Hoje
debatendo então sobre a última das leis morais, e a mais importante de todas: a
lei de justiça, amor e caridade. Seguem abaixo, na íntegra, as questões
referentes a essa lei, e logo após o nosso habitual
comentário.
"873. O sentimento de justiça é natural ou resulta de idéias adquiridas?
— É de tal modo natural que vos revoltais ao pensamento de uma injustiça. O progresso moral desenvolve sem dúvida esse sentimento, mas não o dá: Deus o pôs no coração do homem. Eis porque encontrais freqüentemente, entre os homens simples e primitivos, noções mais exatas de justiça do que entre pessoas de muito saber.
874. Se a justiça é uma lei natural, como se explica que os homens a entendam de maneiras tão diferentes, que um considere justo o que a outro parece injusto?
— É que em geral se misturam paixões ao julgamento, alterando esse sentimento, como acontece com a maioria dos outros sentimentos naturais e fazendo ver as coisas sob um falso ponto de vista.
875. Como se pode definir a justiça?
— A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um.
875. a) O que determina esses direitos?
— São determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens feito leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que podem variar com o progresso. Vede se as vossas leis de hoje, sem serem perfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Esses direitos superados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. O direito dos homens, portanto, nem sempre é conforme à justiça. Só regula algumas relações sociais, enquanto na vida privada há uma infinidade de atos que. são de competência exclusiva do tribunal da consciência.
876. Fora do direito consagrado pela lei humana, qual a base da justiça fundada sobre a lei natural?
— O Cristo vos disse: “Querer para os outros o que quereis para vós mesmos”. Deus pôs no coração do homem a regra de toda a verdadeira justiça, pelo desejo que tem cada um de ver os seus direitos respeitados. Na incerteza do que deve fazer para o semelhante, em dada circunstância, que o homem pergunte a si mesmo como desejaria que agissem com ele. Deus não poderia dar um guia mais seguro que a sua própria consciência.
Comentário de Kardec: O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar ao próximo senão o bem. Desde todos os tempos e em todas as crenças, o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.
877. A necessidade de viver em sociedade acarreta para o homem obrigações particulares?
— Sim, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos dos semelhantes; aquele que respeitar esses direitos será sempre justo. No vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias e vem daí a perturbação e a confusão da vossa sociedade. A vida social dá direitos e impõe deveres recíprocos.
878. Podendo o homem iludir-se quanto à extensão do seu direito, o que pode fazer que ele conheça os seus limites?
— Os limites do direito que reconhece para o seu semelhante em relação a ele, na mesma circunstância e de maneira recíproca.
878 – a) Mas se cada um se atribui a si mesmo os direitos do semelhante, em que se transforma a subordinação aos superiores? Não será isso a anarquia de todos os poderes?
— Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde o menor até o maior. Deus não fez uns de limo mais puro que outros e todos são iguais perante ele. Esses direitos são eternos; os estabelecidos pelos homens perecem com as instituições. De resto, cada qual sente bem a sua força ou a sua fraqueza, e saberá ter sempre uma certa deferência para aquele que o merecer, por sua virtude e seu saber. E importante assinalar isto, para que os que se julgam superiores conheçam os seus deveres e possam merecer essas deferências. A subordinação não estará comprometida, quando a autoridade for conferida à sabedoria.
879. Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?
— O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus; porque praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há a verdadeira justiça.
880. Qual é o primeiro de todos os direitos naturais do homem?
— O de viver. É por isso que ninguém tem o direito de atentar contra a vida do semelhante ou fazer qualquer coisa que possa comprometer a sua existência corpórea.
881. O direito de viver confere ao homem o direito de ajuntar o que necessita para viver e repousar, quando não mais puder trabalhar?
— Sim, mas deve fazê-lo em família, como a abelha, através de um trabalho honesto, e não ajuntar como um egoísta. Alguns animais lhe dão o exemplo dessa previdência.
882.0 homem tem o direito de defender aquilo que ajuntou pelo trabalho?
— Deus não disse: “Não roubarás”; e Jesus: “Dai a César o que é de César”?
