Segundo
o Novo Aurélio – O Dicionário da Língua Portuguesa(1), a palavra umbral
foi tomada do espanhol e significa soleira, limiar, entrada, ou seja, a
faixa mínima de piso que se acha entre as laterais de uma porta, portão
ou passagem, e serve de limite entre um cômodo e outro numa
construção.Em 1943, André Luiz, o médico que se tornou conhecido
psicografando livros pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier,
trouxe a público o significado dado à palavra na colônia espiritual
“Nosso Lar”, onde passou a viver alguns anos depois de seu desencarne.Em
seu livro também chamado Nosso Lar(2), ele conta como ouviu falar do
Umbral pela primeira vez, quando o enfermeiro Lísias lhe dava as
primeiras informações sobre a colônia e descreveu-o como região onde
existe grande perturbação e sofrimento e para a qual a colônia dedicava
atenção especial. Vejamos o que diz o enfermeiro:“Quando os
recém-chegados das zonas inferiores do Umbral se revelam aptos a receber
cooperação fraterna, demoram no Ministério do Auxílio; ...”E mais
adiante, acrescenta:“... A não ser em obediência a esse imperativo, o
Governador vai semanalmente ao Ministério da Regeneração, que representa
a zona de “Nosso Lar” onde há maior número de perturbações, dada a
sintonia de muitos dos seus abrigados com os irmãos do Umbral. ...”Não
foi sem razão que André Luiz teve seu interesse despertado para essa
região chamada Umbral. Sem entender bem do que se tratava, voltou a
insistir com Lísias para saber mais detalhes e, no capítulo seguinte,
narra novo diálogo com o enfermeiro, em que este lhe deu maiores
detalhes desta região do astral, não sem antes perguntar como ele
poderia não conhecer o Umbral se havia ficado lá por tantos anos.
Vejamos o que diz Lísias:“O Umbral – continuou ele, solícito – começa na
crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no mundo não se
resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de
cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros
numerosos.”Mais adiante, diz também:“... O Umbral funciona, portanto,
como região destinada a esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de
zona purgatorial, onde se queima, a prestações, o material deteriorado
das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime
ensejo de uma existência terrena.”E em outro parágrafo, Lísias
complementa:“O Umbral é região de profundo interesse para quem esteja na
Terra. Concentra-se aí tudo o que não tem finalidade para a vida
superior. ... Representam fileiras de habitantes do Umbral, companheiros
imediatos dos homens encarnados, separados deles apenas por leis
vibratórias. (grifo nosso)... Lá vivem, agrupam-se, os revoltados de
toda espécie. ... Pois o Umbral está repleto de desesperados. Por não
encontrarem o Senhor à disposição dos seus caprichos,..., essas
criaturas se revelam e demoram em mesquinhas edificações. “Enfim, desde
então, a palavra Umbral, escrita com letra maiúscula, como o fez André
Luiz no livro Nosso Lar, tomou significado especial, principalmente
entre os espíritas, designando a região espiritual imediata ao plano dos
encarnados, para onde iriam e onde estariam todos os espíritos
endividados, perturbados e desequilibrados depois da vida. Com esta
conotação, a palavra difundiu-se muito e transformou-se num quase
sinônimo do Inferno e do Purgatório dos católicos, com localização
geográfica, tamanho, etc., conceito este que o próprio Allan Kardec,
codificador do Espiritismo, já havia desmitificado em suas obras, mais
de 80 anos antes, especialmente em O Livro dos Espíritos(3), nas
seguintes perguntas:“1011. Um lugar circunscrito no Universo está
destinado às penas e aos gozos do Espíritos, segundo o seus méritos?“-
Já respondemos a essa pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao
grau de perfeição do Espírito. Cada um traz em si mesmo o princípio de
sua própria felicidade ou infelicidade. (grifo nosso). E como eles estão
por toda a parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado se destina a uns
ou a outros. Quanto aos Espíritos encarnados, são mais ou menos felizes
ou infelizes segundo o grau de evolução do mundo que habitam.“1012. De
acordo com isso, o Inferno e o Paraíso não existiriam como os homens
representam?“- Não são mais do que figuras: os Espíritos felizes e
infelizes estão por toda a parte. Entretanto, como já o dissemos também,
os Espíritos da mesma ordem se reúnem por simpatia. (grifo nosso). Mas
podem reunir-se onde quiserem, quando perfeitos.”Como vemos pelas
respostas dos espíritos a Kardec, o Inferno e o Paraíso não passam de
estados de espírito, condição moral de sofrimento ou felicidade a que
estão sujeitos os espíritos por suas próprias atitudes, pensamentos e
sentimentos durante a vida encarnada e depois dela. E é bom lembrar que
espíritos somos todos, encarnados e desencarnados, vivendo cada um o seu
inferno e o seu paraíso particulares.
O
que nos diferencia dos espíritos desencarnados é apenas o fato de
estarmos temporariamente presos a um corpo denso de carne. De resto,
somos absolutamente iguais a eles, com desejos, opiniões, frustrações,
alegrias, defeitos e qualidades.Na verdade, a figura geográfica e
espacial do Inferno dos católicos serviu de molde aos espíritas para que
melhor visualizassem o que seria o Umbral. Assim como o Inferno da
Igreja Católica foi tomado emprestado e adaptado do Inferno dos povos
não cristãos (chamados pagãos), para compor os mitos de Inferno e
Paraíso. Pelo que dizem os espíritos a Kardec, podemos concluir que cada
um de nós traz, em si mesmo, o inferno e o paraído que merece, de
acordo com o que pensa, sente e faz durante sua vida espiritual,
incluídos aí também os períodos em que nos encontramos encarnados.Se não
existe Inferno ou Purgatório, por que haveria de existir o Umbral com
localização, medidas, coordenadas, etc.?
Tudo
o que existe no plano espiritual é criado pela mente dos espíritos
encarnados e desencarnados. Sempre que pensamos, nossa mente dispara um
processo pelo qual somos capazes de moldar as energias mais sutis do
universo, criando formas que correspondem exatamente àquilo que somos
intimamente.
Extremamente apegados ao
mundo material, nada mais natural que, mesmo estando fora dele,
queiramos tê-lo novamente quando desencarnados. É aí que nossa mente
entra em ação, criando tudo o que desejamos ardentemente. E várias
mentes, desejando a mesma coisa juntas, têm muito mais força para criar.
A
grande diferença é que, no mundo físico, podemos embelezar
artificialmente o nosso ambiente e a nossa aparência, enquanto que no
plano astral isso não é possível, pois lá todos os nossos defeitos,
mazelas, falhas, paixões, manias e vícios ficam expostos em nossa aura,
exibindo claramente quem somos como consciências e, não, como
personalidades encarnadas.
No Umbral, tudo
o que está fora de nós é consequência do que está dentro. Tudo o que
existe em nosso mundo pessoal e nos acontece é reflexo do que trazemos
na consciência.
Assim, o Umbral nada mais é que uma faixa de frequência vibratória a
que se ligam os espíritos desequilibrados, cujos interesses, desejos,
pensamentos e sentimentos se afinizam. É uma “região” energética onde os
afins se encontram e vivem, onde podem dar vazão aos seus instintos,
onde convivem com o que lhes é característico, para que um dia, cansados
de tanto insistirem contra o fluxo de amor e luz do universo,
entreguem-se aos espíritos em missão de resgate, que estão sempre por lá
em trabalhos de assistência.Alguns autores descrevem o Umbral como uma
sequência de anéis que envolvem e interpenetram o planeta Terra, indo
desde o seu núcleo de magma até várias camadas para fora de seus limites
físicos. O que acontece é que os espíritos se reúnem obedecendo, apenas
e unicamente, à sintonia entre si e acabam formando anéis energéticos
em torno do planeta, ou melhor, em torno da humanidade terrena, pois ela
é parte da humanidade espiritual que o habita e é também o foco de
atenção de todos os desencarnados ligados a ele.
As
camadas descritas em alguns livros são mais um recurso didático para
facilitar o entendimento e o estudo do mundo espiritual, pois não há
limites precisos entre elas, assim como não há divisas exatas entre um
bairro e outro de uma mesma cidade, ainda que eles sejam de classes
sociais bem diferentes.
É exatamente o que
nos diz Lancellin, em seu livro Iniciação - Viagem Astral(4), pela
psicografia de João Nunes Maia:“As pessoas, como os espíritos
desencarnados, se reúnem por simpatia, por atração daquilo que pensam e
sentem, pois se sentem felizes por estarem com os seus iguais, tanto na
Terra como no mundo espiritual.”Esse mesmo mecanismo de sintonia é o que
cria regiões “especializadas” no Umbral, como o Vale dos Suicidas,
descrito por Camilo Castelo Branco, pela psicografia de Yvonne A.
Pereira, em seu livro Memórias de um Suicida(5). Espíritos com
experiências de suicídio, vivendo os mesmos dramas, sofrimentos,
dificuldades, agrupam-se por pura afinidade e formam regiões vibratórias
específicas.Assim também acontece com faixas energéticas ligadas às
drogas, ao aborto, aos distúrbios psíquicos, às guerras, aos
desequilíbrios sexuais, etc. Em seu livro Driblando a Dor(6), pela
psicografia de Irene Pacheco Machado, o espírito Luiz Sérgio, jovem
desencarnado em acidente de automóvel na década de 70, conta o trabalho
de sua equipe junto a grupos de drogados e traficantes.Em outro de seus
livros, Deixe-me Viver(7), pela psicografia da mesma médium, ele fala
mais especificamente da situação dos espíritos abortados e aborteiros,
vivendo lado a lado na faixa vibratória de seus atos.
No
livro O Abismo(8), de R. A. Ranieri, orientado por André Luiz, vamos
encontrar uma descrição dramática dos espíritos que vivem ligados ao
subsolo do planeta, em condições terríveis de degradação moral e
perispiritual.
O
Prof. Wagner Borges, pesquisador de projeção astral e fundador do IPPB –
Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas, também nos
traz diversos relatos e psicografias importantes sobre o assunto. Em seu
livro Viagem Espiritual(9), em duas mensagens orientadas pelo espírito
Rama, ele descreve imagens do Umbral, vistas pelos olhos de um padre
desencarnado dedicado a ajudar e resgatar espíritos que vivem ali.
No
livro O Céu e o Inferno(10), de Allan Kardec, encontramos também
diversos relatos de espíritos desencarnados que se apresentam pela
psicofonia e descrevem as condições em que se encontram no mundo
espiritual. Ali, além do relato de vários espíritos perturbados, vamos
também encontrar relatos de espíritos relativamente felizes, alguns
apenas algumas horas após o seu desencarne, demonstrando que céu e
inferno são condições espirituais íntimas, alcançadas por merecimento,
que acompanham o espírito onde quer que ele esteja e se mantêm e
intensificam pela sintonia com outros espíritos nas mesmas condições.
Apesar
de toda perturbação e desequilíbrio dos espíritos que vivem no Umbral,
não devemos nos iludir. Existe muita disciplina, organização e
hierarquia nos ambientes umbralinos. É o que nos mostra, por exemplo, o
espírito Ângelo Inácio, pela psicografia de Robson Pinheiro, em seu
livro Tambores de Angola(11), e o espírito Nora, pela psicografia de
Emanuel Cristiano, em seu livro Aconteceu na Casa Espírita(12).Vemos ali
o quanto esses espíritos podem ser inteligentes, organizados,
determinados e displinados em suas práticas negativas, criando
instituições, métodos, exércitos e até cidades inteiras para servir aos
seus propósitos.É preciso que compreendamos que todos nós já estamos
vivemos numa dessas “camadas” de Umbral que envolvem a Terra e que todos
nós criamos o nosso próprio Umbral particular sempre que contrariamos
as leis divinas universais, as quais podem ser resumidas numa única
expressão: amor incondicional.Em seu segundo livro, Os Mensageiros(13),
André Luiz conta a história de vários moradores de “Nosso Lar” que
passaram pelas “zonas inferiores”. Todos eles saíram da colônia cheios
de esperanças, de amigos, de auxílio e orientação. Eram, portanto,
espíritos relativamente esclarecidos, amparados, iluminados. Muitos
deles passaram anos na colônia estudando antes de reencarnar com missões
definidas na mediunidade. No entanto, mesmo assim, vários eles se
deixaram levar por seu lado ainda imperfeito e falharam novamente. Todos
voltaram para “Nosso Lar” depois de desencarnados, mas não sem antes
passar pelo Umbral, para drenar energias negativas acumuladas numa
encarnação de descaso e irresponsabilidade com a própria consciência e a
de outros.Isso é necessário para o bem do próprio espírito, a fim de
que ele possa se livrar de energias espirituais altamente tóxicas que
desequilibram e bloqueiam sua mente para energias mais sutis e
saudáveis, e também perturbariam os ambientes mais equilibrados, como o
de colônias como “Nosso Lar”, caso fossem levados para lá nesse estado.É
importante notar que não se trata de punição ou banimento, mas de
tratamento justo, necessário e amoroso. Sim, o Umbral é criação de amor e
justiça divinos, onde espíritos desviados e profundamente
desequilibrados encontram um meio onde conseguem viver e, ao mesmo
tempo, aprender, enquanto se recuperam.Muitos perguntam se não é pior o
espírito ficar tanto tempo convivendo com tantas energias negativas
semelhantes às suas próprias, agravando e intensificando seu próprio
desequilíbrio. No entanto, não podemos nos esquecer que, muitas vezes,
os espíritos desencarnam em tal estado de alheamento e perturbação, que
não resta outro recurso a não ser deixar que a natureza siga seu curso e
faça o trabalho necessário de depuração, colocando-os com seus
semelhantes para que, juntos, filtrem, uns dos outros, as energias que
os envenenam, e para que, observando as atitudes uns dos outros, possam
compreender onde erraram e queiram reiniciar o processo de melhoria
interior.Mas o Umbral não é um mundo só de desencarnados. Muitos
projetores conscientes (pessoas encarnadas que fazem projeções astrais
conscientes), narram passagens por regiões escuras e densas, semelhantes
às descrições de André Luiz em Nosso Lar.
Todos
os encarnados desprendem-se do corpo físico durante o sono e circulam
pelo mundo espiritual. Esse é um fenômeno absolutamente natural e
inerente a todo espírito encarnado. Uma grande parte continua a dormir
em espírito, logo acima de onde está descansando o corpo físico. Outros
limitam-se a passear inconscientes pelo próprio quarto ou casa,
repetindo, mecanicamente, o que fazem todos os dias durante a vigília. E
há os que saem de casa e vão além.Dentre estes, uma pequena parte
procura manter uma conduta ética elevada, 24h por dia, tentando sempre
melhorar-se como pessoa, buscando sempre ajudar e crescer, e, muitas
vezes, é levada ao Umbral em missão de resgate ou assistência,
trabalhando com espíritos mais preparados, doando suas energias pelo bem
de outros espíritos, como também informa Wagner Borges, em seu livro
Viagem Espiritual II(14), dizendo:“O sono dá ao espírito encarnado a
oportunidade do desprendimento temporário do seu envoltório carnal. E
nisto reside a sua grande chance de se sentir útil perante a vida, pois,
fora do corpo, ele é levado por seus amigos espirituais às pessoas
necessitadas, físicas e extrafísicas, onde a sua energia conciencial é
de grande ajuda.“Mediante processos específicos de transmissão de
energia, os amparadores extrafísicos usam o projetor como doador de
energia para a pessoa enferma (na maioria das vezes já desencarnada e
sem se aperceber disso).”Mas há um grande número dos que conseguem sair
de seu próprio lar durante o sono e vão para o Umbral por afinidade, em
busca daquilo que tinham em mente no momento em que adormeceram, ou
obedecendo a instintos e desejos inferiores que, embora muitas vezes não
estejam explícitos na vigília, estão bem vivos em sua mente e surgem
com toda força quando projetados. Essas pessoas, muitas vezes, acabam
sendo vítimas de espíritos profundamente perturbados ligados ao Umbral,
que as vampirizam e manipulam, em alguns casos chegando até a interferir
em sua vida física, criando problemas familiares, doenças, perturbações
psicológicas, dificuldades profissionais e financeiras, etc.Esse é o
caso da jovem viciada Joana, narrado no livro O Transe(15), também da
dupla Ângelo Inácio e Robson Pinheiro. É também o que acontece com
Erasmino, no livro Tambores de Angola.Vemos, assim, que o Umbral, de que
falam André Luiz e tantos outros autores encarnados e desencarnados,
está mais próximo de nós, encarnados, do que muitos de nós imaginam. E, o
que é mais importante, somos nós mesmos que ajudamos a manter esse
mundo denso com nossos pensamentos e sentimentos menos elevados. Somos
nós que damos aos espíritos perturbados, que se encontram ligados a essa
faixa vibratória, grande parte da matéria-prima de que se valem para
sutentar seu mundo de trevas e sofrimento.
O
Umbral está em todo lugar e em lugar nenhum, pois está dentro de quem o
cria para si mesmo e acompanha o seu criador para onde quer que ele vá.
