Recentemente republiquei, na Rede Amigo Espírita, um artigo escrito no ano passado, por ocasião dos dez anos de desencarnação do médium Francisco Cândido Xavier, em que proponho o seguinte: CHICO XAVIER NÃO FOI – E NÃO É – SANTO! .
No referido artigo, proponho uma reflexão sobre a maneira como tratamos o Chico, os médiuns e a ...mediunidade, em geral, o que, no fundo, mostra o quanto estamos distantes do entendimento dos estudos judiciosos que Allan Kardec fez, especialmente em O livro dos médiuns. Nesta obra, o mestre francês esclarece que a mediunidade, sendo um natural, não é privilégio exclusivo de homens bons, muito menos guarda relação com o desenvolvimento moral dos indivíduos.
A partir daí, mostramos que, infelizmente, quando olhamos para o Chico, olhamos para a “mediunidade” que teve, pretendendo tratá-lo como especial “por este fato”, esquecidos de que, em verdade, se algo de especial podemos encontrar no saudoso médium é, justamente, o fato de ter sido “uma pessoa boa”, que nos exemplificou humildade, devoção, dedicação e uma série de outras virtudes, cuja consolidação, certamente, ele realizou graças ao convívio e à dedicação ao trabalho com os espíritos.
Sendo assim, afirmávamos, em linhas gerais, antes de ser visto como “médium”, Chico deveria ser visto como “pessoa”. Isto não é diminuí-lo em qualquer aspecto, mas, justamente, reverenciar seu trabalho e seu esforço, quando entre nós, por demonstrar justamente isso – que tanto melhor seremos quanto melhor nos tornarmos, a partir das experiências da vida, em todas as esferas de ação em que sejamos chamados a colaborar.
Não foi, repito, a “mediunidade” o que notabilizou Chico, mas sua conduta moral. Uma série de outros médiuns, ao longo da história, foram por demais prodigiosos na fenomenologia mediúnica; porém, sequer conhecemos seus feitos, muito em função de que não lastrearam suas vidas em bases morais tais que lhes permitissem a mesma notoriedade que mereceu o Chico.
Dessa maneira, em momento algum apontamos defeitos no Chico (o que até seria possível, porque também era humano e sujeito a falhas, a equívocos), mas tão somente ponderamos que nós, sendo espíritas, não deveríamos reviver costumes católicos, transformando-o ou lidando com sua vida ou sua obra como se estivéssemos diante de um “santo”, exatamente na perspectiva católica. Nada contra os católicos, jamais. Porém, se me considero espírita, é como espírita que devo bucar agir.
Curiosamente, surpreendemos manifestações as mais diversas, dos companheiros ligados à Rede Amigo Espírita, tão acertada e democraticamente conduzida pelo nosso amigo José Aparecido. Opiniões contrárias e favoráveis se revezaram, possibilitando a cada um a manifestação de seus pontos de vista.
Considero esse exercício plenamente saudável e necessário. Afinal, todos somos seres inteligentes, criados por Deus para exercitá-la e colocá-la a serviço do bem, de preferência, conforme nos alerta O Evangelho segundo o Espiritismo, quando aborda a “missão do homem inteligente na Terra”. Entretanto, uma coisa preocupa-me sobremodo, em algumas manifestações: os traços de intolerância de alguns em relação às opiniões expressas, sejam as do artigo, sejam as de outros companheiros de jornada.
Tais traços se revelam em palavras agressivas, em opiniões de
A intolerância é um mal que deve ser combatido a todo custo, sobretudo em nós mesmos! Ela revela que não compreendemos, muito bem, as esferas de liberdade, individuais e coletivas, que merecem respeito, consideração e proteção.
Quando revelamos intolerância para com os nossos semelhantes, principalmente quanto a opiniões divergentes das que abraçamos, distanciamo-nos da proposta de Jesus, ao recomendar o “amai aos outros como a vós mesmos”.
Esquecemo-nos de que, tanto quanto nós, o outro também merece ser ouvido e respeitado; e tal como nós jamais toleraríamos qualquer tentativa de nos calarem, seja impedindo-nos de dizer o que pensamos, seja pela nossa desqualificação enquanto interlocutores, também nós devemos preservar seus espaços de liberdade, em um máximo exercício de cristandade e alteridade.
Além disso, eu, particularmente, sempre que me surpreendo reagindo agressiva ou intolerantemente com algo ou alguém, faço a seguinte reflexão: “por que isso me incomodou?”. Quase sempre concluo: porque também eu sou assim, ou ajo assim, ou penso assim. Talvez por isso, não me incomode tanto falar e discutir sobre o Chico ser ou não ser santo – eu o respeito como gente, como ser humano e como médium, guardando uma profunda admiração e respeito por tudo que fez e pelo seu trabalho, que é, também para mim, uma boa e saudável referência. Não me incomoda, portanto, porque o trato como gente – e não como santo!
E tenho absoluta certeza de que, caso o Chico estivesse ao meu lado neste momento, lendo as despretensiosas reflexões deste jovem que só deseja aprender, superar a si mesmo e servir, o querido médium mineiro, que sempre nos deu exemplo de amor, alteridade e tolerância, certamente diria assim:
- Pois é, meu filho. Durante toda a minha existência física, eu sempre disse e repeti isso – que não sou santo – para todos, em alto e bom som, mas quase ninguém quis me ouvir!
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