Comentário de Kardec: Aquilo que o homem ajunta por um trabalho honesto é uma propriedade legítima, que ele tem o direito de defender. Porque a propriedade que é fruto do trabalho constitui um direito natural, tão sagrado como o de trabalhar e viver.
883. O desejo de possuir é natural?
— Sim, mas quando o homem só deseja para si e para sua satisfação pessoal, é egoísmo.
883 – a) Entretanto, não será legítimo o desejo de possuir, pois o que tem com o que viver não se torna carga para ninguém?
— Há homens insaciáveis que acumulam sem proveito para ninguém ou apenas para satisfazer as suas paixões. Acreditas que isso seja aprovado por Deus ? Aquele que ajunta pelo seu trabalho, com a intenção de auxiliar o seu semelhante, pratica a lei de amor e caridade e seu trabalho é abençoado por Deus.
884. Qual é o caráter da propriedade legítima?
— Só há uma propriedade legítima: a que foi adquirida sem prejuízo pura os outros. (Ver item 808.)
Comentário de Kardec: A lei de amor e justiça proíbe que se faça a outro o que não queremos que nos seja feito, e condena, por esse mesmo princípio, todo meio de adquirir que o contrarie.
885. O direito de propriedade é sem limites?
— Sem dúvida, tudo o que é legitimamente adquirido é uma propriedade, mas, como já dissemos, a legislação humana é imperfeita e consagra freqüentemente direitos convencionais que a justiça natural reprova. É por isso que os homens reformam suas leis à medida que o progresso se realiza e que eles compreendem melhor a justiça. O que num século parece perfeito, no século seguinte se apresenta como bárbaro. (Ver item 795.)
886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
— Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições alheias, perdão das ofensas.
Comentário de Kardec: O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como irmãos”.
A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais ou superiores. Ela nos manda ser indulgentes, porque temos necessidade de indulgência, e nos proíbe humilhar o infortúnio, ao contrário do que comumente se pratica. Se um rico nos procura, atendemo-lo com excesso de consideração e atenção, mas se é um pobre, parece que não nos devemos incomodar com ele. Quanto mais, entretanto, sua posição é lastimável, mais devemos temer aumentar-lhe a desgraça pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos.
887. Jesus ensinou ainda: “Amai aos vossos inimigos”. Ora, um amor pelos nossos inimigos não é contrário às nossas tendências naturais, e a inimizade não provém de uma falta de simpatia entre os Espíritos?
— Sem dúvida não se pode ter, para com os inimigos, um amor terno e apaixonado. E não foi isso que ele quis dizer. Amar aos inimigos é perdoá-los e pagar-lhes o mal com o bem. É assim que nos tornamos superiores; pela vingança nos colocamos abaixo deles.
888. Que pensar da esmola?
— O homem reduzido a pedir esmolas se degrada moral e fisicamente: se embrutece. Numa sociedade baseada na lei de Deus e na justiça, deve-se prover a vida do fraco, sem humilhação para ele. Deve-se assegurar a existência dos que não podem trabalhar sem deixá-los à mercê do acaso e da boa vontade.
888 – a) Então condenais a esmola?
— Não, pois não é a esmola que é censurável, mas quase sempre a maneira por que ela é dada. O homem de bem, que compreende a caridade segundo Jesus, vai ao encontro do desgraçado sem esperar que ele lhe estenda a mão.
A verdadeira caridade é sempre boa c benevolente; tanto está no ato quanto na maneira de fazê-la. Um serviço prestado com delicadeza tem duplo valor; se o for com altivez, a necessidade pode fazê-lo aceito, mas o coração mal será tocado.
Lembrai-vos ainda de que a ostentação apaga aos olhos de Deus o mérito do benefício. Jesus disse: “Que a vossa mão esquerda ignore o que faz a direita”. Com isso, ele vos ensina a não manchar a caridade pelo orgulho.
É necessário distinguir a esmola propriamente dita da beneficência. O mais necessitado nem sempre é o que pede: o temor da humilhação retém o verdadeiro pobre, que quase sempre sofre sem se queixar. É a esse que o homem verdadeiramente humano sabe assistir sem ostentação.
Amai-vos uns aos outros, eis toda lei, divina lei pela qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados, e a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.
