PROBLEMAS DE TRANSMISSÃO MEDIÚNICA |
Jaime
aproximou-se de dedicado médium, transmitiu lenta e firmemente palavra
por palavra de sua mensagem, falando claramente de seus objetivos, da
necessidade de algumas providências técnicas e psicológicas.
Tudo
ia bem e o arauto encarnado repetia as palavras com fidelidade, até que
o inesperado aconteceu: inexplicavelmente, Jaime dizia uma coisa e o
nosso médium outra, um pouco modificada na forma mas muito diferente na
essência.
Por
um momento houve estrenheza em nosso grupo. O que estaria ocorrendo? O
médium era bem intencionado e sério, culto e preparado, tudo estava
sendo feito como de hábito, por que o equívoco?
Jaime
esforçou-se, fez o melhor que pôde, mas a mensagem não foi compreendida
e, o que é pior, não tendo sido compreendida como devia, foi
considerada suspeita e colocada de lado.
Os
nossos técnicos esmiuçaram a aparelhagem, tudo. Nada revelava a causa
daquela estranha interferência. Assim, tornaram aos temas evangélicos e
doutrinários e tudo voltou à normalidade; mas sempre que Jaime se
decidia a inovar e dar andamento ao projeto, a estranha ocorrência se
registrava.
Por
isso, Jaime, resolveu recorrer a um conhecedor profundo da técnica da
comunicação dos planos superiores, que uma noite compareceu à reunião
para determinar as causas da anormalidade. É claro que eu estava lá!
Conhecer um “papa” da comunicação dos altos planos era algo inusitado e
muito especial.
Eu
esperava um sábio de alvas barbas, por isso surpreendeu-me a figura de
um jovem quase imberbe de rosto alegre e sereno, cabelos louros e
revoltos.
Quem
diria! Mas era. E parece que no mundo de onde ele vive, dão preferência
à aparência jovem; por isso, ele, que não mais reencarna na Terra,
conserva-a há séculos e só vai mudá-la se quiser.
Não
é incrível? Lá, o sonho da juventude eterna é uma realidade. Talvez
seja por isso que o homem da Terra inverte tanto os valores. Tudo quanto
lhe parece fantasia é que é realidade, e tudo quanto lhe parece sólido,
material, está sujeito à transformação. Não é espetacular?
Nessa
hora, tenho muita pena dos pesados e sisudos “cientistas” materialistas
e louvo os maravilhosos contos de fadas infantis, que conseguem
conservar um pouco de realidade nesse mundo caótico da Terra.
Mas
ele chegou. Não sei como, não vi nenhum disco voador. Veio com tanta
simplicidade e precisão que encantou a todos. Ouviu com paciência e
bom-humor todas as alegações de Jaime. Passou os olhos percucientes por
todo equipamento e esclareceu:
— Está tudo certo. Vocês fizeram tudo muito bem. Nada há de errado nem o que mudar.
Jaime fez um gesto largo:
— Então, por que essas interferências? Por que eles não captam todas as mensagens com fidelidade absoluta?
— Porque não podem.
—
Mas quando generalizamos e falamos dos ideais nobres da vida maior,
quando falamos sobre os Evangelhos ou sobre Filosofia Espírita, captam
com absoluta fidelidade. Até com as mesmas palavras. Chegam a repetir
meus gestos pessoais, o tom da minha voz. Mas sempre que quero acionar o
mecanismo mais objetivo no âmbito individual, mencionar datas, nomes,
fatos, como faria através de um aparelho telefônico na Terra, isso não
acontece. Por quê? Ainda há mais: sempre que aciono uma mudança e
procuro objetivar nossos planos, eles o deturpam e ficam duvidosos,
angustiados. Afinal, o que está errado?
O jovem sábio sorriu amavelmente e esclareceu:
—
Ruídos da comunicação. Vocês estão perfeitos, dentro da mais requintada
técnica do seu plano consciencial, analisaram o plano consciencial
terreno e, reduzindo sua frequência, entram em contato com eles.
Contudo, talvez não tenham observado que todos os estímulos que o homem
terreno recebe na forma de ideias são rapidamente decodificados pela
mente e reestruturados dentro de suas próprias dimensões. Tudo quanto
for novo e não encontrar repercussão na decodificação sofre adaptação
aproximada; prevalecendo aí as variantes da personalidade.
Não compreendi bem, mas Jaime parece que entendeu, porque tornou decepcionado:
— Quer dizer que essa variante sempre interfere na comunicação?
—
Sempre. Se você mostrar um prisma do seu plano com suas maravilhosas
cores a um homem, mesmo que ele as “veja” com a mente, mencionará apenas
as sete cores que conhece na Terra. Estará decodificando as demais
dentro do seu limite de registro.
— Quer dizer que não vou conseguir falar aos homens como num telefone?
—
É muito difícil. Venho estudando o assunto há séculos e tenho observado
que, para que isso viesse a ocorrer, haveria necessidade do homem viver
muito desprendido da vida terrena, antecipando a vida fora da matéria, o
que não é fácil.
— Quer dizer que devemos desistir?
—
Claro que não. Continuem, apesar de tudo, porque a ideia transmitida,
embora decodificada à maneira de cada um, é preciosa semente para o
futuro. Depois, existe a experiência na Terra que conduz o homem às
mudanças fundamentais, que vocês podem usar como meio para alcançar seus
nobres ideais.
— Quer dizer que não há maneira de eu falar aos homens sem interferência na comunicação?
—
Há — tornou ele, — e muitos têm se utilizado dela. É reencarnar na
Terra e tentar falar com eles diretamente. Mesmo assim, o processo lá é
tão lento que por vezes eles só vão entender o que você diz séculos
depois, quando você já tiver regressado. Mas sempre valerá a pena
tentar.
Saí
pensativo. Será por isso que sempre que eu quero contar coisas pessoais
através dos médiuns, com datas, fatos e provas, há ruído em nossa
comunicação?
Ou
será que esse ruído é um recurso que a vida usa para evitar o
personalismo, o interesse particular, e nos convidar às grandes causas,
ao bem coletivo e fundamental?
Livro: Bate-Papo Com o Além
Zibia Gasparetto, pelo Espírito Silveira Sampaio
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