Não mateis.
Observemos a generalidade do termo e tentemos delinear um roteiro, não
menos importantes uns dos outros:
Não matar nosso próximo retirando-lhe a oportunidade de crescimento
dada por Deus. Ainda que consideremos sermos de certa forma herdeiros do
Caim mitológico, não quer dizer que nossas ações tenham que ser
primitivas. O corpo físico que retirarmos, de forma objetiva ou não,
será nossa responsabilidade no porvir. Não devemos ver a morte como
somente algo fenomênico, visível, aos nossos grosseiros olhos, mas
igualmente como tão somente retirar do outro o viço da vida possível,
ainda que subliminarmente, em ação do errático e irresponsável pensar.
Jeremias em suas premissas proféticas nos mostra, no junco nascedouro da
fé, nossa tendência para condenar e matar: E virá, e ferirá a terra do
Egito (Seria uma releitura de nossa consciência?); entregando para a
morte, quem é para a morte; e quem é para o cativeiro, para o cativeiro;
e quem é para a espada, para a espada. Jeremias 43:11 (mod).
Não matar sonhos. Não há criação na matéria, o novo, que não provenha,
de prévios sonhos, sonhos estes alvos de críticas mordazes e até mesmo
menos caridosas. Não devemos reduzir a realização alheia pelos nossos
limites. Não somos portadores nem de verdades irrefutáveis, quiçá de
toda verdade. Nossa verdade é posta a prova a cada segundo de nossas
vidas. Que o digam os esculápios da atualidade que são postos à prova,
em seu conhecimento, a cada novo caso patológico em seu carreiro
clínico. Sonhar é importante, enriquece a diversidade, aumenta a
probabilidade da sobrevivência humana. Grandes inventos da humanidade
são concebidos em imersões profundas, nossas, nos braços de Morfeu,
quando acessamos aquisições nossas, no porvir, já existentes em paragens
espirituais. Assim, calemo-nos ao sonho alheio, de vez que o que é
sonho, inverossímeis mesmo hoje, amanhã poderá salvar nossa vida. Os
sonhos, a nós dados por misericórdia divina, devem ser interpretados à
lente do coração e, com lupa da gratidão, conforme nos fala Daniel: Mas
se vós me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim
dádivas, recompensas e grande honra; portanto declarai-me o sonho e a
sua interpretação. Daniel 2:6
Não matar os animais. A nossa sobrevivência é importante, mas a
diversidade animal é-nos e, ao meio-ambiente, essencial. Algumas
culturas caçam animais, periodicamente, em rituais animalescos, o que
nos leva a pensar que são os verdadeiros animais. A bestialidade humana
neste ponto é absurda a ponto de inúmeras espécies estão extintas, pelo
caráter bélico humano. Ao que sabemos animais jamais atacam por prazer,
mas tão somente para defender seu território ou para se alimentar,
visando a sobrevivência. Eles, desta forma, mantém o equilíbrio
necessário à vida. Da pomba à serpente, queiramos ou não, todos os
animais são úteis, e nenhum cometeu um crime, pois vivem instintivamente
de forma inteligente, de vez que devolver a terra tudo aquilo que dela
retiraram e, neste sentido, reforçamos o questionamento: quem são os
verdadeiros animais? Lembrem que nada nos pertence nem mesmo os animais
que nos cerca, mas a Deus: Porque meu é todo animal da selva, e o gado
sobre milhares de montanhas. Salmos 50:10.
Não matemos as florestas. Não matemos nossas encostas vegetais, nossos
fitoplanctos. Precisamos de nossa evolução espiritual, portanto
precisamos de um corpo e, este precisa de ar. As florestas, amigos,
refrescam nosso dia-a-dia; sem elas nossa existência se faria em uma
fornalha na terra. Já nossos irmãos micro-vegetais, realizam toda a
fotossíntese para podermos inalar oxigênio necessário à nossa própria
vida. Não obstante existirem para auxiliar os homens as plantas não são
nossas. Foram nos dadas para nossa sobrevivência. Não as detruamos. Não
sejamos os gafanhotos da praga do Egito: Porque cobriram a face de toda
a terra, de modo que a terra se escureceu; e comeram toda a erva da
terra, e todo o fruto das árvores, que deixara a saraiva; e não ficou
verde algum nas árvores, nem na erva do campo, em toda a terra do Egito.
Êxodo 10:15.
Não matar em nome da fé. Não se conhecem registros de que Jesus tenha
dito que ele precisava de cadáveres para aquilatar nossa fé. Aliás,
ainda hoje existem tribos isoladas no planeta, que não querem o contato
humano. Deve ter alguma razão... É bom lembrarmos que ao tempo de Jesus,
inúmeros povos eram desconhecidos pela maioria. Ele nos ensinou a
brandura e o amor em nosso trato, com nosso próximo, no dia-a-dia.
Igualmente convém lembrar que, ao contrário do que o homem hodierno
pensa, nenhum outro filósofo apoiou a violência contra o que quer que
seja. Se nós fizemos isto no passado e o fazemos hoje é para alimentar
nosso orgulho e nossa vaidade, tentando impor nossa verdade. Matar, que
não significa somente tirar o corpo físico, em nome da fé foi ontem e é
hoje inócuo. Pode se matar um exército que nos destoar os ideais de
verdade, mas jamais em tempo algum se matam idéias. Tanto é verdade que
cristãos ou não vem superdimensionando sua presença, cada qual em seu
nicho geográfico, atendendo suas necessidades com vinculação com a fé.
E, não obstante o sofrimento prisco, não nos enganemos: permanecemos
lutando por uma verdade que não nos pertence. Mata-se hoje com mais
crueldade que à época das dolorosas Inquisição e cruzadas. Àquela época
os cruzados ou os inquisidores viam-se como defensores de um reino
divino a ser implantado equivocadamente na terra, mais de maneira
genuína e fiel, não obstante sem razão, própria da infância espiritual
de então. Hoje não temos mais obscurantismo em nosso meio; assim vige
entre nós a tendência ao sadismo premeditado sobre o governo eficaz do
orgulho e vaidade. Pensemos na terra ontem e hoje e, não veremos grandes
diferenças, só a modernização da dor. Embora os sagrados escritos citem
guerras de extermínio entre povos tão extintos quanto antigos, a nossa
escrevemos nossa própria dor.
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