A Caminho da Luz

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

As quatro nobres

As quatro nobres
verdades e a visão
espírita do sofrimento


E é nisto que se resume o sofrimento: cai a flor, — e deixa o perfume
no vento! Cecília Meireles [1]


Possivelmente, para muitos, a ideia de que o Reino de Deus, e portanto a luminosidade, encontra-se no interior das criaturas vai de encontro à constatação corriqueira do sofrimento na vida dos seres.

Como ser luz e, ao mesmo tempo, sofrer? – pode-se questionar.

Por mais paradoxal, porém, que isto possa parecer, a realidade ensinada pelas mais diversas tradições tende a nos levar nesta direção.

Tratando do assunto, por exemplo, Allan Kardec, escrevendo sobre o código penal da vida futura segundo a visão espiritista, colocaria que o sofrimento é inerente ao grau de imperfeição do indivíduo. Por conseguinte, quanto mais evoluído, maior número de qualidades - “perfeições” - e, assim, menos cota de aflição.

Desta forma, as injunções externas não seriam as determinantes do sofrer, mas as disposições internas para se encarar tal ou qual situação.

Consequentemente, aquele que tenha a visão da poetisa poderá ver na dor não necessariamente a gênese de um sofrimento, mas o desabrochar de um aprendizado – de um perfume.

Todos, portanto, passariam por dores – que nos falam de uma esfera mais física, neurobiológica –; mas nem todos experimentariam sofrimento – que poderia ser interpretado no campo mais psíquico da aflição. [2]

Segundo Buda, a vida é repleta de sofrimento

Por isto, a fala budista recomenda que o homem seja semelhante ao sândalo que deixa um aroma agradável no machado que o fere.

Indo, contudo, além, Buda constatou algo semelhante ao já exposto acima, dizendo que:

1.                 A vida é repleta de sofrimento[3];

2.                 E este sofrimento é causado pelo apego do ser à ilusão.

3.                 A libertação total do sofrimento, no entanto, é possível, por meio da iluminação.

4.                 Neste sentido, é preciso aprender e seguir o caminho que leva à iluminação.

Tais preceitos são conhecidos como as quatro nobres verdades e, segundo as tradições do budismo, foram vislumbradas pelo Buda no momento de sua iluminação.

Elas seguem o princípio da causalidade.

Sendo assim, a segunda é a causa da primeira; enquanto que a terceira é o efeito causado pela quarta.

Desta maneira, ao fazer isto, “Buda começou por descrever o problema, depois explicou sua causa. Em seguida, contou a solução do problema e ensinou como chegar à solução”. [4]

Quando se extingue o “eu”, não há pecado

Verifica-se, claramente, que, traduzindo-se ilusão por imperfeição e iluminação por perfeição, se tem o mesmo conceito kardequiano.

Outrossim, no bojo do próprio Hinduísmo, encontram-se tais visões. Por isto, Gandhi escreveu que “o Ego é a raiz de todos os erros e pecados. Quando se extingue o ‘eu’, não há pecado”. [5]

Por isto, Krishna recomendava, como meio de se acabar com a ilusão/imperfeição, várias ações, dentre as quais – liberação do orgulho e da vaidade, não-violência, perdão, firmeza, autodomínio, ausência de apego, mente equilibrada diante dos acontecimentos bons e maus...

Deste modo, ao que se depreende, quando a luminosidade divina se fizer totalmente presente nas criaturas, a realidade de sofrimento não mais existirá.

Nesta instância, passar-se-á por dores, doenças, imposições atrozes e até mesmo injustiças mundanas; ter-se-á, contudo, serenidade e paz, constituindo todas estas situações, como escreveu a poetisa, em perfumes de engrandecimento da alma.

“No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” - Jesus [6]


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