VIVEREMOS SEMPRE
Se
chorares a perda de entes queridos que te precedera, na Grande Mudança; se te
sentes à margem do desespero, perdendo a alegria de viver; se mergulhas o
próprio coração no poço da amrgura; se te acreditas de alma atirada a um rio de
lágrimas; se a ausência das pessoas amadas te ensombra os horizontes do futuro;
se te admites sem coragem para facear as dificuldades e provações do presente;
se te acreditas sem força para suportar as obrigações que te ficaram nos lances
da existência; se julgas que a vida termina em cinza e poeira...
Levanta
o próprio espírito para a fé em Deus, abraça os deveres que te foram entregues
pelos seres amados que partiram para o Grande Além, honrando-lhes a memória e
continua trabalhando e servindo na certeza de que todos nós viveremos
sempre...
Emmanuel
(espírito)
Uberaba,
12 de março de 1993.
Da Obra Viveremos Sempre
Psicografia: Francisco
Cândido Xavier
ALEGRIA
DE VIVER
Podem
surgir sobre a Terra
Prova, desgosto e mudança,
Mas Deus jamais nos
retira
A alegria da esperança
Espírito
Auta de Souza
Psicogragia de Chico Xavier
SEGUE
ADIANTE
Se
você está triste ou tenso, resguarda-te, pois, em paz e deixa o tempo
transcorrer, porquanto ele conseguirá fazer amanhã o que hoje te parece
impossível conseguir.
Jesus,
na montanha das Bem-aventuranças, ou no Getsémani, ou no Gólgota, manteve a
mesma paz, em razão da certeza de saber que Deus estava com Ele, e, por
conseqüência, Ele estava com Deus.
Paz
é Deus na mente e no coração."
Joanna
de Ângelis (espírito)
Psicografia
de Divaldo Franco
......
MORADAS
Manoel
Philomeno de Miranda (espírito)
Certa
estranheza invade muitos leitores e pessoas desinformados a respeito da vida
espiritual, quando tomam conhecimento da estrutura e constituição do mundo
parafísico, bem como da sociedade onde se movimentam os sobreviventes ao
túmulo.
Acostumados às notícias da teologia ortodoxa apresentada pelas
religiões que estabeleceram regiões estanques para os Espíritos, quando vencida
e superada essa crença armaram-se de cepticismo, às vezes inconscientemente, em
tomo da organização e do modus vivendi dos que se libertaram do corpo, mas não
saíram da Vida.
Um pouco de reflexão bastada para contribuir de maneira
positiva em favor do entendimento da vida e sua continuidade um passo além do
túmulo.
Na Terra mesma, interpenetram-se vibrações e movimentam-se
incontáveis expressões de vida, sem que o homem disso se dê conta.
Ondas de
freqüência variada cortam os espaços terrestres, carregadas de mensagens somente
percebidas quando necessariamente transformadas em som e imagem por aparelhos
especiais.
Raios de constituição diferente rompem os campos vibratórios em
tomo do planeta, auxiliando, estimulando e transformando os fenômenos biológicos
sem que se possa percebê-los, senão através dos seus efeitos ou quando captados
por equipamentos próprios.
A Vida espiritual não é, conforme alguns pensam,
semelhante à física ou cópia dela. Ocorre exatamente o contrário, sendo a
terrena um símile imperfeito daquela que é causal, preexistente e
sobrevivente.
Liberada da matéria densa, a alma não se transfere para regiões
excelsas de imediato.
Há toda uma escala de valores a conquistar.
Os
Espíritos vivem fora do corpo em conglomerados próprios, em sociedade mais
harmônica ou mais atormentada, de acordo com o grau da evolução que os reúne por
automatismo da afinidade vibratória, que decorre da identidade moral que os
retém em campos de igual densidade de onda.
Sendo o pensamento a força
criadora, é natural que este construa os recintos para habitação e instale, em
nome do Pai, programas de ação que facultam os meios de crescimento para o
Espírito, na direção dos mundos felizes, cuja constituição superior a nós nos
escapa.
Nas faixas mais próximas da Terra, a vida se apresenta semelhante ao
que se conhece no planeta, facilitando a adaptação para os recém-chegados e
propiciando mais fácil intercâmbio com aqueles que estão instalados na matéria
densa.
Conforme sucede no mundo objetivo, há uma escala de progresso cultura
e moral cujos valores partem das manifestações mais primárias até os índices
mais elevados.
