A Caminho da Luz

quarta-feira, 31 de julho de 2013

As Três Bandeiras do Espiritismo

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As Três Bandeiras do Espiritismo

Aprendizes do Espiritismo, recebemos três diretrizes, verdadeiros fundamentos para a nossa vida: “Trabalho, solidariedade e tolerância”; reforma íntima e “fora da caridade não há salvação”.
A visão espírita do trabalho ultrapassa de largo o exercício de uma profissão. O trabalho é uma lei moral, tem a ver com o ensino de Jesus: “Meu Pai trabalha sempre!”. Portanto, trabalhar é uma permanência, uma indispensabilidade, uma decorrência de nossa condição humana. Tudo trabalha em a natureza. Mas o trabalho do homem é mais que automatismo. Semear, cuidar, compartilhar, criar, servir, são alguns verbos associados ao nosso conceito de trabalho. Mesmos idosos ou doentes, podemos trabalhar com a mente, o coração vibrando de amor, ternura e paz.
O ser solidário antepõe-se ao ser solitário. Não se trata de um jogo de palavras. Na verdade nossa humanidade está muito cheia de solitários. Os famintos, os excluídos de toda ordem, que não têm atenção, carinho, respeito, compreensão. Tanto no plano espiritual quanto entre as nações, é ainda muito recente o conceito de apoio mútuo, de interdependência. Tais solidões geram dor, sofrimento, iniquidades. O mundo está cansado de sofrer. Necessita de nova economia, nova gestão de recursos naturais, renovada preocupação com o meio ambiente e, sobretudo, nova leitura a respeito das relações humanas.
Tolerar é aceitar e conviver com as diferenças. Ainda bem que há diferenças! A riqueza da criação está justamente nas coisas distintas, nas escolhas diversas. Como se fosse um caleidoscópio, ajustadas e aceitas as partes, o todo se renova e provoca novas e desafiadoras surpresas a cada momento. O outro é legítimo, preciso aceitar isso a priori, a fim de que, juntos, possamos construir uma realidade mais bela e melhor. Naturalmente implica em abdicar de posições próprias definitivas e excludentes. Mas esse é o exercício do cidadão espírita universal.
No entanto, como ser solidário, aceitas diferenças e entender o trabalho como um dever moral se mantivermos os mesmos padrões do homem velho, hostil, maledicente, egoísta? É aí que a segunda bandeira, bússola comportamental, a reforma íntima, entra em ação em nós. Renovação! Novos hábitos físicos, mentais, espirituais. Oração, vigilância, disciplina, todo dia, toda hora, pensamento a pensamento, palavra a palavra, atitude a atitude. Desafio em que o velho homem das cavernas continua firme, um pouco escondido pela educação aparente, mas firme e forte, dentro de nós. Qualquer invigilância ele retorna num comentário mais ferino, num deboche azedo, na velha preguiça, na paixão sem controle.
A melhor ferramenta da reforma íntima é a caridade, conforme aprendemos na questão 886 de O Livro dos Espíritos. Há três palavras-chave da caridade: benevolência, indulgência e perdão. Para que haja caridade temos que querer o bem do próximo, adoçarmo-nos internamente e oferecer a ele o melhor de nós mesmos. Estes são os sentidos de bene + forma derivada do verbo latino volo: trata-se de uma força íntima que nos faz querer bem ao outro, independente de quem o outro seja; de indulgência, forma latina para apreço, concordância; e do latim per, que significa complemente + forma do verbo latino dono, que significa dar, dar de presente, perdoar.
A caridade, portanto, é de ordem moral. Trata-se de uma visão salvadora de dentro para fora do ser, ao contrário de outras visões de salvação, de fora para dentro da criatura. A caridade, enquanto não se torna espontânea, natural em nós, exige esforço. Os espíritos superiores vivem em estado de caridade. Nós exercitamos a caridade ainda ocasionalmente. Dia virá, no entanto, que nosso comportamento usual será verdadeiramente caritativo. Aí poderemos dizer, parafraseando Paulo “… já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim”. (Gálatas 2,20).

terça-feira, 30 de julho de 2013

NA ORDEM SOCIAL

NA ORDEM SOCIAL


Observa no próprio lar as forças diferentes que se congregam, nutrindo-te a segurança, para que te não furtes ao dever de servir:
O legislador, cujo pensamento garante a harmonia na via pública.
O engenheiro que te traçou o plano da moradia.
O pedreiro que levantou o edifício a que te acolhes.
O pintor que te alegrou o ambiente.
O operário que te trouxe a bênção das águas ao reduto doméstico.
O braço diligente que te garante combustível e força para que te não faltem calor e luz.

Pensa ainda nos missionários outros que te oferecem equilíbrio e tranquilidade:
O médico que te preserva a saúde.
O escritor que te renova às idéias.
O professor que te educa.
O irmão que te estende amizade e reconforto.
O lixeiro que te alivia.
O varredor que cultiva a higiene.
O lavrador que te assegura o alimento.

Não admitas que o dinheiro seja o único poder aquisitivo de semelhantes valores.

O ouro, só por si, num mundo de sedentos e esfomeados, não valeria a gota dágua, nem a migalha de pão.

Refletem na interdependência que nos rege todas as fases da vida e aprende a valorizar teus minutos na extensão do bem.

Auxiliar a todos com espontaneidade e carinho, é agradecer aos outros o auxílio com que nos seguem.

Fugir à crítica e à desaprovação, abraçando a solidariedade e o estímulo fraterno é compreender nossas próprias necessidades, de vez que não caminharemos sem o concurso alheio.

Entendamos a amplitude da colaboração anônima que recolhemos do próximo e, oferecendo ao próximo o melhor de nós mesmos, estaremos com Cristo, nosso Mestre e Senhor, que, no sacrifício supremo, nos ensinou a alcançar a suprema vitória.
 
 

pelo Espírito Emmanuel - Do livro: Nós, Médium: Francisco Cândido Xavier

A Vida

A Vida
Não é necessário que a morte abra as portas de tribunais supremos para que o homem seja julgado em definitivo.
A vida faz a análise todos os dias e a luta é o grande movimento seletivo, através do qual observamos diversas sentenças a se evidenciarem nos variados setores da atividade humana.
A moléstia julga os excessos;
A exaustão corrige o abuso;
A dúvida retifica a leviandade;
A aflição reajusta os desvios;
O tédio pune a licença;
O remorso castiga as culpas;
A sombra domina os que fogem à luz;
O isolamento fere o orgulho;
A desilusão golpeia o egoísmo;
As chagas selecionam as células do corpo.
Cada sofrimento humano é aresto do Juízo Divino em função na vida contingente da Terra.
Cada criatura padece determinadas sanções em seu campo de experiência.
Compreendendo, a justiça imanente do Senhor, em todas as circunstâncias e em todas as coisas, atendamos à sementeira do bem, aqui e agora, na certeza de que, segundo a palavra do Mestre, cada Espírito receberá os bens e os males do Patrimônio Infinito da Vida, de conformidade com as próprias obras.
Autor: Emmanuel
Psicografia de Chico Xavier. Do livro: Taça de Luz
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Abençoa e Segue
Fita a caravana de companheiros que renteiam contigo, na via pública, e reconhecerás na face de cada um, quase sempre, apreensões e desgostos, a te pedirem simpatia e compreensão.
O cavalheiro bem posto, que passa no carro de luxo, talvez esteja seguindo ao encontro de credores implacáveis, cujas exigências lhe amargam os dias. A dama que surge, causando admiração pelos dotes de elegância e beleza, possivelmente, estará suportando espinhoso fardo de inquietações.
O atleta que aplaudes, partilhando o delírio da multidão, em muitos casos, terá sofrido inesperada perda afetiva e, embora apareça sorrindo, muitas vezes, tem o íntimo embraseado de angústia.
E aquela própria criança inteligente e robusta que observas sob a tutela de alguém, talvez esconda consigo a dor de haver perdido o pai que a trouxe ao mundo.
Na apreciação acerca de alguém ou no exame de situações determinadas, usa a misericórdia, a fim de que te vejas no caminho certo. Abençoa e segue adiante. Na Terra, comumente, afrontada de condenações, sê a presença da paz e o reconforto da benção.
Autor: Emmanuel
Psicografia de Chico Xavier
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Acharás no Próprio Coração
Entrega a Deus os problemas que se te façam insolúveis, trabalha e caminha adiante.
Assim acharás no próprio coração a presença da paz, a irradiar-se de ti por fonte de amor e luz.
Autor: Emmanuel
Psicografia de Chico Xavier
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Afirmação
O Céu auxilia sempre
a quem trabalha
mas espera de quem trabalha
o auxílio possível
para todos aqueles
que ainda não descobriram
a felicidade de trabalhar.
Autor: Emmanuel
Psicografia de Chico Xavier
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A PAZ DO ÚLTIMO DIA
Já pensastes na paz do último dia na Terra?
Há, na alma prestes a regressar à sua eterna pátria, um mundo de sensações desconhecidas.
Nesses olhos nublados de pranto, num corpo lavado pelo copioso suor da agonia, gangrenado e semi-apodrecido, onde os órgãos rebeldes, em conflito, são centros das mais violentas e rudes dores, existe todo um amontoado de mistérios indecifráveis para aqueles que ficam.
Nesses rápidos minutos, um turbilhão de pensamentos represa-se nesse cérebro esgotado pelos sofrimentos... O Espírito, no limiar do túmulo, sente angústia e receio; e, nos estertores de sua impotência, vê, numa continuidade assombrosa de imagens movimentadas, toda a inutilidade das ilusões da vida material. Todas as suas vaidades e enganos tombam furiosamente, como se um ciclone impiedoso os arrancasse do seu íntimo, e os que somente para esses enganos viveram sentem-se, na profundeza de suas consciências, como se atravessassem um deserto árido e extenso; todos os erros do passado gritam nos seus corações, todos os deslizes se lhes apresentam, e nessa quietude aparente de uns lábios que se cerram no doloroso ricto da morte, existem brados de blasfêmia e desesperação, que não escutais, em vosso próprio benefício.
Para esses Espíritos, não existe a paz do último dia. Amargurados e desditosos, lançam ao passado o olhar e reflexionam: – “Ah! se eu pudesse voltar aos tempos idos!...”
OS QUE SE DEDICAM ÀS COISAS ESPIRITUAIS
Nunca nos cansaremos de repetir que a existência no orbe terreno constitui, para as almas mais ou menos evolvidas, um estágio de aprendizado ou de degredo; junto desses seres sensíveis, vivem os Espíritos retardados no seu adiantamento e aqueles que se encontram no início da evolução. Para todos, porém, a luta é a lei purificadora. Os que vivem com mais dedicação às coisas do Espírito, esses encontram maiores elementos de paz e felicidade no futuro; para eles, que sofreram mais, em razão do seu afastamento da vida mundana, a morte é um remanso de tranquilidade e de esperança. Encontrarão a paz ambicionada nos seus dias de lágrimas torturantes, e sociedades esclarecidas os esperam em seu seio, para celebrarem dignamente os seus atos de heroísmo na tarefa árdua de resistência às inúmeras seduções que a existência planetária oferece.
AS ALMAS TORTURADAS
Quão triste, todavia, é a situação dos que no mundo se apegaram, demasiadamente, às alegrias mentirosas e aos prazeres fictícios. Muitos anos de dor os aguardam, nas regiões espirituais, onde contemplam incessantemente os quadros do seu pretérito, em desoladoras visões retrospectivas, na posse imaginária das coisas que os obsidiam. Amantes do ouro, ali ouvem, continuadamente, o tilintar de suas supostas moedas; ingratos, escutam os que foram enganados pelas suas traições; cenas penosas se verificam e muitas almas piedosas se entregam ao mister de guias e condutores desses Espíritos enceguecidos na ilusão e nos tormentos. Só o amor dessas almas carinhosas permite que as esperanças não desfaleçam, cultivando-as incessantemente no coração abatido e desolado dos sofredores, a fim de que renasçam para os resgates necessários.
A OUTRA VIDA
A vida no Além é também atividade, trabalho, luta, movimento. Se as almas estão menos submetidas ao cansaço, não combatem menos pelo seu aperfeiçoamento.
A lei das afinidades a tudo preside, entre os seres despidos dos indumentos carnais, e, liberto o Espírito dos laços que o agrilhoavam à matéria, recebe o apelo de quantos se afinam pelas suas preferências e inclinações.
ESPÍRITOS FELIZES
Bem-aventurados todos aqueles que, ao palmilharem seus derradeiros caminhos, encontram a alvorada da paz, luminosa e promissora; nos celeiros da luz, recolhem o pão da verdade e da sabedoria, porque bem souberam cumprir suas obrigações morais.
A sombra das árvores magnânimas que plantaram com os seus atos de caridade, de fé e de esperança, repousam a cabeça dilacerada nos amargores da Terra; divinas inspirações descem das Alturas sobre as suas mentes, que iluminam como tabernáculos sagrados e, interpretando fielmente as disposições da vontade diretora do Universo, transformam-se em mensageiros do Altíssimo.
AOS MEUS IRMÃOS
Homens, meus irmãos, considerai a fração de tempo da vossa passagem pela Terra. Observai o exemplo das almas nobres que, em épocas diferentes, vos trouxeram a palavra do Céu na vossa ingrata linguagem; suas vidas estão cheias de sacrifícios e dedicações dolorosas. Não vos entregueis aos desvios que conduzem ao materialismo dissolvente. Olhando o vosso passado, que constitui o passado da própria Humanidade, uma cruciante amargura domina o vosso espírito: atrás de vós, a falência religiosa, ante os problemas da evolução, impele-vos à descrença e ao egoísmo; muitos se recolhem nas suas posições de mando e há uma sede generalizada de gozo material, com a perspectiva do nada, que a maioria das criaturas acredita encontrar no caminho silencioso da morte; mas eis que, substituindo as religiões que faliram, à falta de cultivadores fiéis, ouve-se a voz do Espírito da Verdade em todas as regiões da Terra. Os túmulos falam e os vossos bem - amados vos dizem das experiências adquiridas e das dores que passaram. Há um sublime conúbio do Céu com a Terra.
Vinde ao banquete espiritual onde a Verdade domina em toda a sua grandiosa excelsitude. Vinde sem desconfianças, sem receios, não como novos Tomés, mas como almas necessitadas de luz e de liberdade; não basta virdes com o espírito de criticismo, é preciso trazerdes um coração que saiba corresponder com sentimento elevado a um raciocínio superior.
Outros mundos vos esperam na imensidade, onde os sóis realizam os fenômenos de sua eterna trajetória. Dilatai vossa esperança, porque um dia chegará em que, na Terra, devereis abandonar o exílio onde chorais como seres desterrados. Que todos vós possais, no ocaso da existência, contemplar no céu da vossa consciência estrelas resplandecentes da paz que representará a vossa glorificação imortal.
Emmanuel (psicografia de Chico Xavier). Livro: Emmanuel.
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KARDEC E A ESPIRITUALIDADE

