O
REPOUSO ALÉM DA MORTE
Contei-lhe
que, ao descansar, não tive a impressão de dormir, qual o fazia no corpo de
carne. Permanecera sob curiosa posição psíquica, em que jornadeara longe,
contemplando pessoas e paisagens diversas. Supunha, assim, não ter estado num
sono propriamente dito.
Escutou-me
atenciosamente, explicando-me, em seguida, que o repouso para os desencarnados
varia ao infinito.
O
Espírito demasiadamente ligado aos interesses humanos acusa a necessidade de
amplo mergulho na inconsciência quase total, depois da morte. A ausência de
motivos nobres, nos impulsos da individualidade, estabelece profunda
incompreensão na alma liberta das teias fisiológicas, que se porta, ante a
grandeza da espiritualidade superior, à maneira do selvagem recém-vindo da
floresta perante uma assembléia de inteligências consagradas às realizações
artísticas; quase nada entende do que vê e do que ouve, demonstrando a
necessidade de compulsório regresso à tribo da qual se desligará vagarosamente
para adaptar-se à civilização. Também os criminosos e os viciados de toda sorte,
com o espírito encarnado nas grades das próprias obras escravizantes, não
encontram prazer nas indagações espirituais de natureza elevada, reclamando a
imersão nos fluídos pesados e gravitantes da luta expiatória, em que a dor
sistemática vai trabalhando a alma, qual buril milagroso aprimorando a pedra.
Para as entidades dessa expressão, impõe-se torpor quase absoluto, logo após o
sepulcro, em vista da falta provisória de apelos enobrecedores na consciência
iniciante ou delinquente. Finda a batalha terrena, entram em período de sono
pacífico ou de pesadelo torturado, conforme a posição em que se situam; período
esse que varia de acordo com o quadro geral de probabilidades de reerguimento
moral ou de mais aflitiva queda que os interessados apresentam. Terminada essa
etapa, que podemos nomear de hibernação da consciência, os desencarnados desse
tipo são reconduzidos à carne ou recolhidos em educandários nos círculos
inferiores, com aproveitamento de suas possibilidades em serviço nobre, não
obstante de ordem primária.
Não
ocorre o mesmo com o Espírito médio, portador de regular cultura
filosófico-religioso e, sem compromissos escuros na experiência material; quanto
maior o esforço das almas dessa espécie por atenderam aos desígnios divinos, no
campo físico, mais vasta é a lucidez de que se fizeram dotadas nas esferas de
além-túmulo.
Enquanto
a mente das primeiras é requisitada ao fundo abismo das impressões humanas, ao
qual se agarram à semelhança de ostras à própria concha, a mente das segundas
busca elevar-se, tanto quanto lhes permitem as próprias forças e conhecimentos.
O descanso, pois, além da morte, para as criaturas de condição mais elevada,
deixa, assim, de ser imersão mental nas zonas obscuras do mundo para ser vôo de
acesso aos domínios superiores da vida.
Finalizando
a resposta, o Irmão Andrade, asseverou que certas individualidades, não obstante
exaustas no supremo instante do transe final, libertam-se da matéria grosseira e
colocam-se a caminho de esferas divinizadas, com absoluta lucidez e sem
necessidade de qualquer repouso tonificante, qual o compreendemos, em vista do
nível de sublimação espiritual que já atingiram.
pelo
Espírito Irmão Jacob, Do Livro: Voltei, Médium: Francisco Cândido
Xavier.
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