Delíquio moral
Um descuido, uma concessão e se estabelecem os vínculos inditosos
“(...) Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas,
pela luz, porque a luz tudo manifesta.”- Paulo (Ef., 5:13.)
Szymel Slizgol (Espírito) afirmou[1]: “A pressão moral exercida pela prática do bem sobre a Humanidade é tal que, por mais materializada que esta esteja, inclina-se sempre, venera o bem, a despeito de sua tendência para o mal”.
Gandhi declarou: “Nesta era de maravilhas, ninguém dirá que uma coisa ou ideia não presta porque é nova. Dizer que é impossível porque é difícil não está de acordo com o Espírito de nosso tempo. Coisas que jamais foram sonhadas estão sendo vistas diariamente; o impossível está a todo instante se tornando possível. Ficamos constantemente impressionados com descobertas espantosas no campo da violência. Mas afirmo que descobertas ainda mais espetaculares e aparentemente impossíveis serão feitas no campo da não-violência”.
Jesus, Francisco de Assis, Gandhi foram – todos eles – vexilários da não-violência e do amor... É de Jesus a assertiva[2]: “Aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas”.
Gandhi aduziu, em outras palavras, algo parecido: “Não tenho a menor sombra de dúvida de que qualquer homem ou mulher pode realizar o mesmo que eu realizei, se fizer o mesmo esforço e cultivar a mesma fé e esperança... (...) O bem viaja com a velocidade de uma lesma. Aqueles que querem praticar o bem não são egoístas, não estão com pressa, sabem que é preciso muito tempo para impregnar as pessoas com o bem”.
O Bhagavad-Gita, também conhecido como “Gitopanisad”, que é a essência do conhecimento védico e um dos mais importantes “Upanisads”[3] na literatura védica, no capítulo seis, item vinte e seis, alerta-nos sobre o seguinte: “De qualquer coisa e de onde quer que a mente divague devido a sua natureza flutuante e instável, a pessoa certamente deve retirá-la e trazê-la de volta sob o controle do eu”.
Sintetizando todos os assertos acima expostos por esses diversos luminares e confluindo com o vero Cristianismo, vem a Doutrina Espírita nos falar do livre-arbítrio e da excelência da prática do Bem, ao inscrever em sua bandeira: “fora da Caridade não há salvação”; ao mesmo tempo informando-nos a respeito do “homem-velho” com suas arraigadas e ancestrais idiossincrasias negativas de difícil erradicação.
Em inspirada página mediúnica, através da psicografia de Divaldo Franco, Joanna de Ângelis esclarece: “Enquanto o bem caminha na semiobscuridade, com sandálias de veludo, o mal ganha título de cidadania em praças públicas sob os “spotlights” da promoção”.
Concluímos, assim, que a tarefa do autoburilamento não é fácil num contexto tão hostil ao Bem. Sem embargo, pelos abençoados e alcandorados parâmetros e balizas das luzes do Consolador, atingiremos o desiderato apontado por Jesus e assinado pelo Pai: a suprema perfeição.
Os cardos ferintes das terras sáfaras farão sangrar os pés viajores, mas “aquele que perseverar até o fim” atingirá a meta colimada. “Vigiai e Orai” são as sábias palavras de Jesus que não podemos olvidar nem desconsiderar para não soçobrarmos sob o guante de acerbas dores e nos báratros das desilusões e agonias.
É ainda Joanna de Ângelis quem nos alerta: “Um delíquio momentâneo, aceito com naturalidade, abre as portas da dignidade à corrupção”. Não é difícil compreender isto quando levamos em conta que os atavismos do “homem-velho” são natural e facilmente excitáveis.
Mas continua a Mentora Amiga a sua exposição: “A mentira inocente estimulada transforma-se, um dia, numa calúnia bem urdida; uma taça de licor singela, repetida, faz-se veículo de alcoofilia martirizante”.
Devemos estar sempre atentos aos execrandos processos de sintonia infeliz, muitos deles tão sutis que só os percebemos quando é tarde demais para reagir. Ao mesmo tempo devemos fortalecer nossas defesas através de medidas profiláticas, tais como: a oração, a vigilância, leituras edificantes e ação permanente no Bem.
Segundo a Veneranda Mentora[4], os processos de sintonia decorrentes de vícios e delitos “(...) tomam corpo em decorrência dos maus hábitos, estimulados pela insensatez, cultivados pela permissividade social; assumem aspecto inocente e se incorporam à personalidade, tornando-se uma segunda natureza que absorve os recursos superiores da vida, culminando por seviciar e vencer os que derrapam na sua inditosa direção. Defluem, muitas vezes, de inspirações perniciosas de mentes desencarnadas, em processo insinuante de obsessão simples, que se converte em subjugação selvagem, mediante a qual os fenômenos de interação entre os dois planos se processam soltos, ensejando o estremunhamento dos cômpares que se infelicitam reciprocamente em doloroso processo de longo curso em que se interdependem, amargurados... As paixões dissolventes que envenenam com tenacidade, em programática segura, florescem, pestilenciais, na alma, na mente e no corpo. Seja sob qual aparência os descubras em ti, não lhes dês trégua. Sê severo nos teus compromissos morais, nas tuas relações sociais, impondo-te elevação e austeridade. Um descuido, uma concessão e se estabelecem os vínculos inditosos... Morigeração e cuidado deves manter, mesmo que os outros se favoreçam com maior soma de liberdade, a fim de preservar-te das artimanhas dos vícios e delitos que trazes do ontem, que podes adquirir hoje e que estão fáceis por toda parte...
Sublimes realizações, tarefas nobilitantes que suportaram graves investidas do mal, homens e mulheres resolutos que se ofereceram ao bem e ao dever tombaram, inermes, ante os vapores dos vícios sociais e delíquios morais aparentemente ingênuos, que terminaram por vencer as decisões robustas em que fraquejaram. Assim, vigia e perscruta teus sentimentos. Se descobrires tendências e inclinações más, não adies o combate, nem te conceda pieguismo. Luta e vence-os de uma vez, arrebentando os elos mantenedores da viciação e dos delitos, a fim de lograres o êxito que persegues, anelas e necessitas”.
Não falece dúvida de que nosso esforço será secundado pelo apoio dos Maiores da Espiritualidade e desde já poderemos ser reconhecidos como verdadeiros espíritas ou como espíritas-cristãos, cuja precípua característica é justamente o acirrado combate pela transformação moral, sendo o corolário de tal ação o alijamento completo das inclinações más e de tudo que provoca óbices à nossa definitiva alforria espiritual.
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