KARDEC E A ESPIRITUALIDADE

Todas as missões dignificadoras dos grandes vultos humanos são tarefas do Espírito. Precisamos compreender a santidade do esforço de um Edson, desenvolvendo as comodidades da civilização, o elevado alcance das experiências de um Marconi, estreitando os laços da fraternidade, através da radiotelefonia. Apreciando, porém, o labor da inteligência humana, somos obrigados a reconhecer que nem todas essas missões têm naturalmente uma repercussão imediata e grandiosa no Mundo dos Espíritos.
Daí a razão de examinarmos o traço essencial do trabalho confiado a Allan Kardec. Suas atividades requisitaram a atenção do planeta e, simultaneamente, repercutiram nas esferas espirituais, onde se formaram legiões de colaboradores, em seu favor
Sua tarefa revelava ao homem um mundo diferente. A morte, o problema milenário das criaturas, perdia sua feição de esfinge. Outras vozes falavam da vida, além dos sepulcros. Seu esforço espalhava-se pelo orbe como a mais consoladora das filosofias; por isso mesmo, difundia-se, no plano invisível, como vasto movimento de interesses divinos.
Ninguém poderá afirmar que Kardec fosse o autor do Espiritismo. Este é de todos os tempos e situações da humanidade. Entretanto, é ele o missionário da renovação cristã. Com esse título, conquistado a peso de profundos sacrifícios, cooperou com Jesus para que o mundo não morresse desesperado. E, contribuindo com a sua coragem, desde o primeiro dia de labor, organizaram-se nos Círculos da Espiritualidade os mais largos movimentos de cooperação e de auxílio ao seu esforço superior.
Legiões de amigos generosos da humanidade alistaram-se sob a sua bandeira cooperando na causa imortal. Atrás de seus passos, movimentou-se um mundo mais elevado, abriram-se portas desconhecidas dos homens, para que a ciência e a fé iniciassem a marcha da suprema união, em Jesus Cristo.
Não somente o orbe terrestre foi beneficiado. Não apenas os homens ganharam esperanças. O mundo invisível alcançou, igualmente, consolo e compreensão.
Os vícios da educação religiosa prejudicaram as noções da criatura, relativamente ao problema da alma desencarnada. As ideias de um Céu injustificável e de um inferno terrível formaram a concepção do Espírito liberto, como sendo um ser esquecido da Terra, onde amou, lutou e sofreu.
Semelhante convicção contrariava o espírito de sequência da Natureza. Quem atendeu as determinações da morte, naturalmente, continua, além, suas lutas e tarefas, no caminho evolutivo, infinito. Quem sonhou, esperou, combateu e torturou-se não foi a carne, reduzida à condição de vestido, mas a alma, senhora da Vida Imortal.
Essa realidade fornece uma expressão do grandioso alcance “da missão de Allan Kardec”, considerada no Plano Espiritual.
É justo o reconhecimento dos homens e não menos justo o nosso agradecimento aos seus sacrifícios “de missionário”, ainda porque apreciamos a atividade de um apóstolo sempre vivo.
Que Deus o abençoe.
O Evangelho nos fala que os anjos se regozijam quando se arrepende um pecador. (Lc) E a tarefa santificada de Allan Kardec tem consolado e convertido milhares de pecadores, neste mundo e no outro.
Emmanuel (espírito), psicografia de Francisco Cândido Xavier
Livro: Doutrina de Luz
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EVANGELHO EM AÇÃO
Meus amigos, muita paz.
Nunca é demais salientar a missão evangélica do Brasil, na sementeira do espiritualismo moderno.
Em outros setores da evolução planetária, eleva-se a inteligência aos cumes da prosperidade material, determinando realizações científicas e perquirições filosóficas de vasto alcance, comprometendo, porém, a obra do sentimento santificante.
Em esferas outras, assinalamos a investigação de segredos cósmicos, na qual se transforma o homem no gênio destruidor da própria grandeza, alinhando canhões na retaguarda de compêndios valiosos e de comovedoras teorias salvacionistas, em todos os ângulos da política e da economia dirigidas.
No Brasil, contudo, ergue-se espiritualmente o ciclópico e sublime santuário do Cristianismo Redivivo.
Aqui a Doutrina Consoladora dos Espíritos perde as exterioridades fenomênicas para que o homem desperte à luz da Vida Eterna.
Aqui, o Evangelho em movimento extingue a curiosidade ociosa e destrutiva que se erige em monstro devorador do tempo, descortinando o campo de serviço pela fraternidade humana, sob o patrocínio do Divino Mestre.
É por isto que ao espiritista brasileiro muito se pede, (Ev) esperando-lhe a decisiva atuação no trabalho restaurador do mundo, porquanto na pátria abençoada do Cruzeiro a amplitude da terra se alia à sublimidade da revelação.
É necessário que em seus dadivosos celeiros de pão e amor se modifiquem as atitudes do crente renovado em Nosso Senhor Jesus, a fim de que o pensamento das Esferas Superiores se expanda livre e puro, nos círculos da inteligência encarnada, concretizando a celeste mensagem de que os novos discípulos são naturalmente portadores.
Não basta, portanto, apreender o contingente de consolações do edifício doutrinário ou receber a hóstia do conforto pessoal no templo sagrado que o Espiritismo Evangélico representa para quantos lhe batam às portas acolhedoras.
É imprescindível consagrar nossas melhores energias à extensão da fé vivificante que nos refunde e aperfeiçoa, à frente do futuro.
Semelhante edificação, todavia, não se expressará senão por intermédio de nosso próprio devotamento à causa da libertação humana, transformando-nos pelo esforço e pelo estudo, pelo trabalho e pela iluminação íntima, em hífens de amor cristão, habilitados à posição de instrumentos do Plano Superior.
O Espiritismo brasileiro congrega extensa caravana de servidores da renovação cultural e sentimental do mundo e complexas responsabilidades lhe revestem a ação com o Cristo.
Estendamos, assim, o serviço evangélico na intimidade da filosofia espiritualista, insculpindo em mós, antes de tudo, os princípios da doutrina viva e redentora de que nos constituímos pregoeiros.
Não cristalizemos, sobretudo, a tarefa que nos cabe à frente das exigências da Terra, refugiando-nos na expectativa inoperante, porque a ruína das religiões sectaristas provém da ociosidade mental em que se mergulham os aprendizes, aguardando favores milagrosos e gratuitos do Céu, com prejuízo flagrante da religião do dever bem cumprido na solidariedade humana, da qual depende a execução de qualquer sistema salvacionista das criaturas.
Acordemos, desse modo, as nossas forças profundas, colaborando no nível real de nossas possibilidades dentro da tarefa que nos cabe realizar, individualmente, no imenso concerto de regeneração da vida coletiva.
Enquanto houver um gemido na paisagem em que nos movimentamos, não será lícito cogitar de felicidade isolada para nós mesmos.
Companheiros existem suspirando por um paraíso fácil, em que sejam asilados sem obrigações, à maneira de trabalhadores preguiçosos e exigentes que centralizam a mente nas noções do direito sem qualquer preocupação quanto aos imperativos do dever.
Esses, em geral, são aqueles que cuidam de conservar alva rotulagem, na planície das convenções terrenas, muita vez à custa do sofrimento e da dilaceração de almas inúmeras que lhes servem de degraus, na escalada às vantagens de ordem material e perecível, para despertarem, depois, infortunados e desiludidos, nos braços da realidade amargurosa que a morte descerra, invariável.
Nós outros, no entanto, não ignoramos que a Nova Revelação nos infunde energias renovadas ao coração e à consciência, com os impositivos de trabalho e responsabilidade no ministério árduo do aperfeiçoamento e sabemos, agora, que o homem é o decretador de suas próprias dores e dispensador das bênçãos que o cercam, de vez que a Lei de Justiça e Equilíbrio expressa em cada um de nós o resultado de nossa sementeira através do tempo.
É indispensável a nossa conversão substancial e efetiva ao Espírito do Senhor, materializando-lhe os ensinos e acatando-lhe os desígnios, onde estivermos, para que, na condição de servidores de um país extremamente favorecido, possamos conduzir o estandarte da reabilitação espiritual do mundo que se perde, rico de glórias perecíveis e mendigo de luz e de amor.
Esperando que a paz do Mestre permaneça impressa em nossas vidas, que devem traduzir mensagens cristalinas e edificantes de seu Evangelho Salvador, terminamos, invocando-vos a cooperação em favor do mundo melhor.
— Entrelacemos corações em torno da Boa Nova que nos deve presidir às experiências na atividade comum! Enquanto os discípulos distraídos se digladiam, desprezando, insensatos, a bênção das horas, ouçamos a voz do Senhor que nos compele à disciplina no serviço do bem, revelando-se, glorioso e dominante, em seus sacrifícios da cruz, aprendendo, finalmente, em companhia d’Ele que só o Amor é bastante forte para defender a vida, que só o Perdão vence o ódio, que somente a Fé renasce de todas as cinzas das ilusões mortas e que somente o Sacrifício Individual, em Seu Nome, é o caminho da ressurreição a que fomos chamados.
Unamo-nos, desse modo, não apenas em necessidades e dores para rogar o sustento e o socorro da Misericórdia Divina, mas estejamos integrados na fraternidade legítima, a fim de que não estejamos recebendo em vão as graças do Céu, convertendo nossas vidas em abençoadas colunas do templo Espiritual de Jesus na Terra, portadores devotados de sua paz, de sua luz, de sua confiança e de seu amor.
Realizem outros as longas incursões do raciocínio, através da investigação intelectual, respeitável e digna, no enriquecimento do cérebro do mundo. E aproveitando-lhes o esforço laborioso, no que possuem de venerável e santo, não nos esqueçamos do Evangelho vivo, em ação.

