Ao classificar os
caboclos e pretos-velhos como inferiores e ignorantes, os nossos companheiros de
ideal não são, apenas, movidos pelo preconceito de julgar desprestigiosa a vida
simples e despojada que algumas grupos étnicos tiveram ou têm.
Agem, também, com
desconhecimento doutrinário, esquecidos de que esses espíritos já tiveram outras
reencarnações, que podem ter se dado entre a cultura e as academias do saber,
encontrando-se momentaneamente envoltos por uma aparência primitiva, embora não
menos dotada de qualidades superiores.
Surpreendemos
opiniões variadas a esse respeito, grande parte delas eivada desse preconceito
incompreensível.
Para parcela do Movimento Espírita,
não devemos aceitar a presença de espíritos que se intitulam pretos-velhos
porque tal designação revelaria apego, atavismo e ignorância, e “estamos aqui
para tirar a ignorância”.
Afirma-se, ainda,
que devemos convocar o espírito a que assuma outra roupagem, de uma outra
encarnação, adotando seu nome de batismo, explicando-lhe que, agora, já não é
mais “pai” ou “mãe” fulana, e sim “irmão” ou “irmã”.
Apesar do respeito
que temos por todos e por toda opinião, discordamos completamente dessa visão.
É claro que não
devemos manter, com esses espíritos, uma relação de escravidão: nem devemos
querer escravizá-los, nem aceitar que tenham tal inclinação.
Caso tenham sido
escravos, tal situação ficou no passado, não devendo ser revivida sob qualquer
pretexto.
Contudo, não se
pode inferir que sejam ignorantes por simplesmente optarem por um designativo
que lhes foi caro, como o de “pai”, “mãe”, “vô” ou “vovó”, muito menos pela
aparência que escolhem manter na vida espiritual.
É perfeitamente
natural e lógico que os espíritos mantenham suas vinculações culturais e
religiosas.
Assim, não é tanto
por isso que devemos avaliar seu nível de evolução espiritual, mas sim pelo que
dizem, pelo que fazem e pelo teor de suas vibrações.
Não podemos
transportar os falsos julgamentos feitos a partir da aparência para a relação
com os espíritos.
Manifestar-se como
preto-velho ou caboclo revela atavismo? Sim, certamente, não poderemos negar.
No entanto, o que
diremos de espíritos que se revelam como padres, freiras, senadores romanos ou
médicos alemães?
Também isto não
revelará atavismo? Não será, também, expressão de apego às experiências de uma
encarnação que mais marcou o espírito?
E o designativo de
“irmão” ou “irmã”, que é sugerido para os pretos-velhos e os caboclos, também
não se refere ao atavismo católico, à vida dos primeiros cristãos e dos
monastérios, pois não é assim que costumamos designar os religiosos
católicos?
Assim, devemos ter
muito cuidado com argumentos que, ainda que não intencionalmente, alimentam uma
espécie de separatismo espiritual.
Tratar índios e
ex-escravos como inferiores pressupõe tratar os demais – padres, freiras,
senadores romanos, médicos alemães e brasileiros – como superiores, numa clara
expressão de “eugenia espiritual”.
Isto, sim, nos
colocaria em condição de ignorância dos valores que verdadeiramente importam na
vida de Além Túmulo, depondo contra os princípios do Espiritismo e do próprio
Cristianismo (Pedro Camilo, Prof. Universidade de Direito do Estado da
Bahia).
Nota da
autora: Esta obra estuda a mediunidade a partir das lições e
experiências da médium Yvonne Pereira. Trata-se do antigo DEVASSANDO A
MEDIUNIDADE, que publicamos há 4 anos, revisto e
ampliado.
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