A Caminho da Luz

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Não roubeis.

Não roubeis.

Afanar, Apropriar indebitamente, furtar, depredar, saquear,
surripiar, tirar, tomar, Locupletar (01)

Bem se situa a fala de Moisés neste mandamento. Considerando que o
criador não se esquece da criatura, é de se supor, em primeira leitura,
que temos tudo que necessitamos e, portanto, qualquer atitude subtrativa
em relação ao próximo, coloca-nos ipsum factum (02), na condição de
meliantes perante a Lei divina.

Assim, nada de radicalismos, fanatismos, pragmatismos (03).
Verificamos, sob a lupa da lógica, razão e bom-senso, se tal mandamento
tem moldado nossas práticas, vinculados que estamos às dores engendradas
pelo apego, apêndice da materialidade que nos move, ainda:

Se olharmos com cuidado nossas atitudes, especialmente as mentais, nós
veremos que não sossegamos ao ver as aquisições do outro. Uma idéia
aqui, um sentido novo ali, uma forma nova de ver a vida acolá,
conscientemente ou não, nos leva a afanar o sal das conquistas alheias.
Ora, apego à parte, não temos o direito de apropriar de algo que longe
está de nos pertence, no veio mental e material. Ao afanarmos o quinhão
de alegria alheia, estamos afanando de nosso coração a paz.

Quem rouba a paz do lar de um grupo, apropria indebitamente da harmonia
conquistada após milênios pelo grupo. Apropriar indebitamente da junção
matrimonial alheia é incorrer diretamente no acórdão divino da devolução
do que não lhe pertence, trilhando em solitárias lágrimas, no vales do
abandono. Apropriar da paz alheia é abandonar-se à própria sorte.

Somos tão bem dotados de subterfúgios que até mesmo conquistas mínimas
do outros nos queima o sentido da posse. Nada mais saboroso que as
coisas do outro. Uma descoberta aqui, uma blusa ali, um livro acolá.
Coçam-nos os veios mentais por tamanhas pequenas coisas. O nosso
naturalmente, desinteressa-nos. Não tem sabor, é detecção insípida, pois
somos parte dele. Somos insaciáveis. Nada nos satisfaz e quando
encontramos, a priori, certo equilíbrio, qualquer diversidade nos tira
do eixo. Furtamos, às vezes sem maldade. Alguns o fazem por injunções
patológicas. A preguiça, não obstante, coloca muitos de nós em rota de
colisão com a ética, o que considerando nosso avanço nas leiras do real
e do lógico concreto, faz-nos faunos (04) perdidos nos labirintos de
nossas próprias inconseqüências.

Não podemos limitar, hodiernamente, o significado de o termo roubar.
Vemos a nossa volta que ainda não cansamos de destruir o planeta. A tudo
íntegro, natural ou não, destruímos com nossa inaptidão para análise do
útil e do belo. As florestas encontram-se próximas de nós e pensamos que
são nossas, pelo que iniciamos a qualquer necessidade menos refletida,
sob a lupa do bom-senso, a depredação, a destruição pura e simples,
furtando dos olhos e dos pulmões alteros, sua função de beleza e limpeza
e frescor. Temos uma insatisfação trabalhista, imediatamente descontamos
nos bens comuns nossa raiva incontida; um canino nos fere o ouvido com
seu latido natural, imediatamente, nós afastamos da proximidade a
pauladas; a um muro limpo, nosso instinto nos leva a sujá-lo com nossa
criatividade questionável a guisa de pichação. Toda beleza, natural ou
não, foi feita para alegrar e evoluir a existência humana. A depredação
é índice de nosso atraso provisório na verificação da beleza, divina, na
terra.

Saqueamos, o tempo todo, os bens comuns. Usamos indevidamente bens que
não são nossos. Saqueamos o depósito de oxigênio quando não cuidamos
bens de nossos automotivos, quando fazemos queimadas irresponsáveis,
quando cultivamos hábitos tabagistas ou alcoólicos, quando sujamos os
mares, matando a microplantas responsáveis pela fotossíntese global.
Saquear não pressupõe necessariamente a coadunação com o terrorismo, ou
navios com piratas de antanho e de hoje. Hoje não necessitamos de males
em naus perdidas nos mares da existência a nos saquear. Nós mesmos
estamos saqueando recursos que, no futuro poderão ser faltos, em nossa
existência no porvir.

Surripiar, tirar, tomar, Locupletar, são significados para tomar
conosco conquistas alheias. Somos conquistadores, alguns mais, outros
menos inconseqüentes. A lei divina, pelo exposto, não se circunscreve
apenas à perda de valores pecuniários; é um problema de postura perante
a vida, no quesito respeito ao veio humano que nos acolhe a guisa de
aprendizado. Não condenamos a quem quer que seja, pois o amanhã é todo
um universo de oportunidades. Não orientamos a viver a manière de (05)
alguém que não somos, até por que, casos há que a subtração deriva de
aspectos patológicos. Neste sentido põe-se necessária o aprendizado pelo
exemplo, nosso e altero, de vez que cada um de nós somos uma
universidade viva para aprendizado por todos os outros. Assim podemos
entender que Não Roubar, não é contexto reducionista, mas
universalista, pois é lógica a ser consolidada nos espíritos, no porvir,
de todos os homens de bens. Não se restringe a moedas, mas à valorização
dos primados da ética e do respeito mútuos.

Reflitamos.

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