Emmanuel (espírito), psicografia de Francisco Cândido Xavier
Livro: Doutrina de Luz

RUMO PERDIDO

RUMO PERDIDO


Contempla a imensa caravana dos indivíduos que perderam a direção de si mesmos e malbaratam a oportunidade de que dispõem para ser felizes.

Alguns extraviaram-se nos desvios da jornada, optando pelas veredas desconhecidas das fantasias e do prazer sem o correspondente contributo da responsabilidade.

Outros renasceram assinalados pela culpa e fixados aos erros, experimentando os tormentosos conflitos de inferioridade ou de narcisismo, fugindo das estradas luminosas dos deveres e procurando esconder-se nos lôbregos antros dos vícios em que chafurdam.

Número incontrolável deles transita hebetado, sem ideal nem interesse pelos valores que dão sentido à existência física.

Com esgares, que lhes substituem os sorrisos do encantamento perdido, seguem sem rumo para lugar nenhum, solitários ou em grupos horrendos, onde escondem as mazelas...

Sequer experimentaram os júbilos naturais da existência, porque foram empurrados com violência para o fosso onde derrearam...

As suas expressões faciais traduzem as batalhas internas que são travadas nas paisagens do medo ou da revolta, das ambições desarvoradas ou dos desencantos, fazendo-os sucumbir.

A sociedade desatenta e preconceituosa, na sua condição de órgão humano coletivo, ao invés de buscar arrancá-los da deplorável situação que se permitiram ficar, evita-os, ignorando-lhes as dores acerbas.

Sem resistências morais, que advêm das experiências dignificadoras, eles facilmente desistem das tentativas de soerguimento, naufragando no paul da indiferença que os amortalha.

Número maior do que se pensa, constrói, embora inconscientemente, o submundo moral, onde se homiziam, formando as multidões de caminhantes sem roteiro, que pesam na economia moral do planeta...

Perseguidos por milicianos cruéis, irresponsáveis que são, porque também agridem-se como hienas famélicas, são açoitados, de um para outro lado empurrados e perseguidos...

Detêm-se a observar na claridade do dia, mas principalmente nas sombras pesadas da noite, esses seres que se desumanizam e, como fantasmas, espiam com receio ou com mágoa os transeuntes que lhes parecem ditosos.

Invejam as aparências dos afortunados, conforme pensam, e porque somente recebem as migalhas que lhes são atiradas com desprezo, odeiam-nos.

Não fiques insensível ante os numerosos membros da caravana dos tristes e vencidos.

Todos eles são teus irmãos!

Não tiveram a mesma oportunidade que desfrutas, assinalados pelos delitos transatos de cujas conseqüências não se têm podido evadir.

Mas, assim mesmo, são teus irmãos necessitados de compaixão, de ensejo,de um lugar ao sol.

Afirmas, em mecanismo de fuga da responsabilidade, que nada podes fazer, que são muitos e não dispões daquilo que lhes é indispensável.

Essa é uma vão justificativa, que deves corrigir quanto antes, já que te luz a ocasião para ajudá-los.

Renasceste para construir o mundo melhor.

Desarma-te em relação aos agressores, aos sofredores, aos trânsfugas do dever, e ama-os.

Abre-lhes o coração, irradiando ternura e fraternidade.

Faculta-lhes amizade, ofertando-lhes a face em sorrisos, ao invés da carantonha de reproche ou de mágoa.

Fala-lhes sem preconceito, não os excluindo dos teus relacionamentos, quanto te buscarem.

O mínimo que lhes concedas é de grande significado para a sua carência imensa.

Recorda que o oceano é constituído de gotículas d´agua, da mesma forma que os areais quase infinitos se formam com pequeninos grãos de terra...

Se direcionares a tua mente no rumo deles, enviando-lhes mensagens de compaixão, diminuir-lhes-ás a miséria moral, contribuindo para o seu soerguimento, pois que sempre há possibilidades de êxito.

Sabes que o processo de evolução ocorre sem grandes saltos, mas passo a passo.

Sê tu quem dê esse primeiro passo na direção daqueles que já não sabem caminhar.

Mentalmente, coloca-te no lugar de algum deles, e pensa quanto gostarias de receber de quem se encontrasse em melhor situação. Faze, então, o que anelarias que te fizessem.

A caravana dos espíritos sem rumo não se restringe apenas aos deambulantes carnais, mas também aos desencarnados em aflição.

Não se deram conta de que o fenômeno da morte retirou-os das roupagens carnais.

Ignorando a realidade da vida exuberante, apegam-se aos despojos em desagregação e enlouquecem-se sem entender a ocorrência.

Ajuda-os com a tua oração, com a emissão de ondas mentais de simpatia e de solidariedade.

Algum dia, no passado, estiveste em situação afligente como a que eles hoje sofrem, e foste recolhido pelas mãos sublimes do amor, que foram distendidas na tua direção.

A proposta soberana da vida é fazer por outrem tudo quanto se gostaria que lhe fosse oferecido.

Como te encontras no rumo certo, buscando a luz da Inefável Misericórdia, assinala a tua passagem pela Terra deixando pegadas, como se fossem pequeninas estrelas fulgindo no solo, para apontar o caminho àqueles que seguem na retaguarda.

Não te canses de auxiliar, nem te irrites com os esfaimados de pão, de paz e, principalmente, de amor.

As alegrias que recolhas junto aos padecentes do caminho fortalecer-te-ão para facultar-te tentames mais audaciosos no futuro.

O mundo atual encontra-se constituído pelas ações que foram realizadas no passado, abrindo as portas para o futuro enriquecido de plenitude, quando todos os seres encontrarão e seguirão o rumo de Jesus.
 


pelo Espírito Joanna de Ângelis - Psicografia de Divaldo Pereira Franco

domingo, 28 de julho de 2013

Estudo das leis morais - Parte 11: A lei de justiça, amor e caridade



Hoje debatendo então sobre a última das leis morais, e a mais importante de todas: a lei de justiça, amor e caridade. Seguem abaixo, na íntegra, as questões referentes a essa lei, e logo após o nosso habitual comentário.

"873. O sentimento de justiça é natural ou resulta de idéias adquiridas?

— É de tal modo natural que vos revoltais ao pensamento de uma injustiça. O progresso moral desenvolve sem dúvida esse sentimento, mas não o dá: Deus o pôs no coração do homem. Eis porque encontrais freqüentemente, entre os homens simples e primitivos, noções mais exatas de justiça do que entre pessoas de muito saber.

874. Se a justiça é uma lei natural, como se explica que os homens a entendam de maneiras tão diferentes, que um considere justo o que a outro parece injusto?

— É que em geral se misturam paixões ao julgamento, alterando esse sentimento, como acontece com a maioria dos outros sentimentos naturais e fazendo ver as coisas sob um falso ponto de vista.

875. Como se pode definir a justiça?

— A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um.

875. a) O que determina esses direitos?           

— São determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens feito leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que podem variar com o progresso. Vede se as vossas leis de hoje, sem serem perfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Esses direitos superados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. O direito dos homens, portanto, nem sempre é conforme à justiça. Só regula algumas relações sociais, enquanto na vida privada há uma infinidade de atos que. são de competência exclusiva do tribunal da consciência.

876. Fora do direito consagrado pela lei humana, qual a base da justiça fundada sobre a lei natural?

— O Cristo vos disse: “Querer para os outros o que quereis para vós mesmos”. Deus pôs no coração do homem a regra de toda a verdadeira justiça, pelo desejo que tem cada um de ver os seus direitos respeitados. Na incerteza do que deve fazer para o semelhante, em dada circunstância, que o homem pergunte a si mesmo como desejaria que agissem com ele. Deus não poderia dar um guia mais seguro que a sua própria consciência.

Comentário de Kardec:  O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar ao próximo senão o bem. Desde todos os tempos e em todas as crenças, o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.


877. A necessidade de viver em sociedade acarreta para o homem obrigações particulares?

— Sim, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos dos semelhantes; aquele que respeitar esses direitos será sempre justo. No vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias e vem daí a perturbação e a confusão da vossa sociedade. A vida social dá direitos e impõe deveres recíprocos.

878. Podendo o homem iludir-se quanto à extensão do seu direito, o que pode fazer que ele conheça os seus limites?

— Os limites do direito que reconhece para o seu semelhante em relação a ele, na mesma circunstância e de maneira recíproca.

878 – a) Mas se cada um se atribui a si mesmo os direitos do semelhante, em que se transforma a subordinação aos superiores? Não será isso a anarquia de todos os poderes?

— Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde o menor até o maior. Deus não fez uns de limo mais puro que outros e todos são iguais perante ele. Esses direitos são eternos; os estabelecidos pelos homens perecem com as instituições. De resto, cada qual sente bem a sua força ou a sua fraqueza, e saberá ter sempre uma certa deferência para aquele que o merecer, por sua virtude e seu saber. E importante assinalar isto, para que os que se julgam superiores conheçam os seus deveres e possam merecer essas deferências. A subordinação não estará comprometida, quando a autoridade for conferida à sabedoria.


879. Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?

— O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus; porque praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há a verdadeira justiça.

880. Qual é o primeiro de todos os direitos naturais do homem?

— O de viver. É por isso que ninguém tem o direito de atentar contra a vida do semelhante ou fazer qualquer coisa que possa comprometer a sua existência corpórea.

881. O direito de viver confere ao homem o direito de ajuntar o que  necessita para viver e repousar, quando não mais puder trabalhar?

— Sim, mas deve fazê-lo em família, como a abelha, através de um trabalho honesto, e não ajuntar como um egoísta. Alguns animais lhe dão o  exemplo dessa previdência.


882.0 homem tem o direito de defender aquilo que ajuntou pelo trabalho?

— Deus não disse: “Não roubarás”; e Jesus: “Dai a César o que é de  César”?

Comentário de Kardec: Aquilo que o homem ajunta por um trabalho honesto é uma propriedade legítima, que ele tem o direito de defender. Porque a propriedade que é fruto do trabalho constitui um direito natural, tão sagrado como o de trabalhar e viver.

883. O desejo de possuir é natural?

— Sim, mas quando o homem só deseja para si e para sua satisfação  pessoal, é egoísmo.

883 – a) Entretanto, não será legítimo o desejo de possuir, pois o que tem com o que viver não se torna carga para ninguém?                

— Há homens insaciáveis que acumulam sem proveito para ninguém ou apenas para satisfazer as suas paixões. Acreditas que isso seja aprovado  por Deus ? Aquele que ajunta pelo seu trabalho, com a intenção de auxiliar o seu semelhante, pratica a lei de amor e caridade e seu trabalho é abençoado por Deus.


884. Qual é o caráter da propriedade legítima?

— Só há uma propriedade legítima: a que foi adquirida sem prejuízo pura os outros. (Ver item 808.)

Comentário de Kardec: A lei de amor e justiça proíbe que se faça a outro o que não queremos que nos seja feito, e condena, por esse mesmo princípio, todo meio de adquirir que o contrarie.

885. O direito de propriedade é sem limites?

— Sem dúvida, tudo o que é legitimamente adquirido é uma propriedade, mas, como já dissemos, a legislação humana é imperfeita e consagra freqüentemente direitos convencionais que a justiça natural reprova. É por isso que os homens reformam suas leis à medida que o progresso se realiza e que eles compreendem melhor a justiça. O que num século parece perfeito, no século seguinte se apresenta como bárbaro. (Ver item 795.)

886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?

— Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições alheias, perdão das ofensas.

Comentário de Kardec: O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como irmãos”.

A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais ou superiores. Ela nos manda ser indulgentes, porque temos necessidade de indulgência, e nos proíbe humilhar o infortúnio, ao contrário do que comumente se pratica. Se um rico nos procura, atendemo-lo com excesso de consideração e atenção, mas se é um pobre, parece que não nos devemos incomodar com ele. Quanto mais, entretanto, sua posição é lastimável, mais devemos temer aumentar-lhe a desgraça pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos.


