela que caracteriza os indivíduos com
uma ampla possibilidade. Num determinado grupo de pessoas todos são
inteligentes, mas há os que são menos e os que são muito mais inteligentes, ou
seja, as pessoas normais e as pessoas geniais; assim também existem os
portadores de um alto quociente mediúnico: aqueles que veem, aqueles que ouvem,
aqueles que se tornam instrumento dos espíritos com facilidade, aquele que
escreve com muita facilidade.
A
mediunidade é uma faculdade orgânica porque o espírito é que tem o dom e o corpo
oferece as células para que o fenômeno tenha o seu campo. A inteligência é do
espírito, o cérebro oferece os neurônios para poder decodificar. É como um
computador: se um programa é instalado, o programa é o que conta; o computador
vai dar a resposta quando alguém digitar. Nós somos como que computadores, mas
são os espíritos que digitam os fenômenos mediúnicos através de nós.
A
mediunidade natural pode ser desenvolvida pelo exercício que vulgarmente
chama-se de “educação mediúnica” ou “desenvolvimento da mediunidade”.
A
mediunidade ostensiva é espontânea e também podemos educar porque desde que nós
temos essa faculdade e transitamos de um campo para o outro, se somos espíritos
elevados nós transitaremos em campos altos; se somos espíritos endividados
transitaremos em campos inferiores. Em campos inferiores estão os espíritos
infelizes o que seria o que a Igreja Católica chamaria de “purgatório”, os
umbrais, que Allan Kardec chama de “erraticidade inferior”; são os espíritos
errantes.
Um
espírito endividado reencarna com um grau de mediunidade que está na razão
direta das suas necessidades evolutivas; vem com uma certa percepção se foi um
traidor e já traz a consciência de culpa. Seu cérebro vai ter o registro e ele
como espírito vai sintonizar com espíritos a quem ele deve e eles vêm cobrar as
dividas: surgem os fenômenos de obsessão natural na infância, na adolescência e
também perpetuamente, porque é muito mais fácil nós encontrarmos os maus do que
os bons. À medida que nós vamos nos educando, nós conseguimos sair daquele campo
vibratório para outros mais elevados, mas sempre estaremos susceptíveis a
influências negativas porque nos contrariamos, porque temos ciúmes, porque temos
inveja, temos mágoas; toda vez que um sentimento desses toma conta de nós,
caímos vibratoriamente e sintonizamos com os espíritos infelizes; quando nós
oramos, meditamos, praticamos o bem, nós nos elevamos e sintonizamos com os
espíritos superiores. Daí a mediunidade ser um campo extraordinário como a
inteligência, como a memória, como a emoção. Todos nós temos que controlar a
emoção. Às vezes alguém vai contar uma coisa simples, começa a chorar de emoção
e não consegue terminar; mas se for controlando a emoção é possível terminar.
Outro individuo não sente nada; pode ver a cena mais grosseira, mais agressiva,
escabrosa e não sente nada. Isso é possível porque isso é um estado
esquizofrênico; ele pode trabalhar, passar a amar e então ele vai sentir: ele
vai produzir serotoninas.
O
corpo responde aos impulsos do espírito. Daí seguir que a velhice é mais da
mente que do corpo. Há pessoas debilitadas, cansadas, sem energia, de mente
ativa e continuam trabalhando, esforçando-se. E há pessoas de corpos ótimos e de
mente envelhecida: se entregam. Tem uma dor e se entregam, ficam gemendo; tem um
problema e se entregam, ficam chorando. Não é a dor em si o mais importante: é o
caráter do individuo, o seu espírito que resiste mais ou menos a dores morais ou
a dores físicas. Pode-se ser resistente a uma dor moral, mas perder a alegria
por causa de uma dor física.
A
mediunidade é uma faculdade que está muito ligada à nossa saúde física emocional
e psíquica. Se nós encaminharmos a nossa faculdade para as vibrações superiores,
nós estaremos sempre irradiados por energias saudáveis. Se nós cultivarmos o
lado negativo, nós desceremos a influências perturbadoras e teríamos presenças
que nos levam a moléstias.
O
doutor David Baum (não espírita nem espiritualista) da universidade de Harvard,
sendo um cultor da física quântica, ele estabeleceu com um outro colega que:
toda vez que nós pensamos o bem, que nós amamos, que nós perdoamos, os nossos
neurônios produzem uma substância como se fossem fótons. Os fótons têm o poder
de atrair moléculas equilibrando o organismo. Um pensamento bom penetra no nosso
organismo, vai para o sistema nervoso central, assimilado pelas glândulas
endócrinas, vai para o sistema imunológico e nos defende da agressão de
bactérias. Quando temos pensamentos negativos como, por exemplo, o ódio, a
mágoa, o ressentimento, nós produzimos substâncias como se fossem elétrons
capazes de desagregar moléculas e absorvidos pelo sistema nervoso central,
influenciam os sistemas endócrino e imunológico e nós ficamos receptivos a
doenças. Por isso eles sugeriram “risoterapia”. As pessoas que riem (não as que
gargalham) gozam mais de saúde do que as pessoas introvertidas. Sempre que nós
sorrimos, nós produzimos na saliva uma substância encarregada da digestão
(imunoglobulina) que produz defesas para o aparelho respiratório.
É
fascinante ver a ciência provar o que a religião diz. Quando amamos, estamos em
sintonia com o alto e nosso organismo produz substâncias. É tão notável que para
aprovar isso foi apresentada uma ciência com o nome de
psico-neuro-endocrino-imunologia: a ação da mente vai para o sistema nervoso
central, para as glândulas, para o sistema imunológico e nós gozamos de saúde ou
de doença, de acordo com o tipo de pensamento. Naqueles que são médiuns, de
acordo com o tipo de espíritos que os influenciam, o organismo vai produzir
fótons ou elétrons; se são espíritos inferiores, que estão na cabeça dando
ideias más, dando medo, aparecendo como pesadelos, sugerindo comportamentos
absurdos, o indivíduo começa a construir e o organismo a atender porque está no
campo mental. Daí a obsessão que é espiritual, se transforma num problema
orgânico. Diz Allan Kardec com muita sabedoria (últimas três linhas do Evangelho
Segundo o Espiritismo): “quando uma obsessão é muito prolongada o individuo
passa a sofrer do cérebro sendo necessário tratamento médico e magnético”. Como
ele pode perceber uma coisa que a ciência está descobrindo agora! Esses
distúrbios foram identificados a partir de 1990 como fenômenos produzidos pelos
neurônios cerebrais. Kardec havia detectado em 1864!
As
obsessões só existem porque os indivíduos são portadores de sexto sentido, de
mediunidade. A defesa contra obsessões são os bons pensamentos (Livro dos
Médiuns, capítulo 23); os bons pensamentos, as boas ações, a oração. Quando
oramos, criamos fótons e nos defendemos: qualquer má influencia que vier não nos
afetará. Portanto, Allan Kardec sugere as boas ações, porque somos devedores,
estamos sofrendo, estamos pagando, teremos que pagar: pela dor ou pelo amor. Se
estamos sofrendo e fazendo o bem, ficaremos bem muito mais rapidamente. Se
estamos sofrendo e não fazemos bem algum, então isso demora até pagar o último
centil. “Ninguém entrará no reino dos céus sem pagar a dívida até o último
centil”, disse Jesus. Disse Jesus também: “mas nenhuma das ovelhas que o Pai me
confiou se perderá”. Equivale a dizer que não existe inferno! Todos teremos a
chance de resgatar!
