A crítica transformada
em legitimação
em legitimação
Os críticos ferrenhos de hoje ainda beberão sofregamente da fonte cristalina das águas lustrais da Doutrina Espírita
“Liberta das limitações da carne, a alma entrevê claridades novas e compreende o que antes não compreendia.” - Allan Kardec [1]
O anátema esteve sempre presente junto às ideias novas que chegam para abalar o “status-quo” vigente. Os interesses rasteiros e mesquinhos não oferecem espaço para novidades que se destinam a desbancá-los. E o misoneísmo grassa infrene! Tal ocorrência se deu em todos os tempos da Humanidade, inclusive nos atuais, haja vista a má vontade generalizada para com as alforriadoras ideias espiritistas.
Assim, nos mais recuados tempos, podemos flagrar o povo tutelado por Moisés preferindo o bezerro de ouro em detrimento dos Mandamentos divinos.
No primeiro século do Cristianismo, observamos as imensas barreiras dogmáticas a cercearem as florações evangélicas. Nessa época, em virtude da má vontade dos Judeus para se ajustarem aos ensinamentos cristãos, Paulo de Tarso, dirigindo-lhes a palavra, disse[2]: “(...) Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e vos não julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios”.
Sem embargo, em muitas ocasiões, o anátema se convertia em aprovação. O próprio Paulo de Tarso, tal como Santo Agostinho, são dois exemplos altissonantes de posicionamentos críticos transformados em legitimação: O primeiro, feroz defensor do Moisaísmo, lançava anátemas ao Cristianismo, que alterava muitos conceitos das draconianas leis mosaicas, mas tornou-se o vexilário da divulgação do pensamento cristão, a seu tempo.
Já Santo Agostinho, um dos Pais da Igreja, conforme aprendemos com Allan Kardec1, é atualmente um dos maiores símbolos da divulgação do Espiritismo, além de ter colaborado de maneira muito expressiva junto ao Colegiado de Espíritos Superiores que assessoravam o Mestre Lionês, porquanto são inúmeras as suas lúcidas páginas no contexto da Codificação Espírita.
O mesmo ocorreu com vários cientistas e filósofos que profligavam o Espiritismo, acoimando-o de crença supersticiosa, infundada, e mais tarde se retrataram, envergonhados, do anátema anteriormente lançado. Dentre estes podemos destacar Robert Hare, eminente físico e químico norte-americano, um dos primeiros homens da ciência e o primeiro cientista dos Estados Unidos a se dedicar à investigação experimental da fenomenologia mediúnica. Nascido na Filadélfia no dia 17 de janeiro de 1781, às margens do rio Delawere, no Estado da Pensilvânia, filho de imigrantes ingleses.
Na época do surgimento dos fenômenos de Hydesville (1848) e em outras cidades, Robert Hare ficava admirado de ver homens respeitáveis, como o magistrado da Corte Suprema de Nova Iorque, John Wisconsin, Nathaniel Talmadge e o professor universitário James Mapes aderirem ao nascente movimento conhecido como Espiritualismo moderno. Formado na mais rigorosa ciência de seu tempo, parecia-lhe inconcebível a decisão daqueles homens cultos e de destaque na sociedade americana estarem envolvidos com tais coisas. Hare chegou mesmo a escrever, em 1853, uma carta denunciadora com severas críticas contra o que considerava uma nova superstição, nos seguintes termos: “Sinto-me obrigado, pelo dever para com meu próximo, a empenhar toda a minha influência no sentido de deter a corrente de loucura popular que, desafiando a Ciência e a Razão, pronuncia-se favoravelmente a esse grosseiro embuste que é o Espiritismo”. Esta carta foi amplamente publicada pela imprensa americana da época, dando origem a acalorados debates em todo país. Ele dizia ser necessário estancar aquela “maré de loucura”. Pois bem, não demorou muito e sua curiosidade científica o levou aos fenômenos, mas com a nítida intenção de desmascará-los. Mais tarde concluiria, para escândalo de toda a sociedade americana, a veracidade da fenomenologia mediúnica, escrevendo um livro com mais de 400 páginas intitulado: Investigação Experimental das Manifestações dos Espíritos – Demonstração da Existência dos Espíritos e sua Comunicação com os Mortais. Foi assim que depois de dois anos de intenso trabalho, o ceticismo de Robert Hare foi vencido pela evidência dos fatos, os quais demonstravam que os médiuns eram intermediários que facilitavam, com suas atitudes, a intervenção de seres inteligentes extrafísicos, ou melhor: dos Espíritos.
Nos tempos apostólicos, um fariseu bondoso, justo, equilibrado e genial, muito querido pelo povo, chamado Gamaliel, integrante do Conselho do Sinédrio, presente na obra romanceada de Emmanuel, e do qual também nos dão notícias as escrituras Neotestamentárias[3], alertou a seus pares que estavam julgando os apóstolos Pedro e João, dizendo com sabedoria e bondade: “Libertai estes homens, porque se eles fazem as obras dos homens, ela se desfará por si própria, mas se é obra de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus”.
O bispo que condenou à fogueira inquisitorial 300 obras espíritas, em Barcelona, na Espanha, desencarnando pouco tempo depois, manifestou seu amargo arrependimento por ter perpetrado ato tão arbitrário quão insano. A História está cheia de casos tais...
Assim, não devemos, em absoluto, perder o nosso precioso tempo em preocupações com os atuais críticos de plantão, anatematizadores do Espiritismo. É só uma questão de tempo e eles também beberão na fonte cristalina das águas lustrais da Doutrina Espírita.
Cuidemos, isto sim, nós, os Espíritas, de nossa administração, pois os adversários de hoje poderão ocupar – com muito mais eficiência – o nosso espaço nos arraiais espiritistas e fazer em prol da divulgação do Espiritismo muito mais do que fazemos (ou achamos que estamos fazendo).
Com outras palavras e em outro contexto, disse Jesus a mesma coisa, recomendando cuidado aos religiosos de Seu tempo, pois se não cuidassem do próprio aprendizado e da prática das Leis de Deus, as meretrizes os antecederiam na conquista do Reino dos Céus.
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