887. Jesus ensinou ainda: “Amai aos vossos inimigos”. Ora, um amor pelos nossos inimigos não é contrário às nossas tendências naturais, e a inimizade não provém de uma falta de simpatia entre os Espíritos?

— Sem dúvida não se pode ter, para com os inimigos, um amor terno e apaixonado. E não foi isso que ele quis dizer. Amar aos inimigos é perdoá-los e pagar-lhes o mal com o bem. É assim que nos tornamos superiores; pela vingança nos colocamos abaixo deles.

888. Que pensar da esmola?

— O homem reduzido a pedir esmolas se degrada moral e fisicamente: se embrutece. Numa sociedade baseada na lei de Deus e na justiça, deve-se prover a vida do fraco, sem humilhação para ele. Deve-se assegurar a existência dos que não podem trabalhar sem deixá-los à mercê do acaso e da boa vontade.

888 – a) Então condenais a esmola?

— Não, pois não é a esmola que é censurável, mas quase sempre a maneira por que ela é dada. O homem de bem, que compreende a caridade segundo Jesus, vai ao encontro do desgraçado sem esperar que ele lhe estenda a mão.

A verdadeira caridade é sempre boa c benevolente; tanto está no ato quanto na maneira de fazê-la. Um serviço prestado com delicadeza tem duplo valor; se o for com altivez, a necessidade pode fazê-lo aceito, mas o coração  mal será tocado.

Lembrai-vos ainda de que a ostentação apaga aos olhos de Deus o mérito do benefício. Jesus disse: “Que a vossa mão esquerda ignore o que faz a direita”. Com isso, ele vos ensina a não manchar a caridade pelo orgulho.

É necessário distinguir a esmola propriamente dita da beneficência. O mais necessitado nem sempre é o que pede: o temor da humilhação retém o  verdadeiro pobre, que quase sempre sofre sem se queixar. É a esse que o homem verdadeiramente humano sabe assistir sem ostentação.

Amai-vos uns aos outros, eis toda lei, divina lei pela qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados, e a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.

Não olvideis jamais que o Espírito, qualquer que seja o seu grau de adiantamento, sua situação como reencarnado ou na erraticidade, esta sempre colocado entre um superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior perante o qual tem deveres iguais a cumprir. Sede, portanto, caridosos, não somente dessa caridade que vos leva a tirar do bolso o óbolo que friamente atirais ao que ousa pedir-vos, mas ide ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os erros dos vossos semelhantes. Em lugar de desprezar a ignorância e o vício, instruí-os e moralizai-os. Sede afáveis e benevolentes para com todos os que vos são inferiores; sede-o mesmo para com os mais ínfimos seres da Criação, e tereis obedecido à lei de Deus. (São Vicente de Paulo.)


889. Não há homens reduzidos à mendicidade por sua própria culpa?

— Sem dúvida. Mas se uma boa educação moral lhes tivesse ensinado a lei de Deus, não teriam caído nos excessos que os levaram à perda. E é disso, sobretudo, que depende o melhoramento do vosso globo. (Ver item 707.)


890. O amor maternal é uma virtude ou um sentimento instintivo, comum aos homens e aos animais?

— É uma coisa e outra. A Natureza deu à mãe o amor pelos filhos, no interesse de sua conservação; mas, no animal, esse amor é limitado às necessidades materiais: cessa quando os cuidados se tornam inúteis. No homem, ele persiste por toda vida e comporta um devotamento e uma abnegação que constituem virtudes; sobrevive mesmo à própria morte, acompanhando o filho além da tumba. Vedes que há nele alguma coisa mais do que no animal. (Ver itens 205 e 385.)

891. Se o amor materno ó uma lei natural, por que existem mães que odeiam os filhos e freqüentemente desde o nascimento?

— É, às vezes, uma prova escolhida pelo Espírito do filho ou uma expiação, se ele tiver sido um mau pai, mãe ruim ou mau filho em outra existência. (Ver item 392.) Em todos esses casos, a mãe ruim não pode ser animada senão por um mau Espírito, que procura criar dificuldades ao do filho, para que ele fracasse na prova desejada. Mas essa violação das leis naturais não ficará impune e o Espírito do filho será recompensado pelos obstáculos que tiver superado.

892. Quando os pais têm filhos que lhes causam desgostos, não são escusáveis de não terem por eles a ternura que teriam caso contrário?

— Não, porque se trata de um encargo que lhes foi confiado e sua missão é a de fazer todos os esforços para os conduzir ao bem. (Ver itens 582 e 583.) Por outro lado, esses desgostos são quase sempre a conseqüência dos maus costumes que os pais deixaram os filhos seguir desde o berço; eles colhem, portanto, o que semearam.
"

O amor é o que rege todo o universo. O amor é a identificação de Deus. Por isso, é o amor que nos imanta no caminho do bem.

Mas nem sempre percebemos isso. Na maioria das vezes estamos tão preocupados com as coisas materiais que nos esquecemos de Deus e de nossa verdadeira realidade: a de espíritos aqui encarnados com o objetivo de aprender e progredir.

E como vamos ser justos e caridosos verdadeiramente se não estamos sintonizados no amor? A falta de amor é o grande mal da humanidade, pois isso acarreta diversos males e distúrbios para nós mesmos.

Mas porque falta o amor? Deus parou de nos amar? Deus diminuiu a quantidade de seu amor? Não, nós que nos dedicamos exclusivamente ao materialismo e fechamos as portas a Deus e ao amor.

Mas, uma vez que nos empenhamos no caminho do melhoramento moral e do auxílio ao próximo, abrimos as portas para receber todas as bênçãos de Deus. É por isso que frequentemente quando uma pessoa decide melhorar, sua vida parece "andar para a frente".

O guia para o amor na Terra já foi deixado por Jesus: é fazer ao próximo o que gostaríamos que nos fosse feito, e não fazer a ele o que não gostaríamos que nos fizessem. Simples lição, que ainda não conseguimos praticar.

O dia em que a humanidade compreender este ensinamento e conseguir colocá-lo em prática, o planeta dará um salto em evolução e a felicidade se fará cada vez mais presente a todos no mundo.

Mas para que esse dia chegue, é necessário que comecemos fazendo a nossa parte.

Só assim, cada um fazendo a sua parte é que pouco a pouco operaremos a transformação no mundo.

O MAIS DIFÍCIL

O MAIS DIFÍCIL

Diante das águas calmas, Jesus refletia.
Afastara-se da multidão, momentos antes.
Ouvira remoques e sarcasmos.
Vira chagas e aflições.
O Mestre pensava...
*
Tadeu e Tiago, o moço, João e Bartolomeu aproximaram-se. Não era aquele um
momento raro? E ensaiaram perguntas.
- Senhor – disse João - , qual é o mais importante aviso da Lei na vida dos homens?
E o Divino passou a responder:
- Amemos a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a nós mesmos.
- E qual a virtude mais preciosa? – indagou Tadeu.
- A humildade.
- Qual o talento mais nobre, Senhor? – falou Tiago.
- O trabalho.
- E a norma de triunfo mais elevada? – indagou Bartolomeu.
- A persistência no bem.
- Mestre, qual é, para nós todos, o mais alto dever? – aventurou Tadeu novamente.
- Amar a todos, a todos servindo sem distinção.
- Oh! Isso é quase impossível – gemeu o aprendiz.
- A maldade é atributo de todos – clamou Tiago - ; faço o bem quanto posso, mas
apenas recolho simples espinhos de ingratidão.
- Vejo homens bons sofrendo calúnias por toda parte – acentuou outro discípulo.
- Tenho encontrado mãos para auxiliar – disse outro.
E as mágoas desfilaram diante do Mestre silencioso.
João, contudo, voltou a interrogá-lo:
- Senhor, que é mais difícil? Qual a aquisição mais difícil?
Jesus sorriu e declarou:
- A resposta está aqui mesmo em vossas lamentações. O mais difícil é ajudar em
silêncio, amar sem crítica, dar sem pedir, entender sem reclamar... A aquisição mais difícil
para nós todos chama-se paciência.

Livro: A Vida Escreve

Psicografia de Waldo Vieira

KARDEC E A ESPIRITUALIDADE


KARDEC E A ESPIRITUALIDADE

Todas as missões dignificadoras dos grandes vultos humanos são tarefas do Espírito. Precisamos compreender a santidade do esforço de um Edson, desenvolvendo as comodidades da civilização, o elevado alcance das experiências de um Marconi, estreitando os laços da fraternidade, através da radiotelefonia. Apreciando, porém, o labor da inteligência humana, somos obrigados a reconhecer que nem todas essas missões têm naturalmente uma repercussão imediata e grandiosa no Mundo dos Espíritos.

Daí a razão de examinarmos o traço essencial do trabalho confiado a Allan Kardec. Suas atividades requisitaram a atenção do planeta e, simultaneamente, repercutiram nas esferas espirituais, onde se formaram legiões de colaboradores, em seu favor

Sua tarefa revelava ao homem um mundo diferente. A morte, o problema milenário das criaturas, perdia sua feição de esfinge. Outras vozes falavam da vida, além dos sepulcros. Seu esforço espalhava-se pelo orbe como a mais consoladora das filosofias; por isso mesmo, difundia-se, no plano invisível, como vasto movimento de interesses divinos.

Ninguém poderá afirmar que Kardec fosse o autor do Espiritismo. Este é de todos os tempos e situações da humanidade. Entretanto, é ele o missionário da renovação cristã. Com esse título, conquistado a peso de profundos sacrifícios, cooperou com Jesus para que o mundo não morresse desesperado. E, contribuindo com a sua coragem, desde o primeiro dia de labor, organizaram-se nos Círculos da Espiritualidade os mais largos movimentos de cooperação e de auxílio ao seu esforço superior.

Legiões de amigos generosos da humanidade alistaram-se sob a sua bandeira cooperando na causa imortal. Atrás de seus passos, movimentou-se um mundo mais elevado, abriram-se portas desconhecidas dos homens, para que a ciência e a fé iniciassem a marcha da suprema união, em Jesus Cristo.

Não somente o orbe terrestre foi beneficiado. Não apenas os homens ganharam esperanças. O mundo invisível alcançou, igualmente, consolo e compreensão.

Os vícios da educação religiosa prejudicaram as noções da criatura, relativamente ao problema da alma desencarnada. As ideias de um Céu injustificável e de um inferno terrível formaram a concepção do Espírito liberto, como sendo um ser esquecido da Terra, onde amou, lutou e sofreu.

Semelhante convicção contrariava o espírito de sequência da Natureza. Quem atendeu as determinações da morte, naturalmente, continua, além, suas lutas e tarefas, no caminho evolutivo, infinito. Quem sonhou, esperou, combateu e torturou-se não foi a carne, reduzida à condição de vestido, mas a alma, senhora da Vida Imortal.

Essa realidade fornece uma expressão do grandioso alcance “da missão de Allan Kardec”, considerada no Plano Espiritual.

É justo o reconhecimento dos homens e não menos justo o nosso agradecimento aos seus sacrifícios “de missionário”, ainda porque apreciamos a atividade de um apóstolo sempre vivo.

Que Deus o abençoe.

O Evangelho nos fala que os anjos se regozijam quando se arrepende um pecador. (Lc) E a tarefa santificada de Allan Kardec tem consolado e convertido milhares de pecadores, neste mundo e no outro.

Emmanuel (espírito), psicografia de Francisco Cândido Xavier
Livro: Doutrina de Luz
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EVANGELHO EM AÇÃO

Meus amigos, muita paz.

Nunca é demais salientar a missão evangélica do Brasil, na sementeira do espiritualismo moderno.

Em outros setores da evolução planetária, eleva-se a inteligência aos cumes da prosperidade material, determinando realizações científicas e perquirições filosóficas de vasto alcance, comprometendo, porém, a obra do sentimento santificante.

Em esferas outras, assinalamos a investigação de segredos cósmicos, na qual se transforma o homem no gênio destruidor da própria grandeza, alinhando canhões na retaguarda de compêndios valiosos e de comovedoras teorias salvacionistas, em todos os ângulos da política e da economia dirigidas.

No Brasil, contudo, ergue-se espiritualmente o ciclópico e sublime santuário do Cristianismo Redivivo.