Não olvideis jamais que o Espírito, qualquer que seja o seu grau de adiantamento, sua situação como reencarnado ou na erraticidade, esta sempre colocado entre um superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior perante o qual tem deveres iguais a cumprir. Sede, portanto, caridosos, não somente dessa caridade que vos leva a tirar do bolso o óbolo que friamente atirais ao que ousa pedir-vos, mas ide ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os erros dos vossos semelhantes. Em lugar de desprezar a ignorância e o vício, instruí-os e moralizai-os. Sede afáveis e benevolentes para com todos os que vos são inferiores; sede-o mesmo para com os mais ínfimos seres da Criação, e tereis obedecido à lei de Deus. (São Vicente de Paulo.)
889. Não há homens reduzidos à mendicidade por sua própria culpa?
— Sem dúvida. Mas se uma boa educação moral lhes tivesse ensinado a lei de Deus, não teriam caído nos excessos que os levaram à perda. E é disso, sobretudo, que depende o melhoramento do vosso globo. (Ver item 707.)
890. O amor maternal é uma virtude ou um sentimento instintivo, comum aos homens e aos animais?
— É uma coisa e outra. A Natureza deu à mãe o amor pelos filhos, no interesse de sua conservação; mas, no animal, esse amor é limitado às necessidades materiais: cessa quando os cuidados se tornam inúteis. No homem, ele persiste por toda vida e comporta um devotamento e uma abnegação que constituem virtudes; sobrevive mesmo à própria morte, acompanhando o filho além da tumba. Vedes que há nele alguma coisa mais do que no animal. (Ver itens 205 e 385.)
891. Se o amor materno ó uma lei natural, por que existem mães que odeiam os filhos e freqüentemente desde o nascimento?
— É, às vezes, uma prova escolhida pelo Espírito do filho ou uma expiação, se ele tiver sido um mau pai, mãe ruim ou mau filho em outra existência. (Ver item 392.) Em todos esses casos, a mãe ruim não pode ser animada senão por um mau Espírito, que procura criar dificuldades ao do filho, para que ele fracasse na prova desejada. Mas essa violação das leis naturais não ficará impune e o Espírito do filho será recompensado pelos obstáculos que tiver superado.
892. Quando os pais têm filhos que lhes causam desgostos, não são escusáveis de não terem por eles a ternura que teriam caso contrário?
— Não, porque se trata de um encargo que lhes foi confiado e sua missão é a de fazer todos os esforços para os conduzir ao bem. (Ver itens 582 e 583.) Por outro lado, esses desgostos são quase sempre a conseqüência dos maus costumes que os pais deixaram os filhos seguir desde o berço; eles colhem, portanto, o que semearam."
O amor é o que rege todo o universo. O amor é a identificação de Deus. Por isso, é o amor que nos imanta no caminho do bem.
Mas nem sempre percebemos isso. Na maioria das vezes estamos tão preocupados com as coisas materiais que nos esquecemos de Deus e de nossa verdadeira realidade: a de espíritos aqui encarnados com o objetivo de aprender e progredir.
E como vamos ser justos e caridosos verdadeiramente se não estamos sintonizados no amor? A falta de amor é o grande mal da humanidade, pois isso acarreta diversos males e distúrbios para nós mesmos.
Mas porque falta o amor? Deus parou de nos amar? Deus diminuiu a quantidade de seu amor? Não, nós que nos dedicamos exclusivamente ao materialismo e fechamos as portas a Deus e ao amor.
Mas, uma vez que nos empenhamos no caminho do melhoramento moral e do auxílio ao próximo, abrimos as portas para receber todas as bênçãos de Deus. É por isso que frequentemente quando uma pessoa decide melhorar, sua vida parece "andar para a frente".
O guia para o amor na Terra já foi deixado por Jesus: é fazer ao próximo o que gostaríamos que nos fosse feito, e não fazer a ele o que não gostaríamos que nos fizessem. Simples lição, que ainda não conseguimos praticar.
O dia em que a humanidade compreender este ensinamento e conseguir colocá-lo em prática, o planeta dará um salto em evolução e a felicidade se fará cada vez mais presente a todos no mundo.
Mas para que esse dia chegue, é necessário que comecemos fazendo a nossa parte.