Toda vez que nos deixamos levar por impulsos de raiva, agressividade,
ganância, inveja, ciúmes, egoísmo, orgulho, arrogância, preguiça,
estamos acessando uma faixa mais densa desse Umbral. Toda vez que
julgamos, criticamos ou condenamos os outros, estamos nos revestindo
energeticamente de emanações típicas do Umbral. Toda vez que desejamos o
mal de alguém, que nos deprimimos, que nos revoltamos ou entristecemos,
criamos um portal automático de comunicação com o Umbral. Toda vez que
nos entregamos aos vícios, à exploração dos outros, aos desejos de
vingança, aos preconceitos, criamos ligações com mentes que vibram na
mesma faixa doentia e estão sintonizadas com o Umbral.
O
Umbral só existe, porque nós mesmos o criamos, e só continuará
existindo enquanto nós mesmos insistirmos em mantê-lo com nossos
desequilíbrios.É por essa razão que Jesus nos aconselha a vigiar e orar,
indicando que, para termos paz de espírito e equilíbrio, é necessário
estarmos sempre atentos aos próprios impulsos e ligados a mentes
iluminadas que possam nos inspirar sentimentos e pensamentos elevados.
O
Umbral é nosso também, faz parte do nosso mundo, e não podemos
renegá-lo ou simplesmente ignorá-lo. Assim como não podemos também
fingir que não temos nada a ver com ele. Lá estão também algumas de
nossas próprias criações mentais, de nossos sentimentos inferiores, de
nossos pensamentos mais densos. E lá vivem espíritos divinos como nós,
temporariamente desviados do caminho de luz em que foram colocados por
Deus.Por isso é importante que não vejamos o Umbral como um lugar a ser
evitado ou uma idéia a não ser comentada, mas como desequilíbrio
espiritual temporário de espíritos como nós, que, muitas vezes, só
precisam de um pouco de atenção e orientação para se recuperarem e
voltarem ao curso sadio de suas vidas.
É
comum encontrarmos médiuns e doutrinadores que têm medo ou aversão ao
trabalho com espíritos do Umbral, evitando atendê-los, ignorando-os
friamente, ou tratando-os como criminosos sem salvação, que não merecem
qualquer compaixão ou respeito. Estas pessoas esquecem-se de um dos
preceitos básicos da espiritualidade: a caridade.
É
preciso estender a mão espiritual a estas entidades para que possam
sair dessa sintonia e possam também colaborar com o trabalho gigantesco
de resgate há ser feito nas regiões umbralinas. Além de retirar
espíritos dessa sintonia, os trabalhos de desobsessão e orientação a
desencarnados de grupos mediúnicos bem orientados, equilibrados, livres
de preconceitos, prestam um grande serviço à própria humanidade terrena,
na medida em que recuperam muitos obsessores e assediadores que lá
vivem e se ocupam de perseguir espíritos encarnados.Independentemente
disso, todos nós podemos contribuir individualmente para a melhoria de
toda a humanidade, encarnada e desencarnada, inclusive do Umbral,
emitindo pensamentos de luz, amor, paz e harmonia por todo o planeta e
tudo o que nele existe. Da mesma forma que contribuímos para a
existência do Umbral, podemos contribuir para reduzir o sofrimento que
existe nele, bem como a influência negativa que o mesmo exerce sobre os
encarnados.Os habitantes do Umbral não são nossos inimigos, mas
espíritos que precisam de compreensão e ajuda. Não são irrecuperáveis,
mas perderam o rumo do crescimento espiritual. Não estão abandonados por
Deus, mas não sabem disso e desistem de procurar orientação. Não são
diferentes de nós, mas tão semelhantes, que vivem lado a lado conosco,
todos os dias, observando nossos atos, analisando nossos pensamentos,
vigiando nossos sentimentos, prestando atenção às nossas atitudes. E, se
não queremos ir ao Umbral por afinidade, que nos ocupemos de nos
tornarmos seres humanos melhores, mais dignos, mais éticos, 24h por dia.
Desse modo, nossa passagem pelo Umbral será sempre na condição de quem
leva ajuda sem medo, sem preconceito e sem sofrimento, e não de quem
precisa de ajuda para superar seus próprios medos, preconceitos e dores.
(Maísa Intelisano em artigo para a edição no. 16, ano 2, da revista Espiritismo e Ciência, da Editora Mythos)
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