Aqui a Doutrina Consoladora dos Espíritos perde as exterioridades fenomênicas para que o homem desperte à luz da Vida Eterna.

Aqui, o Evangelho em movimento extingue a curiosidade ociosa e destrutiva que se erige em monstro devorador do tempo, descortinando o campo de serviço pela fraternidade humana, sob o patrocínio do Divino Mestre.

É por isto que ao espiritista brasileiro muito se pede, (Ev) esperando-lhe a decisiva atuação no trabalho restaurador do mundo, porquanto na pátria abençoada do Cruzeiro a amplitude da terra se alia à sublimidade da revelação.

É necessário que em seus dadivosos celeiros de pão e amor se modifiquem as atitudes do crente renovado em Nosso Senhor Jesus, a fim de que o pensamento das Esferas Superiores se expanda livre e puro, nos círculos da inteligência encarnada, concretizando a celeste mensagem de que os novos discípulos são naturalmente portadores.

Não basta, portanto, apreender o contingente de consolações do edifício doutrinário ou receber a hóstia do conforto pessoal no templo sagrado que o Espiritismo Evangélico representa para quantos lhe batam às portas acolhedoras.

É imprescindível consagrar nossas melhores energias à extensão da fé vivificante que nos refunde e aperfeiçoa, à frente do futuro.

Semelhante edificação, todavia, não se expressará senão por intermédio de nosso próprio devotamento à causa da libertação humana, transformando-nos pelo esforço e pelo estudo, pelo trabalho e pela iluminação íntima, em hífens de amor cristão, habilitados à posição de instrumentos do Plano Superior.

O Espiritismo brasileiro congrega extensa caravana de servidores da renovação cultural e sentimental do mundo e complexas responsabilidades lhe revestem a ação com o Cristo.

Estendamos, assim, o serviço evangélico na intimidade da filosofia espiritualista, insculpindo em mós, antes de tudo, os princípios da doutrina viva e redentora de que nos constituímos pregoeiros.

Não cristalizemos, sobretudo, a tarefa que nos cabe à frente das exigências da Terra, refugiando-nos na expectativa inoperante, porque a ruína das religiões sectaristas provém da ociosidade mental em que se mergulham os aprendizes, aguardando favores milagrosos e gratuitos do Céu, com prejuízo flagrante da religião do dever bem cumprido na solidariedade humana, da qual depende a execução de qualquer sistema salvacionista das criaturas.

Acordemos, desse modo, as nossas forças profundas, colaborando no nível real de nossas possibilidades dentro da tarefa que nos cabe realizar, individualmente, no imenso concerto de regeneração da vida coletiva.

Enquanto houver um gemido na paisagem em que nos movimentamos, não será lícito cogitar de felicidade isolada para nós mesmos.

Companheiros existem suspirando por um paraíso fácil, em que sejam asilados sem obrigações, à maneira de trabalhadores preguiçosos e exigentes que centralizam a mente nas noções do direito sem qualquer preocupação quanto aos imperativos do dever.

Esses, em geral, são aqueles que cuidam de conservar alva rotulagem, na planície das convenções terrenas, muita vez à custa do sofrimento e da dilaceração de almas inúmeras que lhes servem de degraus, na escalada às vantagens de ordem material e perecível, para despertarem, depois, infortunados e desiludidos, nos braços da realidade amargurosa que a morte descerra, invariável.

Nós outros, no entanto, não ignoramos que a Nova Revelação nos infunde energias renovadas ao coração e à consciência, com os impositivos de trabalho e responsabilidade no ministério árduo do aperfeiçoamento e sabemos, agora, que o homem é o decretador de suas próprias dores e dispensador das bênçãos que o cercam, de vez que a Lei de Justiça e Equilíbrio expressa em cada um de nós o resultado de nossa sementeira através do tempo.

É indispensável a nossa conversão substancial e efetiva ao Espírito do Senhor, materializando-lhe os ensinos e acatando-lhe os desígnios, onde estivermos, para que, na condição de servidores de um país extremamente favorecido, possamos conduzir o estandarte da reabilitação espiritual do mundo que se perde, rico de glórias perecíveis e mendigo de luz e de amor.

Esperando que a paz do Mestre permaneça impressa em nossas vidas, que devem traduzir mensagens cristalinas e edificantes de seu Evangelho Salvador, terminamos, invocando-vos a cooperação em favor do mundo melhor.

— Entrelacemos corações em torno da Boa Nova que nos deve presidir às experiências na atividade comum! Enquanto os discípulos distraídos se digladiam, desprezando, insensatos, a bênção das horas, ouçamos a voz do Senhor que nos compele à disciplina no serviço do bem, revelando-se, glorioso e dominante, em seus sacrifícios da cruz, aprendendo, finalmente, em companhia d’Ele que só o Amor é bastante forte para defender a vida, que só o Perdão vence o ódio, que somente a Fé renasce de todas as cinzas das ilusões mortas e que somente o Sacrifício Individual, em Seu Nome, é o caminho da ressurreição a que fomos chamados.

Unamo-nos, desse modo, não apenas em necessidades e dores para rogar o sustento e o socorro da Misericórdia Divina, mas estejamos integrados na fraternidade legítima, a fim de que não estejamos recebendo em vão as graças do Céu, convertendo nossas vidas em abençoadas colunas do templo Espiritual de Jesus na Terra, portadores devotados de sua paz, de sua luz, de sua confiança e de seu amor.

Realizem outros as longas incursões do raciocínio, através da investigação intelectual, respeitável e digna, no enriquecimento do cérebro do mundo. E aproveitando-lhes o esforço laborioso, no que possuem de venerável e santo, não nos esqueçamos do Evangelho vivo, em ação.

Emmanuel (espírito), psicografia de Francisco Cândido Xavier
Livro: Doutrina de Luz

sexta-feira, 26 de julho de 2013

A Vida


A Vida

Não é necessário que a morte abra as portas de tribunais supremos para que o homem seja julgado em definitivo.

A vida faz a análise todos os dias e a luta é o grande movimento seletivo, através do qual observamos diversas sentenças a se evidenciarem nos variados setores da atividade humana.

A moléstia julga os excessos;
A exaustão corrige o abuso;
A dúvida retifica a leviandade;
A aflição reajusta os desvios;
O tédio pune a licença;
O remorso castiga as culpas;
A sombra domina os que fogem à luz;
O isolamento fere o orgulho;
A desilusão golpeia o egoísmo;
As chagas selecionam as células do corpo.

Cada sofrimento humano é aresto do Juízo Divino em função na vida contingente da Terra.
Cada criatura padece determinadas sanções em seu campo de experiência.

Compreendendo, a justiça imanente do Senhor, em todas as circunstâncias e em todas as coisas, atendamos à sementeira do bem, aqui e agora, na certeza de que, segundo a palavra do Mestre, cada Espírito receberá os bens e os males do Patrimônio Infinito da Vida, de conformidade com as próprias obras.



Autor: Emmanuel
Psicografia de Chico Xavier. Do livro: Taça de Luz
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Abençoa e Segue

Fita a caravana de companheiros que renteiam contigo, na via pública, e reconhecerás na face de cada um, quase sempre, apreensões e desgostos, a te pedirem simpatia e compreensão.

O cavalheiro bem posto, que passa no carro de luxo, talvez esteja seguindo ao encontro de credores implacáveis, cujas exigências lhe amargam os dias. A dama que surge, causando admiração pelos dotes de elegância e beleza, possivelmente, estará suportando espinhoso fardo de inquietações.

O atleta que aplaudes, partilhando o delírio da multidão, em muitos casos, terá sofrido inesperada perda afetiva e, embora apareça sorrindo, muitas vezes, tem o íntimo embraseado de angústia.

E aquela própria criança inteligente e robusta que observas sob a tutela de alguém, talvez esconda consigo a dor de haver perdido o pai que a trouxe ao mundo.

Na apreciação acerca de alguém ou no exame de situações determinadas, usa a misericórdia, a fim de que te vejas no caminho certo. Abençoa e segue adiante. Na Terra, comumente, afrontada de condenações, sê a presença da paz e o reconforto da benção.


Autor: Emmanuel
Psicografia de Chico Xavier

O SEBO DO EGOÍSMO

O SEBO DO EGOÍSMO
“Ninguém acende uma lâmpada para cobri-la com uma vasilha ou colocá-la debaixo da cama. Ele a coloca no candeeiro, a fim de que todos os que entram, vejam a luz.”
Lc, 8:16
O egoísmo está na origem, no miolo, de quase todos os males do mundo, e nem sempre é detectado, percebido, pela sutileza com que se apresenta, residindo aí um de seus grandes e tenebrosos perigos.
E esse monstro feroz que habita nosso interior, se manifesta e se insinua de maneiras mais diversas, mais complexas, sendo refolhado para ser confundido, com virtudes como o zelo, a proteção, o amor. É o egoísmo um destruidor voraz de valores e princípios, e que merece de cada um, acurada atenção, por seu permanente efeito em nossas instâncias mais íntimas.
E no espírita, consciente de sua enorme responsabilidade em poder carregar esse distintivo, avulta-se a vigilância ainda mais profunda, para que, perdidas as chances não sobrevenham à consciência, as sombras do remorso, do arrependimento.
Narro-lhes o fato que se passou comigo, ainda recentemente.
Após concluir empreitada de visita a hospital em Belo Horizonte, onde, junto a dois luminares de elevada compleição moral, realizou-se o apoio ao retorno ao mundo etéreo de determinado amigo em Belo Horizonte, decidi, para matar a saudade, andar pelas ruas e avenidas de particular afeição, na capital mineira. Dispunha ainda de algum tempo, enquanto meus dois acompanhantes cumpriam outros afazeres, onde minha presença não era necessária. Desci, com a alegria do reencontro, a avenida do hospital, em direção ao centro, parando um pouco no grande cenário verde, do parque onde andei tantas vezes, com alegria. Observei pessoas e lojas, marcas do progresso, e estendi olhar carinhoso ao prédio da antiga redação, ainda ali, renovando-lhe no sentimento, as luzes da gratidão e da alegria por serem capítulo especial na romagem carnal recém completada.
Na esquina da Escola de Direito, ainda absorvendo os ares de uma saudade singela e agradável, meus sentidos se voltaram para um carrinho, rangente de pesado, puxado por um rapaz forte, moreno, suado, a subir em direção ao sindicato. O rude veículo estava atulhado de livros. Algumas abas de papelão em tiras mal postas, faziam a carroça balançar, contrariando as leis do equilíbrio, permitindo aos transeuntes uma interior torcida para que não caíssem.
O sinal fechou, e a contragosto, o rapaz, fincando os suportes traseiros do carrinho no asfalto, resfolegante, parou. Com o impacto, parte da carga se espalhou pelo chão. Solidários, alguns passantes se apressaram em ajudar o moço. Foi aí que distingui no chão, um dos livros e consegui identificá-lo. Tratava-se de “O Verbo e a Carne”, escrito brilhante de Júlio Abreu e Herculano Pires. Aproximei-me mais e constatei que toda aquela pilha era de livros espíritas. Antigos, porém bem conservados, alguns com capas de papel de presente, dando a perceber o carinho de seu ex-dono. Caminhei na leitura de títulos imponentes, obras doutrinárias, opúsculos valorosos, esparramados ali no asfalto e amontoados no improvisado transporte. Meus olhos perspassaram por autênticas jóias da literatura espírita, com obras conhecidas, algumas raras, provavelmente a maioria já fora de catálogo, não mais encontradiços, suplantados hoje pelo modismo dos romances ocos e das obras de perquirições fracionárias, seccionistas. Ali, jogados ao léu, senti-os humilhados, a caminho de algum sebo, dos lixões, na reciclagem da celulose. Tesouro perdido, agora sem valor pelo não uso.
E, não podem imaginar quanto, isso se repete de modo contumaz, repetido. Um amigo já me dissera: “as traças brasileiras são as mais espiritualizadas do planeta!”.
É uma mania comum entre os espíritas esse apego, essa veneração aos livros, sendo muito constantes autênticas disputas domésticas pelo espaço reservado a eles, mesmo com o mofo e bolor, além dos cupins e as reclamações pertinazes e imperativas.
Posso, de cadeira, afiançar que esta é uma perversa forma de escravidão a um dos pelourinho do egoísmo, cujos agentes, ágeis, se apresentam como inclementes credores logo após nosso desligamento. O destino dos livros que lemos e temos deve ser as mãos e consciências de outros. E nesse universo devem estar, exatamente, aqueles que mais nos são agradáveis, úteis e caros. Tenho falado com amigos espíritas, agora e antes, de um propósito antigo, de se fazer uma grande feira, para que se esvaziem as prateleiras, os armários, e assim, muitos se livrem desses futuros dolorosos pesos, que se tornarão dívidas amargas, através de doações, trocas, intercâmbios. Não apologizo mais a formação das úteis, mas solitárias bibliotecas de empréstimos, visto que têm trazido, às casas, mais preocupação que benefícios. Exorto e conclamo sim, à cessão, à distribuição, a entrega fraterna, como a transferência de um bem precioso, como o são, para que possamos dessedentar nossos irmãos ávidos do saber elevado, colocando-os em contato com aquilo que nos ajudou a ser melhores, procedendo às corrigendas, evoluir.
De certa feita em meu querido “Célia” fui presenteado por um querido irmão, de um exemplar de uma das mais recentes, à época, obras de Emmanuel, colhida por nosso amado Chico Xavier, -Palavras de Vida Eterna-.A dedicatória era efusiva e carinhosa.
Após a reunião, abordado por um assistente vindo de área suburbana, foi-me solicitada uma ajuda a um núcleo espírita, que engatinhava em sua formação. Juntei mensagens, velhas publicações do Reformador, quatro das principais obras da Codificação de Kardec, e num impulso, retirando a amável mensagem do ofertante, coloquei o livro, presenteado pouco antes. A alegria do que recebia foi pronta, vivaz. Seu entusiasmo e gratidão só não foram superiores à grande surpresa que tive ao voltar de minha jornada terrena, quando, apresentados a mim os resultados de minha longeva permanência, pude constatar, na limitada faixa do saldo positivo, uma seqüência volumosa de créditos e comendas espirituais, vindos de pessoas desconhecidas, com quem, de memória, jamais contatei. Fui informado de que eram, na maioria, seres que tiveram a vida transformada, substancialmente mudada, numa casa espírita de uma comunidade de tugúrios, nascida sob a semente de livros que eu doei, dentre os quais aquele “livro novo”.
O bom livro é uma lâmpada, e tê-lo, um compromisso. Retê-lo, uma falha. Compromissos têm duas conseqüências: dívidas ou créditos. Tenho assistido pesaroso, a muitos irmãos queridos, mesmo pródigos em conquistas, experimentando sofrimentos atrozes, por não terem compartilhado a contento, seus conhecimentos e aprendizado. Muitos ainda percorrem os úmidos e escuros corredores e estantes, em busca de livros, lições não apreendidas. Não os encontram nas mãos dos que lendo-os, doutrinam (-se), mas nos monturos dos inservíveis, no lixo. São os que não entenderam que o melhor destino do livro é o de se dissolver de tanto ser compulsado, como o da vela, que se consome, iluminando.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

