A Caminho da Luz

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Por que erramos?

Os enganos contribuem, de alguma forma, para nosso amadurecimento íntimo?
Alimentar a culpa e o remorso perante os equívocos pode nos trazer algum benefício?
O que necessitamos observar para não ficarmos cometendo sempre os mesmos erros? Somos nós os maiores causadores dos próprios infortúnios?




Erro é sinônimo de engano, equívoco, conceito inadequado ou crença falsa.

E por que as pessoas erram? Por não estarem plenamente conscientes dos objetivos maiores que dizem respeito à sua existência, existem criaturas que se deixam conduzir por ideias, crenças e costumes vigentes, porém, não se permitindo reflexões mais consistentes quanto à validade e/ou superioridade de todos eles.

Mas, o que é o certo? E o errado, como sabê-lo?

Diante dessa dúvida, tão antiga quanto universal, na questão 632, de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Allan Kardec questiona a Espiritualidade Maior: “O homem, que está sujeito a erros, não pode se enganar na apreciação do bem e do mal, e crer que faz o bem quando, na realidade, faz o mal?” [1]

Resposta: “Jesus vos disse: vede o que quereríeis que se fizesse ou não fizesse para vós: tudo está nisso. Não vos enganareis.”

E será que o ser humano consegue viver plenamente essa premissa: não fazer ao outro o que não gostaria de receber em contrapartida? Infelizmente, ainda não, porque a real vivência desse postulado requer o mais profundo entendimento dos sentimentos alheios, julgamento esse que, em geral, as pessoas não dominam, por desconhecerem o seu próprio íntimo!

Aliás, a falta de autoconhecimento é uma das principais causas de nossos erros. Quanto maior for a compreensão daquilo que verdadeiramente nos beneficia e nos prejudica, bem como da própria realidade, mais aptos nos tornamos para discernir certo e o errado, o bem e o mal. Nesse sentido, o Espírito Hammed considera:



A grande maioria das criaturas encarnadas na Terra são almas que ignoram suas potencialidades divinas, isto é, não são más por natureza, mas estão conhecendo e/ou aprendendo através das vidas sucessivas; portanto, ainda não sabem agir de forma adequada ou julgar as coisas corretamente. Desconhecem sua perfectibilidade – qualidade daqueles que são suscetíveis de atingir a perfeição.

Por isso, desacertos fazem parte de nosso processo evolutivo, pois ninguém nesse mundo consegue aprender e crescer sem equivocar-se. [2]



No entanto, nossa atual condição evolutiva não nos permite um total acerto nas escolhas e atitudes. Mas, conforme Hammed, o erro também nos ensina a interpretar melhor todas as coisas, porque nos demonstra, através da própria experiência, o que, de fato, dá certo e o que dá errado! E, assim, ele prossegue:



Experiências felizes ou infelizes são passos valiosos em nossa existência, desde que percebamos o quanto elas têm para nos ensinar ou mostrar.

Todos temos o direito de escolher o que vamos fazer com as lições que a vida nos oferece. Mas, sem dúvida, se recusarmos o desafio de compreendê-las e assimilá-las, essas mesmas lições voltarão revestidas em novas embalagens.

Só não erra quem nunca fez ou nada tentou. O que se julga perfeito não está aberto para a mudança ou aprendizagem, porquanto a verdadeira sabedoria exige a humildade de aceitarmos o que não conhecemos. A casa mental daquele que se julga ‘infalível’ pode ser comparada a um espaço que já está completamente ocupado; nada nela pode ser acrescentado. Aliás, apenas quando retiramos o velho é que criamos um espaço para o necessário ou o novo.

