MISSÃO CUMPRIDA

Francisco Cândido Xavier cumpriu sua missão.
Provavelmente, ele deveria querer ficar mais um pouco para fazer mais um pouco, dentro daquela característica de insatisfação dos perfeccionistas que abraçam grandes causas. Talvez não quisesse, por saber que poderia continuar seu trabalho com modos diferentes dos habituais, mas sempre em nome do coração.
Pelo que se sabe, suas perspectivas de partida foram atendidas, estava entre amigos, após suas preces vespertinas, recolhido ao sono. Certamente, os amigos espirituais de sempre lá estavam para tornar seu desligamento mais suave, numa passagem tranquila para a verdadeira vida...
Como poderemos chamar de morte o retorno para a grande jornada? Como expressar pesar pelo passamento de alguém que só nos mostrou os valores da vida? Como nos ressentirmos pela ausência física de alguém que faz parte do que melhor podemos amealhar em pensamento? E o pensamento não tem fronteiras. Ele é a ponte que nos liga a qualquer dimensão que queiramos, e portanto poderemos nos ligar ao Chico sempre que quisermos e precisarmos. Será que é possível dimensionar a extensão da obra do médium? Quantas pessoas seus livros atingiram? Qual o impacto que suas linhas psicografadas causou em cada mente, em cada coração e quanta harmonia elas desenvolveram?
Creio que esse bem intangível, proporcionado a cada um de nós, jamais será mensurado dentro dos nossos recursos, mas na contabilidade divina. Cada reflexão provocada, cada soluço de arrependimento, cada lágrima de regeneração estará registrada e reconhecida, mesmo que ele não quisesse, nem esperasse qualquer recompensa.
Li, certa vez, que as pessoas queridas não morrem, elas ficam encantadas. Que o Chico Xavier não morreu, sabemos, mas é muito reconfortante imaginar que ele ficou sob o efeito de um encantamento, que faz parte de uma dimensão própria, a daqueles que conseguiram dividir suas virtudes, como se fosse o pão-alimento da alma.
Provavelmente, nesses dias, Emmanuel deverá estar se aproximando do seu amigo e perguntando-lhe se não tem trabalho para fazer, acenando para tarefas que permitam continuidade de suas ações e, finalizando, dizer que esses 92 anos de repouso que ele teve, agora se acabaram...
Francisco Cândido Xavier encantou-se e continuará a nos encantar. A complementação didática que sua obra mediúnica proporcionou ao Espiritismo não pode ser ainda avaliada em sua plenitude. É coisa para as próximas gerações, que terão o cenário da história para sentir o processo de regeneração que evoluiu em cada coração.
Francisco Cândido Xavier cumpriu sua missão.
Se, mais para a frente, ele for perguntado sobre isso, certamente negará com a cabeça e, modestamente, dirá que nem havia começado... Assim é ele, o homem que humildemente se comparou à pulguinha de um leão, quando lhe perguntaram onde estava na época do circo romano.
O retorno é, para ele, uma alegria. Por que seria uma tristeza para nós? Ninguém mais do que ele tinha consciência da felicidade que é voltar. Declarou isso várias vezes e está, certamente, praticando o que sente.
Chico retornou, mas sua presença estará firme entre nós, para sempre. A quem poderemos recorrer quando precisarmos de um pouco de doçura? Como encontrar um modelo de reconciliação? Como será quando precisarmos de um modelo de caridade, de tolerância e de humildade?
Sua fala mansa e seu sotaque mineiro sempre estarão em minha lembrança, serão uma referência em todos os momentos de minha vida e, sem dúvida, na vida de todos os que o conheceram e amam. E nada pode simbolizar mais a VIDA, do que isso.

Para mudar o mundo é preciso mudar a si mesmo.
Estudar e conhecer.
Agir e transformar.

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