VIVEREMOS SEMPRE

VIVEREMOS SEMPRE

Se chorares a perda de entes queridos que te precedera, na Grande Mudança; se te sentes à margem do desespero, perdendo a alegria de viver; se mergulhas o próprio coração no poço da amrgura; se te acreditas de alma atirada a um rio de lágrimas; se a ausência das pessoas amadas te ensombra os horizontes do futuro; se te admites sem coragem para facear as dificuldades e provações do presente; se te acreditas sem força para suportar as obrigações que te ficaram nos lances da existência; se julgas que a vida termina em cinza e poeira...
Levanta o próprio espírito para a fé em Deus, abraça os deveres que te foram entregues pelos seres amados que partiram para o Grande Além, honrando-lhes a memória e continua trabalhando e servindo na certeza de que todos nós viveremos sempre...
Emmanuel (espírito)
Uberaba, 12 de março de 1993.
Da Obra Viveremos Sempre
Psicografia: Francisco Cândido Xavier
ALEGRIA DE VIVER
Podem surgir sobre a Terra
Prova, desgosto e mudança,
Mas Deus jamais nos retira
A alegria da esperança
Espírito Auta de Souza
Psicogragia de Chico Xavier
SEGUE ADIANTE
Se você está triste ou tenso, resguarda-te, pois, em paz e deixa o tempo transcorrer, porquanto ele conseguirá fazer amanhã o que hoje te parece impossível conseguir.
Jesus, na montanha das Bem-aventuranças, ou no Getsémani, ou no Gólgota, manteve a mesma paz, em razão da certeza de saber que Deus estava com Ele, e, por conseqüência, Ele estava com Deus.
Paz é Deus na mente e no coração."
Joanna de Ângelis (espírito)
Psicografia de Divaldo Franco
......
MORADAS
Manoel Philomeno de Miranda (espírito)
Certa estranheza invade muitos leitores e pessoas desinformados a respeito da vida espiritual, quando tomam conhecimento da estrutura e constituição do mundo parafísico, bem como da sociedade onde se movimentam os sobreviventes ao túmulo.
Acostumados às notícias da teologia ortodoxa apresentada pelas religiões que estabeleceram regiões estanques para os Espíritos, quando vencida e superada essa crença armaram-se de cepticismo, às vezes inconscientemente, em tomo da organização e do modus vivendi dos que se libertaram do corpo, mas não saíram da Vida.
Um pouco de reflexão bastada para contribuir de maneira positiva em favor do entendimento da vida e sua continuidade um passo além do túmulo.
Na Terra mesma, interpenetram-se vibrações e movimentam-se incontáveis expressões de vida, sem que o homem disso se dê conta.
Ondas de freqüência variada cortam os espaços terrestres, carregadas de mensagens somente percebidas quando necessariamente transformadas em som e imagem por aparelhos especiais.
Raios de constituição diferente rompem os campos vibratórios em tomo do planeta, auxiliando, estimulando e transformando os fenômenos biológicos sem que se possa percebê-los, senão através dos seus efeitos ou quando captados por equipamentos próprios.
A Vida espiritual não é, conforme alguns pensam, semelhante à física ou cópia dela. Ocorre exatamente o contrário, sendo a terrena um símile imperfeito daquela que é causal, preexistente e sobrevivente.
Liberada da matéria densa, a alma não se transfere para regiões excelsas de imediato.
Há toda uma escala de valores a conquistar.
Os Espíritos vivem fora do corpo em conglomerados próprios, em sociedade mais harmônica ou mais atormentada, de acordo com o grau da evolução que os reúne por automatismo da afinidade vibratória, que decorre da identidade moral que os retém em campos de igual densidade de onda.
Sendo o pensamento a força criadora, é natural que este construa os recintos para habitação e instale, em nome do Pai, programas de ação que facultam os meios de crescimento para o Espírito, na direção dos mundos felizes, cuja constituição superior a nós nos escapa.
Nas faixas mais próximas da Terra, a vida se apresenta semelhante ao que se conhece no planeta, facilitando a adaptação para os recém-chegados e propiciando mais fácil intercâmbio com aqueles que estão instalados na matéria densa.
Conforme sucede no mundo objetivo, há uma escala de progresso cultura e moral cujos valores partem das manifestações mais primárias até os índices mais elevados.
Conseqüentemente, há núcleos que refletem as condições sócio-morais, sócio-econômicas, sócio-culturais dos seus habitantes, desde choças e fiarias até habitações saudáveis, belas e confortáveis...
As moradas do Além igualmente variam em densidade vibratória correspondente àqueles que as vêm habitar, felizes e liberados, ou noutras onde se demoram a dor, as misérias morais e as condições de insalubridade, todas elas em caráter sempre transitórios.
Em todo lugar, todavia, apresenta-se a misericórdia e o socorro do Pai, ao alcance de quem deseja progredir e ser ditoso, na faixa vibratória em que estacione.
Igualmente, convém considerar que urbanistas e engenheiros, cientistas e legisladores levam para a Terra as lembranças dos planos onde residiam e a eles retomam, periodicamente, através do parcial desdobramento pelo sono, acentuando lembranças que depois materializam em projetos e edificações avançados.
A ascensão dos seres somente ocorre mediante conquistas intransferíveis através do trabalho, método seguro para a aquisição da plenitude.
Movimentando, portanto, as energias cósmicas presentes no Universo, os Espíritos plasmam os seus Círculos de realização, nos quais estagiam entre uma e outra reencarnação, galgando Esferas que se apresentam em graus de evolução quase infinita. '
"Na Casa do Pai - disse Jesus - há muitas mondas", não somente nos astros luminíferos que gravitam nos espaços siderais, mas também, em torno deles, como estações intermediárias entre uns e outros mundos que pulsam nas galáxias, glorificando a Criação.
Retirado de Temas da Vida e da Morte, psicografado por Divaldo Franco.
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As habitações do planeta Júpiter
Revista Espírita, agosto de 1858
(pelo senhor Victorien Sardou)
Um grande motivo de espanto para certas pessoas, convencidas aliás da existência dos Espíritos (não vou aqui me ocupar das outras), é que tenham, como nós, suas habitações e suas cidades. Não me pouparam as críticas: "Casas de Espíritos em Júpiter!... Que gracejo!..." - Gracejo, se assim se o deseja; nada tenho com isso. Se o leitor não encontra aqui, na verossimilhança de explicações, uma prova suficiente de sua verdade; se não está surpreso, como nós, quanto ao perfeito acordo dessas revelações espíritas com os dados mais positivos da ciência astronômica; se não vê, numa palavra, senão uma hábil mistificação nos detalhes que seguem e nos desenhos que os acompanham, convido-o a se explicar com os Espíritos, dos quais não sou senão um instrumento e o eco fiel. Que ele evoque Palissy ou Mozart ou um outro habitante dessa morada bem-aventurada, que o interrogue, que controle minhas afirmações pelas suas, enfim, que discuta com ele: porque, por mim, não faço senão apresentar aqu i o que me foi dado, senão repetir o que me foi dito; e para esse papel absolutamente passivo, creio-me ao abrigo tanto da censura como também do elogio.
Feita essa reserva, e uma vez admitida a confiança nos Espíritos, aceita como verdade a única doutrina verdadeiramente bela e sábia que a evocação dos mortos nos revelou até hoje, quer dizer, a migração das almas de planetas em planetas, suas encarnações sucessivas e seu progresso incessante pelo trabalho, as habitações de Júpiter não terão mais motivo para nos espantar. Desde o momento em que um Espírito se encarna em um mundo submetido, como o nosso, a uma dupla revolução, quer dizer, à alternativa de dias e de noites e ao retorno periódico das estações, do momento em que ele possui um corpo, esse envoltório material, tão frágil que seja, não pede senão uma alimentação e roupas, mas também um abrigo ou, pelo menos, um lugar de repouso, conseqüentemente uma moradia. Com efeito, é bem o que nos foi dito. Como nós, e melhor do que nós, os habitantes de Júpiter têm seus lares comuns e suas famílias, grupos harmônicos de Espíritos simpáticos, unidos no triunfo depois de sê-lo na luta: daí as habitações tão espaçosas, as quais se pode aplicar, com justiça, o nome de palácios. Ainda como nós, esses Espíritos têm suas festas, suas cerimônias, suas reuniões públicas: daí certos edifícios especialmente destinados a esses usos. É preciso prever, enfim, encontrar nessas regiões superiores toda uma Humanidade ativa e laboriosa, como a nossa, submetida como nós às suas leis, às suas necessidades, aos seus deveres; mas com essa diferença de que o progresso, rebelde aos nossos esforços, torna-se uma conquista fácil para os Espíritos desligados, como eles o são, de nossos vícios terrestres.
Não deveria me ocupar aqui senão da arquitetura das suas habitações, mas para a própria inteligência dos detalhes que vão seguir, uma palavra de explicação não será inútil. Se Júpiter não é abordável senão pelos bons Espíritos, não se segue que seus habitantes sejam todos excelentes no mesmo grau: entre a bondade do simples e a do homem de gênio, é permitido contar muitas nuanças. Ora, toda a organização social desse mundo superior repousa precisamente sobre essas variedades de inteligências e de aptidões; e, em razão de leis harmoniosas, que seria muito longo explicar aqui, aos Espíritos mais elevados, os mais depurados, é que pertence a alta direção de seu planeta. Essa supremacia não se detém aí; ela se estende até os mundos inferiores, onde esses Espíritos, por suas influências, favorecem e ativam sem cessar o progresso religioso, gerador de todos os outros. E necessário acrescentar que, para esses Espíritos depurados, não poderia ser questão senão de trabalho de inteligê ncia, que sua atividade não se exerce mais do que no domínio de seu pensamento, e que adquiriram bastante império sobre a matéria para não serem, senão fracamente, entravados por ela no livre exercício de suas vontades? Os corpos de todos esses Espíritos, e, aliás, de todos os Espíritos que habitam Júpiter, é de uma densidade tão leve que não se pode lhe encontrar termo de comparação senão nos fluidos imponderáveis; um pouco maior do que o nosso, do qual reproduz exatamente a forma, porém mais pura e mais bela, se nos oferece sob a aparência de um vapor (emprego com pesar essa palavra que designa uma substância ainda muito grosseira), de um vapor, digo, imperceptível e luminoso, luminoso sobretudo nos contornos do rosto e da cabeça; porque aqui a inteligência e a vida irradiam como um foco ardente; e é bem esse clarão magnético entrevisto pelos visionários cristãos e que nossos pintores traduziram pelo nimbo e pela auréola dos santos.
Concebe-se que um tal corpo não dificulte, senão fracamente, as comunicações extra-mundanas desses Espíritos, e que lhes permite mesmo, em seu planeta, um deslocamento pronto e fácil. Ele escapa tão facilmente à atração planetária e sua densidade difere tão pouco da atmosfera, que pode aí se mover, ir e vir, descer ou subir, ao capricho do Espírito e sem outro esforço que o da sua vontade. Tanto que algumas personagens que Palissy consentiu me fazer desenhar, estão representadas ao rasante do solo, ou à flor da água, ou muito elevadas no ar, com toda liberdade de ação e de movimentos que emprestamos aos nossos anjos. Essa locomoção é tanto mais fácil para o Espírito quanto mais esteja depurado, e isso se concebe sem dificuldade; também nada é mais fácil, aos habitantes do planeta, que estimar, à primeira vista, o valor de um Espírito que passa; dois sinais falarão por ele: a altura do seu vôo e a luz mais ou menos brilhante de sua auréola.
