Policarpo, O amigo de Jesus |
Mártires
do Cristianismo
Policarpo,
homônimo de personagem que foi mártir cristão no ano de 155, também "ofereceu a
vida ao Divino Mestre na arena romana durante uma das cruéis perseguições
desencadeadas pelo imperador Diocleciano, por ocasião do fim da sua governança,
no começo do século quarto da nossa Era.
A
sua implacável perseguição aos cristãos, que considerava como um grande perigo
para o Império e para a sua autoridade, ceifou milhares de vidas mediante
terríveis suplícios que lhes foram infligidos em todas as regiões por onde se
espraiavam as suas províncias, sendo praticamente todo o mundo
conhecido...
Ante
a rudeza das calamitosas refregas, não foram poucos aqueles que abjuraram a fé,
rendendo culto ao imperador e aos deuses, provocando dilaceradoras angústias nas
falanges dos servidores do Cristo.
Aprisionado
no norte da África, onde se celebrizara pelo verbo inflamado e pelas ações
dignificantes de caridade e de amor, Policarpo foi enviado em ferros a Roma com
a família - mulher e dois filhinhos - bem como outros discípulos do Rabi, sendo
atirados às feras, num dos turbulentos festivais de loucura.
Altivo
e de ascendência nobre, em razão de ser romano de nascimento, foi-lhe
proporcionado ensejo de renunciar à fé, retornando ao culto dos ancestrais,
providência que pouparia a sua e a existência da família. Embora de alma
dilacerada pelos sofrimentos que lhes seriam impostos, optou pela fidelidade à
consciência, sendo martirizado com os seus.
Conta-se
que, antes de ser atirado à arena, em face da sua inteireza moral, por ordem
superior foi supliciado pela soldadesca, enquanto a mulher e os filhinhos eram
submetidos a humilhações inomináveis. Igualmente portadora de alta
espiritualidade, Flamínia, a companheira digna, ao invés de atemorizar-se, mais
confiou nos desígnios divinos, revestindo-se de coragem e de fé inquebrantáveis,
que surpreendiam aqueles insensíveis algozes da sua firmeza moral.
No
dia em que deveriam servir de repasto aos leões, leopardos e tigres esfaimados,
Policarpo foi jogado no meio dos companheiros atemorizados, lanhado e esgotado
nas forças pelos flagícios sofridos, e mesmo assim, tentou recompor-se, para
transmitir ânimo àqueles que, não obstante o amor e a confiança no Mestre,
choravam apavorados temendo o próximo terrível testemunho que os
aguardava.
O
subterrâneo infecto por dejetos e cadáveres não removidos tornara-se lôbrego e
nauseante. Aqueles que ali se encontravam haviam perdido praticamente o
discernimento e, hebetados uns pelo medo, agitados outros pelo desespero,
estremunhados diversos, vendo-se abandonados, subitamente sentiram a mudança da
atmosfera, quando ventos inesperados que sopravam no ardente mês carrearam o
doce perfume dos loendros dos arredores abertos aos cálidos beijos do
Sol.
De
imediato, uma psicosfera de paz invadiu o recinto sombrio e fez-se um
significativo silêncio, enquanto o rugir dos animais misturava-se à algazarra
desmedida da multidão agitada pelos corredores, assomando às arquibancadas e
galerias, aplaudindo o espetáculo burlesco que sempre precedia às matanças
desordenadas.
Foi,
nesse momento, que o apóstolo, recuperando as energias e inspirado pelos
Emissários do Senhor, convidou o magote assustado à reflexão e à prece,
elucidando:
-
Morrer, por Jesus, é a honra que agora nos é concedida. Enquanto Ele, que não
tinha qualquer culpa, doou a Sua vida, para que a tivéssemos em abundância,
convida-nos a que ofereçamos a nossa, a fim de que outros, que virão depois,
igualmente possuam-na. Morrer por amor é glória para aquele que se imola.
Enquanto o mundo nos surpreende com as suas ilusões, sombras e traições dos
nossos sentidos, a morte é vida perene em luz e felicidade. Não nos separaremos
nunca! Avancemos juntos, portanto, pois que o Mártir do Gólgota nos aguarda em
júbilo. O nossa sangue irá fertilizar o solo dos corações, a fim de que se
expanda a nossa fé, modificando a Terra e elevando-a ao estágio de mundo de
reabilitação.
Ele
fez uma ligeira pausa, dominado pela emoção que contagiava os ouvintes atentos,
inebriando mentes e corações de esperanças na Imortalidade, e, de imediato,
dando seguimento: - É fácil morrer, especialmente quando se soube viver
transformando urze em flores e calhaus em estrelas. Cantemos, dominados pela
infinita alegria de doar o que possuímos de mais valioso, que é a vida física.
Jesus, que nos ama, aguarda por nós!
A
emoção era geral. Uma aragem de paz tomou-os a todos. A esposa acercou-se-lhe
com um filhinho no regaço e o outro segurando-lhe as vestes, e tocou-o.
Abraçando-a com lágrimas, ele agradeceu-lhe a coragem, prometendo que
prosseguiriam amando-se depois da sombra da noite...
Os
portões foram abertos estrepitosamente. Soldados furiosos com lanças e chibatas
empurraram os prisioneiros para o centro da arena. A gritaria infrene tomou
conta da massa alucinada, que subitamente silenciou, quando eles se adentraram
cantando um hino de exaltação a Jesus
Em
seguida, os animais selvagens foram atirados na sua direção e, a pouco e pouco,
as patadas violentas e as dilacerações pelos dentes afiados, foram despedaçando
os corpos, que tremiam exangues na areia, colorindo-a do rubro fluido orgânico.
Policarpo, a mulher e os filhinhos, formando um todo em vigoroso abraço de
sustentação moral, foram alcançados e despedaçados... Após as primeiras dores
uma anestesia total tomou-lhes a consciência e pareceram adormecer, enquanto o
espetáculo dantesco prosseguia...
Embora
remanescesse débil claridade do Sol poente no áspero verão de agosto, a noite
avançava, deixando aparecer as primeiras estrelas faiscantes como olhos que
observassem as inconcebíveis calamidades humanas.
E
quando a noite fez-se total, após o público insano ter abandonado o Circo, as
feras serem recolhidas, os corpos começaram a ser atirados sobre as carroças
conduzidas por escravos embriagados, vestidos de faunos e portando
comportamentos obscenos, de modo a prepararem o espaço para o dia seguinte e
suas novas degradações, do Infinito incomparável e diáfana luz desceu na direção
da arena, servindo de passarela para uma coorte de seres angélicos que, entoando
sublimes canções, aproximou-se do lugar do holocausto.
À
frente, estava Jesus, nimbado de sideral luminosidade, que recolheu Policarpo e
família, enquanto os demais martirizados eram retirados dos últimos despojos
pelos Seus embaixadores em clima de alegria e gratidão a Deus.
Despertando,
e deslumbrando-se com o Mestre que o envolvia em claridades iridescentes,
Policarpo abraçou-o, enquanto Ele confirmou: - Amigo querido, já
transpuseste a porta estreita. Agora vem com os teus para o meu reino que te
espera desde há muito!
Policarpo,
depois daquela doação a Jesus, retornou à Terra diversas vezes, sempre quando o
pensamento do Mestre sofria adulterações, sendo a sua última jornada na condição
de seareiro do Espiritismo, nele restaurando a mensagem cristã que havia sido
aviltada através dos tempos.
Fonte:Entre
os dois mundos. Divaldo Pereira Franco. cap. 2
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