As
obsessões podem ser expiatórias ou provacionais. Kardec demonstrou que nós
estamos na Terra para sofrer provas ou expiações. Sofrer provas porque nós
estamos progredindo. Prova é um exame: se é submetido a um exame, a uma prova,
uma provação. É fácil de superar a provação: a depressão é uma provação. O
catatonismo, o autismo são expiações. O espírito é tão endividado, agiu tão mal
que não merece uma chance de ser aprovado para o bem: tem que pagar pela dor. Ou
vem com uma deficiência: uma deficiência ocular, uma deficiência auditiva, uma
deformidade orgânica; é uma expiação. Daí existem as doenças expiatórias e as
doenças provacionais. As provacionais são aquelas que a gente leva relativamente
bem. As expiatórias são aquelas que a gente leva sob um fardo de grande dor.
Quanto
à mediunidade, nós renascemos com uma certa predisposição: já temos o carma e os
nossos inimigos ou os nossos amigos acercam-se de nós para ajudar-nos a resgatar
o nosso débito ou a progredir. Que fazermos? Educarmos a mediunidade como nós
educamos a inteligência, como educamos a emoção, a memória, como educamos
qualquer faculdade orgânica: através do exercício, da disciplina, da repetição.
Allan Kardec demonstrou que a mediunidade mais fácil de ser educada é a
psicográfica: não tem risco e é fácil de avaliar. Se nós escrevemos alguma
coisa, depois examinamos e podemos avaliar se aquilo é nosso ou se está acima do
nosso nível ou abaixo do nosso nível cultural. Podemos ler imediatamente e
guardar; depois de um mês, lemos de novo; depois de dez anos, voltamos a ler e
assim desenvolvemos um critério de avaliação. É necessário sempre muita
disciplina porque nós temos a tendência de fazer as coisas conforme nos agradam
e não conforme devemos. Não se pode deixar de ir a uma reunião mediúnica por
conta de, por exemplo, algum compromisso social no dia seguinte: o grupo
mediúnico é um grupo harmônico, é como se fosse uma orquestra. Se falta o
violino, o piano não substitui. A reunião mediúnica é o resultado de um grupo de
estudos bem orientado, com pessoas de responsabilidade, para atrair espíritos
responsáveis. Para uma reunião de pessoas frívolas, comparecem espíritos iguais,
espíritos vulgares. Se as pessoas não tem caráter, vão atrair espíritos
semelhantes. Qual a inteligência séria que vai ficar respondendo a perguntas
frívolas e vulgares? O respondente tem que ser um semelhante! Aí surgem as
obsessões. Nas sessões mediúnicas surgem as obsessões! Certas pessoas gostam de
consultar cartomantes (sem nenhum demérito para as cartomantes), os tarots,
médiuns que vivem isolados a dar consultas e fazer disso uma profissão! Em Paris
há 25 mil consultórios de médiuns cuja consulta varia de 30 a 100 euros e vivem
assim!
O
Espiritismo nos dá os meios de tornar a nossa vida mais agradável, mais
apetecida, mais confortável: o autodescobrimento, o nosso preventivo:
diariamente quando deitarmos, perguntarmos “como foi o meu dia?”, “como foram os
meus atos?” Se agimos corretamente, dormiremos em paz; senão, amanhã vamos pedir
desculpas a uns e outros. Se não nos desculparem, o problema é deles, nós já
fizemos a nossa parte para viver em paz: é a questão 919 do Livro dos Espíritos
(o conhecimento de si mesmo). Santo Agostinho comentando dizia “façam como eu
quando estava na Terra: diariamente ao deitar-me eu fazia um exame de
consciência para avaliar o que havia praticado. Quando me dava conta de que
havia procedido mal, no dia seguinte procurava reabilitar-me; quando me dava
conta de que havia atuado bem, eu continuava aquilo que estava fazendo”. Às
vezes diz-se “estou com um cansaço tão grande que não vou ter tempo de examinar
o meu dia”; e com esse cansaço vai para regiões inferiores do mundo espiritual,
porque o espírito está aturdido. Seja qual for o cansaço, oremos. Nós temos que
criar mecanismos de defesa espiritual, resguardar a nossa mediunidade. Os
inimigos do bem, aqueles inimigos pessoais estão vigiando. O inimigo não para; o
amigo é que descuida.0103
A
mediunidade pode ser aplicada ao beneficio da nossa saúde através da nossa
comunhão com o mundo espiritual, dos nossos deveres, do atendimento aos
espíritos sofredores. Não pode haver nada mais reconfortante nem gratificante do
que chegar um espírito que está sofrendo há quarenta ou cinquenta anos e em meia
hora recuperar a paz! Não pode haver nada mais gratificante do que ouvir a
palavra de um benfeitor espiritual, a mensagem de um ser querido, que são a
prova da imortalidade da alma: a comunicação dos espíritos.