Em Júpiter, como por toda parte, aqueles que voam mais alto são os mais raros; abaixo deles, é preciso contar várias camadas de Espíritos inferiores, em virtude como em poder, mas naturalmente livres para igualá-los, um dia, em se aperfeiçoando. Escalonados e classificados segundo seus méritos, estes são votados mais particularmente aos trabalhos que interessam ao próprio planeta, e não exercem, sobre os mundos inferiores, a autoridade todo-poderosa dos primeiros. Eles respondem, é verdade, a uma evocação, com palavras sábias e boas, mas à pressa que tem em nos deixar, ao laconismo de suas palavras, é fácil de compreender que têm muito a fazer alhures, e que não estão ainda bastante libertos para irradiarem, ao mesmo tempo, sobre dois pontos tão distantes um do outro. Enfim, depois dos menos perfeitos desses Espíritos, mas separados deles por um abismo, vêm os animais que, como os únicos serviçais e os únicos obreiros do planeta, merecem uma menção toda especial.
Se designamos sob esse nome de animais os seres bizarros que ocupam a base da escala, foi porque os próprios Espíritos o puseram em uso e, aliás, nossa própria língua não tem termo melhor para nos oferecer. Essa designação os deprecia um pouco para baixo; mas chamá-los de homens seria fazer-lhes muita honra: com efeito, são Espíritos votados à animalidade, talvez por longo tempo, talvez para sempre; porque nem todos os Espíritos estão de acordo sobre esse ponto, e a solução do problema parece pertencer a mundos mais elevados do que Júpiter, mas, qualquer que seja o seu futuro, não há com que se enganar quanto ao seu passado. Esses Espíritos, antes de irem para lá, emigraram sucessivamente em nossos baixos mundos, do corpo de um animal para o de um outro, em uma escala de aperfeiçoamento perfeitamente graduada. O estudo atento dos nossos animais terrestres, seus costumes, seus caracteres individuais, sua ferocidade longe do homem, e sua domesticação lenta mas sempre possível, tudo isso atesta suficientemente a realidade dessa ascensão animal.
Assim, para qualquer lado que se volte, a harmonia do Universo se resume sempre numa única lei: o progresso por toda parte e para todos, para o animal como para a planta, para a planta como para o mineral; progresso puramente material no início, nas moléculas insensíveis do metal ou do calhau, e mais e mais inteligente à medida que remontamos à escala dos seres e que a individualidade tende a se libertar da massa, a se afirmar, a se conhecer. - Pensamento elevado e consolador, se assim não fora jamais; porque prova que nada é sacrificado, que a recompensa é sempre proporcional ao progresso alcançado; por exemplo, que o devotamento do cão que morre por seu senhor não será estéril para o seu Espírito, porque terá seu justo salário além deste mundo.
É o caso dos Espíritos animais que povoam Júpiter; aperfeiçoaram-se ao mesmo tempo que nós, conosco e com a nossa ajuda. A lei é mais admirável ainda: ela faz tão bem do seu devotamento ao homem a primeira condição para a sua ascensão planetária, que a vontade de um Espírito de Júpiter pode chamar para si todo animal que, em uma das suas vidas anteriores, lhe haja dado provas de afeição. Essas simpatias que formam, no Mais Alto, famílias de Espíritos, agrupam também, ao redor das famílias, todo um cortejo de animais devotados. Por conseqüência, nosso apego neste mundo por um animal, o cuidado que tomamos para abrandá-lo e humanizá-lo, tudo isso tem a sua razão de ser, tudo isso será pago: é um bom servidor que formamos antecipadamente para um mundo melhor.
Será também um operário; porque aos seus semelhantes está reservado todo trabalho material, toda tarefa corporal: fardo ou alvenaria, semeadura ou colheita. E, para tudo isso, a Suprema Inteligência proveu por um corpo que participa, ao mesmo tempo, da superioridade da besta e da do homem. Isso podemos julgar por um esboço de Palissy, que representa alguns desses animais muito atentos a jogarem bolas. Eu não poderia melhor compará-los senão aos faunos e aos sátiros da Fábula; o corpo ligeiramente peludo é todavia aprumado como o nosso; as patas desapareceram em alguns para darem lugar a certas pernas que lembram ainda a forma primitiva, a dois braços robustos, singularmente ligados e terminados por verdadeiras mãos, se nelas considero a oposição dos dedos. Coisa bizarra, a cabeça, ao contrário, não é tão aperfeiçoada quanto o resto! Assim, a fisionomia reflete bem alguma coisa de humano, mas o crânio, mas o maxilar e, sobretudo, a orelha, nada têm que diferem sensivelmente do animal terrestre; fácil é, pois, distingui-los entre si: este é um cão, aquele um leão. Propriamente vestidos com blusas e vestes muito semelhantes às nossas, não esperam mais do que a palavra para lembrarem, de muito perto, certos homens deste mundo; mas, eis precisamente o que lhes falta, assim como o que não poderiam fazer. Hábeis para se compreenderem entre si por uma linguagem que nada tem da nossa, não se enganam mais sobre as intenções dos Espíritos que os comandam; um olhar, um gesto bastam. A certos recursos magnéticos, dos quais nossos domadores de animais já têm o segredo, o animal adivinha e obedece sem murmurar, e o que é mais, de bom grado, porque está sob o encanto. Assim é que se lhe impõe toda grande tarefa, e que com a sua ajuda tudo funciona regularmente de um extremo ao outro da escala social: o Espírito elevado pensa, delibera, o Espírito inferior aplica com a sua própria iniciativa, o animal executa. Assim a concepção, o emprego e o fato se unem numa m esma harmonia, e conduzem todas as coisas para seu fim mais próprio, pelos meios mais simples e mais seguros.
Peço desculpas por esta digressão: era indispensável ao meu objetivo, que agora posso abordar.
À espera das cartas prometidas, que facilitarão singularmente o estudo de todo o planeta, podemos, pelas descrições feitas pelos Espíritos, fazer-nos uma idéia de sua grande cidade, da cidade por excelência, desse foco de luz e de atividade que concordam em designar sob o nome, estranhamente latino, de Julnius.
"Sobre o maior dos nossos continentes, disse Palissy, em um vale de setecentas a oitocentas léguas de largura, para contar como vós, um rio magnífico descendo das montanhas do norte, e aumentado por uma multidão de torrentes e de ribeirões, forma, em seu percurso, sete a oito lagos, dos quais o menor mereceria, entre vós, o nome de mar. Foi sobre as margens do maior desses lagos, batizado por nós com o nome de a Pérola, que nossos ancestrais lançaram os primeiros fundamentos de Julnius. Essa cidade primitiva ainda existe, venerada e conservada como uma preciosa relíquia. Sua arquitetura difere muito da nossa. Explicar-te-ei tudo isso a seu tempo: saiba apenas que a cidade moderna está a uns cem metros mais abaixo da antiga. O lago, encaixado nas altas montanhas, se derrama no vale por oito cataratas enormes, que formam igualmente correntes isoladas e dispersas em todos os sentidos. Com a ajuda dessas correntes, nós mesmos cavamos, na planície, uma multidão de riachos, de cana is e de tanques, não reservando a terra firme senão para nossas casas e nossos jardins. Disso resultou uma espécie de cidade anfíbia, como vossa Veneza, e da qual não se poderia dizer, à primeira vista, se está edificada sobre a terra ou sobre a água. Não te digo nada hoje de quatro edifícios sagrados, construídos sobre a própria vertente das cataratas, de sorte que a água jorra em abundância de seus pórticos: aí estão obras que vos pareceriam inacreditáveis pela grandeza e audácia.
"É a cidade terrestre que descrevo aqui, a cidade de alguma sorte material, a das ocupações planetárias, a que chamamos, enfim, a Cidade baixa. Ela tem suas ruas, ou antes, seus caminhos, traçados para o serviço interior; tem suas praças públicas, seus pórticos e suas pontes lançadas sobre os canais para a passagem dos servidores. Mas a cidade inteligente, a cidade espiritual, a verdadeira Julnius, enfim, não é na terra que é preciso procurá-la, é no ar.
"Ao corpo material de nossos animais, incapazes de voarem, (1), é preciso a terra firme; mas o que nosso corpo fluídico e luminoso exige, é uma residência aérea como ele, quase impalpável e móvel ao gosto de nosso capricho. Nossa habilidade resolveu esse problema, com a ajuda do tempo e das condições privilegiadas que o Grande Arquiteto nos havia dado. Compreenda bem que essa conquista dos ares era indispensável a Espíritos como os nossos. Nosso dia é de cinco horas, e nossa noite de cinco horas igualmente; mas tudo é relativo, e para seres prontos para pensarem e agirem como nós o somos, para Espíritos que se compreendem pela linguagem dos olhos e que sabem se comunicar, magneticamente, à distância, nosso dia de cinco horas igualaria já em atividade uma de vossas semanas. Era ainda muito pouco, na nossa opinião; e a imobilidade da morada, o ponto fixo da sede era um entrave para todas as nossas grandes obras. Hoje, pelo deslocamento fácil dessas moradas de pássaros, pela pos sibilidade de transportar, nós e os outros, em tal lugar do planeta e tal hora do dia que nos aprazasse, nossa existência é pelo menos dobrada, e com ela tudo o que pode criar de útil e de grande.
(1) É preciso, todavia, deles excetuar certos animais munidos de asas e reservados para o serviço aéreo, e para os trabalhos que exigiriam, entre nós, o emprego de madeiramentos. São uma transformação da ave, como os animais descritos mais acima são uma transformação dos quadrúpedes.)
"Em certas épocas do ano, acrescentou o Espírito, em certas festas, por exemplo, verias aqui o céu obscurecido pelo enxame de habitações que vêm de todos os pontos do horizonte. É um curioso conjunto de casas esbeltas, graciosas e leves, de toda forma, de toda cor, balançando em toda altura, e continuamente a caminho da cidade baixa para a cidade celeste: Alguns dias depois o vazio se faz pouco a pouco e todos esses pássaros voam.
"Nada falta a essas moradias flutuantes, nem mesmo o encanto da verdura e das flores. Falo de uma vegetação sem exemplo entre vós, de plantas, de arbustos mesmo destinados, pela natureza de seus órgãos, a respirar, a se alimentar, a viver, a se reproduzir no ar.
"Nós temos, disse o mesmo Espírito, dessas moitas de flores enormes, das quais não poderíeis imaginar nem as formas nem as nuanças, e de uma leveza de tecido que as torna quase transparentes. Balançando no ar, onde longas folhas as sustem, e armadas de gavinhas semelhantes às da videira, se reúnem em nuvens de mil tintas ou se dispersam ao sabor do vento, e preparam encantador espetáculo aos passeadores da cidade baixa... imagine a graça dessas jangadas de verdura, desses jardins flutuantes que nossa vontade pode fazer e desfazer e que duram, às vezes, toda uma estação! Longas fiadas de cipó de ramos floridos se destacam dessas alturas e pendem até a terra, pencas enormes se agitam sacudindo seus perfumes e suas pétalas que se desfolham... Os Espíritos que atravessam o ar aí se detêm na passagem: é um lugar de repouso e de reencontro, e, querendo-se, um meio de transporte para rematar a viagem sem fadiga e em companhia."