Só assim, cada um fazendo a sua parte é que pouco a pouco operaremos a transformação no mundo.
"873. O sentimento de justiça é natural ou resulta de idéias adquiridas?
— É de tal modo natural que vos revoltais ao pensamento de uma injustiça. O progresso moral desenvolve sem dúvida esse sentimento, mas não o dá: Deus o pôs no coração do homem. Eis porque encontrais freqüentemente, entre os homens simples e primitivos, noções mais exatas de justiça do que entre pessoas de muito saber.
874. Se a justiça é uma lei natural, como se explica que os homens a entendam de maneiras tão diferentes, que um considere justo o que a outro parece injusto?
— É que em geral se misturam paixões ao julgamento, alterando esse sentimento, como acontece com a maioria dos outros sentimentos naturais e fazendo ver as coisas sob um falso ponto de vista.
875. Como se pode definir a justiça?
— A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um.
875. a) O que determina esses direitos?
— São determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens feito leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que podem variar com o progresso. Vede se as vossas leis de hoje, sem serem perfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Esses direitos superados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. O direito dos homens, portanto, nem sempre é conforme à justiça. Só regula algumas relações sociais, enquanto na vida privada há uma infinidade de atos que. são de competência exclusiva do tribunal da consciência.
876. Fora do direito consagrado pela lei humana, qual a base da justiça fundada sobre a lei natural?
— O Cristo vos disse: “Querer para os outros o que quereis para vós mesmos”. Deus pôs no coração do homem a regra de toda a verdadeira justiça, pelo desejo que tem cada um de ver os seus direitos respeitados. Na incerteza do que deve fazer para o semelhante, em dada circunstância, que o homem pergunte a si mesmo como desejaria que agissem com ele. Deus não poderia dar um guia mais seguro que a sua própria consciência.
Comentário de Kardec: O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar ao próximo senão o bem. Desde todos os tempos e em todas as crenças, o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.
877. A necessidade de viver em sociedade acarreta para o homem obrigações particulares?
— Sim, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos dos semelhantes; aquele que respeitar esses direitos será sempre justo. No vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias e vem daí a perturbação e a confusão da vossa sociedade. A vida social dá direitos e impõe deveres recíprocos.
878. Podendo o homem iludir-se quanto à extensão do seu direito, o que pode fazer que ele conheça os seus limites?
— Os limites do direito que reconhece para o seu semelhante em relação a ele, na mesma circunstância e de maneira recíproca.
878 – a) Mas se cada um se atribui a si mesmo os direitos do semelhante, em que se transforma a subordinação aos superiores? Não será isso a anarquia de todos os poderes?
— Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde o menor até o maior. Deus não fez uns de limo mais puro que outros e todos são iguais perante ele. Esses direitos são eternos; os estabelecidos pelos homens perecem com as instituições. De resto, cada qual sente bem a sua força ou a sua fraqueza, e saberá ter sempre uma certa deferência para aquele que o merecer, por sua virtude e seu saber. E importante assinalar isto, para que os que se julgam superiores conheçam os seus deveres e possam merecer essas deferências. A subordinação não estará comprometida, quando a autoridade for conferida à sabedoria.
879. Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?
— O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus; porque praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há a verdadeira justiça.
880. Qual é o primeiro de todos os direitos naturais do homem?
— O de viver. É por isso que ninguém tem o direito de atentar contra a vida do semelhante ou fazer qualquer coisa que possa comprometer a sua existência corpórea.
881. O direito de viver confere ao homem o direito de ajuntar o que necessita para viver e repousar, quando não mais puder trabalhar?
— Sim, mas deve fazê-lo em família, como a abelha, através de um trabalho honesto, e não ajuntar como um egoísta. Alguns animais lhe dão o exemplo dessa previdência.
882.0 homem tem o direito de defender aquilo que ajuntou pelo trabalho?
— Deus não disse: “Não roubarás”; e Jesus: “Dai a César o que é de César”?
Comentário de Kardec: Aquilo que o homem ajunta por um trabalho honesto é uma propriedade legítima, que ele tem o direito de defender. Porque a propriedade que é fruto do trabalho constitui um direito natural, tão sagrado como o de trabalhar e viver.