Perguntas
do público presente:
Um
médium com o seu corpo físico doente tem a sua mediunidade afetada?
O
estado de doença física de um médium não afeta a sua mediunidade. No caso de uma
doença nervosa ou debilitante como o câncer, naturalmente, as forças mediúnicas
não diminuem mas, as resistências orgânicas sim. Chico Xavier até os 92 anos
trabalhou tranquilamente. Yvone do Amaral Pereira até os 85 anos trabalhou
normalmente. Se a pessoa é um médium de incorporação deve evitar, nas sessões
mediúnicas, os obsessores porque eles como que absorvem energias físicas como
uma esponja. A grande vantagem de ser médium para ajudar os espíritos sofredores
é que quando um espírito que está sofrendo muito se incorpora (termo incorreto,
só para dar uma ideia), o médium absorve todo aquele sofrimento e o espírito se
alivia; quando ele sai melhor porque todo aquele mal-estar ficou no campo
áurico, na áurea do médium que logo depois elimina. Mas um espírito obsessor ao
incorporar ele absorve a energia do médium: é o contrário. A energia do médium
vai acalmá-lo. O médium é pacífico, é passivo, é gentil, essa energia balsâmica
vai absorvida e o obsessor, por mais violento que seja, sai sempre melhor. Se as
comunicações repetirem-se ele termina por ceder. Ao entrarmos num jardim, mesmo
que não queiramos, saímos perfumados. Ou se entrarmos num pântano: sem querer
nós saímos com odor característico. Portanto, com uma doença debilitante, deve o
médium evitar as comunicações dos obsessores e isso, na realidade, o médium pode
fazer muito bem porque ele é sensível e quando perceber que se trata de uma
comunicação pesada, pode orar, mudar de plano mental e superar mas, as outras
comunicações o médium doente pode receber perfeitamente: serão sempre
benéficas.014228
Como
pode uma pessoa leiga perceber que tem mediunidade?
Pelas
sensações que a pessoa sente. Se a pessoa tem sonhos premonitórios, se sonha com
coisas que acontecem, se a pessoa tem a sensação de alguém acompanhando, se tem
algumas manias mentais que não sejam propriamente perturbações psíquicas mas:
achar que vai lhe acontecer uma coisa, estar com ansiedade, estressar-se com
facilidade são também sintomas mediúnicos; se a mediunidade é ostensiva, a
pessoa ouve ou vê mas, se a pessoa não tem isso, ela tem sensações. São as
sensações que identificam a presença de uma mediunidade. Então se começa a
estudar o Livro dos Médiuns para poder compreender o organismo, como se deve
proceder. Comumente se acredita que se tem que ir a uma sessão mediúnica para
“desenvolver” a mediunidade, como se fosse uma borracha que se pudesse puxar.
Por certo que não! Se trata de um trabalho sério como, por exemplo, desenvolver
a inteligência. Na mediunidade há toda uma técnica para aprimorar e facilitar
cada vez a pessoa captar mais. Certos distúrbios que são confundidos com
distúrbios nervosos, muitas vezes são também mediúnicos. A pessoa lendo,
estudando, participando de um grupo de estudos sério, indo às reuniões
mediúnicas, isto se dá. Quando foi mencionado o termo incorporação, dissemos
também que a palavra era incorreta. É incorreta porque o espírito não entra no
corpo do médium como uma água que entrasse no copo. Muita gente pensa que um
espírito vem e “entra” no médium. Não é assim. Nós somos constituídos de três
elementos: o espírito que é o ser real, é o princípio inteligente do universo,
disse Allan Kardec na questão 23 do Livro dos Espíritos e questão 72 do mesmo
livro. Os espíritos são seres imateriais que povoam o universo fora do mundo
material. O espírito é envolto numa energia que Allan Kardec chama
“perispírito”. O perispírito, o segundo elemento, é um envoltório, como se fosse
uma roupa que alguém estivesse usando. O terceiro elemento é o corpo material.
Portanto, somos seres constituídos desses três elementos; morre o corpo, as
experiências do corpo são arquivadas no perispírito e quando o espírito vai
reencarnar, ele usa esse modelo (perispírito) para fazer o corpo que ele
precisa. A parapsicologia criou um nome muito interessante: Modelo Organizador
Biológico: toda forma vem de um molde. O perispírito é o molde onde o nosso
corpo se desenvolve. Vamos supor que na presente encarnação alguém dá um tiro na
própria cabeça e se suicida. O cérebro foi então destruído. O perispírito vai
ficar com o campo desorganizado e transmite ao espírito essa violência. Quando
houver uma reencarnação, o espírito devolve ao perispírito a informação para
moldar um corpo com cérebro deficiente e se nasce, por exemplo, idiota, autista,
com hidrocefalia, com microcefalia, com anencefalia (ausência de cérebro),
porque no ato do suicídio foi o espírito que dirigiu o corpo. Não existe matéria
fraca; não existe a “carne fraca”: a carne é o que o espírito comanda; afinal,
nós vamos para onde queremos, não são as nossas pernas que nos levam, somos nós
que levamos as pernas. Todo ato nosso é imprimido no perispírito que vai
imprimir no corpo. Toda ação que degenera o corpo vai-se imprimir no perispírito
que programa a sua futura reencarnação com aquela deficiência.
O
trio de três elementos vai organizar uma criatura humana que irradia aquilo que
é. A essa irradiação nós chamamos aura, que é a energia de que somos
constituídos. Morrendo o corpo, o desencarnado tem espírito e perispírito.
Portanto ele tem também um campo de aura. Quando ele se aproxima do médium, a
aura dele mescla-se na aura do médium e o médium entra em transe. A influência
acontece sempre de uma aura para outra. Se o encarnado não tem mediunidade a
influência não é captada. As comunicações são sempre de perispírito a
perispírito. A glândula pineal do médium vai receber a indução do espírito que
então pode falar, pintar, escrever, tocar um instrumento, falar em idiomas
estranhos, enfim o espírito faz o que fazia na Terra com as suas
características.
A
pessoa nasce com mediunidade ou se desenvolve a mediunidade?
A
pessoa nasce e desenvolve a mediunidade como também nasce com inteligência, com
memória e vai desenvolvendo na medida em que nós vamos educando. Nós nascemos
com a faculdade de falar mas, para falar bem precisamos educar.
Como
lidar com uma situação em que uma pessoa protestante tem sinais de mediunidade e
não tem acesso a informações a respeito de mediunidade?
Fazendo
chegar a ela o Livro dos Médiuns informando que um protestante pode estar
ignorando muita coisa. Indica-se também à pessoa protestante a leitura na Bíblia
dela em Atos dos Apóstolos, capítulo 2, versículos 17 e 18: “nos últimos dias,
disse o Senhor, eu derramarei sobre toda carne o meu espírito. Os servos
profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos”. Ou ainda Paulo,
na primeira epístola aos Coríntios, capítulo 12, versículos 4 a 11 (variedade
dos dons): “há os que falam, há outros que ouvem mas o espírito é o mesmo, há
uns que profetizam mas o espírito é o mesmo, há outros que curam mas o espírito
é o mesmo”. Se for uma pessoa que realmente está interessada em aprofundar o
conhecimento, isso é muito fácil: ela pode continuar protestante e pode ter uma
visão de uma realidade paranormal. É só ter o interesse.
Comentário
do palestrante:
Interessar-se
por saber é o mais importante. Muitas vezes a pessoa pode ter um preconceito
contra o Espiritismo e quando ela mesma se depara com um fenômeno mediúnico, não
quer assumir responsabilidade. Toda vez que ela tenta, os próprios inimigos
impedem, geram situações complicadas, geram doenças, a pessoa vai a um centro
espírita e tem a impressão de que voltou muito pior. Mas, na verdade tem que
ficar pior: quando se começa o tratamento de uma doença, se piora porque o
organismo reage. Quem está com uma ferida e vai ao médico, ele tem que cortar
todo o tecido danificado, até chegar na parte saudável e isso dói. Nas
obsessões, a pessoa piora porque os obsessores atacam mais porque começou a cura
do doente. E o que faz a pessoa? Desiste e os obsessores aliviam o ataque. E a
pessoa reage: eu abandonei o tratamento e melhorei. Melhorou até o próximo
ataque. Na próxima vez eles atacam e não soltam mais.
Para
os candidatos a tratamento de obsessões podemos falar com toda a franqueza: se
quiser a terapêutica, é da maneira como fazemos no Espiritismo. Não pode ser
seguida por um dia e não ter prosseguimento nunca mais, porque não há milagres:
não se pense que o Espiritismo é um poço de milagres; siga por um mês ou dois e
observe; se não der certo, abandone: não está gastando nada. O Espiritismo é a
única doutrina na qual ninguém ganha nada e ninguém cobra nada! Tudo é grátis. A
vítima de obsessão indo ao psiquiatra vai melhorar por conta do tratamento dos
sintomas com barbitúricos mas, vai ficar amortecida ou impregnada. No tratamento
espírita vamos impregnar de energia que vai impedir a continuidade do espírito.
Quando damos um passe em alguém, a nossa energia vai para a aura e a fortalece.
Quando o espírito obsessor (mau) se aproxima, não tem conexão porque nós estamos
numa vibração superior: é a luz apagando a treva. Quando uma pessoa se posiciona
com muitos escrúpulos dizendo “mas, eu não acredito nisso”; ótimo, não tem que
acreditar mas, também não se queixe! Muita gente mantém uma certa “postura
ética” dizendo: eu não quero me envolver com isso. Nada disso, na verdade
importa: quando a dor apertar, a pessoa vai até onde não imagina! Ainda há os
que se dizem incrédulos mas, a maioria é incrédula por conveniência.
E
aqui é chegada a hora para uma mensagem de união: como espíritas não podemos
criar distâncias entre nós; lembremos-nos da parábola do feixe de varas. Se nós
ficarmos isolados seremos destruídos pelas forças do mal, pelas nossas paixões,
pelas nossas competições. Se ficarmos unidos seremos uma força de aglutinação.
Vamos ficar juntos respeitando as nossas diferenças, porque cada grupo tem a sua
forma de ser. Procuremos a união para a unificação, não para a uniformização.
Uniformizar é vestir tudo igual; unificar é reunir; unir é tornar amigos. Vamos
treinar a fraternidade entre nós, ajudarmos-nos, tolerarmos-nos.
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"Esta casa, A CAMINHO DA LUZ, tem as portas abertas para te receber e o coração muito mais para te compreender."
domingo, 15 de julho de 2012
Mediunidade e Vida Saudável
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