Conseqüentemente, há núcleos que refletem as condições
sócio-morais, sócio-econômicas, sócio-culturais dos seus habitantes, desde
choças e fiarias até habitações saudáveis, belas e confortáveis...
As moradas
do Além igualmente variam em densidade vibratória correspondente àqueles que as
vêm habitar, felizes e liberados, ou noutras onde se demoram a dor, as misérias
morais e as condições de insalubridade, todas elas em caráter sempre
transitórios.
Em todo lugar, todavia, apresenta-se a misericórdia e o socorro
do Pai, ao alcance de quem deseja progredir e ser ditoso, na faixa vibratória em
que estacione.
Igualmente, convém considerar que urbanistas e engenheiros,
cientistas e legisladores levam para a Terra as lembranças dos planos onde
residiam e a eles retomam, periodicamente, através do parcial desdobramento pelo
sono, acentuando lembranças que depois materializam em projetos e edificações
avançados.
A ascensão dos seres somente ocorre mediante conquistas
intransferíveis através do trabalho, método seguro para a aquisição da
plenitude.
Movimentando, portanto, as energias cósmicas presentes no
Universo, os Espíritos plasmam os seus Círculos de realização, nos quais
estagiam entre uma e outra reencarnação, galgando Esferas que se apresentam em
graus de evolução quase infinita. '
"Na Casa do Pai - disse Jesus - há muitas
mondas", não somente nos astros luminíferos que gravitam nos espaços siderais,
mas também, em torno deles, como estações intermediárias entre uns e outros
mundos que pulsam nas galáxias, glorificando a Criação.
Retirado
de Temas da Vida e da Morte, psicografado por Divaldo
Franco.
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As
habitações do planeta Júpiter
Revista
Espírita, agosto de 1858
(pelo
senhor Victorien Sardou)
Um grande motivo de espanto para certas pessoas,
convencidas aliás da existência dos Espíritos (não vou aqui me ocupar das
outras), é que tenham, como nós, suas habitações e suas cidades. Não me pouparam
as críticas: "Casas de Espíritos em Júpiter!... Que gracejo!..." - Gracejo, se
assim se o deseja; nada tenho com isso. Se o leitor não encontra aqui, na
verossimilhança de explicações, uma prova suficiente de sua verdade; se não está
surpreso, como nós, quanto ao perfeito acordo dessas revelações espíritas com os
dados mais positivos da ciência astronômica; se não vê, numa palavra, senão uma
hábil mistificação nos detalhes que seguem e nos desenhos que os acompanham,
convido-o a se explicar com os Espíritos, dos quais não sou senão um instrumento
e o eco fiel. Que ele evoque Palissy ou Mozart ou um outro habitante dessa
morada bem-aventurada, que o interrogue, que controle minhas afirmações pelas
suas, enfim, que discuta com ele: porque, por mim, não faço senão apresentar aqu
i o que me foi dado, senão repetir o que me foi dito; e para esse papel
absolutamente passivo, creio-me ao abrigo tanto da censura como também do
elogio.
Feita essa reserva, e uma vez admitida a confiança nos Espíritos,
aceita como verdade a única doutrina verdadeiramente bela e sábia que a evocação
dos mortos nos revelou até hoje, quer dizer, a migração das almas de planetas em
planetas, suas encarnações sucessivas e seu progresso incessante pelo trabalho,
as habitações de Júpiter não terão mais motivo para nos espantar. Desde o
momento em que um Espírito se encarna em um mundo submetido, como o nosso, a uma
dupla revolução, quer dizer, à alternativa de dias e de noites e ao retorno
periódico das estações, do momento em que ele possui um corpo, esse envoltório
material, tão frágil que seja, não pede senão uma alimentação e roupas, mas
também um abrigo ou, pelo menos, um lugar de repouso, conseqüentemente uma
moradia. Com efeito, é bem o que nos foi dito. Como nós, e melhor do que nós, os
habitantes de Júpiter têm seus lares comuns e suas famílias, grupos harmônicos
de Espíritos simpáticos, unidos no triunfo depois de sê-lo na luta: daí as
habitações tão espaçosas, as quais se pode aplicar, com justiça, o nome de
palácios. Ainda como nós, esses Espíritos têm suas festas, suas cerimônias, suas
reuniões públicas: daí certos edifícios especialmente destinados a esses usos. É
preciso prever, enfim, encontrar nessas regiões superiores toda uma Humanidade
ativa e laboriosa, como a nossa, submetida como nós às suas leis, às suas
necessidades, aos seus deveres; mas com essa diferença de que o progresso,
rebelde aos nossos esforços, torna-se uma conquista fácil para os Espíritos
desligados, como eles o são, de nossos vícios terrestres.