883. O desejo de possuir é natural?
— Sim, mas quando o homem só deseja para si e para sua satisfação pessoal, é egoísmo.
883 – a) Entretanto, não será legítimo o desejo de possuir, pois o que tem com o que viver não se torna carga para ninguém?
— Há homens insaciáveis que acumulam sem proveito para ninguém ou apenas para satisfazer as suas paixões. Acreditas que isso seja aprovado por Deus ? Aquele que ajunta pelo seu trabalho, com a intenção de auxiliar o seu semelhante, pratica a lei de amor e caridade e seu trabalho é abençoado por Deus.
884. Qual é o caráter da propriedade legítima?
— Só há uma propriedade legítima: a que foi adquirida sem prejuízo pura os outros. (Ver item 808.)
Comentário de Kardec: A lei de amor e justiça proíbe que se faça a outro o que não queremos que nos seja feito, e condena, por esse mesmo princípio, todo meio de adquirir que o contrarie.
885. O direito de propriedade é sem limites?
— Sem dúvida, tudo o que é legitimamente adquirido é uma propriedade, mas, como já dissemos, a legislação humana é imperfeita e consagra freqüentemente direitos convencionais que a justiça natural reprova. É por isso que os homens reformam suas leis à medida que o progresso se realiza e que eles compreendem melhor a justiça. O que num século parece perfeito, no século seguinte se apresenta como bárbaro. (Ver item 795.)
886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
— Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições alheias, perdão das ofensas.
Comentário de Kardec: O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como irmãos”.
A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais ou superiores. Ela nos manda ser indulgentes, porque temos necessidade de indulgência, e nos proíbe humilhar o infortúnio, ao contrário do que comumente se pratica. Se um rico nos procura, atendemo-lo com excesso de consideração e atenção, mas se é um pobre, parece que não nos devemos incomodar com ele. Quanto mais, entretanto, sua posição é lastimável, mais devemos temer aumentar-lhe a desgraça pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos.
887. Jesus ensinou ainda: “Amai aos vossos inimigos”. Ora, um amor pelos nossos inimigos não é contrário às nossas tendências naturais, e a inimizade não provém de uma falta de simpatia entre os Espíritos?
— Sem dúvida não se pode ter, para com os inimigos, um amor terno e apaixonado. E não foi isso que ele quis dizer. Amar aos inimigos é perdoá-los e pagar-lhes o mal com o bem. É assim que nos tornamos superiores; pela vingança nos colocamos abaixo deles.
888. Que pensar da esmola?
— O homem reduzido a pedir esmolas se degrada moral e fisicamente: se embrutece. Numa sociedade baseada na lei de Deus e na justiça, deve-se prover a vida do fraco, sem humilhação para ele. Deve-se assegurar a existência dos que não podem trabalhar sem deixá-los à mercê do acaso e da boa vontade.
888 – a) Então condenais a esmola?
— Não, pois não é a esmola que é censurável, mas quase sempre a maneira por que ela é dada. O homem de bem, que compreende a caridade segundo Jesus, vai ao encontro do desgraçado sem esperar que ele lhe estenda a mão.
A verdadeira caridade é sempre boa c benevolente; tanto está no ato quanto na maneira de fazê-la. Um serviço prestado com delicadeza tem duplo valor; se o for com altivez, a necessidade pode fazê-lo aceito, mas o coração mal será tocado.
Lembrai-vos ainda de que a ostentação apaga aos olhos de Deus o mérito do benefício. Jesus disse: “Que a vossa mão esquerda ignore o que faz a direita”. Com isso, ele vos ensina a não manchar a caridade pelo orgulho.
É necessário distinguir a esmola propriamente dita da beneficência. O mais necessitado nem sempre é o que pede: o temor da humilhação retém o verdadeiro pobre, que quase sempre sofre sem se queixar. É a esse que o homem verdadeiramente humano sabe assistir sem ostentação.
Amai-vos uns aos outros, eis toda lei, divina lei pela qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados, e a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.
Não olvideis jamais que o Espírito, qualquer que seja o seu grau de adiantamento, sua situação como reencarnado ou na erraticidade, esta sempre colocado entre um superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior perante o qual tem deveres iguais a cumprir. Sede, portanto, caridosos, não somente dessa caridade que vos leva a tirar do bolso o óbolo que friamente atirais ao que ousa pedir-vos, mas ide ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os erros dos vossos semelhantes. Em lugar de desprezar a ignorância e o vício, instruí-os e moralizai-os. Sede afáveis e benevolentes para com todos os que vos são inferiores; sede-o mesmo para com os mais ínfimos seres da Criação, e tereis obedecido à lei de Deus. (São Vicente de Paulo.)
889. Não há homens reduzidos à mendicidade por sua própria culpa?
— Sem dúvida. Mas se uma boa educação moral lhes tivesse ensinado a lei de Deus, não teriam caído nos excessos que os levaram à perda. E é disso, sobretudo, que depende o melhoramento do vosso globo. (Ver item 707.)
890. O amor maternal é uma virtude ou um sentimento instintivo, comum aos homens e aos animais?
— É uma coisa e outra. A Natureza deu à mãe o amor pelos filhos, no interesse de sua conservação; mas, no animal, esse amor é limitado às necessidades materiais: cessa quando os cuidados se tornam inúteis. No homem, ele persiste por toda vida e comporta um devotamento e uma abnegação que constituem virtudes; sobrevive mesmo à própria morte, acompanhando o filho além da tumba. Vedes que há nele alguma coisa mais do que no animal. (Ver itens 205 e 385.)
891. Se o amor materno ó uma lei natural, por que existem mães que odeiam os filhos e freqüentemente desde o nascimento?
— É, às vezes, uma prova escolhida pelo Espírito do filho ou uma expiação, se ele tiver sido um mau pai, mãe ruim ou mau filho em outra existência. (Ver item 392.) Em todos esses casos, a mãe ruim não pode ser animada senão por um mau Espírito, que procura criar dificuldades ao do filho, para que ele fracasse na prova desejada. Mas essa violação das leis naturais não ficará impune e o Espírito do filho será recompensado pelos obstáculos que tiver superado.
892. Quando os pais têm filhos que lhes causam desgostos, não são escusáveis de não terem por eles a ternura que teriam caso contrário?
— Não, porque se trata de um encargo que lhes foi confiado e sua missão é a de fazer todos os esforços para os conduzir ao bem. (Ver itens 582 e 583.) Por outro lado, esses desgostos são quase sempre a conseqüência dos maus costumes que os pais deixaram os filhos seguir desde o berço; eles colhem, portanto, o que semearam."
O amor é o que rege todo o universo. O amor é a identificação de Deus. Por isso, é o amor que nos imanta no caminho do bem.
Mas nem sempre percebemos isso. Na maioria das vezes estamos tão preocupados com as coisas materiais que nos esquecemos de Deus e de nossa verdadeira realidade: a de espíritos aqui encarnados com o objetivo de aprender e progredir.
E como vamos ser justos e caridosos verdadeiramente se não estamos sintonizados no amor? A falta de amor é o grande mal da humanidade, pois isso acarreta diversos males e distúrbios para nós mesmos.
Mas porque falta o amor? Deus parou de nos amar? Deus diminuiu a quantidade de seu amor? Não, nós que nos dedicamos exclusivamente ao materialismo e fechamos as portas a Deus e ao amor.
Mas, uma vez que nos empenhamos no caminho do melhoramento moral e do auxílio ao próximo, abrimos as portas para receber todas as bênçãos de Deus. É por isso que frequentemente quando uma pessoa decide melhorar, sua vida parece "andar para a frente".
O guia para o amor na Terra já foi deixado por Jesus: é fazer ao próximo o que gostaríamos que nos fosse feito, e não fazer a ele o que não gostaríamos que nos fizessem. Simples lição, que ainda não conseguimos praticar.
O dia em que a humanidade compreender este ensinamento e conseguir colocá-lo em prática, o planeta dará um salto em evolução e a felicidade se fará cada vez mais presente a todos no mundo.
Mas para que esse dia chegue, é necessário que comecemos fazendo a nossa parte.
Só assim, cada um fazendo a sua parte é que pouco a pouco operaremos a transformação no mundo.
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