Viver não se restringe ao movimento do corpo
ou à exibição de títulosO que Jesus deixa fixado em sua resposta é que não é necessário ser doutor da Lei, ou um sacerdote, nem assistir aos cultos ou cumprir os rituais dessa ou daquela crença para ter a vida eterna. Para tanto, basta ter o coração tocado pelo amor, porque aquele que tem amor ajuda seu próximo em tudo que lhe for possível: seja com dinheiro, ou seja moralmente, ensinando aos que não sabem, levando palavras amigas de conforto e esperança àquele que sofre, ou esclarecendo Espíritos encarnados e desencarnados sobre a vida eterna, por meio dos ensinamentos de Jesus, como samaritanos modernos, aceitando o convite do Mestre para amarmos o próximo como a nós mesmos...
O grande mérito da Parábola do Bom Samaritano, lembra Paulo Alves Godoy ¹, reforçando o que existe de essencial na narrativa, é o de nos provar que o indivíduo que se diz religioso, ou que seja expoente do sistema religioso oficial, não importa qual seja ele, nem sempre é o verdadeiro praticante das virtudes que, geralmente, são ensinadas em profusão, mas pouco exemplificadas.
A preocupação de Jesus foi a de mostrar que o viver não se restringe ao movimento do corpo ou à exibição de títulos, cargos ou posição social. Estende-se a esferas mais elevadas, a outros campos de realização superior com a Espiritualidade Maior, na procura de sermos cada dia melhores, para que cada vez mais possamos ser assistidos pelos Espíritos Superiores.
Esta mesma cena descrita por Jesus, na Parábola do Bom Samaritano, repete-se todos os dias em diferentes setores da vida, conforme esclarece Emmanuel, estimado Instrutor Espiritual. Diz ele que “grande número de aprendizes, plenamente integrados no conhecimento do dever que lhes compete, tocam a pedir orientação dos Mensageiros Divinos quanto à melhor maneira de agir na Terra... A resposta, porém, está dentro deles mesmos, em seus corações, mas temem a responsabilidade, a decisão e o serviço áspero”. ²
A caridade precisa ser desinteressada para ter
valor diante de nosso Pai
Portanto, segundo Jesus, o próximo passa a ser a pessoa que se avizinha dos nossos passos. E atendendo ao convite do Mestre, preparemo-nos para ajudar, infinitamente, um familiar difícil, um superior hierárquico prepotente, um subordinado não cumpridor de seus deveres ou que esteja em aflição, ou um doente do corpo a exigir de nós mais atenção, na medida das nossas forças, sem esmorecimento ou reclamações indevidas, pois eles serão, sem sombra de dúvida, a grande oportunidade que o Pai nos concede em benefício do nosso próprio adiantamento.
Buscando entender um pouco mais essa parábola, podemos destacar alguns elementos que acabarão por se tornarem alvos de nossas reflexões. Um deles diz respeito à não identificação do homem assaltado. Jesus não fala da sua posição social, da sua origem, da sua profissão, ou da sua crença. E, ainda assim, o samaritano o ajudou.
Talvez fosse um inimigo seu, um daqueles que o desprezavam, e, ainda assim, ele teria tido o mesmo gesto. Não ensinou Jesus que é do bom coração que se tira o bem? Não afirmou o Mestre que a caridade precisa ser desinteressada para ter valor diante do Pai Celestial?
Outro aspecto a ser destacado é o seguinte: Jesus falava, inúmeras vezes, usando alegorias e símbolos para explicar a realidade espiritual a um povo que só se preocupava com a realidade material. Então, podemos também entender o homem ferido como sendo a Humanidade terrena, sem valores espirituais, sem liberdade, presa à materialidade, preocupada com tudo que diga respeito às conquistas de bens materiais – transitórios, efêmeros – e longe de preocupar-se com os verdadeiros bens, que são os do Espírito.
O sacerdote e o levita representariam, certamente, os religiosos mais preocupados com os interesses do seu grupo do que com os da coletividade, que procuram nos princípios, dogmas ou conceitos religiosos as respostas para as suas aflições.
Precisamos escolher se ficamos com Jesus de perto,
agindo junto dele, ou de longe
E o samaritano representaria o próprio Jesus, que veio curar nossas feridas morais e nos trazer esperança de felicidade futura.
Há, ainda, um outro elemento que vale a pena ser destacado: o hospedeiro da estalagem não tinha motivos para confiar naquele homem que lhe garantiu pagar as demais despesas com o ferido, caso as houvesse. E, no entanto, ele confiou.
Podemos refletir sobre esse trecho lembrando-nos de quantas vezes ouvimos ou lemos que o Bem gera o bem, sempre. O samaritano ajudou o próximo sem interesse e confiou-o ao hospedeiro, deixando-lhe, inclusive, algum valor para cobrir as primeiras despesas. Quem poderia lhe garantir que o outro, realmente, cuidaria do ferido? E se o dono da estalagem cumprisse o trato feito, quem poderia garantir que o outro o reembolsaria no caso de ter maiores gastos? Vamos pensar a respeito?
Assim, aprendizes que somos todos nós do Evangelho Redentor, precisamos escolher se ficamos com Jesus, de perto, agindo intensamente junto dele, ou com Jesus, de longe, retardando o avanço da luz, porque “no Evangelho, a posição neutra significa menor esforço”.³
Todos nós já cometemos enganos. Muitos de nós já nos vimos forçados a reerguer-nos de muitas quedas. E por isso mesmo já temos condição de entender a indulgência, servindo aos companheiros que as duras provas maltratam, flagelam. Estão eles em toda parte, pedindo socorro, muitas vezes silenciosamente.
Entretanto, apesar de sermos pequeninos, ainda, diante da Majestade do Cristo, estejamos convictos de que já podemos viver felizes, atendendo ao convite do Excelso Amigo, ajudando-O e ajudando os incansáveis benfeitores espirituais a nos sustentarem na execução das tarefas com as quais nos comprometemos junto ao Pai.
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