Não deveria me
ocupar aqui senão da arquitetura das suas habitações, mas para a própria
inteligência dos detalhes que vão seguir, uma palavra de explicação não será
inútil. Se Júpiter não é abordável senão pelos bons Espíritos, não se segue que
seus habitantes sejam todos excelentes no mesmo grau: entre a bondade do simples
e a do homem de gênio, é permitido contar muitas nuanças. Ora, toda a
organização social desse mundo superior repousa precisamente sobre essas
variedades de inteligências e de aptidões; e, em razão de leis harmoniosas, que
seria muito longo explicar aqui, aos Espíritos mais elevados, os mais depurados,
é que pertence a alta direção de seu planeta. Essa supremacia não se detém aí;
ela se estende até os mundos inferiores, onde esses Espíritos, por suas
influências, favorecem e ativam sem cessar o progresso religioso, gerador de
todos os outros. E necessário acrescentar que, para esses Espíritos depurados,
não poderia ser questão senão de trabalho de inteligê ncia, que sua atividade
não se exerce mais do que no domínio de seu pensamento, e que adquiriram
bastante império sobre a matéria para não serem, senão fracamente, entravados
por ela no livre exercício de suas vontades? Os corpos de todos esses Espíritos,
e, aliás, de todos os Espíritos que habitam Júpiter, é de uma densidade tão leve
que não se pode lhe encontrar termo de comparação senão nos fluidos
imponderáveis; um pouco maior do que o nosso, do qual reproduz exatamente a
forma, porém mais pura e mais bela, se nos oferece sob a aparência de um vapor
(emprego com pesar essa palavra que designa uma substância ainda muito
grosseira), de um vapor, digo, imperceptível e luminoso, luminoso sobretudo nos
contornos do rosto e da cabeça; porque aqui a inteligência e a vida irradiam
como um foco ardente; e é bem esse clarão magnético entrevisto pelos visionários
cristãos e que nossos pintores traduziram pelo nimbo e pela auréola dos
santos.
Concebe-se que um tal corpo não dificulte, senão fracamente, as
comunicações extra-mundanas desses Espíritos, e que lhes permite mesmo, em seu
planeta, um deslocamento pronto e fácil. Ele escapa tão facilmente à atração
planetária e sua densidade difere tão pouco da atmosfera, que pode aí se mover,
ir e vir, descer ou subir, ao capricho do Espírito e sem outro esforço que o da
sua vontade. Tanto que algumas personagens que Palissy consentiu me fazer
desenhar, estão representadas ao rasante do solo, ou à flor da água, ou muito
elevadas no ar, com toda liberdade de ação e de movimentos que emprestamos aos
nossos anjos. Essa locomoção é tanto mais fácil para o Espírito quanto mais
esteja depurado, e isso se concebe sem dificuldade; também nada é mais fácil,
aos habitantes do planeta, que estimar, à primeira vista, o valor de um Espírito
que passa; dois sinais falarão por ele: a altura do seu vôo e a luz mais ou
menos brilhante de sua auréola.
Em Júpiter, como por toda parte, aqueles que
voam mais alto são os mais raros; abaixo deles, é preciso contar várias camadas
de Espíritos inferiores, em virtude como em poder, mas naturalmente livres para
igualá-los, um dia, em se aperfeiçoando. Escalonados e classificados segundo
seus méritos, estes são votados mais particularmente aos trabalhos que
interessam ao próprio planeta, e não exercem, sobre os mundos inferiores, a
autoridade todo-poderosa dos primeiros. Eles respondem, é verdade, a uma
evocação, com palavras sábias e boas, mas à pressa que tem em nos deixar, ao
laconismo de suas palavras, é fácil de compreender que têm muito a fazer
alhures, e que não estão ainda bastante libertos para irradiarem, ao mesmo
tempo, sobre dois pontos tão distantes um do outro. Enfim, depois dos menos
perfeitos desses Espíritos, mas separados deles por um abismo, vêm os animais
que, como os únicos serviçais e os únicos obreiros do planeta, merecem uma
menção toda especial.
Se designamos sob esse nome de animais os seres
bizarros que ocupam a base da escala, foi porque os próprios Espíritos o puseram
em uso e, aliás, nossa própria língua não tem termo melhor para nos oferecer.
Essa designação os deprecia um pouco para baixo; mas chamá-los de homens seria
fazer-lhes muita honra: com efeito, são Espíritos votados à animalidade, talvez
por longo tempo, talvez para sempre; porque nem todos os Espíritos estão de
acordo sobre esse ponto, e a solução do problema parece pertencer a mundos mais
elevados do que Júpiter, mas, qualquer que seja o seu futuro, não há com que se
enganar quanto ao seu passado. Esses Espíritos, antes de irem para lá, emigraram
sucessivamente em nossos baixos mundos, do corpo de um animal para o de um
outro, em uma escala de aperfeiçoamento perfeitamente graduada. O estudo atento
dos nossos animais terrestres, seus costumes, seus caracteres individuais, sua
ferocidade longe do homem, e sua domesticação lenta mas sempre possível, tudo
isso atesta suficientemente a realidade dessa ascensão animal.
Assim, para
qualquer lado que se volte, a harmonia do Universo se resume sempre numa única
lei: o progresso por toda parte e para todos, para o animal como para a planta,
para a planta como para o mineral; progresso puramente material no início, nas
moléculas insensíveis do metal ou do calhau, e mais e mais inteligente à medida
que remontamos à escala dos seres e que a individualidade tende a se libertar da
massa, a se afirmar, a se conhecer. - Pensamento elevado e consolador, se assim
não fora jamais; porque prova que nada é sacrificado, que a recompensa é sempre
proporcional ao progresso alcançado; por exemplo, que o devotamento do cão que
morre por seu senhor não será estéril para o seu Espírito, porque terá seu justo
salário além deste mundo.
É o caso dos Espíritos animais que povoam Júpiter;
aperfeiçoaram-se ao mesmo tempo que nós, conosco e com a nossa ajuda. A lei é
mais admirável ainda: ela faz tão bem do seu devotamento ao homem a primeira
condição para a sua ascensão planetária, que a vontade de um Espírito de Júpiter
pode chamar para si todo animal que, em uma das suas vidas anteriores, lhe haja
dado provas de afeição. Essas simpatias que formam, no Mais Alto, famílias de
Espíritos, agrupam também, ao redor das famílias, todo um cortejo de animais
devotados. Por conseqüência, nosso apego neste mundo por um animal, o cuidado
que tomamos para abrandá-lo e humanizá-lo, tudo isso tem a sua razão de ser,
tudo isso será pago: é um bom servidor que formamos antecipadamente para um
mundo melhor.
Será também um operário; porque aos seus semelhantes está
reservado todo trabalho material, toda tarefa corporal: fardo ou alvenaria,
semeadura ou colheita. E, para tudo isso, a Suprema Inteligência proveu por um
corpo que participa, ao mesmo tempo, da superioridade da besta e da do homem.
Isso podemos julgar por um esboço de Palissy, que representa alguns desses
animais muito atentos a jogarem bolas. Eu não poderia melhor compará-los senão
aos faunos e aos sátiros da Fábula; o corpo ligeiramente peludo é todavia
aprumado como o nosso; as patas desapareceram em alguns para darem lugar a
certas pernas que lembram ainda a forma primitiva, a dois braços robustos,
singularmente ligados e terminados por verdadeiras mãos, se nelas considero a
oposição dos dedos. Coisa bizarra, a cabeça, ao contrário, não é tão
aperfeiçoada quanto o resto! Assim, a fisionomia reflete bem alguma coisa de
humano, mas o crânio, mas o maxilar e, sobretudo, a orelha, nada têm que diferem
sensivelmente do animal terrestre; fácil é, pois, distingui-los entre si: este é
um cão, aquele um leão. Propriamente vestidos com blusas e vestes muito
semelhantes às nossas, não esperam mais do que a palavra para lembrarem, de
muito perto, certos homens deste mundo; mas, eis precisamente o que lhes falta,
assim como o que não poderiam fazer. Hábeis para se compreenderem entre si por
uma linguagem que nada tem da nossa, não se enganam mais sobre as intenções dos
Espíritos que os comandam; um olhar, um gesto bastam. A certos recursos
magnéticos, dos quais nossos domadores de animais já têm o segredo, o animal
adivinha e obedece sem murmurar, e o que é mais, de bom grado, porque está sob o
encanto. Assim é que se lhe impõe toda grande tarefa, e que com a sua ajuda tudo
funciona regularmente de um extremo ao outro da escala social: o Espírito
elevado pensa, delibera, o Espírito inferior aplica com a sua própria
iniciativa, o animal executa. Assim a concepção, o emprego e o fato se unem numa
m esma harmonia, e conduzem todas as coisas para seu fim mais próprio, pelos
meios mais simples e mais seguros.
Peço desculpas por esta digressão: era
indispensável ao meu objetivo, que agora posso abordar.
À espera das cartas
prometidas, que facilitarão singularmente o estudo de todo o planeta, podemos,
pelas descrições feitas pelos Espíritos, fazer-nos uma idéia de sua grande
cidade, da cidade por excelência, desse foco de luz e de atividade que concordam
em designar sob o nome, estranhamente latino, de Julnius.
"Sobre o maior dos
nossos continentes, disse Palissy, em um vale de setecentas a oitocentas léguas
de largura, para contar como vós, um rio magnífico descendo das montanhas do
norte, e aumentado por uma multidão de torrentes e de ribeirões, forma, em seu
percurso, sete a oito lagos, dos quais o menor mereceria, entre vós, o nome de
mar. Foi sobre as margens do maior desses lagos, batizado por nós com o nome de
a Pérola, que nossos ancestrais lançaram os primeiros fundamentos de Julnius.
Essa cidade primitiva ainda existe, venerada e conservada como uma preciosa
relíquia. Sua arquitetura difere muito da nossa. Explicar-te-ei tudo isso a seu
tempo: saiba apenas que a cidade moderna está a uns cem metros mais abaixo da
antiga. O lago, encaixado nas altas montanhas, se derrama no vale por oito
cataratas enormes, que formam igualmente correntes isoladas e dispersas em todos
os sentidos. Com a ajuda dessas correntes, nós mesmos cavamos, na planície, uma
multidão de riachos, de cana is e de tanques, não reservando a terra firme senão
para nossas casas e nossos jardins. Disso resultou uma espécie de cidade
anfíbia, como vossa Veneza, e da qual não se poderia dizer, à primeira vista, se
está edificada sobre a terra ou sobre a água. Não te digo nada hoje de quatro
edifícios sagrados, construídos sobre a própria vertente das cataratas, de sorte
que a água jorra em abundância de seus pórticos: aí estão obras que vos
pareceriam inacreditáveis pela grandeza e audácia.
"É a cidade terrestre que
descrevo aqui, a cidade de alguma sorte material, a das ocupações planetárias, a
que chamamos, enfim, a Cidade baixa. Ela tem suas ruas, ou antes, seus caminhos,
traçados para o serviço interior; tem suas praças públicas, seus pórticos e suas
pontes lançadas sobre os canais para a passagem dos servidores. Mas a cidade
inteligente, a cidade espiritual, a verdadeira Julnius, enfim, não é na terra
que é preciso procurá-la, é no ar.
"Ao corpo material de nossos animais,
incapazes de voarem, (1), é preciso a terra firme; mas o que nosso corpo
fluídico e luminoso exige, é uma residência aérea como ele, quase impalpável e
móvel ao gosto de nosso capricho. Nossa habilidade resolveu esse problema, com a
ajuda do tempo e das condições privilegiadas que o Grande Arquiteto nos havia
dado. Compreenda bem que essa conquista dos ares era indispensável a Espíritos
como os nossos. Nosso dia é de cinco horas, e nossa noite de cinco horas
igualmente; mas tudo é relativo, e para seres prontos para pensarem e agirem
como nós o somos, para Espíritos que se compreendem pela linguagem dos olhos e
que sabem se comunicar, magneticamente, à distância, nosso dia de cinco horas
igualaria já em atividade uma de vossas semanas. Era ainda muito pouco, na nossa
opinião; e a imobilidade da morada, o ponto fixo da sede era um entrave para
todas as nossas grandes obras. Hoje, pelo deslocamento fácil dessas moradas de
pássaros, pela pos sibilidade de transportar, nós e os outros, em tal lugar do
planeta e tal hora do dia que nos aprazasse, nossa existência é pelo menos
dobrada, e com ela tudo o que pode criar de útil e de grande.
(1) É preciso,
todavia, deles excetuar certos animais munidos de asas e reservados para o
serviço aéreo, e para os trabalhos que exigiriam, entre nós, o emprego de
madeiramentos. São uma transformação da ave, como os animais descritos mais
acima são uma transformação dos quadrúpedes.)
"Em certas épocas do ano,
acrescentou o Espírito, em certas festas, por exemplo, verias aqui o céu
obscurecido pelo enxame de habitações que vêm de todos os pontos do horizonte. É
um curioso conjunto de casas esbeltas, graciosas e leves, de toda forma, de toda
cor, balançando em toda altura, e continuamente a caminho da cidade baixa para a
cidade celeste: Alguns dias depois o vazio se faz pouco a pouco e todos esses
pássaros voam.
"Nada falta a essas moradias flutuantes, nem mesmo o encanto
da verdura e das flores. Falo de uma vegetação sem exemplo entre vós, de
plantas, de arbustos mesmo destinados, pela natureza de seus órgãos, a respirar,
a se alimentar, a viver, a se reproduzir no ar.
"Nós temos, disse o mesmo
Espírito, dessas moitas de flores enormes, das quais não poderíeis imaginar nem
as formas nem as nuanças, e de uma leveza de tecido que as torna quase
transparentes. Balançando no ar, onde longas folhas as sustem, e armadas de
gavinhas semelhantes às da videira, se reúnem em nuvens de mil tintas ou se
dispersam ao sabor do vento, e preparam encantador espetáculo aos passeadores da
cidade baixa... imagine a graça dessas jangadas de verdura, desses jardins
flutuantes que nossa vontade pode fazer e desfazer e que duram, às vezes, toda
uma estação! Longas fiadas de cipó de ramos floridos se destacam dessas alturas
e pendem até a terra, pencas enormes se agitam sacudindo seus perfumes e suas
pétalas que se desfolham... Os Espíritos que atravessam o ar aí se detêm na
passagem: é um lugar de repouso e de reencontro, e, querendo-se, um meio de
transporte para rematar a viagem sem fadiga e em companhia."
Um outro
Espírito estava sentado sobre uma dessas flores no momento em que eu o
evoquei.
"Nesse momento, disse-me ele, é noite em Julnius, estou sentado à
parte sobre uma dessas flores do ar que não desabrocham aqui senão à claridade
de nossas luas. Sob meus pés toda cidade baixa dorme; mas sobre minha cabeça e
ao meu redor, a perder de vista, não há senão movimento e alegria no espaço.
Dormimos pouco: nossa alma é muito desligada para que as necessidades do corpo
sejam tirânicas; e a noite é antes feita para nossos servidores do que para nós.
É a hora das visitas e das longas conversas, de passeadores solitários, de
fantasias, da música. Não vejo senão moradas aéreas resplandecentes de luzes ou
jangadas de folhas e de flores carregadas de bandos alegres... A primeira de
nossas ruas clareia toda a cidade baixa: é uma doce luz comparável a de vosso
luar; mas, do lado do lago, a segunda se eleva, e esta tem reflexos esverdeados
que dão a todo o rio o aspecto de um grande gramado..."
É sobre a margem
direita desse rio, "cuja água, disse o Espírito, te ofereceria a consistência de
um leve vapor (1), " que está construída a casa de Mozart, que Palissy consentiu
fazer-me desenhar sobre cobre. Não dou aqui senão a fachada sul. A grande
entrada está à esquerda, sobre a planície; à direita está o rio; ao norte e ao
sul estão os jardins. Perguntei a Mozart quem eram os seus vizinhos. - "Mais
alto, disse, e mais baixo, há dois Espíritos que tu não desconheces; mas à
esquerda, não estou separado senão por uma grande campina do jardim de
Cervantes."
(1) A densidade de Júpiter sendo de 0,23, quer dizer, um pouco
menos de um quarto da Terra, o Espírito nada disse aqui senão de muito
verossímil. Concebe-se que tudo é relativo, e que sobre esse globo etéreo tudo
seja etéreo como ele.
A casa tem, pois, quatro faces como as nossas, do que
seria errado, todavia, fazer uma regra geral. Ela está construída com uma certa
pedra que os animais tiram das pedreiras do norte, é das quais o Espírito
compara a cor a esses tons esverdeados que toma, freqüentemente, o azul do céu
no momento em que o sol se deita. Quanto à sua duração pode-se dela fazer uma
idéia por esta observação de Palissy, que ela derreteria sob nossos dedos
humanos tão rápida quanto um floco de neve: ainda está aí uma das matérias mais
resistentes do planeta! Sobre essa parede os Espíritos esculpiram ou incrustaram
os estranhos arabescos que nosso desenho procura reproduzir. São ou ornamentos
escavados nas pedras e coloridos em seguida, ou incrustações limitadas à solidez
da pedra verde, por um procedimento que está muito em voga agora, e que conserva
nos vegetais toda a graça de seus contornos, toda a finura de seus tecidos, toda
a riqueza de seu colorido.
"Uma descoberta, acrescentou o Espírito, que
fareis algum dia e que mudará entre vós muitas coisas."
A grande janela da
direita apresenta um exemplo de gênero de ornamentação, uma de suas bordas não é
outra coisa senão um caniço enorme do qual se conservaram as folhas. Ocorre o
mesmo com o coroamento da janela principal, que apresenta a forma de claves de
sol: são plantas sarmentosas enlaçadas e petrificadas. E por esse procedimento
que eles obtêm a maioria dos coroamentos de edifícios, de grades, de balaústres,
etc. Freqüentemente mesmo, a planta é colocada na parede, com suas raízes, em
condições de crescer livremente. Ela cresce, se desenvolve; suas folhas
desabrocham ao acaso, e o artista não a congela no lugar senão quando adquiriu
todo o desenvolvimento desejado para a ornamentação do edifício: a casa de
Palissy é quase inteiramente decorada desse modo.
Destinada primeiro
unicamente aos móveis, depois às molduras de portas e de janelas, esse gênero de
ornamento se aperfeiçoou pouco a pouco e acabou por invadir toda a arquitetura.
Hoje, não são apenas a flor e o arbusto que se petrificam no estado, mas a
própria árvore da raiz ao topo; e os palácios, como os edifícios sagrados quase
nada mais têm de outras colônias.
Uma petrificação da mesma natureza serve
também para a decoração das janelas. De flores ou de folhas muito amplas, são
habilmente despojadas de sua parte carnuda: não resta mais do que uma rede de
fibras, tão fina quanto a mais fina musselina. E cristalizada, e dessas folhas
unidas com arte, constrói-se toda uma janela, que não deixa filtrar, para o
interior, senão uma luz muito doce: ou bem as reveste com uma espécie de vidro
líquido e colorido com todas as nuanças, que se endurece no ar e que transforma
a folha em uma espécie de vidraça. Do conjunto dessas folhas resultam, para
janelas, encantadores bosquezinhos transparentes e luminosos.
Quanto à
própria duração dessas aberturas, e a mil outros detalhes que podem surpreender
ao primeiro contato, sou forçado a adiar-lhes a explicação: a história da
arquitetura em Júpiter exigiria um volume inteiro. Renuncio igualmente a falar
do mobiliário, para não me ater aqui senão à disposição geral da casa.
O
leitor deve ter compreendido, depois de tudo o que precede, que a casa do
continente não deve ser, para o Espírito senão uma espécie de pequena casa de
passagem. A cidade baixa não é quase freqüentada senão por Espíritos de segunda
ordem, encarregados dos interesses planetários, da agricultura, por exemplo, ou
das trocas, e da boa ordem a manter entre os servidores. Também todas as casas
que repousam sobre o solo, geralmente, não têm senão um térreo e um andar: um
destinado aos Espíritos que agem sob a direção do senhor, e acessível aos
animais; o outro, reservado só ao Espírito, que nele não mora senão por ocasião.
É isso que explica por que vemos, nas várias casas de Júpiter, nesta por
exemplo, e na de Zoroastro, uma escada e mesmo uma rampa. Aquele que rasa a água
como uma andorinha, e que pode correr sobre as hastes de trigo sem curvá-las,
dispensa muito bem escada e rampa para entrar em sua casa; mas os Espíritos
inferiores não têm o vôo tão fácil: não se elevam senão pela agitação, e a rampa
não lhes é sempre inútil. Enfim, a escada é absoluta necessidade para os animais
serviçais, que não caminham senão como nós. Estes últimos têm também seus
compartimentos, muito elegantes, de resto, que fazem parte de todas as grandes
habitações; mas suas funções os chamam, constantemente, à casa do senhor: é
preciso facilitar-lhes a entrada e o percurso interior. Daí essas construções
bizarras, que, pela base, assemelham-se ainda aos nossos edifícios terrestres, e
que deles diferem absolutamente pelo vértice.