Um outro Espírito estava sentado sobre uma dessas flores no momento em que eu o evoquei.
"Nesse momento, disse-me ele, é noite em Julnius, estou sentado à parte sobre uma dessas flores do ar que não desabrocham aqui senão à claridade de nossas luas. Sob meus pés toda cidade baixa dorme; mas sobre minha cabeça e ao meu redor, a perder de vista, não há senão movimento e alegria no espaço. Dormimos pouco: nossa alma é muito desligada para que as necessidades do corpo sejam tirânicas; e a noite é antes feita para nossos servidores do que para nós. É a hora das visitas e das longas conversas, de passeadores solitários, de fantasias, da música. Não vejo senão moradas aéreas resplandecentes de luzes ou jangadas de folhas e de flores carregadas de bandos alegres... A primeira de nossas ruas clareia toda a cidade baixa: é uma doce luz comparável a de vosso luar; mas, do lado do lago, a segunda se eleva, e esta tem reflexos esverdeados que dão a todo o rio o aspecto de um grande gramado..."
É sobre a margem direita desse rio, "cuja água, disse o Espírito, te ofereceria a consistência de um leve vapor (1), " que está construída a casa de Mozart, que Palissy consentiu fazer-me desenhar sobre cobre. Não dou aqui senão a fachada sul. A grande entrada está à esquerda, sobre a planície; à direita está o rio; ao norte e ao sul estão os jardins. Perguntei a Mozart quem eram os seus vizinhos. - "Mais alto, disse, e mais baixo, há dois Espíritos que tu não desconheces; mas à esquerda, não estou separado senão por uma grande campina do jardim de Cervantes."
(1) A densidade de Júpiter sendo de 0,23, quer dizer, um pouco menos de um quarto da Terra, o Espírito nada disse aqui senão de muito verossímil. Concebe-se que tudo é relativo, e que sobre esse globo etéreo tudo seja etéreo como ele.
A casa tem, pois, quatro faces como as nossas, do que seria errado, todavia, fazer uma regra geral. Ela está construída com uma certa pedra que os animais tiram das pedreiras do norte, é das quais o Espírito compara a cor a esses tons esverdeados que toma, freqüentemente, o azul do céu no momento em que o sol se deita. Quanto à sua duração pode-se dela fazer uma idéia por esta observação de Palissy, que ela derreteria sob nossos dedos humanos tão rápida quanto um floco de neve: ainda está aí uma das matérias mais resistentes do planeta! Sobre essa parede os Espíritos esculpiram ou incrustaram os estranhos arabescos que nosso desenho procura reproduzir. São ou ornamentos escavados nas pedras e coloridos em seguida, ou incrustações limitadas à solidez da pedra verde, por um procedimento que está muito em voga agora, e que conserva nos vegetais toda a graça de seus contornos, toda a finura de seus tecidos, toda a riqueza de seu colorido.
"Uma descoberta, acrescentou o Espírito, que fareis algum dia e que mudará entre vós muitas coisas."
A grande janela da direita apresenta um exemplo de gênero de ornamentação, uma de suas bordas não é outra coisa senão um caniço enorme do qual se conservaram as folhas. Ocorre o mesmo com o coroamento da janela principal, que apresenta a forma de claves de sol: são plantas sarmentosas enlaçadas e petrificadas. E por esse procedimento que eles obtêm a maioria dos coroamentos de edifícios, de grades, de balaústres, etc. Freqüentemente mesmo, a planta é colocada na parede, com suas raízes, em condições de crescer livremente. Ela cresce, se desenvolve; suas folhas desabrocham ao acaso, e o artista não a congela no lugar senão quando adquiriu todo o desenvolvimento desejado para a ornamentação do edifício: a casa de Palissy é quase inteiramente decorada desse modo.
Destinada primeiro unicamente aos móveis, depois às molduras de portas e de janelas, esse gênero de ornamento se aperfeiçoou pouco a pouco e acabou por invadir toda a arquitetura. Hoje, não são apenas a flor e o arbusto que se petrificam no estado, mas a própria árvore da raiz ao topo; e os palácios, como os edifícios sagrados quase nada mais têm de outras colônias.
Uma petrificação da mesma natureza serve também para a decoração das janelas. De flores ou de folhas muito amplas, são habilmente despojadas de sua parte carnuda: não resta mais do que uma rede de fibras, tão fina quanto a mais fina musselina. E cristalizada, e dessas folhas unidas com arte, constrói-se toda uma janela, que não deixa filtrar, para o interior, senão uma luz muito doce: ou bem as reveste com uma espécie de vidro líquido e colorido com todas as nuanças, que se endurece no ar e que transforma a folha em uma espécie de vidraça. Do conjunto dessas folhas resultam, para janelas, encantadores bosquezinhos transparentes e luminosos.
Quanto à própria duração dessas aberturas, e a mil outros detalhes que podem surpreender ao primeiro contato, sou forçado a adiar-lhes a explicação: a história da arquitetura em Júpiter exigiria um volume inteiro. Renuncio igualmente a falar do mobiliário, para não me ater aqui senão à disposição geral da casa.
O leitor deve ter compreendido, depois de tudo o que precede, que a casa do continente não deve ser, para o Espírito senão uma espécie de pequena casa de passagem. A cidade baixa não é quase freqüentada senão por Espíritos de segunda ordem, encarregados dos interesses planetários, da agricultura, por exemplo, ou das trocas, e da boa ordem a manter entre os servidores. Também todas as casas que repousam sobre o solo, geralmente, não têm senão um térreo e um andar: um destinado aos Espíritos que agem sob a direção do senhor, e acessível aos animais; o outro, reservado só ao Espírito, que nele não mora senão por ocasião. É isso que explica por que vemos, nas várias casas de Júpiter, nesta por exemplo, e na de Zoroastro, uma escada e mesmo uma rampa. Aquele que rasa a água como uma andorinha, e que pode correr sobre as hastes de trigo sem curvá-las, dispensa muito bem escada e rampa para entrar em sua casa; mas os Espíritos inferiores não têm o vôo tão fácil: não se elevam senão pela agitação, e a rampa não lhes é sempre inútil. Enfim, a escada é absoluta necessidade para os animais serviçais, que não caminham senão como nós. Estes últimos têm também seus compartimentos, muito elegantes, de resto, que fazem parte de todas as grandes habitações; mas suas funções os chamam, constantemente, à casa do senhor: é preciso facilitar-lhes a entrada e o percurso interior. Daí essas construções bizarras, que, pela base, assemelham-se ainda aos nossos edifícios terrestres, e que deles diferem absolutamente pelo vértice.
Este se distingue, sobretudo, por uma originalidade que seríamos incapazes de imitar. É uma espécie de flecha aérea que se balança sobre o alto do edifício, acima da grande janela de seu original coroamento. Esse frágil escaler, fácil de deslocar, e todavia destinado, no pensamento do artista, a não deixar o lugar que lhe foi assinalado, porque sem repousar em nada sobre o cume, completa-lhe, no entanto, a decoração, e lamento que a dimensão da prancha não haja permitido que nela encontrasse lugar. Quanto à morada de Mozart não tenho aqui senão que constatar-lhe a existência: os limites desse artigo não me permitem estender-me sobre esse assunto.
Não terminaria, todavia, sem me explicar, de passagem, sobre o gênero de ornamentos que o grande artista escolheu para a sua moradia. É fácil neles reconhecer a lembrança de nossa música terrestre: a clave de sol ai está freqüentemente repetida, e, coisa bizarra, jamais a clave de fá!. Na decoração do térreo encontramos um arco de violino, uma espécie de grande alaúde ou de bandolim, uma lira e toda uma pauta musical. Mais alto, é uma grande janela que lembra, vagamente, a forma de um órgão; os outros têm aparência de grandes notas, e notas mais pequenas são abundantes por sobre toda a fachada.
Seria erro disso concluir que a música de Júpiter seja comparável à nossa, e que se conta pelos mesmos sinais: Mozart explicou-se sobre ela de modo a não deixar dúvidas a esse respeito; mas os Espíritos lembram, de bom grado, na decoração de suas casas, a missão terrestre que lhes mereceu a encarnação em Júpiter e que resume melhor o caráter de sua inteligência. Assim, na casa de Zoroastro são os astros e a chama que fazem todos os detalhes da decoração.
Há mais; parece que esse simbolismo tem suas regras e seus segredos. Todos esses ornamentos não estão dispostos ao acaso: têm sua ordem lógica e sua significação precisa; mas é uma arte que os Espíritos de Júpiter renunciam em nos fazer compreender, pelo menos até este dia, e sobre a qual não se explicam de bom grado. Nossos velhos arquitetos empregaram também o simbolismo na decoração de suas catedrais; e a torre de Saint-Jacques não é nada menos que um poema hermético, se se crê na tradição. Nada há, pois, para nos espantar na estranheza e na decoração arquitetônica em Júpiter; se ela contradiz nossas idéias quanto à arte humana, é que há, com efeito, todo um abismo entre uma arquitetura que vive e que fala e uma alvenaria, como a nossa, que nada prova. Nisso, como em toda outra coisa, a prudência nos proíbe esse erro do relativo que quer tudo conduzir às proporções e aos hábitos do homem terrestre. Se os habitantes de Júpiter estivessem alojados como nós, se comessem, vive ssem, dormissem e andassem como nós, não haveria grande proveito em subir para lá. É bem porque seu planeta difere absolutamente do nosso que desejamos conhecê-lo, e sonhá-lo como nossa futura morada!
De minha parte, não perderia o meu tempo e estaria bem feliz por terem os Espíritos me escolhido para seu intérprete, se seus desenhos e suas descrições inspirarem, a um único crente, o desejo de subir mais rápido para Julnius, e a coragem de tudo fazer para isso conseguir.
VICTORIEN SARDOU.
O autor dessa interessante descrição é um desses adeptos fervorosos e esclarecidos que não temem confessar francamente suas crenças, e se coloca acima da critica de pessoas que não crêem em nada daquilo que sai do círculo de suas idéias. Ligar seu nome a uma doutrina nova, desafiando os sarcasmos, é uma coragem que não é dada a todo mundo, e felicitamos o senhor V. Sardou por tê-la. Seu trabalho revela o escritor distinto que, embora jovem ainda, já conquistou um lugar honroso na literatura, e une ao talento de escrever, os profundos conhecimentos de sábio; nova prova que o Espiritismo não recruta entre os tolos e os ignorantes. Fazemos votos para que o senhor Sardou complete, o mais rápido possível, seu trabalho tão felizmente começado. Se os astrônomos nos revelam, por suas sábias pesquisas, o mecanismo do Universo, os Espíritos, por suas revelações, nos fazem conhecer o seu estado moral e isso, como eles dizem, com o objetivo de nos estimular ao bem, a fim de merecermos um a existência melhor.

ALLAN KARDEC