A intuição como método de pesquisa
Cada
realização concreta é um processo involutivo em que a unidade se
ramifica no particular. Na profundeza da consciência se tocam os planos
superiores, onde a idéia, antes de descer e diferenciar-se na forma
concreta, é abstrata e existe em tipos simples e únicos para muitos
grupos de manifestações diversas; quanto mais subimos para o centro,
tanto mais a idéia originária se faz abstrata e única, até
identificar-se naquele monismo absoluto, que é Deus. Assim, a arte e a
fé, a ciência e a ação não passam de diferenciações produzidas pela
descida daquele mesmo e único princípio.
Estes
elevados problemas de psicologia têm também uma grande importância
prática, porque sua compreensão e solução revolucionam todos os rumos
intelectuais e científicos de nossos tempos. Revolucionam os métodos de
pesquisa científica, tanto quanto os sistemas de aquisição cultural.
Para mim, o método racional analítico não passa de uma redução
involutiva do método intuitivo sintético. A evolução psíquica do homem
impõe a ascensão a este método mais profundo.
Estou
convencido de que a solução dos problemas não se acha no exterior
sensório, mas no interior intuitivo e só pode ser alcançada se nos
projetarmos dentro de nós mesmos com a introspecção e não fora de nós,
com a observação. Sinto que os princípios não se podem encontrar senão
por visão, por uma transformação de consciência que se identifique com o
fenômeno, por uma transferência do eu a um novo plano conceptual;
enquanto se permanecer na dimensão atual da razão, certos problemas
permanecerão insolúveis. É fato comprovado que as mais elevadas
verdades, as sínteses conceptuais sempre se descobrem a golpes de gênio,
isto é, de revelação por inspiração e não por análise objetiva e
racional.
A
audácia de minhas conclusões está no propor à ciência o método de
pesquisa por inspiração noúrica como método normal, a fim de que o
método da intuição complete o dedutivo experimental; estou convencido de
que os conceitos já existem em forma de emanações radiantes, de
correntes em expansão, e que basta captá-las. Certamente que é um método
delicado e complexo. É necessário antes compreendê-lo para se saber
usá-lo. Reconheço bem quanto a psique humana é imatura, na massa comum,
para estas sutis operações de pensamento e minha audácia está
justamente em pensar na normalização de tais métodos. Entretanto, estou
certo de que o homem se acha numa grande curva de seu caminho evolutivo,
que a eterna criação biológica está operando atualmente no nível
psíquico e que novos métodos se impõem pela lei do meio mínimo.
Por
que o método intuitivo deve limitar-se apenas às formas artísticas e
poéticas? E por que não poderá existir uma nova e normal inspiração
filosófica, matemática, social, moral, científica? Por que não
reconheceremos que a sabedoria não se encontra nos livros, farrapos do
passado, mortas cristalizações do pensamento, mas, sim, nas vivas
correntes conceptuais em que palpita e em que se sustém todo o universo?
E que, para saber, esse grande livro do infinito é o único que importa
ser lido? E para a formação cultural, por que às longas e exaustivas
vias do estudo não se preferirão as da purificação da consciência, da
evolução que a conduz à dimensão superconceptual, onde a visão da
verdade é espontânea? No Alto, a sabedoria é gratuita e, através de sua
progressiva espiritualização, o homem adquirirá, um dia, o conhecimento
por imersão em estados vibratórios e por exposição da psique às
correntes noúricas.
Do livro As Noures - Conclusão
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