Este se distingue, sobretudo,
por uma originalidade que seríamos incapazes de imitar. É uma espécie de flecha
aérea que se balança sobre o alto do edifício, acima da grande janela de seu
original coroamento. Esse frágil escaler, fácil de deslocar, e todavia
destinado, no pensamento do artista, a não deixar o lugar que lhe foi
assinalado, porque sem repousar em nada sobre o cume, completa-lhe, no entanto,
a decoração, e lamento que a dimensão da prancha não haja permitido que nela
encontrasse lugar. Quanto à morada de Mozart não tenho aqui senão que
constatar-lhe a existência: os limites desse artigo não me permitem estender-me
sobre esse assunto.
Não terminaria, todavia, sem me explicar, de passagem,
sobre o gênero de ornamentos que o grande artista escolheu para a sua moradia. É
fácil neles reconhecer a lembrança de nossa música terrestre: a clave de sol ai
está freqüentemente repetida, e, coisa bizarra, jamais a clave de fá!. Na
decoração do térreo encontramos um arco de violino, uma espécie de grande alaúde
ou de bandolim, uma lira e toda uma pauta musical. Mais alto, é uma grande
janela que lembra, vagamente, a forma de um órgão; os outros têm aparência de
grandes notas, e notas mais pequenas são abundantes por sobre toda a
fachada.
Seria erro disso concluir que a música de Júpiter seja comparável à
nossa, e que se conta pelos mesmos sinais: Mozart explicou-se sobre ela de modo
a não deixar dúvidas a esse respeito; mas os Espíritos lembram, de bom grado, na
decoração de suas casas, a missão terrestre que lhes mereceu a encarnação em
Júpiter e que resume melhor o caráter de sua inteligência. Assim, na casa de
Zoroastro são os astros e a chama que fazem todos os detalhes da
decoração.
Há mais; parece que esse simbolismo tem suas regras e seus
segredos. Todos esses ornamentos não estão dispostos ao acaso: têm sua ordem
lógica e sua significação precisa; mas é uma arte que os Espíritos de Júpiter
renunciam em nos fazer compreender, pelo menos até este dia, e sobre a qual não
se explicam de bom grado. Nossos velhos arquitetos empregaram também o
simbolismo na decoração de suas catedrais; e a torre de Saint-Jacques não é nada
menos que um poema hermético, se se crê na tradição. Nada há, pois, para nos
espantar na estranheza e na decoração arquitetônica em Júpiter; se ela contradiz
nossas idéias quanto à arte humana, é que há, com efeito, todo um abismo entre
uma arquitetura que vive e que fala e uma alvenaria, como a nossa, que nada
prova. Nisso, como em toda outra coisa, a prudência nos proíbe esse erro do
relativo que quer tudo conduzir às proporções e aos hábitos do homem terrestre.
Se os habitantes de Júpiter estivessem alojados como nós, se comessem, vive
ssem, dormissem e andassem como nós, não haveria grande proveito em subir para
lá. É bem porque seu planeta difere absolutamente do nosso que desejamos
conhecê-lo, e sonhá-lo como nossa futura morada!
De minha parte, não perderia
o meu tempo e estaria bem feliz por terem os Espíritos me escolhido para seu
intérprete, se seus desenhos e suas descrições inspirarem, a um único crente, o
desejo de subir mais rápido para Julnius, e a coragem de tudo fazer para isso
conseguir.
VICTORIEN
SARDOU.
O autor dessa interessante descrição é um desses adeptos fervorosos e
esclarecidos que não temem confessar francamente suas crenças, e se coloca acima
da critica de pessoas que não crêem em nada daquilo que sai do círculo de suas
idéias. Ligar seu nome a uma doutrina nova, desafiando os sarcasmos, é uma
coragem que não é dada a todo mundo, e felicitamos o senhor V. Sardou por tê-la.
Seu trabalho revela o escritor distinto que, embora jovem ainda, já conquistou
um lugar honroso na literatura, e une ao talento de escrever, os profundos
conhecimentos de sábio; nova prova que o Espiritismo não recruta entre os tolos
e os ignorantes. Fazemos votos para que o senhor Sardou complete, o mais rápido
possível, seu trabalho tão felizmente começado. Se os astrônomos nos revelam,
por suas sábias pesquisas, o mecanismo do Universo, os Espíritos, por suas
revelações, nos fazem conhecer o seu estado moral e isso, como eles dizem, com o
objetivo de nos estimular ao bem, a fim de merecermos um a existência
melhor.
ALLAN
KARDEC