(...) Jesus Cristo entendia perfeitamente o âmago das criaturas, o que o levou a afirmar: “Todo aquele que meu Pai me der virá a mim, e quem vem a mim, eu não o rejeitarei. (João 6:37)

O Mestre nunca desprezou quem quer que fosse; sempre acolhia, entendia, valorizava, consolava e encorajava a todos. Jamais puniu as atitudes equivocadas das criaturas, antes as compreendia por saber da fragilidade e falibilidade dos seres humanos. Via os erros como uma forma de aprendizagem, de retificação e de possibilidade de futura transformação interior. Não os entendia como objetos de condenação, mas como um mal-entendido ou erros de interpretação; consequências naturais da fase evolutiva pela qual a humanidade estava passando. [2]



Todas as circunstâncias e ocorrências de nosso cotidiano são necessárias para o conhecimento daquilo que ainda não sabemos. E é esse processo de aprendizagem que tem a possibilidade de nos preparar para que as experiências futuras sejam as mais positivas e satisfatórias possíveis. Entretanto, se relutarmos em aproveitar as lições que os acontecimentos nos endereçam, notadamente através dos equívocos, eles – situações e erros – repetir-se-ão até que seu conteúdo seja por nós plenamente apreendido e compreendido.

A conscientização de que somos os causadores dos próprios problemas trata-se de algo um tanto desagradável, porém, extremamente necessário. Muito embora a tendência seja procurar a causa dos nossos sofrimentos e contrariedades naquilo que nos é exterior, tudo o que nos afeta negativamente teve e/ou tem sua origem em nosso próprio íntimo. E é nesse momento de autopercepção que a vida nos solicita humildade, coragem e força moral para reconhecermos a própria falibilidade!

Ainda de Hammed:



Muitas pessoas acham sinal de fraqueza admitir que são falíveis. Na realidade, quando admitimos nossa vulnerabilidade, afastamos a tensão do ‘egoísmo defensivo’, de tudo sabermos ou conhecermos. Somos propensos a cometer ‘erros de cálculo’. Enganos são inerentes à condição humana. [3]



Quando conseguimos identificar os próprios erros, alimentando pesar pelas atitudes negativas que tomamos, o sentimento que desabrocha, inevitavelmente, é o arrependimento. Mas, conjuntamente a ele, outros dois também podem surgir: a culpa e o remorso. E isso é o que de pior pode acontecer!

A culpa é uma cobrança íntima, com pesada carga de autoacusação, visto apontar os erros de maneira extremamente negativa e fazer nos sentirmos envergonhados, derrotados e – quantas vezes! – sem forças para seguir adiante.

Por sua vez, o remorso que, segundo definição, caracteriza-se pelo tormento e aflição, pelo remordimento e revolta da consciência –, também exaure com nossas forças, porque ele nos faz reviver infinitas vezes a impressão ruim que o erro praticado causou a nós ou ao(s) outro(s).

Quanto à adoção desse tipo de emoções perante os próprios enganos, o Espírito Joanes aconselha:



Aprenda a pedir desculpa, a confessar seus erros, a admitir seus equívocos, para que não aninhe remorsos na alma, ou para que o remorso tenha o poder de lhe fazer reerguer e não sucumbir.

Considere que você não é infalível. Dê-se conta de que não é invulnerável.

E, assim, terá tranquilidade em admitir o lado que ainda vibra feio em sua intimidade.

Somente quando se decida a não mais alimentar remorsos, por orgulho ou algo que corresponda a isso, é que você deixará de padecer desnecessariamente.

Confesse, dessa forma, o seu erro, quando ele ocorra, e parta para o acerto, pois todos os que seguem pelos caminhos humanos podem tropeçar, podem tombar, mas que, em nome do autorrespeito, aprendam a recuperar-se, a soerguer-se, a elevar-se para os planos de luz da alma em paz. [4]



Quando nos mantemos presos a complicados sentimentos de culpa e remorso, deixamos de perceber que as atuações que tivemos no passado eram compatíveis com o grau de entendimento e de experiência que possuíamos na época. Daí a necessidade reavaliarmos, constantemente, atitudes, pensamentos e sentimentos, para não ficarmos cometendo sempre os mesmos erros. Infrutíferos são, portanto, os dramas de consciência, porque não dá para voltar atrás e refazer o curso da história.

Temos de confiar que o momento presente é o que de melhor dispomos para mudar, para crescer, para ampliar nosso discernimento sobre o certo e o errado, o bem e o mal, e não fazer aos outros aquilo que não gostaríamos de receber em contrapartida, pois, conforme informações dos Espíritos Superiores a Allan Kardec, “tudo está nisso. Não vos enganareis”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário